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2 de Outubro, 2014 Carlos Esperança

A «Bula Ineffabilis Deus»

Cumprindo uma obra de misericórdia «ensinar os ignorantes», deixo aqui no Diário de uns Ateus, para consumo dos devotos, uma oportuna referência à Bula de Pio IX que, em 8 de Dezembro de 1854, declarou solenemente, fazendo apelo à autoridade suprema do seu magistério, a definição dogmática da Imaculada Conceição,:

«A doutrina segundo a qual a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, foi por especial privilégio de Deus Omnipotente, com vista aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, preservada imune de toda a mácula do pecado original, é revelada por Deus e deve por isso ser acreditada por todos os fiéis, firmemente e com constância». (Bula Ineffabilis Deus — 08-12-1854).

Depois disto cessaram as discussões ginecológicas sobre a Virgem Maria.

1 de Outubro, 2014 Carlos Esperança

1 de outubro – efeméride

1936 – «Por la Gracia de Dios», eufemismo que cunhou a cumplicidade papal e do clero espanhol, o líder da revolta antidemocrática, Francisco Franco, foi nomeado chefe de Estado. Com a ajuda da Alemanha nazi, do fascismo italiano de Mussolini e do obsoleto ditador português, Salazar, viria a ser o caudilho vitalício de Espanha e um dos maiores genocidas do século XX.

1 de Outubro, 2014 Ludwig Krippahl

Treta da semana (passada): a careca é uma cor de cabelo.

A crítica de Rui Ramos ao ateísmo de Stephen Hawking segue a fórmula do costume. Primeiro, se Hawking «acredita que Deus não existe» então, tal como o crente em Deus, tem «fé, embora diversa – a fé na inexistência de Deus.» Depois, que chegou à sua conclusão da mesma forma que o crente: «A questão é determinar de que modo, entre a fé em Deus e a fé na inexistência de Deus, Hawking passa de uma margem para a outra. A sua ponte não é o cepticismo, mas a ciência, ou melhor, uma variante muito especial da experiência científica, que funciona de facto como o equivalente laico da fé religiosa.» Finalmente, que a atitude de Hawking para com a ciência é igual à de qualquer crente. «Hawking sente pela ciência a devoção que qualquer beato dispensa ao seu todo-poderoso ídolo»(1).

Esta forma de criticar o ateísmo sempre me pareceu estranha pela admissão implícita de que a crença em Deus é estapafúrdia. Não é que discorde. Concordo inteiramente que é um disparate formar crenças acerca da realidade por meio da fé e da devoção beata. Mas é estranho julgarem que a falta de fundamento epistémico da crença religiosa é um bom argumento contra o ateísmo. No entanto, mais interessante é perceber porque é que as alegações de Ramos são falsas.

A fé não é o mesmo que a crença. Acreditar é simplesmente aceitar uma proposição como verdadeira enquanto que a fé é um compromisso pessoal de fidelidade e perseverança para com certas ideias (2). É perfeitamente possível acreditar sem fé. Eu acredito que Deus não existe da mesma forma como acredito que a Terra se formou há 4.5 mil milhões de anos, sem sentir qualquer dever de fidelidade para com estas proposições. E é também possível ter fé sem ter crença se a fidelidade a uma ideia não bastar para que se consiga acreditar. A confusão de Ramos entre fé e crença atropela a diferença entre a devoção do crente aos princípios da sua religião e a forma descomprometida como todos regularmente adoptamos e descartamos crenças conforme julgamos conveniente.

O contexto destas crenças também é diferente. A ciência procura a melhor explicação para os dados de que se dispõe. É verdade que isto só resulta se houver dados suficientes e, por isso, a ciência só começou a ter sucesso nos últimos séculos; sem saber nada sobre decaimento radioactivo, a erosão ou a formação do sistema solar não havia razões para acreditar que a Terra tinha 4.5 mil milhões de anos em vez de só dez mil. Mas, com o que sabemos agora, a melhor explicação fica tão entalada na estrutura interligada de observações e outras explicações que, a menos de uma pequena margem de erro, só o valor de 4.5 mil milhões de anos pode ser aceite.

A crença de que um deus inteligente e bondoso criou a Terra por milagre não sofre destas restrições. Em geral, os preceitos de cada religião são arbitrários e podiam ser qualquer coisa. Se criou tudo por milagre, tanto podia ter criado o universo há treze mil milhões de anos como podia ter criado tudo há dez mil anos em sete dias ou em sete minutos na sexta-feira passada. Milagre por milagre, também podia ter criado os fósseis, os vestígios de erosão e até as memórias que cada um de nós tem. Sem qualquer suporte empírico, só a fé leva o crente a decidir que a sua crença é mais acertada do que as dos outros.

O processo também é muito diferente. A ciência não é um «equivalente laico da fé religiosa». A ciência progride explorando e testando alternativas. É este processo de rejeitar o que se revela incorrecto que vai apertando o cerco às explicações admissíveis, deixando cada vez menos elementos arbitrários. Nas religiões, o primeiro passo consiste em afirmar algo como Verdade. E pronto. O resto é teólogos a inventar desculpas para as inconsistências e arbitrariedade da escolha inicial (3). É verdade, como menciona Ramos, que houve «séculos de meditação e de debate» acerca de Deus e outros deuses. Mas o debate e a meditação são inúteis se não se está disposto a descartar as hipóteses erradas.

Hoje é evidente que os deuses são mera ficção porque qualquer coisa que se tente explicar invocando um deus explica-se melhor rejeitando esse deus como fantasia, desde a formação das galáxias e a origem das espécies à existência do mal e a diversidade das religiões. Também não é a «pobreza da […] concepção de Deus» que faz diferença porque, por muito “rica” que seja, é uma concepção arbitrária, infundada e inútil para explicar seja para o que for. A ciência eliminou os deuses de todas as explicações para o universo que nos rodeia. Sobraram apenas as alegações que os crentes mantêm por fé. Mas, antes de nos metermos pela metafísica da existência dos deuses na premissa de que estas alegações correspondem à realidade, devemos primeiro determinar se é preciso deuses para explicar a fé dos crentes. Também aqui a ciência responde pela negativa. Há evidências claras de que é muito fácil aos seres humanos agarrarem-se a superstições e que a intensidade desse apego não é indicador fiável da verdade das crenças.

Não é preciso idolatrar a ciência para perceber que a fé não serve para compreender a realidade. É precisamente isso que Ramos argumenta contra Hawking, errando apenas por presumir que a posição de Hawking deriva da fé. Mas não é preciso fé para concluir que os deuses são tão fictícios quanto os unicórnios, os fantasmas e os dragões. Basta fazer o puzzle com as peças que encaixam.

1- Rui Ramos, O deus de Stephen Hawking
2- Catholic Encyclopedia, Faith.
3- A propósito disto, recomendo esta palestra de David Deutsch na TED: A new way to explain explanation

Em simultâneo no Que Treta!

1 de Outubro, 2014 Carlos Esperança

A homofobia pia

Os homossexuais católicos vão pedir ao Vaticano uma “mudança urgente” de atitude que promova o seu acolhimento e integração nas comunidades e paróquias, disse à agência Lusa José Leote, da associação Rumos Novo – Homossexuais Católicos.

A propósito do I Congresso Mundial das Associações Homossexuais Católicas, que decorre no próximo fim de semana em Portimão, José Leote defendeu, em declarações à agência Lusa, “a necessidade urgente de uma mudança de atitude por parte da hierarquia católica no sentido de que haja um verdadeiro acolhimento […] que passe pela integração [dos homossexuais] nas suas comunidades paroquiais”. Este será um dos pontos principais de um documento será elaborado no congresso.

http://www.dnoticias.pt/actualidade/pais/472186-homossexuais-catolicos-pedem-ao-vaticano-integracao-nas-paroquias

 

30 de Setembro, 2014 Luís Grave Rodrigues

30 de setembro: dia mundial da blasfémia!


«O entendimento popular da blasfémia resulta provavelmente do mandamento bíblico «não tomarás o nome do senhor teu Deus em vão», muito embora nos últimos anos tal conceito se tenha estendido na consciência do público de forma a incluir imagens retratando o profeta islâmico Maomé.

Há seis anos atrás, no dia 30 de Setembro de 2005, o jornal dinamarquês “Jyllands-Posten” publicou uma série de cartoons retratando Maomé. O que se seguiu foi uma batalha de culturas entre o valor ocidental da liberdade de expressão e as rigorosas leis do Islão contra a blasfémia.

A religião exerce uma incomensurável pressão sobre a liberdade de expressão, graças à sua universal condenação da blasfémia.

A palavra “blasfémia” deriva de duas palavras gregas, significando βλάπτω “euu mal”, e φήμη que significa “reputação”, e tem vindo a ser tomada como «falar contra Deus», ou como a difamação da religião e de doutrinas religiosas.

Entre as mais fervorosas e mais fundamentalistas seitas religiosas a blasfémia pode variar entre beber uma cerveja até à própria negação da existência de Deus (coisas que eu já fiz no dia de hoje).

Eis o que Bíblia tem a dizer sobre blasfemos:

No Levítico 24:16: “Aquele que blasfemar contra o nome do Senhor será condenado à morte; toda a congregação deverá apedrejar o blasfemo. Tanto os estrangeiros como os cidadãos, quando blasfemarem o Nome, deverão ser condenados à morte”.

É manifesto que as três grandes religiões ocidentais têm uma opinião extremamente negativa da blasfémia, uma vez que a consideram uma ofensa capital.

As leis contra a blasfémia só servem para promover o medo entre a população e a obediência às autoridades religiosas.

Na Europa renascentista a cosmologia oficial da Igreja Católica defendia a visão aristotélica de um cosmos totalmente controlado por Deus, e que sustentava que todos os objectos celestes giravam ao redor da Terra.

Quando Galileu virou o seu telescópio para os céus e desenhou as quatro luas em órbita de Júpiter, ele estava a blasfemar contra a Igreja.

E esta limitada cosmologia defendia também que não poderia haver tal coisa como o vácuo.

Por isso, quando cientistas como Torricelli e Pascal começaram a bulir com a criação de vácuos, também eles estavam a blasfemar contra a Igreja.

George Bernard Shaw disse uma vez que «todas as grandes verdades começam como blasfémias», o que só por si poderia resumir de forma muito sucinta a busca ocidental pela Ciência.

Para as religiões que promovem a ideia de que um Deus criou o universo somente para os seres huma-nos, a ciência será sempre uma blasfémia, porque a ciência abre brechas na já frágil cosmologia filosófica que as religiões ensinam como verdadeira.

O «Dia da Blasfémia» é um dia de reconhecimento da importância da blasfémia numa sociedade que valoriza o direito à liberdade de expressão.

Sem liberdade para blasfemar, para falar contra as ridículas doutrinas religiosas que mantêm a sociedade na escuridão e na ignorância, não temos realmente liberdade de expressão.

Blasfemar é defender a ideia de que não há nada tão sagrado que não possa ser criticado, ridicularizado, ou até mesmo falado em voz alta.

Como ateu, cada dia é para mim o «Dia da Blasfémia» porque me recuso a colaborar com os dogmas que a religião vende».
Texto (livremente) traduzido do «Skeptic Freethought»

30 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

O radicalismo islâmico e a sua sedução

Edição do dia 21/09/2014

21/09/2014 21h10 – Atualizado em 21/09/2014 21h10

Mãe brasileira conta como seu filho se tornou radical do Estado Islâmico

Brian tem 21 anos e adotou o nome de Abu Qassem Brazili.
No fim de 2012, ele foi para a Síria se juntar aos extremistas.

Imagine ver seu filho se alistar no grupo extremista mais brutal do mundo. Um exército terrorista que grava vídeos com decapitações de prisioneiros e ameaça destruir todos que discordam dele.

O correspondente Roberto Kovalick conversou com a brasileira que tem um filho nas tropas do Estado Islâmico.

A vida da brasileira Rosana Rodrigues deu uma volta gigantesca. Ela busca respostas. O que levou o filho dela, um rapaz católico, esportista, alegre, a se tornar um radical do Estado Islâmico, um grupo em que matar ou morrer são coisas banais?

“Que meu filho não chegue ao ponto de decepar a cabeça de alguém ou de matar alguém. E no fundo do meu coração, eu sinto que meu filho jamais faria isso. Porque eu como mãe, eu jamais… Eu amo muito ele, mas eu jamais seria capaz de perdoar meu filho se ele fizesse uma coisa dessas”, conta a mãe de Brian.

A Bélgica é um país de 11 milhões de habitantes, com uma das melhores qualidades de vida do planeta e um dos celeiros de extremistas do Estado Islâmico na Europa.

O grupo se autoproclamou um califado, uma comunidade muçulmana radical em uma região entre a Síria e o Iraque.

O Estado Islâmico se tornou ainda mais conhecido depois dos vídeos em que dois jornalistas americanos e um voluntário britânico aparecem sendo decapitados por um extremista. Estima-se que mais de 2 mil ocidentais se juntaram ao grupo e 300 saíram da Bélgica.

Um deles é o filho da brasileira Rosana Rodrigues, que vive na Bélgica há 24 anos.

“Um dia ele foi. Um dia eu fui no quarto dele e ele já não estava mais lá. Ele só se despediu da minha filha mais nova. Deu um beijo no rosto dela e falou que essa era a última vez que ela ia ver ele”, ela conta.

O filho de Rosana, Brian, tem 21 anos. Tem cidadania belga, mas fala português. Foi várias vezes ao Brasil e, ao se juntar ao Estado Islâmico, adotou o nome de Abu Qassem Brazili, ou o Abu Qassem brasileiro.

Para entender o que provocou esta transformação, o Fantástico foi até a Antuérpia, a segunda maior cidade da Bélgica, famosa pelo comércio de diamantes e onde a família morava. Brian é filho de pai belga e estudava em uma das melhores escolas católicas da cidade. Praticava a religião.

“Ele era muito católico e, na maioria das fotos que ele tem no Brasil e aqui na Bélgica ou na Espanha, na Turquia, aonde ele esteve, ele sempre usava um crucifixo”, relata a mãe.

A transformação de Brian começou com uma grande decepção, o fim de um sonho. Ele queria ser jogador de futebol. Mas aos 17 anos, foi dispensado e entrou em depressão.

Foi nesse momento que os extremistas se aproximaram dele. Não é um caso isolado. Esta semana, uma revista belga publicou a entrevista com outro rapaz que está lutando na Síria. E ele declara: “Antes nossos ídolos eram Ronaldo e Messi. Hoje é Bin Laden.

“Para ele, foi uma desilusão muito grande”, lembra Rosana.

E ele encontrou apoio em um grupo de jovens muçulmanos do bairro.

“Esses rapazes aconselharam ele a procurar a força no Alá, que eles falam Alá, para nós é Deus. E em um profeta Mohamed, que disse que era para pedir ajuda para o Deus deles e o profeta deles, que o Deus ia ajudar ele a superar essas tristezas e tudo. Só que, infelizmente, foi a desgraça da vida do meu filho. E para minha vida também, para minha família, uma verdadeira desgraça”, diz Rosana.

Na mesquita que Brian frequentava, segundo a imprensa da Bélgica, ele encontrou extremistas de vários países: Afeganistão, Paquistão, Bangladesh. Em poucos meses, menos de dois anos, se tornou um deles.

Nós tentamos conversar com os líderes da mesquita. Eles não quiseram dar entrevista, mas asseguraram que não têm nenhuma ligação com os radicais islâmicos. Brian foi apresentado a um dos líderes dos extremistas na Bélgica, Fuad Belkacem, que agora está preso.

Rosana conta que o filho foi levado para outra mesquita que fica no meio da floresta das Ardenas, a maior da Bélgica.

“Eles se escondem nessa mesquita para ficar aprendendo a pular, atirar, aprender a passar fome, como você conseguiria ficar dias sem comer. Eles fazem um total treinamento nos meninos”, ela explica.

No fim de 2012, Brian foi para a Síria se juntar aos extremistas.

“Eu pedi ajuda à polícia, pedi assistência às pessoas, e ninguém quis me ajudar. E por conta própria, eu encontrei uma foto do meu filho e reconheci o meu filho. Ele estava com uma arma, com uma roupa de soldado. E desde aí já vai fazer dois anos que ele está na Síria. Nos últimos meses, eu não tenho mais notícias dele. Não sei se meu filho está vivo ou se ele está morto”, conta a mãe.

O prefeito da Antuérpia, Bart de Wever, conta que há recrutadores nas ruas do país em busca de jovens como Brian.

Um dos grandes medos na Europa é que esses jovens extremistas voltem para praticar atos terroristas nos países onde nasceram. E é exatamente isso que os belgas temem que Brian faça.

Em um vídeo atribuído a ele, o Estado Islâmico ameaça explodir um monumento chamado Atomium, um dos pontos turísticos mais visitados de Bruxelas, a capital da Bélgica. Um ataque no local destruiria um dos símbolos do país e provocaria centenas de vítimas.

O vídeo começa com imagens dos extremistas. Brian não aparece, mas a voz que entoa um cântico é atribuída a ele.

Rosana: Não tem nada a ver com a voz do meu filho. Não é meu filho. Eu tenho tanto medo que a qualquer minuto ter uma notícia que mataram o Brian, que o Brian está morto, que eu nunca mais vou poder ver meu filho.
Fantástico: Você acha que o Brian cometeria um ato terrorista?
Rosana: Eu não sei. Eu tenho medo de eles colocarem ele para se explodirem. Eu seria capaz de fazer tudo. Eu seria, inclusive, capaz de dar a minha cabeça para ver o meu filho de volta.

“Brian é considerado perigoso e muito radical. Há testemunhas que implicam ele em atentados. A mãe dele quer acreditar que ele seja ingênuo, mas nós devemos considerá-lo um radical perigoso”, avalia o prefeito da Antuérpia.

Usar ocidentais como garotos-propaganda é uma tática do Estado Islâmico para impor medo no Ocidente e atrair mais seguidores.

O extremista que aparece decapitando os dois reféns americanos e o britânico tem sotaque de Londres. Rosana acha que o mesmo está sendo feito com o filho. “É como o Brian, o Brian é lindo, ele é bonito, não é por ser meu filho”, diz ela.

A comunidade muçulmana condenou as ações terroristas do Estado Islâmico. Em São Paulo, o xeque Rodrigo Rodrigues, da Liga da Juventude Islâmica do Brasil, disse que, pelo que está sendo mostrado, o grupo vai contra o que o Islã ensina.

“A tradição do profeta Mohamed não prega isto. O Islamismo é uma religião de justiça, de paz, de harmonia. Historicamente, muçulmanos e não-muçulmanos viveram séculos de mãos dadas. Se não andaram de mãos dadas, andaram se respeitando uns aos outros. Mas isso de matar todo o mundo que está contra mim não é islâmico”, ele explica.

A última notícia que Rosana teve do filho foi de que ele estava na cidade de Aleppo, no noroeste da Síria, um dos fronts de batalha entre os extremistas do Estado Islâmico e as forças do regime sírio. Ela está disposta a uma ação desesperada para reencontrar Brian.

“Eu vou para a Síria. Eu vou ver meu filho. Buscar eu não sei, mas que eu vou, eu vou”, avisa Rosana.

30 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

As tolices dos falsos ateus

Terça-feira, 23 de Setembro
Testemunhas do vácuo

«De vez em quando, regressa a ofensiva. Agora foi o físico britânico Stephen Hawking a proclamar, com vasta repercussão, que Deus não existe. Mesmo para um ateu como eu, ou sobretudo para um ateu, estas batalhas de certo ateísmo para aborrecer os crentes são um nadinha tontas. Pelos vistos, há por aí imensa gente a quem não basta não acreditar numa entidade divina: dá-se a uma trabalheira para converter os outros à sua falta de fé. Um ateu a sério não perde um minuto a pensar na existência ou na inexistência de Deus. Aparentemente, os ateus militantes perdem boa parte da vida a pensar nisso. O fervor deles é religioso.

Deixando a discussão teológica a cargo de especialistas de ambos os lados da trincheira, o facto é que a formulação do senhor Hawking tende para o pueril. De que maneira é que o homem chegou à conclusão acima? Há um teorema demonstrativo, passe a redundância? Viu a Luz? Ou apenas se levantou de manhã (sem brincadeiras com a doença do senhor) e decidiu assim? E depois temos a arrogância implícita da coisa: o senhor Hawking leva-se em tão alta conta a ponto de supor que a sua afirmação influenciaria um único devoto que fosse?

Qualquer dia, no frenesim de espalhar a palavra contra o Senhor, os evangélicos da descrença batem–me à porta de casa. E eu não abro».

Estas frases foram escritas no último domingo por um reacionário de serviço à direita mais jurássica e ao ultraliberalismo, um tal Alberto Gonçalves, que tem direito à penúltima página do DN no dia em que descansa de sociólogo. Desculpo a uma pessoa sem sentimentos a infame ironia para com um deficiente físico profundo e inteligência notável. Imaginem o texto escrito por um crente com mais inteligência. Aqui vai:

«Terça-feira, 23 de Setembro
Testemunhas do vácuo

«De vez em quando, regressa a ofensiva. Agora foi ‘o bispo Gonçalves’ a proclamar, com vasta repercussão, que Deus (…) existe. Mesmo para um ‘crente’ como eu, ou sobretudo para um ‘crente’, estas batalhas de certa ‘crença’ para aborrecer os ‘ateus’ são um nadinha tontas. Pelos vistos, há por aí imensa gente a quem não basta (…) acreditar numa entidade divina: dá-se a uma trabalheira para converter os outros à sua (…) fé. Um ‘crente’ a sério não perde um minuto a pensar na existência ou na inexistência de Deus. Aparentemente, os ‘crentes’ militantes perdem boa parte da vida a pensar nisso. O fervor deles é religioso.

Deixando a discussão teológica a cargo de especialistas de ambos os lados da trincheira, o facto é que a formulação do ‘bispo Gonçalves’ tende para o pueril. De que maneira é que o homem chegou à conclusão acima? Há um teorema demonstrativo, passe a redundância? Viu a Luz? Ou apenas se levantou de manhã (sem brincadeiras com a doença do senhor) e decidiu assim? E depois temos a arrogância implícita da coisa: o senhor ‘bispo Gonçalves’ leva-se em tão alta conta a ponto de supor que a sua afirmação influenciaria um único ‘ateu’ que fosse?

Qualquer dia, no frenesim de espalhar a palavra (.. do) Senhor, os evangélicos da (…)crença batem-me à porta de casa. E eu não abro».

29 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Os talibãs católicos em El salvador

Quinta, 25 Setembro 2014 15:04

El Salvador: proibição total do aborto está a matar e a prender mulheres

Quem se lembra de Beatriz? Aos 22 anos quase morreu no hospital quando as autoridades de El Salvador rejeitaram a interrupção da gravidez essencial para lhe salvar a vida. A pressão internacional levou o governo a abrir uma exceção, mas poucas têm a mesma sorte. A repressiva e retrógrada proibição total do aborto vigente no país está a tirar a vida a muitas mulheres, reitera a Amnistia Internacional num relatório lançado esta quinta-feira, 25 de setembro.

El Salvador é um dos países mais restritivos em matéria de legislação relacionada com a interrupção da gravidez. O aborto é proibido em toda e qualquer circunstância. No relatório “On the brink of death: Violence against women and the abortion ban in El Salvador” (“À beira da morte: Violência sobre as mulheres e a proibição do aborto em El Salvador”), a Amnistia Internacional demonstra como a lei restritiva se traduz na morte de centenas de mulheres e raparigas.

29 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

A indústria dos milagres não entra em crise

Não me revejo no entusiasmo místico com que os cruzados degolavam infiéis, na euforia com que a Inquisição incinerava bruxas, ímpios e judeus, no dever cristão de delatar pais, irmãos ou filhos, suspeitos de heresia, nem a saltitar de gozo com a combustão de livros.

Não aprendi a gozar jejuns, a deliciar-me com cilícios ou a extasiar-me com a castidade. Sou um caso falhado para a vida eterna e um problema para o qual a democracia e os hábitos atuais não têm solução.

Não discuto o valor nutritivo da eucaristia, o interesse terapêutico da missa, a qualidade da confissão, como detergente, nem o valor da oração para adquirir um lugar no Paraíso.

Duvido, sim, da influência das novenas na pluviosidade, da capacidade de santa Bárbara a amainar trovoadas, da autonomia de voo da Virgem Maria para poisar nas azinheiras de Fátima, dos anjos de duas, quatro e seis asas e de toda a fauna celeste cuja existência embevece os crentes.

Abomino o hábito de vergastar pessoas para agradar a Maomé, de decepar membros para cumprir o Corão, de lapidar mulheres para punir o adultério, de decapitar infiéis para satisfazer Alá e os suicidas obcecados por virgens e rios de mel.

Troco Moisés por Voltaire, Cristo por Pasteur e Maomé por Rousseau. À fé prefiro a dúvida e aos milagres a verdade. Desprezo Deus e a sua vontade e substituo qualquer encíclica por um livro de Saramago.

E não sei o que dizer da onda de beatificações e canonizações com que o papa Francisco continua a produção industrial da santidade.

Anteontem foi a vez de ser beatificado o sucessor do santo franquista Josemaria Escrivà. Álvaro del Portillo foi elevado a beato depois de lhe ter sido adjudicado um milagre.

28 de Setembro, 2014 Carlos Esperança

Notícias religiosas