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Rock blasfemo

Sob a alegação de que as bandas participantes cantam músicas com líricas blasfemas que influenciam negativamente a juventude, uma igreja holandesa está a tentar impedir a realização do Festival Els Rock Open Air, programado para o próximo dia 26 de Agosto, na cidade de Rijssen. Entre as bandas esperadas encontram-se os Suffocation, Holy Moses, Sun Caged e Perzonal War.

Autoridades da Igreja holandesa solicitaram oficialmente a proibição do evento, mas a câmara local negou o pedido, uma vez que este foi autorizado há um ano e, como tal, já não é possível impedir a sua realização.

O vice-presidente da Câmara de Rijssen, Wim Stegeman, afirmou que não há bases legais para proibir o festival mas tentou apaziguar os dignitários cristãos afirmando que os organizadores do festival não convidaram bandas consideradas «demasiado extremistas» na sua abordagem lírica.

Acho pouco provável que Stegeman tenha convencido os dignitários de uma religião baseada na proibição de tudo e mais umas botas – e na carpição de perseguição pelos malvados anti-cristãos se não forem autorizados a impor a proibição do «pecado» ou da blasfémia a todos – sobre a ortodoxia das líricas a entoar no palco de Rijssen.

Especialmente se considerarmos que o «Imagine» de John Lennon foi considerado «abordagem lírica extremista», isto é, música «anti-religiosa», pelo director de uma escola primária católica que proibiu os pequenos alunos de cantarem o hino à paz internacional num evento dedicado ao tema «Músicas para um Planeta Verde».

Aliás, desde o «Ain’t Necessarily So», de George e Ira Gershwin, banido de todas as estações de rádio nos Estados Unidos e Inglaterra pouco depois do seu lançamento, já que, não questionando directamente a existência de Deus, desafiava a interpretação literal da Bíblia, a música tem estado sob a mira dos zelotas cristãos. Especialmente a música rock que para os fundamentalistas, como Ratzinger, é considerada um «contra-culto que se opõe ao culto cristão».

E especialmente «blasfemos» encontramos os músicos que não têm quaisquer problemas em assumir o seu ateísmo nas respectivas líricas, de Gary Numan a Marilyn Manson, passando por Bad Religion, Depeche Mode, Sex Pistols, Crash Test Dummies, Enigma, Trent Reznor, Bauhaus, REM, XTC, The The, Nine Inch Nails, John Lennon, Brian Eno (Roxy Music), Frank Zappa, David Byrne, Ani DiFranco, Tom Waits, etc..

Um excerto de uma lírica «blasfema» de Numan, um músico de culto que se revelou nos finais dos anos 70, abertamente anti-religião, do seu álbum de 1994 «Sacrifice», mais concretamente da faixa «A Question of Faith», especialmente certeira nestes tempos de violência em nome de Deus:

«When children kill children
Don’t it make them wonder?
Don’t it make them question their faith?»