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25 de Julho, 2006 Carlos Esperança

Viagem à teosfera

Há dias pus-me a navegar por blogues nunca dantes visitados e encontrei abundantes referências ao Diário Ateísta, com numerosos insultos e um santo ódio de amigos da missa e da hóstia, clonados nas sacristias da Igreja católica.

Julgá-los-ia suicidas islâmicos à cata de virgens e rios de mel se não fossem femininos alguns nomes e vernáculos os erros ortográficos e as derrapagens na sintaxe.

Perdoe-se a imodéstia, mas senti-me animado com o número de citações que me cabem e a aversão cristã que lhes mereço. Na origem dos despautérios só pode estar a ressaca da hóstia ou a pesada penitência de uma confissão.

Da subserviência ao Papa não me admirei, é a postura rastejante de quem julga que o pastor alemão é o vendedor de bilhetes para o Paraíso. O que me surpreendeu foi o ar bovino de quem critica e alvitra sobre o ateísmo que o Diário Ateísta devia defender.

Jamais me permitiria dizer como deve ser o cristianismo, o islão ou o judaísmo. Não tomo partido sobre as patranhas da fé nem pretendo melhorar a forma como os créus exploram o cadáver de Cristo e os versículos do livro único adoptado.

Pela minha formação humanista há muito que teria aliviado o Cristo da penosa coroa de espinhos e o tinha apeado da cruz, mas esse é um problema dos padres que exploram o sofrimento e acham apelativa a iconografia do calvário.

Quanto às ameaças expressas, não as levo a sério, são de catequistas de libido recalcada. Pretendem imitar o divino mestre quando entrou no templo, com excesso de alcalóides, e expulsou a golpes de azorrague os fariseus que, dando-se conta do estado de agitação do desordeiro, prescindiram de lhe partir as trombas.

25 de Julho, 2006 Palmira Silva

Liberdade religiosa

Acho a analogia da religião com um partido político deliciosa! Especialmente porque considero que a religião, tal como a política, é um jogo de poder. Liberdade religiosa significa que cada um é livre de escolher a respectiva religião. Ninguém pode ser de facto livre se as escolhas dos pais lhe são impostas desde o berço.

24 de Julho, 2006 Palmira Silva

Música sacra?

Sandro Botticelli «O nascimento de Vénus» (1485) Galleria degli Uffizi, Florença

Vecellio Tiziano «Adoração de Vénus» (1519), Museo del Prado, Madrid

Sempre achei curioso que muita da música reputadamente «sacra» tenha sido escrita por ateus, agnósticos ou panteístas. E mais curioso ainda que se assuma como dado adquirido que os artistas que a compuseram seriam necessariamente cristãos que expressavam em música a sua devoção fervorosa. No entanto, ninguém pensaria que, por exemplo, Botticelli ou Tiziano, o maior pintor da escola de Veneza, que pintaram profusamente cenas da mitologia greco-romana, eram pagãos adoradores de Baco, Vénus, Júpiter e restantes deuses.

De facto seria espantosa a quantidade de Te Deum, Requiem, Missa Solemnis, Stabat Mater e demais música sacra sortida, escrita por não teístas, obviamente sem alguma inspiração «divina», não fora o facto de nesse tempo para um artista sobreviver precisar ou de um patrono rico ou de escrever música por encomenda. Os únicos com dinheiro para tal faziam parte do clero ou da nobreza, a quem convinha estas cultas demonstrações de devoção.

Alguns exemplos de grandes compositores de música sacra não teístas são Ludwig van Beethoven, Berlioz – que a Enciclopédia Católica reclama como «seu» mas na realidade Berlioz era ateísta, como comprovado pelas palavras do próprio na sua correspondência publicada por G. K. Boult (Life of Berlioz, 1903, p. 298) – Johannes Brahms, o compositor do Ein deutsches Requiem, Mozart, Franz Peter Schubert ou Robert Schumann.



24 de Julho, 2006 pfontela

Tinham dúvidas?

Para quem ainda pudesse ter dúvidas sobre as verdadeiras intenções da hierarquia católica fica aqui parte de uma entrevista dada pelo cardeal Trujillo:

«Sobre o argumento “Não impor a moral católica aos não católicas”

“Conheço essa argumentação… Pensar assim significa não aceitar o desígnio de Deus…”.»
Ou seja vão todos ser católicos nem que tenham que ir presos! (quem diz ir preso diz arder na fogueira…)

Para mais pérolas na mesma entrevista ver aqui.

24 de Julho, 2006 Palmira Silva

Rock blasfemo

Sob a alegação de que as bandas participantes cantam músicas com líricas blasfemas que influenciam negativamente a juventude, uma igreja holandesa está a tentar impedir a realização do Festival Els Rock Open Air, programado para o próximo dia 26 de Agosto, na cidade de Rijssen. Entre as bandas esperadas encontram-se os Suffocation, Holy Moses, Sun Caged e Perzonal War.

Autoridades da Igreja holandesa solicitaram oficialmente a proibição do evento, mas a câmara local negou o pedido, uma vez que este foi autorizado há um ano e, como tal, já não é possível impedir a sua realização.

O vice-presidente da Câmara de Rijssen, Wim Stegeman, afirmou que não há bases legais para proibir o festival mas tentou apaziguar os dignitários cristãos afirmando que os organizadores do festival não convidaram bandas consideradas «demasiado extremistas» na sua abordagem lírica.

Acho pouco provável que Stegeman tenha convencido os dignitários de uma religião baseada na proibição de tudo e mais umas botas – e na carpição de perseguição pelos malvados anti-cristãos se não forem autorizados a impor a proibição do «pecado» ou da blasfémia a todos – sobre a ortodoxia das líricas a entoar no palco de Rijssen.

Especialmente se considerarmos que o «Imagine» de John Lennon foi considerado «abordagem lírica extremista», isto é, música «anti-religiosa», pelo director de uma escola primária católica que proibiu os pequenos alunos de cantarem o hino à paz internacional num evento dedicado ao tema «Músicas para um Planeta Verde».

Aliás, desde o «Ain’t Necessarily So», de George e Ira Gershwin, banido de todas as estações de rádio nos Estados Unidos e Inglaterra pouco depois do seu lançamento, já que, não questionando directamente a existência de Deus, desafiava a interpretação literal da Bíblia, a música tem estado sob a mira dos zelotas cristãos. Especialmente a música rock que para os fundamentalistas, como Ratzinger, é considerada um «contra-culto que se opõe ao culto cristão».

E especialmente «blasfemos» encontramos os músicos que não têm quaisquer problemas em assumir o seu ateísmo nas respectivas líricas, de Gary Numan a Marilyn Manson, passando por Bad Religion, Depeche Mode, Sex Pistols, Crash Test Dummies, Enigma, Trent Reznor, Bauhaus, REM, XTC, The The, Nine Inch Nails, John Lennon, Brian Eno (Roxy Music), Frank Zappa, David Byrne, Ani DiFranco, Tom Waits, etc..

Um excerto de uma lírica «blasfema» de Numan, um músico de culto que se revelou nos finais dos anos 70, abertamente anti-religião, do seu álbum de 1994 «Sacrifice», mais concretamente da faixa «A Question of Faith», especialmente certeira nestes tempos de violência em nome de Deus:

«When children kill children
Don’t it make them wonder?
Don’t it make them question their faith?»

23 de Julho, 2006 Palmira Silva

Atentado de Bombaim: primeiras detenções

A polícia indiana efectuou as primeiras detenções relacionadas com o atentado terrorista que matou mais de 180 pessoas em Bombaim na semana passada. Os primeiros detidos são activistas do Students Islamic Movement of India (SIMI), os quatro mais recentes são alegadamente membros do Lashkar-e-Tayyaba, o Exército dos «Puros»..

As suspeitas de que pelo menos os explosivos e o planeamento do atentado fosse da responsabilidade do Lashkar-e-Tayyaba, o grupo islâmico baseado no Paquistão que há muito luta pela soberania do Paquistão sobre Caxemira, foram imediatas e os últimos desenvolvimentos confirmam essas suspeitas.

Mais indicações do envolvimento do Lashkar-e-Tayyabano atentado residem no facto de que foi utilizado o explosivo militar RDX na manufactura das bombas utilizadas em Bombaim. Este explosivo é muito utilizado pelos militantes islâmicos em Caxemira, especialmente pelo referido movimento terrorista.

Entretanto na Caxemira sob administração indiana foi preso Mohammad Rafiq Sheikh, ou Mudassar, um dos líderes do movimento, procurado por mais de 20 atentados, incluindo um ataque com granadas em Sranigar no mesmo dia do atentado de Bombaim.

Um e-mail enviado a uma estação local de televisão, a Aaj Tak, que reinvidicou a autoria do atentado de Bombaim para uma organização denominada Lashkar-e-Qahhar, ou Exército do Terror, foi descartado pela polícia. De facto, há indicações da polícia indiana de que o e-mail é uma brincadeira (de mau gosto) de um jovem indiano. Quiçá como protesto em relação à medida adoptada pelo governo, na tentativa de evitar uma escalada da violência entre hindus e muçulmanos, de bloquear, como medida de segurança, o domínio blogspot.

As iniciativas de paz entre a Índia e o Paquistão foram seriamente abaladas pelos acontecimentos de 11 de Julho.

23 de Julho, 2006 Carlos Esperança

Associação Protectora das Almas

Não sei como se sentem os protectores de embriões, óvulos e células correlativas, clonados nas madraças da ICAR, quando uma alma por erro de navegação ou capricho da natureza se encavalita num feto estacionado fora do parque, em sítio proibido.

Refiro-me às gravidezes ectópicas. Trata-se de asneira de Deus ou produto do acaso mas, para quem tudo o que de bom acontece é obra de Deus e o mal fruto do Diabo, deve ser um problema que perturba o entendimento e os neurónios.

Para os pios, a ejaculação é genocídio e o aborto uma alma que migra para a sanita. Só assim se percebe a sanha com que os protectores das almas encaram o sexo e a irritação que lhes causa a reprodução medicamente assistida.

Há neste negócio das almas obscuros interesses e perturbações mentais.

Dos caminhos rurais abalaram as caixas de esmolas para as alminhas do Purgatório e, lentamente, vão acabando as missas de sufrágio, os lucrativos trintários, combustível etéreo usado para aumentar a velocidade do veículo que ligava o Purgatório ao Paraíso.

As almas estão à guarda de Deus que as manda em correio azul aos espermatozóides capazes de atingir os óvulos. Não sei se envia várias para a hipótese de falharem o alvo ou se disponibiliza apenas uma para não irritar os padres.

Após a morte, a alma viaja para os destinos do costume: Limbo, Purgatório, Inferno ou Paraíso. Só não percebo a obsessão dos padres com a alma dos que se desinteressam do seu destino e desprezam Deus. Deve ser a vocação totalitária que os consome.

23 de Julho, 2006 Palmira Silva

A imbecilidade criacionista

Kent Hovind, o fundamentalista cristão dono do Dinosaur Adventure Land – um parque biblíco perto de Pensacola, Flórida, em que são apresentadas como verdades absolutas fantasias de que a Terra tem apenas seis mil anos, que o Grand Canyon foi formado num dia como consequência do grande dilúvio biblíco e que os homens coexistiram com os dinossauros – é um expoente da paranóia e demais idiossincrasias dos fundamentalistas cristãos.

Como um dos nossos leitores do Comunhão e Libertação que afirmava, com a arrogância insultuosa que é característica deste movimento, ser a teoria da evolução algo sem pés nem cabeça congeminado com o único propósito de «provocar» os cristãos, Hovind afirma que a «abominação» evolucionista é um conspiração satânica com o propósito de estabelecer uma «Nova Ordem Mundial» anti-cristã, com Belzebu nas rédeas. Conspiração que pretende introduzir outras abominações como o aborto, justiça social, ambientalismo e eliminação da pena de morte.

Parte desta suposta conspiração evolucionista foi «revelada» quando as autoridades da Flórida ordenaram o encerramento dos edíficios integrantes do parque, porque Hovind nunca obteve uma licença de construção para os mesmos, licenças que supostamente violavam os sentimentos religiosos profundos dos seguidores da seita de Hovind.

Hovind, que dirige o oxímero [Evangelismo da] Ciência da Criação é literalmente um fundamentalista cristão, isto é, advoga a inenarrância e literalidade da Bíblia, e concumitantemente, é um criacionista puro e duro, daqueles que afirmam que a Terra tem 6 000 anos. Também concumitante com o seu fundamentalismo cristão Hovind é visceralmente anti-semita e vende livros como «Fourth Reich of the Rich» para além de recomendar a leitura da invenção imbecil «The Protocols of the Elders of Zion», um livro que viu a luz do prelo em 1905 como apêndice ao livro «The Great and the Small» do escritor russo Sergei Nilus, pretendendo ser as minutas de um grande encontro de líderes judeus. Os Protocolos de Sião, uma justificação do anti-semitismo, descrevem os meios tortuosos pelos quais, supostamente, os judeus pretendiam causar um colapso político e económico global de forma a facilitar o seu domínio do mundo.

Hovind, que considera ser a segurança social um dos grandes problemas dos Estados Unidos (em conjunto com o ambientalismo e o sistema de impostos), advoga a lapidação das mulheres «promíscuas», é um grande defensor da pena de morte e propõe que a execução de criminosos seja pública – e por lapidação – afirma que a «democracia é um mal e contrária à lei de Deus».

A «satânica» democracia americana prendeu na quinta-feira o devoto cristão com base em 58 acusações federais, proeminente a recusa em pagar impostos, incluindo segurança social para os seus funcionários – que Hovind pretende serem missionários – e ameaças a investigadores do IRS.

Kent Hovind declarou-se inocente de todas as acusações. Aliás afirma nem sequer perceber porque é acusado já que não reconhece direito ao governo federal em o julgar por fraude e evasão fiscal.

De facto, o criacionista afirma que tudo o que o possui não é dele mas sim de Deus e como tal o governo não tem jurisdição sobre os seus bens. Nas suas alegações de inocência Hovind conta com o conselho e ajuda do seu associado Glen Stoll, bem conhecido devido aos seus esquemas fraudulentos pelo IRS americano…