Ao comprar, hoje, o “Jornal de Notícias” (JN), fui presenteado com um calendário para 2017. Não seria nada de especial, se o dito calendário não fosse comemorativo do… “centenário das aparições de Fátima”. Publicitar o que se sabe ser a maior fraude religiosa do Séc XX, é erguer um monstruoso monumento ao obscurantismo. Maior ainda, quando se sabe que o JN pretende ser um “jornal de referência” e é, certamente, um dos jornais com maior audiência em Portugal. A plebe, depauperada por anos de “coelhices”, está propensa a acreditar em tudo o que a possa salvar. Nem que seja o D. Sebastião, ou a “virgem” de Fátima. O JN está a dar uma preciosa ajuda. E a porra é que aqui no Norte não há grandes alternativas, em termos de leitura jornalística.
Sei, e basta ler a “ficha técnica” do JN, que os seus quadros comportam um religioso. Aliás, julgo saber que é o único jornal que contempla, com periodicidade religiosa, uma página, ou grande parte dela, dedicada à religião. Católica, naturalmente, que as outras não existem, mas aqui já é uma questão de reciprocidade. Tal é a independência do JN. Claro que não sou contra o facto de um padre ser jornalista; há padres que são muitas outras coisas, e acho bem que trabalhem. Mas, a bem da independência jornalística, sempre gostaria de ver o mesmo espaço dedicado às outras religiões. E ao ateísmo também, pois sei de ciência certa haver jornalistas ateus no JN.
Quanto ao calendário, foi direitinho para o “papelão”.
Diário de Notícias 8/12/2016
“O papa Francisco comparou hoje os meios de comunicação que procuram escândalos e difundem notícias falsas a pessoas sexualmente atraídas por excrementos, descrevendo os seus leitores como pessoas que gostam de comer fezes.”
E então eu pergunto, como fica a (s) Igreja (s) a difundir histórias como:
Já vi este filme
1865 – A décima terceira Emenda à Constituição norte-americana encerra formalmente a escravatura no país. Foi apenas há 1 século e meio (151 anos) que a escravatura foi aí ilegalizada. Novas formas permanecem e mesmo essa escravatura que desonra o passado de portugueses, que dela fizeram negócio de África para a América, com o apoio da ICAR, existe ainda em vários locais do globo, mantendo seres humanos como animais domésticos. Que raio de mundo!
1905 – A separação da Igreja e do Estado foi aprovada pelo senado francês em resposta às críticas do Papa Pio X. Este avanço civilizacional, que as próprias religiões defendem (quando minoritárias) e condenam com o argumento de que não se pode tratar de forma igual o que é diferente (quando maioritárias), corre o risco de ser posto em causa depois de 111 anos de excelentes provas dadas. As próximas eleições francesas realizam-se sob o medo, prevendo-se um duelo entre a pior direita e a extrema-direita.
1978 – A Espanha aprovou a constituição que estabeleceu a monarquia constitucional e o parlamentarismo como forma de governo. A ditadura católica e fascista terminou, mas a herança e a vontade do ditador prevaleceram. A monarquia não foi escrutinada porque as sondagens lhe eram desfavoráveis. Passou de contrabando com a Constituição que punha termo à ditadura. Aliás, se os espanhóis preferissem a monarquia ela passaria a ilegal quando as novas gerações tivessem de a aceitar como facto consumado e definitivo. Não se aceita que as monarquias tenham de acabar de forma musculada.
Sempre foi assim, o respeitinho é muito bonito…
Há na herança salazarista algo de genético que assalta os mais improváveis cidadãos e os torna cúmplices da limitação à liberdade de expressão. A defesa das tradições pode não ser mais do que a tentativa de perpetuação de hábitos ancestrais que urge erradicar.
O alegado respeito pelas tradições é a atitude reacionária de quem teme o progresso. A pena de morte, o esclavagismo, a discriminação de género, a homofobia e muitas outras aberrações inscrevem-se nessa incapacidade de aceitar a evolução civilizacional.
Expressões como «entre marido e mulher não metas a colher» ou «o respeitinho é muito bonito», por exemplo, servem apenas para manter a impunidade da violência doméstica e a subserviência, respetivamente.
Não me imponham respeito pela xenofobia, racismo, excisão do clitóris, decapitação ou lapidação, por maior prazer que dê a um deus que se rebole de gozo com tais práticas.
Se não puder usar outros meios, terei sempre o sarcasmo para demolir os apóstolos da fé que condenam a ciência.
Se quero ser respeitado devo respeitar os outros? Ninguém garante que me respeitem ou que acertem no que me ofende. E se me ofenderem, que mal vem daí? Por que motivo hei de respeitar a crença de quem crê que o Padre Eterno fez o mundo em seis dias e descansou ao sétimo, ou outros que divirjam de mim, têm obrigação de me respeitar?
Há quem se ofenda com a música, a pintura, a carne de porco, o álcool ou o tornozelo desnudo de uma mulher e quem creia que a água vulgar, depois de sinais cabalísticos, passa a benta. Devo calar a surpresa ou suspender o riso para não os ofender?
As crenças são para combater e os crentes para tentar compreender. Só a violência é inaceitável. 
Quando é que os beatos e extremistas religiosos compreendem que a religião é um assunto privado?? O Estado representa TODOS os seus habitantes e tem de proceder de forma igual para crentes e não crentes.

O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.