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Laicidade desafiada

A insurreição que eclodiu recentemente nos bairros periféricos de Paris, incendiou a França e contagiou a Europa é um fenómeno assustador. A conjuntura económica, a segregação que o comunitarismo agrava, o desemprego e o desalento são o húmus que alimenta a rebeldia.

É neste caldo de cultura que explode a violência e o ímpeto destruidor que surpreendeu os franceses e assustou a Europa.

As causas vão permanecer pois não há resposta fácil e, muito menos, célere. Enquanto as soluções tardam, os pescadores de águas turvas vão aproveitar-se do sobressalto e explorar o medo, o racismo e a xenofobia.

Curiosamente ninguém parece dar-se conta de que nos bairros suburbanos numerosos imãs pregam o ódio aos infiéis, acicatam as jovens a desafiar, com o véu, a escola laica e procuram ganhar influência para substituir a escola pública por madraças.

Um pouco por todo o lado é o ódio à laicidade que desabrocha. Parece que o islão e o catolicismo se concertaram na desforra de que o clero francês parecia ter abdicado.
Por coincidência os tremendos desacatos acontecem a um mês do centenário da lei da separação da Igreja e do Estado que se comemora no próximo dia 10 de Dezembro.

Diz-se que a paz social se obtém com o apoio do clero, cúmplice da onda de violência que acicata nas pregações, teledirige das mesquitas e apoia a debitar o Corão.

Para já a resposta tem de ser policial e nunca, absolutamente nunca, se deve transigir na defesa do Estado de Direito e no carácter laico que preserva o pluralismo e contém os ímpetos prosélitos de uma civilização decadente que procura na fé o lenitivo para o seu estertor.

Não foi o modelo francês de integração que fracassou, foi a tibieza na sua defesa, a insuficiência do seu aprofundamento e a hesitação na sua aplicação.

Desistir do carácter intransigentemente laico do Estado é comprar a paz a curto prazo e fomentar a guerra no futuro. Confiar aos clérigos a defesa da tranquilidade pública é dar aos transgressores os meios para subverter a lei e comprometer a liberdade. Mudar de paradigma é estimular o desafio às instituições e enfraquecer a democracia.