13 de Novembro, 2005 Carlos Esperança
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Atento às prevenções recomendadas para minimizar o risco da pandemia da gripe das aves, o Papa considera a hipótese de cancelar a Missa do Galo deste ano.
Atento às prevenções recomendadas para minimizar o risco da pandemia da gripe das aves, o Papa considera a hipótese de cancelar a Missa do Galo deste ano.
Pat Robertson volta a merecer, pelas piores razões, grandes parangonas nos jornais norte-americanos. De facto, depois de ter sugerido o assassinato do presidente eleito da Venezuela, de ter atribuído a homossexuais e ateístas a culpa pelos atentados de 11 de Setembro, de ter afirmado que os terroristas que perpetraram o 11 de Setembro são apenas «alguns terroristas barbudos que voam contra edíficios» e que os juízes federais que não partilham os seus pontos de vista são uma ameaça maior para a América que os terroristas, Nazis durante a segunda Guerra Mundial ou a Guerra Civil no século XIX, de afirmar que uma proposta de atribuir direitos iguais às mulheres as encoraja a «matar os seus filhos, praticar feitiçaria, destruir o capitalismo e tornarem-se lésbicas», Pat Robertson debitou mais uma das pérolas de raciocínio que caracterizam tão piedoso cristão.
Desta vez as diatribes de Robertson dirigiram-se contra os eleitores da Pensilvânia que «votaram Deus para fora da sua cidade» votando contra os conselheiros escolares que pretendiam introduzir o criacionismo cristão, disfarçado de IDiotia, nas escolas de Dover. O piedoso pastor ameaçou os ateus eleitores com a vingança divina e desafiou-os a recorrerem a Darwin quando a «justa» retribuição divina se abater sobre Dover na forma de uma qualquer catástrofe natural.
Esta ameaça de «castigo divino» sobre cidades em que os seus habitantes não seguem os ditames preconizados pelo cristianismo é recorrente em Robertson, que já em 1988 avisara os cidadãos de Orlando, Flórida, do risco iminente de furacões, terramotos e ataques terroristas que a sua decisão de permitir que organizações homossexuais içassem bandeiras multicolores em apoio da diversidade sexual certamente mereceria do «Deus» do cristianismo…
A insurreição que eclodiu recentemente nos bairros periféricos de Paris, incendiou a França e contagiou a Europa é um fenómeno assustador. A conjuntura económica, a segregação que o comunitarismo agrava, o desemprego e o desalento são o húmus que alimenta a rebeldia.
É neste caldo de cultura que explode a violência e o ímpeto destruidor que surpreendeu os franceses e assustou a Europa.
As causas vão permanecer pois não há resposta fácil e, muito menos, célere. Enquanto as soluções tardam, os pescadores de águas turvas vão aproveitar-se do sobressalto e explorar o medo, o racismo e a xenofobia.
Curiosamente ninguém parece dar-se conta de que nos bairros suburbanos numerosos imãs pregam o ódio aos infiéis, acicatam as jovens a desafiar, com o véu, a escola laica e procuram ganhar influência para substituir a escola pública por madraças.
Um pouco por todo o lado é o ódio à laicidade que desabrocha. Parece que o islão e o catolicismo se concertaram na desforra de que o clero francês parecia ter abdicado.
Por coincidência os tremendos desacatos acontecem a um mês do centenário da lei da separação da Igreja e do Estado que se comemora no próximo dia 10 de Dezembro.
Diz-se que a paz social se obtém com o apoio do clero, cúmplice da onda de violência que acicata nas pregações, teledirige das mesquitas e apoia a debitar o Corão.
Para já a resposta tem de ser policial e nunca, absolutamente nunca, se deve transigir na defesa do Estado de Direito e no carácter laico que preserva o pluralismo e contém os ímpetos prosélitos de uma civilização decadente que procura na fé o lenitivo para o seu estertor.
Não foi o modelo francês de integração que fracassou, foi a tibieza na sua defesa, a insuficiência do seu aprofundamento e a hesitação na sua aplicação.
Desistir do carácter intransigentemente laico do Estado é comprar a paz a curto prazo e fomentar a guerra no futuro. Confiar aos clérigos a defesa da tranquilidade pública é dar aos transgressores os meios para subverter a lei e comprometer a liberdade. Mudar de paradigma é estimular o desafio às instituições e enfraquecer a democracia.
A Virgem Santíssima, representada para todos os efeitos legais pela Senhora de Fátima, cansada do Santuário e das mãos beatas que a vestem e despem, escapa-se às vezes para peregrinações litúrgicas na companhia dos padres.
Longe vão os tempos em que pulava de azinheira em azinheira, antes de o reumatismo e o tamanho das saias lhe tolherem os movimentos e a liberdade.
Era o tempo em que ainda punha o Sol às cambalhotas, a espreitar por baixo do manto, e os basbaques de joelhos a procurar a melhor posição para lhe perscrutar o íntimo e mostrar o terço com que afugentavam o demo e queriam converter a Rússia.
Hoje, a Senhora de Fátima está em Lisboa, rodeada de padres, bispos e outros ociosos, à espera de a levarem a percorrer o caminho das prostitutas, proxenetas e carentes sexuais que arriscam a SIDA, a hepatite, a blenorragia e a sífilis.
O patriarca Policarpo vai consagrar Lisboa à Virgem Santíssima como quem adjudica uma ilha tropical para oferecer à amante. Consagrando-lhe a cidade, oferece-lhe crentes e ateus, virgens e delambidas, polícias e ladrões, drogados e passadores, igrejas e lupanares, casinos e escolas, como se a cidade fosse uma coutada da ICAR e as pessoas os animais de um jardim zoológico de que a diocese fosse a proprietária.
Não será possível, à semelhança dos que pagavam a bula para comer carne à sexta-feira, pagar a isenção da consagração, evitar o odor a incenso e ser conspurcado com água benta?
Um destes dias o xeique Munir sai desembestado da mesquita para consagrar a cidade a Maomé e, se a moda pega, solta-se da sinagoga um rabino que consagra Lisboa a Yavé.
Depois de tanta consagração a cidade transforma-se num imenso bordel donde é prudente, por precaução, evacuar a Virgem Santíssima. À cautela.
Não sei se o III Congresso Internacional da Nova Evangelização, a decorrer em Lisboa, ou uma síndrome de privação da hóstia torna alguns leitores do Diário Ateísta mais agressivos.
São fundamentalmente três as acusações com que fazem, nas caixas de comentários, a catarse freudiana dos medos, dúvidas e terrores do inferno que povoam as suas mentes:
1 – a pretensa superioridade moral e intelectual ateia, que nunca senti e jamais exibi.
2 – a referência reiterada a facínoras não católicos, como Stalin, Mao, Lenine e outros, acrescentando o cristão Hitler que em «A minha Luta» citava o Génesis deliciado com a violência de Cristo a agredir os Fariseus, referência que pretende confundir e absolver a ICAR da cumplicidade nazi/fascista.
3 – a afirmação de que há, entre os cristãos, pessoas boas, generosas e beneméritas, como se algum dia o Diário Ateísta tivesse duvidado.
Direi mais, tenho pelo patriarca Policarpo, o mais destacado quadro português da ICAR, consideração e respeito pela sua craveira intelectual, moral e cívica. Conheço grandes personalidades e tenho bons amigos crentes. Ninguém é perfeito.
Mas isso não faz virgem a mãe de Jesus, não transforma em infalível o Papa B16, não torna imaculada a concepção de Maria (fertilização in vitro?), nem altera a credibilidade dos milagres, aparições e exorcismos com que a ICAR ganha a vida e extasia os fiéis.
Em suma, as qualidades que exornam os crentes não tornam verdadeira a religião, não expurgam a violência e crueldade dos livros sagrados, não transubstanciam em corpo e sangue de Cristo o pão e o vinho sob o efeito de palavras e sinais cabalísticos.
JC deixou a doutrina que justificou a Inquisição, o Índex, a contra-reforma, o genocídio dos ameríndios, dos índios e de todos os que fossem avessos à conversão. Eis a verdade.
Vamos à cumplicidade nazi/fascista da ICAR. Não há sistema mais totalitário do que a teocracia. Não há religião que não se encoste ao poder quando, de todo, não pode ser ela a detê-lo. Será por acaso que eram católicos Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet, Hitler e Pétain e cristãos os coronéis gregos?
Por que motivo a ICAR excomungou a democracia, o socialismo, o livre pensamento, o liberalismo, o comunismo e a maçonaria e nunca excomungou o nazismo? JP2 reiterou a excomunhão ao comunismo, já depois da queda do muro de Berlim, mas nunca fez o mesmo ao nazismo. E porque recusou o reconhecimento do Estado de Israel até 1993?
Por que preparou o Vaticano a fuga de Adolf Eichmann e outros próceres nazis para os livrar do julgamento de Nuremberga?
Que fez JP2 quando os Hutus católicos do Ruanda massacraram centenas de milhares de Tutsis com a participação activa do clero no genocídio? Ficou calado e cúmplice. Isto é recente.
Eis a razão:
Os versículos da Tora abençoam o assassinato de islamitas, passagens dos Evangelhos justificam a protecção de Pio XII a Adolf Eichmann pelo genocídio cometido contra os deicidas judeus e os surahs do Corão abençoam o massacre de judeus e cristãos (por esta ordem).
Yavé abençoa a guerra e os guerreiros e promete a destruição total dos palestinianos – a «guerra santa»segundo a expressão do livro de Josué. Jesus mandou «ir e evangelizar», justificando o proselitismo e os horrores de que parcialmente JP2 pediu perdão. Maomé, o mais rude e incivilizado, recomenda a jihad.
Os ateus são os inimigos comuns a abater pela demência mística dos três monoteísmos.
Os que acreditavam que o Sol girava à volta da Terra não eram, por isso, malfeitores. A ignorância da física quântica ou da energia atómica não torna ninguém indigno ou mau.
Quem crê que a Virgem Maria saltitou de azinheira em azinheira à procura da Lúcia ou que a beata Alexandrina de Balazar passou anos sem comer nem beber, em anúria, a alimentar-se de hóstias consagradas, não comete um crime.
Quem reza a um patife de nome Josemaria Escrivá de Blaguer convencido de que o fascista virou santo com três milagres obrados pelo cadáver, pede uma Graça, não é um delinquente.
Entendamo-nos de uma vez por todas. Os crentes são pessoas iguais aos ateus. O direito a acreditar na virgindade de Maria ou na virtude da bruxa da Lousã é um direito que os ateus defendem. Não significa que a bruxa não deva responder por burla e a ICAR denunciada a uma associação de defesa dos direitos dos consumidores.
Estão em causa, e só, a publicidade enganosa que divulgam, as pressões psicológicas, os terrores que infundem, os ódios que acicatam, as guerras que fomentam. Ninguém no Diário Ateísta persegue os crentes, apenas combate o que julga ser mentira.
A minha posição para com os crentes é a mesma que tenho para com os drogados. Tolerante com estes e vigoroso contra os que produzem e traficam a droga.
As hóstias que cada um papa, as missas que consome, os terços que reza, as ladainhas que debita, o incenso que aspira ou a água benta com que se borrifa, são direitos que os países livres consagram e defendem. E defendem mais – o direito de mudar de religião e o de abdicar de qualquer uma.
As Igrejas não podem nem devem, na minha opinião, servir-se do aparelho de Estado, ameaçar, perseguir ou perturbar a opinião pública no seu proselitismo. E, naturalmente, têm o direito de combater o ateísmo, pela palavra, o mesmo que assiste aos ateus para desmascarar a burla religiosa.
É do confronto dialéctico de posições divergentes que nasce a luz, não é da palavra de Deus bolsada pela voz de clérigos ou vertida na violência dos livros sagrados.
O acto de violação é um «crime horroroso», mas «praticar o aborto de um feto são, fruto, embora, de um acto abjecto, é fazer pagar a vítima inocente pelo criminoso».
A frase citada pertence ao médico Walter Oswald. Foram as palavras com que o director do Instituto de Bioética da Universidade Católica inaugurou as conferências do Congresso Internacional da Nova Evangelização a decorrer em Lisboa.
O referido médico é, há décadas, simultaneamente um dos mais influentes responsáveis das comissões nacionais de ética da Ordem dos Médicos e dos Hospitais portugueses.
Não vale a pena recordar o passado tenebroso de uma Igreja que gosta de se apresentar como campeã da defesa da vida. Não houve crime nem execração que não cometesse em dois mil anos.
Vale a pena reler a frase e ver a absoluta insensibilidade em relação à mulher violada, o desprezo que a Igreja, de que o referido médico é um dos leigos mais estimados, nutre pela mulher.
Não posso deixar de recordar João Paulo II, perante as gravidezes das freiras violadas por militares, no Kosovo. Pô-las perante a alternativa de darem os filhos para adopção ou abandonarem o convento.
Eis a moral e a sensibilidade de recalcados sexuais que desenvolveram uma mentalidade misógina nas piedosas leituras dos Evangelhos.
Esta foto é dedicada aos novos leitores do Diário Ateísta que desconhecem a cumplicidade da ICAR com Hitler.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.