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Categoria: Vaticano

20 de Outubro, 2025 Onofre Varela

Humanismo e lei religiosa (1)

O tema em que pego para escrever esta crónica, obriga-me a ocupar um espaço maior do que aquele que o jornal me concede. Vou, por isso, dividi-lo em três partes, publicando hoje a primeira parte.

Cada país rege-se pelas leis aprovadas no seu Parlamento, o qual tem duas formas de existência: ou foi formado pelo voto popular e vive em Democracia, ou foi imposto por um qualquer sistema ditatorial.

Retirando a segunda hipótese que todos nós rejeitamos (espero eu… exceptuando quem não o rejeita, até o deseja, e que hoje até tem assento no nosso Parlamento), é comum, por respeito à liberdade dos povos, não nos imiscuirmos na política interna de outros países, nem “ditarmos leis” na casa dos nossos vizinhos. Mas podemos (e, sobretudo, devemos) criticá-los porque a Democracia também existe para isso mesmo… e no caso de os nossos vizinhos serem dirigidos por ditadores, podemos (e também, sobretudo, devemos) ajudá-los a combater a ditadura que os oprime, em nome da decência, da ética e da Humanidade.

As leis não caem do céu como as folhas outonais caem das árvores.

Há uma “História das Leis” ligada ao desenvolvimento da Civilização. No Egipto Antigo, há 5.000 anos, já havia uma lei escrita para governar o país, baseada na tradição e na igualdade social.

Há 3.800 anos, o Código Hamurábi regia a lei na Babilónia, ficando conhecido como o primeiro código de leis da civilização Suméria (o berço da civilização).

Fonte: The Paris Review

O Antigo Testamento tem mais de 3.300 anos e assume a forma de imperativos morais (alegadamente ditados por um deus) como recomendações para uma boa gestão da sociedade.

Há cerca de 2.900 anos, Atenas foi a primeira sociedade a basear-se na ampla inclusão dos seus cidadãos, mas excluindo mulheres e escravos.

A lei romana foi influenciada pela filosofia grega e impôs-se na Europa Medieval após a queda do Império Romano, a qual foi retocada com preceitos religiosos católicos.

Depois surgiu a necessidade de redigir leis internacionais para regular o comércio em toda a Europa e no mundo.

Toda esta retórica me serviu para chegar ao momento de dizer que, embora cada país tenha a autoridade legal e inalienável de ditar leis aos seus povos, é igualmente verdade que a liberdade de cada pessoa em qualquer parte do mundo é, também ela, inalienável à luz do Humanismo, do conceito da igualdade e do respeito devido ao próximo. Por isso as ditaduras são repudiadas.

Podemos dizer que cada sociedade tem a sua sensibilidade, e esta está na base das leis que a rege. Porém, o Humanismo não está presente nas leis de muitos países… e o Ser Humano é igual em qualquer parte do mundo. Cada mulher, cada homem, cada criança, tem o mesmo sistema nervoso que lhes permite sentir alegria e tristeza perante a mesma experiência de vida, e não precisamos de estudar Direito para sabermos – e sentirmos – o que é justo e o que é injusto. Aqui ou nos antípodas.

O Humanismo, com todas as particularidades que o constroem, é o único modo político e económico de governar (bem) os povos, em qualquer parte do mundo.

PARTE 2

20 de Julho, 2025 Onofre Varela

Moral, Ética e destruição de barracas

O nosso comportamento social deve obedecer a uma moral e a uma ética. A Moral reúne valores e costumes de uma cultura, para orientação comportamental dos indivíduos; a Ética é a reflexão filosófica sobre a Moral, procurando princípios universais na avaliação do nosso comportamento.

Daqui se conclui que muitas atitudes políticas (e também religiosas) podem ser “morais” perante a moralidade da lei vigente, mas não serão “éticas” (como é exemplo a destruição das barracas de quem não tem tecto… o que, para a autarquia que assim actua, poderá ser legal; mas não há quem, em qualquer lugar do mundo, garanta ser uma atitude moral e ética).

Não haverá sociedade sem um sentimento religioso entendido como normalizador do pensamento colectivo. Entre nós, essa “normalização” pertence ao Cristianismo na versão Católica que toma conta das mentes religiosas. Se ao Cristianismo retirarmos os preceitos puramente de fé (como Jesus ter sido clonado por Deus num útero de empréstimo, e em criança ter dado lições a doutores, e depois ter transformado água em vinho, curado leprosos, ressuscitado mortos e a si próprio)… o que sobra desta crença é o amor (o respeito) devido aos outros; e por aí, o que encontramos é filosofia ateísta pura.

A ética religiosa nem sempre é validada pela moral universal e laica. Por exemplo: no Alcorão (III, 157) a ética religiosa muçulmana manda matar os descrentes (segundo alguma interpretação da “Jihad”). No Catolicismo a ética cristã manda adorar a Deus sobre todas as coisas… o que quer dizer que, no tão humano Cristianismo, os nossos semelhantes estão a um nível inferior na escala do respeito; primeiro há que considerar um mito, só depois será observada a real existência das pessoas nossas iguais!…

Fonte: Sapo

Sendo a fé fruto de um pensamento colectivo, ela é, também, uma opção pessoal. Cada qual terá a sua; e a minha, que considero ter muitíssima importância, na verdade é tão estapafúrdia como a tua que para mim não tem valor algum, mas que para ti é a razão do teu viver.

Um dos males que consomem a Humanidade poderá ser o de se dar demasiada importância à crença num deus fictício, permitindo-se a exploração de mentes menos avisadas, e ao mesmo tempo se desrespeite o semelhante. Desrespeito que leva a guerras, matando gente e destruindo tanto património, só porque um líder vaidoso e malvado quer que seja assim e tem armamento bastante para se sentir seguro da “sua vitória”, por muito injusta que (sendo conseguida) ela venha a ser reconhecida pela História.

O filósofo espanhol Fernando Savater, num dos seus textos, lembra Immanuel Kant para dizer que o mestre “acreditava já ser chegada a hora de a Humanidade abandonar a sua menoridade intelectual”. É esta “menoridade intelectual” que, mais de 200 anos depois de Kant, impede o Humanismo que faria do “Homo” um verdadeiro “sapiens” sem invadir países vizinhos nem destruir barracas antes de se dar habitação digna a quem em tais casebres tem o seu lar.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

24 de Junho, 2025 Onofre Varela

Aborto ainda condena mulheres portuguesas

Leio no jornal Público de 17 de Junho último, que “entre 2007 e 2024 houve 159 crimes de aborto registados em Portugal e 33 condenações em 1ª Instância relacionadas com estes casos”. A notícia é, no mínimo, estranha e assombrosa… já que a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) em Portugal está legalizada desde 2007 pela lei nº 16, de 17 de Abril, segundo fonte fidedigna da Direcção Geral da Saúde e da Sociedade Portuguesa da Contracepção. Quem agora veio revelar este assombroso número de “crimes” relacionados com a prática do aborto no país (que eu presumia legal) foi a Amnistia Internacional (AI) que regista tão elevado número no seu relatório sobre IVG em Portugal. Entre as recomendações que a AI deixa ao governo Português consta a retirada da prática abortiva do Código Penal… (eu nem imaginava que constava dele, depois da lei de 2007!).

A mesma notícia dá conta de que quem se governa muito bem com esta “titubeante legalização da IVG em Portugal” são as clínicas espanholas. Em seis anos (de 2019 até 2025), 3352 grávidas portuguesas recorreram a clínicas espanholas para interromperem a gravidez. Não é novidade: em Junho de 1999 (quando ainda era proibido abortar em Portugal) a imprensa noticiou que nos três anos anteriores cerca de nove mil mulheres portuguesas tinham recorrido a clínicas espanholas para abortarem. Há, por cá, um movimento de “famílias bem” apoiado pela Igreja (não sei se alguns elementos destas famílias têm interesses económicos nas clínicas espanholas) que quer um retrocesso na lei que regulamenta a prática do aborto em Portugal, inscrevendo-o na mesma lista onde colocaram a eutanásia que não querem ver legalizada. 

É uma atitude que me parece muito estranha… porque aquilo que, de imediato, sobressai dela é a falta de respeito pela vontade do outro, o que mostra haver quem queira impor a sua própria vontade a todos os cidadãos do país! Para quem viveu, como eu vivi (em 1974 eu tinha 30 anos) a realidade do Portugal ditatorial sob o regime de Salazar e da Igreja Católica medieval (contra quem, e contra o que, eu estava) é que sente o bem que é ter a Liberdade de escolher que todos conquistamos em Abril!… 

Aos meus leitores mais novos lembro que as leis de Salazar proibiam o aborto e o divórcio, obrigando a que cada homem desse o seu apelido de família aos filhos da sua esposa, mesmo quando os bebés eram, garantidamente, filhos de outro homem! Quanto ao aborto, a tragédia multiplicava-se. Sob o falso e dogmático manto da defesa da vida, a petrificada posição religiosa contribuía para situações que se saldavam em elevado número de mortes, que seriam evitáveis através de políticas realistas, livres de religiosas e nefastas vontades. 

Getty Images

Em 1997, quando na Assembleia da República se discutia a lei da IVG, houve um caso noticiado pelo jornal Diário de Leiria como notícia local. Uma senhora tinha uma filha bebé de poucos meses e engravidou sem o querer. Por muito que ela quisesse dar um irmão ao primeiro filho, havia uma realidade económica e social que lhe dizia não ser possível fazê-lo naquele momento. Ela e o marido trabalhavam. As despesas da casa recém-adquirida levavam quase o vencimento do casal, deixando pouco para os restantes gastos familiares. Um outro filho naquela altura era impensável. Decidiu-se pelo aborto clandestino por ser o único modo que tinha de abortar naquele tempo. Mesmo assim, teve o bom senso de não confiar o seu corpo a uma habilidosa, e procurou uma profissional credenciada. Uma enfermeira que lhe foi recomendada por alguém. Teria de pagar 50 contos (parte para a enfermeira e outra parte para a pessoa que fez a mediação). Conseguido o dinheiro por empréstimo, a enfermeira provocou-lhe o aborto em sua própria casa. Dois dias depois a senhora não aguentava as dores e chamou a enfermeira que, vendo o caso de difícil solução, chamou uma ambulância e levou-a para o hospital. Foi-lhe diagnosticada uma “infecção generalizada”… e morreu no dia seguinte. 

São estes desfechos, impensáveis numa sociedade moderna, que os contrários à IVG querem ver nos telejornais da desgraça dos seus encantos?!…

18 de Junho, 2025 Onofre Varela

Nacionalismo criticado pelo Papa

O sentimento nacionalista é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, com ele se pode demonstrar o “amor” (talvez melhor dito) o “interesse”, do cidadão pela terra que é sua, pelo país que é seu, enaltecendo-o por razões perfeitamente válidas que têm a ver com a história familiar que faz o lugar onde nasceu, cujo lugar também acabou por o moldar numa simbiose natural difícil de igualar… é um sentimento poderoso, verdadeiro e, podemos dizer, mesmo… saudável (se for bem tomado).

Porém, há outro sentimento nacionalista que deve ser evitado… é aquele que acaba por inquinar mentes defeituosas, divorciadas de qualquer sentimento de fraternidade e saber, quando o nacionalismo propalado por tal defesa não passa do “egoísmo nacionalista patriótico”, apodrecido, mal cheiroso na sua vertente mais estúpida, sacana e doentia, configurando a ideia extremista de que “esta terra é minha e de mais ninguém”. É uma ideia egocentrista a evitar por qualquer pessoa de bem. Aliás, nem ideia será… é uma “ideiinha” só possível a quem não tem ideias!

A “minha terra” é, em termos geológicos e universalistas, a terra de toda a gente. Todos nós nascemos no mesmo planeta que é a nossa verdadeira terra, independentemente do local que pisemos. Podemos defender o valor afectivo que nutrimos pelo “nosso torrão”, pela “nossa rua”, mas sem esquecermos que “a rua dos outros” é tão importante quanto a nossa que pode ser calcorreada e habitada por quem nasceu noutras ruas… noutros torrões. (Aqui podemos abordar costumes étnicos “dos outros”, que são representativos “da rua deles”. Valores que nós também temos, embora sejam diversos dos seus. Esta diversidade faz a riqueza étnica da origem de cada um de nós. Mas esta consideração já merece um outro texto para além deste).

A condenação deste egoísmo patriótico esteve bem presente nas palavras do novo Papa, em notícia divulgada pela imprensa um mês após ter sido eleito.

Fonte

, na homilia da missa que celebrou no dia 8 de Junho, criticou o surgimento de movimentos políticos nacionalistas, classificando-os como lamentáveis, sem mencionar especificamente qualquer país ou líder nacional. Esta sua intervenção foi noticiada pelo jornal Público na edição do dia seguinte.

O Papa pediu “que Deus abra fronteiras, derrube muros e dissipe o ódio” seguindo pergaminhos de Francisco, o que aponta para que a sua intervenção política e social perante o mundo de crentes e não crentes, será muito idêntica à do seu antecessor, o que é uma boa notícia, se não para todos os católicos (os mais fundamentalistas [nacionalistas] não concordarão com ele), sê-la-à para todos os religiosos e ateus “de boa vontade”.

Este seu pedido foi feito perante uma multidão de dezenas de milhar de pessoas na Praça de S. Pedro, no Vaticano. «Não há lugar para o preconceito, para “zonas de segurança” que nos separem dos nossos vizinhos, para a mentalidade da exclusão que, infelizmente, vemos agora emergir também nos nacionalismos políticos», disse o pontífice.

Antes de se tornar Papa, Robert Prevost, enquanto cardeal, não hesitou em criticar o presidente dos EUA, Donald Trump e o vice-presidente J. D. Vance na rede social nos últimos anos. Francisco, que foi Papa durante 12 anos, era um crítico contundente de Trump e afirmou, em Janeiro, que o plano do presidente de deportar milhões de migrantes dos EUA durante o seu segundo mandato era uma “vergonha”.

Francisco disse mesmo que Trump “não era cristão” por causa das suas opiniões sobre a imigração. “Uma pessoa que pensa apenas em construir muros, seja onde for, e não em construir pontes, não é cristã”, disse Francisco quando questionado sobre Trump em 2016.

9 de Junho, 2025 Onofre Varela

O Papa na Geopolítica

Há quem recorde uma frase do Papa Francisco quando lhe ofereceram um livro onde o autor narra as campanhas organizadas contra si a partir dos círculos ultraconservadores dos Estados Unidos da América (EUA). Bergóglio terá dito: “Para mim é uma honra ser atacado por americanos”. 

O novo Papa, Leão XIV (de seu nome Robert Francis Prevost), enquanto americano pode falar com Trump usando estatuto de “cidadão americano” para “cidadão americano”, sem que o presidente dos EUA se coloque em bicos de pés sobre a sua nacionalidade que imagina superior à de qualquer outro cidadão do mundo. 

Notícias de Vila Real

Têm, ambos, histórias familiares idênticas. O papa nasceu nos EUA, sendo filho de pai com ascendência francesa e italiana, e de mãe com ascendência espanhola. Por sua vez, Donald Trump também nasceu nos EUA, sendo filho de pai descendente de imigrantes alemães, e de mãe escocesa. Trump expulsa imigrantes que procuram melhorar a sua vida buscando trabalho nos EUA, esquecendo a sua origem idêntica à daqueles que expulsa. 

Os seus progenitores tiveram a sorte de ser recolhidos pela mesma América… mas de outro tempo e com outro presidente. Agora a Igreja Católica tem um Papa dos EUA, mas que também é sul-americano como era o seu antecessor. Dos EUA porque nasceu em Chicago… e sul-americano porque viveu o seu sacerdócio no Peru, adquiriu a nacionalidade peruana e conhece a realidade social dos povos mais pobres do continente, sempre tão desprezados pelos poderosos da Economia dos EUA. 

Leão XIV tem um trunfo para jogar com Trump: a sua autoridade moral… coisa que Trump nem imagina o que seja. 

O clérigo Francis Prevost não é um intruso para os americanos… é “um deles”! E para os Sul-americanos também é “um deles”. Trump não pode rotulá-lo de “perigoso marxista” como a extrema-direita internacional apoucava o Papa Francisco. 

Agora há um rosário de perguntas que todo o mundo espera ver respondidas pelas acções de Leão XIV: como serão as suas relações, enquanto referência moral, com Donald Trump? E com a China, a Rússia, a Ucrânia, Israel, o mundo árabe e os povos latino-americanos? 

Respostas difíceis de encontrar, mas que deixam esta preocupação no ar: “o Papa nunca devia ser um natural da primeira potência mundial”. 

Espera-se um grandioso trabalho da máquina diplomática do Vaticano e da sua secretaria de estado. Hoje, o Vaticano é mais do que um estado e uma religião num mundo semeado de estados e de religiões. No mundo actual é inevitável um choque cultural, político e moral com epicentro na sua polarização. 

Trump, com a sua arrogância, representa um populismo desrespeitador de valores humanos, seguido também por Giorgia Meloni, de Itália, por Viktor Orban da Hungria, pelo Vox de Espanha e pelo seu correspondente Chega, de Portugal. Políticos que, hipocritamente, rezam ao mesmo Deus de Leão XIV… mas com os quais a Igreja não pode pactuar, sob pena de degradar a sua imagem, que foi tão bem retocada e polida por Jorge Mario Bergoglio. 

26 de Abril, 2025 Onofre Varela

“FRANCISCUS”

A memória do Papa Francisco merece a minha consideração de ateu, pela sua postura perante os pobres, os imigrantes e as mulheres, mais a aceitação no seio da Igreja daqueles que até aí eram escorraçados pela orientação sexual ou por serem divorciados. Tal atitude colocou-o a léguas da “beatice” dos Papas que o precederam e que conheci ao longo dos 80 anos da minha vida.

Como ponto alto da sua postura em favor da decência, Mario Bergoglio terminou com o segredo da confissão para criminosos pedófilos, entregando à sociedade civil, para que fossem julgados, os homens da Igreja que abusaram sexualmente de crianças. Para além disto, Bergoglio era, por essência, um “homem bom”… o que se notava no seu rosto e nos seus discursos. Ao mesmo tempo que demonstrava ser um clérigo diferente para melhor (atingindo a excelência) teve atitudes perfeitamente humanas, demonstrando ser um homem igual a todos os outros, carregando virtudes e defeitos de que qualquer um de nós é portador.

Por isso Francisco recusou a “capa de santo” tão comum na ornamentação da figura dos Papas, como que se um qualquer cardeal promovido a Papa fosse produzido por um espermatozoide de qualidade extra… à semelhança do “fiambre da pá”! O Papa Francisco assumia-se como sendo igual a qualquer pedreiro analfabeto ou ministro doutorado, como se demonstra na sua atitude ao bater na mão de uma crente que o queria agarrar num dos seus passeios na Praça de S. Pedro.

O modo de actuar do Papa Francisco foi diametralmente oposto ao seu antecessor, e contrário a muitos interesses instalados na Igreja (que se afirma espelho da perfeição, mas que no seu interior alberga tantos imperfeitos) o que transformou o Vaticano em “ninho de víboras” para o bispo argentino Mario Bergoglio. Recorde-se que em 2013, o alemão Ratzinger, no papel de Papa Bento XVI (B16), resignou ao cargo, obrigando à eleição de novo chefe para ocupar o trono da Igreja. B16 não era bem visto por alguns católicos situados na ala mais progressista da Igreja, que nunca deixaram de o criticar frontalmente por não esquecerem o seu passado à frente do Gabinete para a Congregação da Fé (substituto da “Santa Inquisição” de má memória). As suas acções de militante da extrema-Direita política a que colou o seu pensamento, foram notórias nos processos que desenvolveu para destruir o movimento denominado Teologia da Libertação, iniciado na década de 1950 pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, seguido pelo brasileiro Leonardo Boff, pelo salvadorenho Jon Sobrino e pelo uruguaio Juan Luis Segundo, entre outros.

Teologia da Libertação foi um movimento religioso e social muito desejado pelos paupérrimos povos católicos de toda a América Latina, sempre explorados pelos donos do dinheiro que o Vaticano protege na sua habitual dicotomia: no altar com os pobres e à mesa com os ricos! Por isso era notório o desprezo que muitos bispos sentiam por B16, o que não terá sido alheio à sua resignação. Francisco mostrou ser um bispo diametralmente oposto ao comum, o que lhe granjeou ódio dentro da Santa Sé. Instituiu-se uma guerra nos meios eclesiásticos, financeiros e políticos, contra si, o que sublinha a característica política e intriguista da Religião em geral, e da “Santa Sé” em particular.

Em 2019 li que “ultra-conservadores milionários norte-americanos – apoiados pelos partidos da Direita extremada do país de Donald Trump e da Europa – ensaiam um golpe palaciano que condicione a escolha do próximo Papa” (Palavras do jornalista Miguel Marujo na edição do jornal Diário de Notícias de 5 de Outubro de 2019, coincidentes com a opinião do jornalista espanhol Daniel Verdú no jornal El País do mesmo dia). Ciente desta conspiração interna que crescia contra si, o Papa Francisco procurou moldar “o grupo dos seus conselheiros com homens que respondam às suas principais preocupações sociais e religiosas”. É por isso que no lote dos novos cardeais nomeados em 5 de Outubro de 2019, se encontra o português José Tolentino Mendonça, entre outros nomes da sua confiança. Quase 80% dos 140 cardeais eleitores escolhidos por F1 têm menos de 80 anos e vão participar no conclave que vai eleger o novo Papa. Como ateu espero “a perfeição da Igreja”, nomeando um Papa com uma linha de pensamento semelhante à de Francisco. 

21 de Abril, 2025 Onofre Varela

O MERECIDO SILÊNCIO

A manchete do jornal Público do último Domingo informava que “já há coimas aplicadas por falar em voz alta nos transportes”. Para quem viaja em transportes públicos, como eu, isto é uma excelente notícia… não raras vezes quero ler nas viagens que faço no Metro do Porto, e não consigo porque no banco ao lado, atrás ou à frente, alguém ouve música alta no seu telemóvel, talvez no convencimento de estar a prestar serviço público gratuito, inundando aquele espaço com tal poluição sonora, a qual, na sua óptica, até Mozart, Chopin ou Beethoven, aplaudiriam!

A notícia remeteu-me para a lembrança da minha primeira viagem em Metropolitano, o que aconteceu há mais de meio século (1973), em Paris. Era a minha estreia na Cidade-Luz e também naquele meio de transporte urbano (só depois daquela viagem a França fui, pela primeira vez, a Lisboa e viajei no Metro… o qual, por comparação com o de Paris, me pareceu um “Centímetro”…), obviamente, estava alerta, com os sentidos todos ligados, para saborear aquela experiência.

Reparei que os passageiros falavam uns com os outros, mas não ouvia as suas vozes. Falavam num tom de voz tão baixo, mantendo um silêncio absoluto, que era possível ouvir-se o rodado da carruagem nos carris. De repente, dois passageiros entabularam uma conversa em tom de voz muito alto, destoando do ambiente… falavam Português!

As nossas vilas e aldeias são apreciadas pela paz rural que ainda se pode experimentar em meios povoados. Vivo em Rio Tinto (Gondomar) que, sendo cidade, mantém espaços rurais calmos como é o lugar onde vivo (freguesia de Baguim do Monte). Ao lado do meu lugar, inicia-se a vila de Fânzeres e, imediatamente a seguir, está a vila de S. Pedro da Cova que, embora tendo crescido em construção e em população (pela imensa procura de habitação nos arredores do Porto) também não perdeu, de todo, a sua característica rural… o que me parece ser uma mais valia!

Há alguns anos, numa manhã de Domingo, uma qualquer razão levou-me ao centro de S. Pedro da Cova. Estacionei o carro e, quando saí, levei com uma missa nos tímpanos, obrigando-me ao espanto e a procurar entender o que ali se passava.

Gerado por IA.

Era hora de missa e o padre lá da paróquia entendeu que toda a gente devia ouvir a missinha!… Por isso mandou montar na torre sineira auto-falantes, colocados na direcção dos quatro pontos cardeais, difundindo o som da missa para toda a população da terra!

Com tal atitude, aquele sacerdote desrespeitava algumas regras. Não curei de saber se ele estava autorizado pela autarquia a emitir som com altíssimos decibéis… mas o que resultava daquele acto era o seu enorme desrespeito por todos quantos se marimbam para missas e, por isso mesmo, não entram na igreja em momento de celebração daquele acto litúrgico, mas que ele obrigava toda a população a ouvir!… 

O respeito é muito lindo, ó senhor abade… e o silêncio é de ouro! 

30 de Março, 2025 Onofre Varela

Indemnizações da Igreja às vítimas de pedofilia

Leio (em notícia divulgada pelo jornal Público na edição do último Domingo, 30 de Março) que a Igreja não garante indemnizações às vítimas de abuso sexual, perpetrado por sacerdotes católicos, até ao fim do corrente ano de 2025. Informa-se, ainda, que “as comissões de instrução têm sofrido atrasos e só metade das 69 pessoas que pediram indemnizações foi ouvida”… e que a Igreja está aberta a novos pedidos. 

Afigura-se-me estranho que a Igreja se afirme “aberta a novos pedidos” se não consegue resolver os pedidos que já tem em carteira desde que se iniciou o processo da possibilidade de indemnizar as suas vítimas!

Recorde-se que foi em 2013 que o Papa Francisco criou uma comissão especial no sentido de proteger as crianças vítimas de pedofilia por parte do clero. Foram registados casos e feitas denúncias de abusos sexuais em várias partes do mundo, de cuja lista fazem parte países como: Portugal, Brasil, Alemanha, Austrália, Espanha, Bélgica, França, Reino Unido, Irlanda, Canadá e Estados Unidos da América. As investigações não se limitam à Igreja Católica. Também se contam escândalos de abusos sexuais noutras religiões e cultos, como a Convenção Baptista, Igreja Episcopal dos Estados Unidos, Testemunhas de Jeová, Igreja Luterana, Igreja Metodista, Judaísmo Ortodoxo e Ultra-ortodoxo, Islão, várias escolas budistas e tibetanas, grupos de yoga e outros. Como se sabe, até no seio das famílias se contam crimes sexuais cometidos com crianças.

A “Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica” iniciou os seus trabalhos em 2022, coordenados pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, investigando casos acontecidos desde 1950, que recomendou à Igreja “o reconhecimento da existência e extensão do problema e o seu compromisso na adequada prevenção futura, nomeadamente através do cumprimento do conceito «tolerância zero» proposto pelo Papa Francisco”.

Gerado com IA.

Esta Comissão Independente cessou funções com a “sensação de dever cumprido, mas também com a ideia certa de que este não é bem um final, porque mesmo tendo sido abertas algumas portas, interessa começar hoje mesmo um novo tempo de abertura em relação ao tema de abusos sexuais de crianças no seu todo”. De entre as vítimas de abusos sexuais pelo clero, confirmaram-se sete suicídios. “Quase metade dos inquiridos nega a existência de consequências físicas, mas 21,6% dos casos reportam-nas. Destes, verifica-se que grande parte tem origem emocional, perturbações de ansiedade e de humor depressivo, implicando alterações do sono, do padrão alimentar e da imagem do corpo e da vivência da própria sexualidade”.

Catarina Vasconcelos, membro da Comissão Independente, declarou que “não foi fácil escutar, registar e ler os relatos das vítimas”. Estima-se que 4303 crianças foram alvo de abusos sexuais na Igreja, para além das 512 que testemunharam, o que faz um total de 4815. Destas, 77% dos abusadores eram padres. Após ser extinta a Comissão Independente, a responsabilidade na continuação dos estudos sobre a pedofilia na Igreja e suas consequências, passou para a própria Igreja que, para o efeito, criou o Grupo VITA em 26 de Abril de 2023. É a partir da actuação desta nova organização (que por trás de si tem a Igreja Católica) que se espera a resolução da política de indemnizações… mas não se vislumbra o fim!

Será que ela existe para branquear os crimes sexuais da Igreja, encobrindo-os com a névoa do esquecimento?!… Esta organização não deveria de, obrigatoriamente, ser independente da Igreja?

24 de Fevereiro, 2025 Onofre Varela

Sobre a Saúde Debilitada do Papa

Acompanhando o noticiário que dá conta da hospitalização de Francisco I (F1), padecendo de pneumonia nos dois pulmões, lamento o seu estado de saúde e coloco-me ao seu lado na esperança de que se liberte do mal, recupere rapidamente e regresse à sua vida normal.

A propósito, lembrei-me de que (já lá vão muitos meses), vi e ouvi num canal de televisão, um responsável político do CDS dizer algo parecido com isto, relativamente ao criticar da crença (cito de cor): “Se não é crente não tem o direito a dar opinião sobre a crença dos outros”. Tal frase mostra que quem a profere, muito provavelmente, deseja (como político extremado que é) cortar a voz a quem tem opinião diversa da sua.

Gerado com IA.

É evidente que não preciso de ser religioso para ter opinião sobre religião e religiosos, como não preciso de dar vivas ao rei para poder criticar a Monarquia. Só preciso de estar atento à evolução da História, ter opinião própria e viver numa sociedade que respeita a liberdade de expressão, para o poder fazer. Como ateu é evidente que tenho opinião formada sobre religião, e como humanista é mais do que evidente que espero o rápido restabelecimento da saúde de F1.

Sei que este meu “sentimento fraterno de ateu” relativamente ao Papa, não é partilhado por muitos religiosos!… Neste tempo em que ultra-conservadores de extrema-direita e muitos milionários norte-americanos apoiados por Donald Trump, mais tantos outros europeus e asiáticos com o mesmo pensamento mercantilista do comissionista que tomou o poder nos EUA, esperam o pior desfecho para a vida de F1.

No dia 5 de Outubro de 2019 o jornalista Miguel Araújo divulgou no Diário de Notícias o facto (ou a ideia) de haver uma guerra movida contra o Papa pelo sector fundamentalista da Igreja Católica que trata F1 como herege, e que conta com o apoio dos “principais financiadores do Vaticano”. São “insondáveis os caminhos das pressões junto dos senhores da Santa Sé”. Estes “senhores” têm o objectivo de, “algures num futuro mais ou menos próximo, preparar terreno para escolher um Papa que tenha uma visão do mundo que se oponha frontalmente à de um bispo de Roma como Francisco, um «esquerdista» como é apoucado, por denegrir «o deus do dinheiro», atacar um liberalismo económico desenfreado e as políticas desumanas dos Estados ocidentais para com os migrantes, apostando sempre no diálogo e nas pontes com aqueles que os ultra-conservadores querem ver expulsos da mesma mesa [como os homossexuais, as mulheres que abortam, os casais de união de facto, os divorciados e recasados, etc.]».

F1 está ciente desta conspiração interna que cresceu contra si. Por isso, no lote dos novos cardeais (então nomeados) se conta o português José Tolentino Mendonça, entre outros da sua confiança. Há uma facção fundamentalista na Igreja Católica que se coloca ao lado do deus-dinheiro, do poder económico, abandonando os pobres e maltratados, esperando o rápido fim de F1… que pode sobreviver (e espero que sobreviva) à pneumonia que o debilita neste momento…  mas pode não escapar à maldade que contra si se alberga na Santa Sé, que tendo tantos “santos”… provavelmente terá muito mais “demónios”!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

29 de Janeiro, 2025 Eva Monteiro

Nem só de religião vive o ateu

O ateísmo, por si só e nos tempos que correm, não é nada de excitante. A ausência de alguma coisa não significa que haja um vazio a preencher. Ser-se ateu é apenas uma recusa em acreditar em deuses. Ora, posto isto a discussão acaba aqui. Não há uma mundividência ateia, um sistema ético ateu ou um modo de vida ateu. Este último no sentido em que o ateísmo não acrescenta, apenas retira. Não significa que o modo de vida de um ateu não seja rico e preenchido – por outros meios. Em suma, o ateísmo não é uma religião e não pretende oferecer nada além dessa ausência.

Para que eu seja ateia é necessário que exista religião e que ela seja prevalente. O ateísmo existe apenas como reação ao mundo infetado em que vivemos, tomado conta por um vírus existencial que recusa emancipar-se de um pai ultrapassado e senil que há muito devia ter deixado de ditar as regras lá em casa. Neste sentido, o ateísmo vive da religião porque na sua ausência seríamos apenas normais.

Não obstante esta luta entre acreditar e não acreditar numa ideia sobrenatural que pertence à infância da humanidade, nem só de religião vive esta ateia e, creio, outros ateus. Necessito de uma mundividência, de estabelecer valores éticos e um modo de vida. É o Humanismo Secular que preenche esse lugar onde recuso deixar entrar o dogma religioso e os sistemas arbitrários de falsa moralidade que as religiões oferecem. Se abraço assim a razão humana, a ética, a justiça social e o naturalismo, esta ateia vive também de política. Aliás, como ativista ateia, haverá pouco do que faço e vivo que não esteja imbuído desta coisa que se refere à vida em sociedade e a relação com o poder.

Neste sentido, é como humanista secular que hoje escrevo, além de enquanto ateia. Li ontem um artigo do Vatican News em que se dá conta de uma nota dos Dicastérios para a Doutrina da Fé (anteriormente chamados de Inquisição – sim essa) e para a Cultura e Educação em que “são destacadas as potencialidades e os desafios nos campos da educação, economia, trabalho, saúde, relações humanas e internacionais, bem como em contextos de guerra.”. À primeira vista não posso deixar de concordar que existem desafios. No entanto, basta continuar a ler para entender que o Sr. Jorge Mário tem umas ideias pouco originais sobre a IA, fruto de uma longa tradição católica de combater tudo o que é novo e que retire protagonismo ao seu modo de vida dogmático e redutor.

Nem tudo o que se diz na “Antiqua et Nova” é de deitar fora. Nem tudo, mas muito. Refiro-me à pressa em advertir os crentes que não endeusem a IA. Não que eu a queira endeusar, mas eu, pelo menos, não invento deuses para controlar grupos de pessoas. O Papa, vulgo Sr. Jorge Mário, tem receio do “Poder nas mãos de poucos”. A piada faz-se sozinha, claro.  Preocupa-o (além da guerra que também me preocupa), a “antropomorfização da IA” gerando relações fraudulentas. Mais uma oportunidade perdida de um gracejo pouco simpático. No seu costumeiro ímpeto de controlar a sexualidade humana, o documento avança que “usar a IA para enganar em outros contextos – como na educação ou nas relações humanas, incluindo a esfera da sexualidade – é profundamente imoral e exige vigilância rigorosa”. Mas quem vigia a igreja que há séculos o faz?

O texto fala de preconceito e discriminação, de perdas no desenvolvimento do pensamento crítico, de fake news e deep fakes, de manipulação, informações falsas, enganos, de alimentar o ódio e a intolerância, da desvalorização da beleza e intimidade da sexualidade humana e da exploração dos fracos e indefesos. O Sr. Jorge Mário vai mais longe e critica o controlo da consciência humana pela IA, a vigilância do cidadão comum para proveito de outros, a exploração de recursos naturais para alimentar a IA, mas acima de tudo, alerta que a “presunção de substituir Deus por uma obra de suas próprias mãos é idolatria”.

Em suma, depois de listar tudo aquilo que tem feito nos últimos 2000 anos e que sente ser apanágio da ICAR, o Sr. Jorge Mário identifica o busílis da questão: a Igreja sente-se gradualmente substituída por uma imaginada IA maldosa (quiçá competitiva também neste campo com as atrocidades que a ICAR cometeu ao longo de séculos) e isso não dá jeito nenhum.

Por fim, um campo em que eu e o Sr. Jorge Mário concordamos:

Em particular, no âmbito do trabalho, destaca-se que, se por um lado a IA tem “potencial” para aumentar competências e produtividade ou criar novos empregos, por outro, pode “desqualificar os trabalhadores, submetê-los a uma vigilância automatizada e relegá-los a funções rígidas e repetitivas”, a ponto de “sufocar” toda capacidade inovadora. “Não se deve buscar substituir cada vez mais o trabalho humano pelo progresso tecnológico: ao fazê-lo, a humanidade prejudicaria a si mesma”.

Dizia eu há pouco que nem só de religião vive o ateu. Eu vivo deste Humanismo Secular que me auxilia a identificar-me como pessoa que luta pelo bem estar de todos, em sociedades dignas e dignificantes sem recurso a falsas promessas de castigo ou recompensa após a morte. Eu concordo com o Sr. Jorge Mário no que diz respeito à IA no campo do trabalho ainda que não corra o risco de a endeusar e a enfiar na ausência de religião a que o meu ateísmo obriga.

Ao contrário do Sr. Jorge Mário, a minha solução proposta não é a fuga para um passado medieval de bruxas, demónios e fogueiras. Sugiro que todas as empresas que utilizem inteligência artificial ou outras tecnologias para substituir o trabalho humano sejam obrigadas a pagar impostos proporcionais aos encargos fiscais que teriam caso essas tarefas, funções ou postos de trabalho fossem ocupados por pessoas. Os valores arrecadados com este imposto teriam de ser direcionados para a criação de um rendimento básico universal, garantindo que os trabalhadores, em vez de serem simplesmente descartados, pudessem beneficiar dos avanços tecnológicos. Dessa forma, a automação não serviria apenas para maximizar os lucros dos CEOs à custa do desemprego em massa, mas sim para promover uma distribuição mais equitativa da riqueza gerada pela inovação. Ou seja, mais tempo para viver, com os meios para aproveitar esse tempo. Talvez o Sr. Jorge Mário devesse estar menos preocupado com a manutenção da imagem de infalibilidade da ICAR e da perda crescente de crentes (por consequência, do dinheiro que geram), e mais preocupado em realmente encontrar soluções para a sociedade em que vivemos. Nem só de pão vive o homem – dizem eles. É verdade, pessoalmente gosto de um bom Alvarinho e um queijo a acompanhar. E preferia ter como os pagar.