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26 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

JESUS CRISTO NUNCA EXISTIU

O feriado do Natal é o mais importante e disparatado feriado religioso que existe.

Do «25 de Dezembro» dimana a outra pequena colecção de feriados, que compõem o ramalhete antilaico de feriados religiosos, que, por serem afectos a uma religião, é assunto privado e, como tal, deveria ser insusceptível de abranger toda a comunidade de cidadãos, de vivências pluralistas de filosofias de vida e religiosas, num Estado que deverá ser sempre neutral em matéria religiosa e, como tal, deverá estar isento de feriados religiosos.

Natal significa nascimento. Concretamente, «nascimento de Jesus».

1- Mas, consultando a Bíblia, não se lobriga nada de datas sobre o nascimento de tal “divindade”.
Como é que um livro, o Novo Testamento, que se propõe celebrar e divulgar a vida e obra duma figura que, a ter existido, seria uma personalidade ímpar na História, não menciona a data do seu nascimento (como se um «deus» pudesse nascer?), embora diga que ele nasceu, nem a da sua morte (como se um «deus» pudesse morrer?), embora diga que ele morreu!!! ?

2- Além de não referir, nem data de nascimento nem de falecimento, a Bíblia apresenta duas genealogias de «Jesus» totalmente diferentes: Mateus 1,1-16 e Lucas 3, 23-38. Como é possível um livro “sagrado”, isto é, inspirado por «deus», isto é, infalível, apresentar tão desaustinadas genealogias!!!

Enfim, não é pela Bíblia que se demonstra a existência de “Jesus”?

3- O nascimento de «Jesus» anunciou-se, astronomicamente, por uma estrela oriental, provavelmente a conjunção tripla de Marte, Júpiter e Saturno, na constelação Peixes (daí talvez o motivo da utilização dos peixes como símbolo dos primitivos cristãos), que ocorreu no ano 6 a.c., e ocorre de 139 em 139 anos, e por um trio de “magos”, portadores de perfumes, ouro e mirra, tal-qualmente o mito persa de Mitra?

4- “Jesus” nasce numa estrebaria, parido duma «virgem Maria», (aquecido com o bafo vacum?), tal como o deus persa, Mitra, também chamado “senhor”, nasceu numa gruta, parido duma virgem?

5- “Jesus” nasceu em 25 de Dezembro, dia do solstício invernal de antanho, tal como Mitra?

6- O signo zodiacal da constelação chamada Virgem, na representação pictórica dos caldeus, é representado por uma mulher, «virgem», tendo ao colo um menino, tal como uma das representações pictóricas cristãs?

7- «Jesus» morre no equinócio da Primavera, tal como Mitra?

8- “Jesus ressuscitou”, uns dias após a “morte”, tal como Mitra?
Neste culto, os seus sacerdotes acendiam o círio sagrado (pascal), ungindo de perfumes a imagem de Mitra, e um dos pontífices declarava solenemente a ressurreição desse deus, tal-qualmente o ressurrecto «Jesus»?

9- Tal como o cristianismo, o mitraísmo assenta a sua doutrina da fé numa infracção primitiva (o “pecado original” cristão?) e na luta entre o Bem e o Mal?
Mitra também subiu ao céu, após a última refeição tomada na companhia dos seus apóstolos?
Também instituiu sacramentos e sacrifícios, como o tauróbolo, degolação dum touro, com derrame do sangue por cima do sacerdote (vi essa cena espectacular num filme sobre os romanos). Os cristãos preferiram o sacrifício do «cordeiro de deus» («agnus dei»).

10 – Os mitraístas também comungavam sob as duas espécies, pão e vinho, e ensinavam que, após a morte, cada pessoa era julgada, apartando-se os justos para junto de Mitra (vá-se lá saber para quê!…) e os injustos eram remetidos para o inferno, torturados pelos demónios.
No «fim do mundo», ressuscitar-se-iam as criaturas todas, para um julgamento definitivo: os justos beberiam o elixir da imortalidade e os injustos seriam aniquilados?

11- O domingo também era o dia de repouso dos mitraístas, tal como os cristãos?
– embora o judaísmo, donde descende directamente o cristianismo, adoptasse o sábado?

12- Os religionários de Mitra, para se distinguirem dos outros, tatuavam uma cruz na testa assim como os primitivos cristãos.
A cruz é um símbolo estilizado duma primitiva técnica de produzir fogo, pelo cruzamento de 2 ramos. Esta estilização remonta à mitologia ariana e védica dos hindus, cuja cruz, a suástica, apresentava-se com ramos angulosos, dando uma ideia do disco solar. Tal entrelaçamento de ramos também é uma simulação estilizada duma relação sexual e do concomitante ritual de fecundidade, típico das religiões primitivas.
Enfim, sol-cruz-fogo, o mito solar em todo o seu esplendor!

13- E como as religiões orientais têm semelhanças promíscuas e diacrónicas, tais mitologias remontam aos tempos de Osíris, no Egipto, e de Jezeus Christna, na Índia.

14- O dia 25 de Dezembro, como suposta data de nascimento do «Jesus», foi fixado em 320, pelo papa Silvestre, sob domínio de Constantino, pois que antes, as datas de tal nascimento tinham uma geometria variável, conforme as concepções e interpretações vigentes.
No início do séc. III festejava-se em 20 de Maio, mas também houve calendários que apontavam para 28 de Março.
25 de Dezembro era o dia pagão em que se celebrava o nascimento de Mitra, festividade oficial do império, instituída pelo imperador Aureliano, no ano de 275.
Foi só mudar Mitra para Jesus – e em menos de um século a coisa ficou entranhada!

15- Se a festa comemorativa do nascimento de «Cristo» tem uma data fixa, por que é que a data da sua “ressurreição” é variável, podendo calhar entre 22 de Março e 25 de Abril, conforme o ciclo lunar!!!
Mais uma razão para a incongruência de tal festividade.
Dionísio, o Exíguo, frade de finais do séc. V e princípios do VI, fixou o suposto nascimento de «Jesus» no dia 25 de Dezembro do ano de 753 da fundação de Roma, atribuindo-se ao ano 754 o ano 1 do calendário cristão.
Assim determinou o imperador Justiniano.
Mas isto só foi adoptado a pouco e pouco pelos diversos países.
A Igreja só adoptou o calendário a.c./d.c., em 968, no tempo do papa João XIII…

16- Para concluir esta coisa extremamente desvairada que é o “25 de Dezembro”, resta esclarecer que o ano do suposto nascimento do “Jesus”, 753 da fundação de Roma, está errado. Pois que o tal frade que o fixou, Dionísio, o Exíguo, enganou-se no cômputo, dado que Herodes, o Grande, rei dos judeus, morreu em 4 a.c. (ano 749 de Roma), e o tal «Jesus» nasceu no reinado de Herodes, a que alude a Bíblia, em Mateus 2,16, no episódio do massacre das criancinhas abaixo de 2 anos.
Portanto, «Jesus Cristo» nasceu entre 6 (também há quem admita 7) e 4 a.c. e, como substituto virtual do Mitra, em 25 de Dezembro.
Ao que isto chegou!…
Daí o disparate deste feriado religioso!

17- «Dominus Invictus», isto é, «Senhor Invencível» era o nome latino e pagão do culto solar pré-cristão, introduzido no império romano pelas andanças, na Pérsia, das legiões conquistadoras. Sol identificado por «dominus», o ?senhor?.
Era o culto de Mitra, personificado numa figura masculina, representada com um halo (disco solar) atrás da cabeça, culto esse que inspirou fortemente o cristianismo.
Por isso é que a cópia cristã do Mitra, a conhecida personagem bíblica «Jesus Cristo», também teve, ao longo da História e até hoje, uma representação pictórica com um halo, reminiscência do círculo luminoso evocativo do Sol e do velho culto solar mitraísta.
Por isso, é que também tal «Jesus» é designado por «Senhor», em latim, «dominus», referência solar mitológica.
E a decorrência imitativa cristã é tanta, a partir do mitraísmo, que até copiaram os pinheirinhos decorados com bolinhas representativas do sol, no presépio, celebração com que os religionários de Mitra evocavam o ?dominus invictus?, isto é, o sol e a insolação, no seu momento de menor duração anual, solstício de Dezembro, e o início da crescente insolação diária.
É essa insolação decrescente, que termina, e o início da crescente, que marca precisamente a celebração do ?dominus invictus?, do sol que esteve a diminuir durante meses, mas que afinal é invencível e regressa sempre em força crescente. (Até um dia?)

E os cristãos devotos e hodiernos, com os seus símbolos e representações pictóricas, a pensarem que são uma religião original!
Plagiadores de pacotilha!

18- Portanto,«Jesus Cristo» nunca existiu, como espero ter demonstrado.

19 – Mas estas semelhanças das religiões orientais, entre as quais, o cristianismo, têm muito mais que se lhe diga.
Contudo, não se pense que há resposta para todas as interrogações sobre o cristianismo. Este, ao triunfar no império romano e na Idade Média destruiu muitos documentos e opositores, susceptíveis de gerarem o contraditório e esclarecer muita coisa que falta esclarecer?
A origem do cristianismo é a matéria mais complexa da História e é o assunto do meu máximo interesse e estudo.

João Pedro Moura

25 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

A morte de Saparmurat Niyazov

O ditador, que se atribuiu o apelido de “Turkmenbashi”, ou “o pai de todos os turcomenos” governou o país com enorme violência desde 1985. Era provavelmente o tirano mais extravagante do mundo, a ponto de ter rebaptizado os meses do ano com nomes de familiares.

Faleceu de ataque cardíaco aos 66 anos e o seu funeral constituiu uma impressionante manifestação de pesar, tendo reunido dezenas de milhares pessoas que choraram a sua morte.

Por que motivo os ditadores mais violentos e irracionais suscitam tão espontâneas e sinceras manifestações colectivas de dor?

Desde a morte de João Paulo II que não me recordo de um funeral tão concorrido.

25 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

Policarpo faz campanha política na noite de «consoada»

José Policarpo aproveitou o espaço que as televisões (incluindo a pública, para vergonha de todos) lhe dão no dia 24 de Dezembro, para fazer campanha pela criminalização do aborto e pela investigação, julgamento e detenção das mulheres que abortam. Na mesma mensagem, o cardeal patriarca de Lisboa da ICAR aconselhou os sindicatos a afastarem-se de «ideologias», e defendeu a «criatividade» no «direito internacional» no que diz respeito à «globalização e deslocação de empresas».

O privilégio de Policarpo poder falar de política nas TV´s no dia 24 de dezembro resulta de representar o maior grupo de portugueses que se supõe acreditarem na mitologia cristã, segundo a qual teria existido um homem há dois mil anos com poderes sobrenaturais.

25 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

Rui Rio não «proibiu» o natal?

À atenção de António Marujo, jornalista do Público: o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio de seu nome, não concedeu tolerância de ponto aos trabalhadores da câmara no dia 26 de dezembro. Por menos do que isto, há quem já tenha sido acusado de «proibir» o natal. Porque será que ninguém junta este caso à «guerra» que o criativo jornalista do Público inventou nos últimos dias? Afinal, o verbo «proibir» não passou a ter o sentido que se quiser?
24 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Glória a Frei Galvão – parteiro e santo brasileiro

Frei Galvão ultrapassou o padre Cícero na corrida para a santidade. O Padre Cícero Romão Batista tinha a mais elevada cotação na Bolsa da Fé mas viu as acções de Frei Galvão subirem com o anúncio da compra de dois milagres pelo Vaticano.

O Brasil, apesar da devoção que os portugueses levaram, juntamente com a varíola e sífilis, nunca tinha produzido um santo. Há terrenos mais férteis, destacando-se a Itália com toneladas de ossos de taumaturgos, relíquias fétidas a necessitar de incineração, para defesa da saúde pública, e santos detritos com cheiro a incenso e mofo.

A Pátria de Jorge Amado foi finalmente distinguida com um santo que interferiu num parto depois de ter morrido em 1822. Os obstetras estão obsoletos, basta um cadáver de que a parturiente seja devota para resolver os problemas de uma bacia estreita, um útero mal formado ou uma distocia.

É verdade que Frei Galvão já podia há muito ter-se estreado no ramo milagreiro, na área da obstetrícia, mas foi o impulso de João Paulo II para a produção de milagres em série, com certificados de garantia e atestados médicos, que fez nascer a onda de milagres que percorre o mundo católico.

Nesta noite, em que se comemora o mito cristão do nascimento de Cristo, o Brasil que se ajoelha e papa missas, o País que debita a Bíblia e reza novenas, os pobres que se atiram à hóstia para sentirem algo no estômago, devem agradecer a Bento 16 por ter reconhecido o segundo milagre de Frei Galvão e rubricado o primeiro alvará de santo.

Bendito seja o Brasil e o seu santo Galvão, já biografado pelo Daniel Sottomaior.

24 de Dezembro, 2006 jvasco

Votos de…

A Igreja Católica está muito preocupada com o que está a acontecer ao Natal. Desta vez, vou dou-lhes razão. Não se admite que uma tradição tão antiga seja perdida, ou que se descure o seu significado religioso. É certo que vivemos num país laico, e que não era esta a religião original dos povos Ibéricos do neolítico, nem dos Celtas que os substituíram, nem dos Romanos que vieram depois. Mas é esta religião que está na base, na raiz mais antiga, da nossa cultura Europeia. E esta cultura é de todos, não só dos crentes.

Dizem que foi milagre o que aconteceu naquela noite de inverno, e devemos respeitar esta tradição cultural e religiosa. Celebremos por isso o deus que fez o óleo de um dia arder durante oito. Que este milagre da poupança vos sirva de exemplo nesta quadra, e um feliz Hanukkah para todos.

——————————–[Ludwig Krippahl]

24 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

Rapsódia em religião menor


Morrer por um mito
Alison Mallinder, Testemunha do Jeová, morreu devido à sua recusa em receber uma transfusão de sangue ou quaisquer produtos derivados numa cirugia no Royal Hallamshire Hospital em Inglaterra. Allison só informou os médicos das restrições impostas pela seita a que pertence na véspera da histeroctomia a que se submeteu e, não obstante os avisos médicos, decidiu prosseguir a intervenção.

Jesus Cristo, rei da Polónia
Quarenta e seis deputados polacos, 10% da câmara baixa do parlamento deste país, submeteram uma proposta de lei que fará de um mito, a que chamam Jesus Cristo, o rei deste país. A proposta, apoiada pelo partido de extrema-direita LPR (Liga das Famílias Polacas), pelo conservador PiS (Lei e Justiça) e pelo PSL (Partido dos Camponeses) será apreciada em Janeiro. O deputado do PiS Artur Gorski disse que ele os colegas «rezam na capela do Parlamento pela coroação de Jesus» que se o for fará companhia à rainha do Polónia, a semper virgo Maria, assim proclamada há 350 anos pelo rei João Casimiro.

Conto do vigário em alta nas igrejas americanas
Em 1989 a North American Securities Administrators Association, a associação mais antiga de protecção ao investidor, descobriu que 15 000 pessoas foram ludibriadas em 450 milhões de dólares via esquemas centrados em igrejas. Os números explodiram nos últimos anos. Entre 1998 e 2001 a mesma associação descobriu serem 80 000 as vítimas de contos do vigário (literalmente) e que os montantes envolvidos atingiam quase dois biliões (americanos) de dólares.

Deborah Bortner, ex-presidente do grupo, afirma num press release que «Já vi mais dinheiro roubado em nome de Deus que de qualquer outra forma».

Guerra ao Natal: uma invenção muito lucrativa
Como há muito afirmo, a invenção e encenação de perseguições aos cristãos, para além de manter a clientela, é indispensável para assegurar às organizações cristãs um fluxo confortável de doações monetárias. Assim, a inexistente Guerra ao Natal inventada pelos fundamentalistas cristãos norte-americanos tem sido muito rentável em termos financeiros este ano. De facto, os «kits» natalícios, auto-colantes, pins e demais parafernália para combater uma ficção, vendidos a um preço muitas ordens de grandeza superior ao seu valor real, venderam-se como amendoins.

Como diz o reverendo Barry Lynn, director executivo da Americans United for the Separation of Church and State. «(A guerra ao Natal) é apenas um esquema fraudulento de angariar fundos».

24 de Dezembro, 2006 dsottomaior

Frei Galvão

Gentes católicas da Terra de Santa Cruz, regozijai: já temos o nosso próprio santo.

Foi divulgado hoje que já pode ser marcada a cerimônia de canonização de frei Galvão, o primeiro santo natural da Terra de Vera Cruz. O motivo é o o “milagre duplo” de uma gravidez de alto risco levada a termo e a cura de uma doença grave do recém-nascido. Segundo essa mãe, “o Brasil inteiro precisava disso. Somos um País muito católico e precisávamos ter um santo nosso”.

Determinar a causa de um evento muitas vezes não é tarefa fácil, e uma das tentações que marcam esse caminho é imaginar que se um evento antecede outro, então é causa dele. Post hoc ergo propter hoc (depois disso, portanto por causa disso), ou Post hoc para os íntimos, é o nome que se dá a esse erro comum. Afinal, anteceder os efeitos pode até ser condição necessária para estabelecer uma causa, mas não é suficiente.

No entanto, é exatamente essa falha em que se se baseia um processo de canonização, assim como a crença em milagres operados por santos: “primeiro eu rezei ao santo, depois meu pedido se realizou, portanto foi realizado pelo santo”. Na verdade, essa é uma mistura de Post hoc com a falácia divina, também conhecida por argumento da incredulidade: “não consigo imaginar como isso aconteceu, então foi Deus”.


Como todo passe de mágica deve vir acompanhado de uma falsa demonstração de que não há truque algum, a Igreja só se pronuncia pela veracidade de uma cura miraculosa se o parecer de junta médica não encontrar nenhuma causa natural para ela. Mas são apenas espelhos e fumaça, pois os médicos e a igreja sabem que essa causa sempre existe, e se chama remissão espontânea.

Vejam bem, esse não é um deslize argumentativo lateral ou ocasional. Toda a história de santos milagreiros, canonização após canonização, “milagre” após “milagre”, milênio após milênio, é um sem-fim de variações do mesmo tema. É sempre a mesma falácia, praticada incessantemente pelo bilhão de católicos vivos e todos mais que os antecederam. Não é apenas um erro crasso, mas um erro crasso entronizado como instituição essencial e permanente da Santa Madre Igreja. Errar é humano, mas sacramentar o erro é profundamente religioso. Esse é um dos muitos motivos pelos quais a religião é coisa das mais perniciosas ao intelecto e à vida humana.

No caso do santo brasileiro, a história não pára por aí. Uma das causas dos milagres teriam sido as “pílulas” ingeridas pela mãe, que contêm três minúsculos pedaços de papel com uma mesma inscrição do Ofício da Santíssima Virgem. Que essas pílulas sejam vendidas e gerem recursos para a Igreja é um pensamento vergonhoso e descabido. Elas são gratuitas. Mas é impossível deixar de ver os benefícios secundários que trazem à Igreja, como o aprofundamento da fé e portanto das doações dos fiéis, a um custo virtualmente nulo. E quem poderia culpá-la? A Igreja precisa se sustentar de uma maneira ou de outra, pois os saldos das contas no Vaticano não crescem às custas de intervenção divina, por estranho que pareça.

As pílulas chegaram a ser proibidas em 1998 pelo cardeal arcebispo de Aparecida, D. Aloísio Lorscheider. Lorscheider chegou a afirmar que os “papeizinhos” eram reflexos da superstição, comparou-os a remédios falsos e disse que as 10 irmãs do mosteiro que os produz não podiam
prejudicar seu dia-a-dia de dedicação integral às orações e penitências (vide referência).

Que uma vida inteira dedicada a atividades rigorosamente inócuas para o restante do mundo não possa ser interrompida para outra atividade inócua é uma pérola à parte do pensamento cristão. Mas o fato é que hoje em dia as pílulas continuam, pois na Igreja Católica, o que conta é a vontade popular. Quando convém, é claro. Mas afinal é de se perguntar que curioso efeito elas teriam.

Será que o nosso sistema digestivo reconhece a diferença entre papéis com diferentes inscrições, dada que a composição e a proporção de tinta seja a mesma? Será que, analogamente à “memória” da água” dos preparados homeopáticos, cada disposição de caracteres impressos leva a tinta a diferentes arranjos moleculares, uma vez dentro do sangue? Ou será que o efeito vem da celulose, que não é digerida nem absorvida, mas permanece no intestino? Impossível discernir, minúsculos humanos que somos perante a imensidão do Senhor. E nem a Igreja alimenta esse tipo de busca pelo saber, que realmente não importa e está fadado a levar a pensamentos impróprios. O que importa é crer.

Se minhas hipóteses reducionistas são pequenas demais e a ingestão é meramente simbólica, talvez um gatilho para a ação sobrenatural, então por que criar qualquer tipo de mediação material? Por que não basta o simples pedido a um deus que tudo pode, tudo vê e tudo ouve? Será necessário impor atividades inúteis uma após a outra para estar bem aos olhos do Criador? Estará aí o mérito do fiel? Por que é que as ações de quem deseja uma cura se parecem tanto com os passos necessários para amplificar o efeito placebo? Primeiro o sujeito se compromete com o tratamento, de corpo e alma, depois ingere uma substância na qual ele tem grande crença e por fim uma eventual cura recebe o fantástico bônus de elevar o status do doente, literalmente às alturas.

Mas deixemos essas especulações vãs, pois o conteúdo das inscrições das pílulas acrescenta leva o evento aos limites do surreal: “Depois do parto, permanecestes Virgem. Mãe de Deus, intercedei por nós”. Ah, bom.

Vamos ver se eu entendi isso…

Um certo religioso que viveu no século retrasado alucinava um sujeito de quase dois mil anos antes que, apesar de ter sido preso, torturado e assassinado aos olhos de todos, é tido atualmente como onisciente, onipresente, onipotente e onibenevolente. Para sermos honestos, não temos como saber se o religioso alucinava ou se ele apenas alegava alucinar para com isso ganhar status entre seus pares. Bem, mas esse religioso, de quem se dizia que levitava e podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, criou certas “pílulas” de papel onde se lê que uma mulher manteve seu hímem intacto após conceber e deu à luz àquele mesmo ser onipotente, que foi o mesmo que a fecundou sem sexo ou sêmen. Segundo o religioso, a ingestão das pílulas teria efeitos curativos sobre virtualmente qualquer mal, o que é atestado pelo fato de que, entre as milhares de pessoas que já ingeriram as pílulas, algumas delas sofrem posterior remissão.

Exemplos como esse deveriam deixar claro como a religião é essencialmente incompatível com a ciência e o pensamento crítico. Infelizmente, eles costumam ser encobertos pela novilíngua do cristianismo, que impede os menos inclinados a expor tais eventos pelo que realmente são: afrontas ao intelecto, desprezo para com a verdade, e um enorme, monstruoso desperdício de recursos humanos e econômicos, que poderiam estar postos ao verdadeiro uso da caridade e do amor ao próximo se não fossem essas sandices investidas de imunidade tributária. Simplesmente não há como respeitar a religião.