1 de Dezembro, 2004 Carlos Esperança
Religião e saúde
Sob o título «Bispos enfatizam assistência espiritual» o «Público» de hoje informa que o presidente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde», padre Vítor Feytor Pinto, defendeu ontem, em Fátima, uma maior formação de médicos e enfermeiros para integrarem a assistência espiritual no tratamento dos doentes.
Acusando os referidos profissionais de que «absolutizam a técnica « e ignoram o apoio espiritual que deve ser dado aos doentes», lembrou que «o novo Plano Nacional de Saúde, que está em vigor até 2014, inclui a assistência espiritual e religiosa como uma acção terapêutica junto dos doentes».
– Quais as bases legais que levam as autoridades a aprovarem «a assistência espiritual e religiosa como uma acção terapêutica»?
– Quais as bases científicas que garantem a eficácia? Há ensaios duplo-cegos que provem a eficácia superior ao placebo e ausência de toxicidade?
– Qual é a legitimidade ética para impor a pessoas, debilitadas pela doença, semelhante bizarria?
Já se imaginou um médico a prescrever um antibiótico mais uma ave-maria, um analgésico intervalado com padre-nossos ou o tratamento prolongado de cortisona com uma novena?
Um enfermeiro não tem legitimidade para obrigar o enfermo a debitar uma salve-rainha enquanto aplica um clister, a rezar o acto de contrição a um paciente com uma blenorragia, a impor o credo enquanto administra o óleo de rícino, a solicitar um padre para ministrar a eucaristia como tisana para a obstipação ou obrigar a rezar uma oração aos pastorinos de Fátima a um doente achacado com hemorróidas.
É preciso pôr cobro aos desvarios da ICAR.
Nos últimos 30 anos foram observadas mais de 1.500 mudanças morfológicas em espécies por todo mundo, documentando os processos naturais da evolução. Agora chega-nos a notícia das mudanças mais dramáticas de que há conhecimento: um aumento em 10% das penas posteriores laterais nas andorinhas macho do norte da Europa.