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1 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Momento zen de segunda

João César das Neves é o que é. Não tem emenda.

Não tenho paciência para comentar a homilia de hoje. Quem for masoquista que a leia.

Deixo um naco de prosa:

A finalidade das leis é proteger os fracos. Mas, ao eliminar a possibilidade do divórcio culposo, a Assembleia deixa as vítimas à mercê dos violadores.

O Presidente dá-se ao trabalho de explicar em detalhe aos deputados: “Por exemplo, numa situação de violência doméstica, em que o marido agride a mulher ao longo dos anos – uma realidade que não é rara em Portugal -, é possível aquele obter o divórcio independentemente da vontade da vítima de maus tratos. Mais ainda, (…) o marido, apesar de ter praticado reiteradamente actos de violência conjugal, pode exigir do outro o pagamento de montantes financeiros” (n.º 6).

“Noutro plano, são retiradas à parte mais frágil ou alvo da violação dos deveres conjugais algumas possibilidades que actualmente detém para salvaguardar o seu “poder negocial”, designadamente a alegação da culpa do outro cônjuge ou a recusa no divórcio por mútuo consentimento” (n.º 7). Dificilmente se pode ser mais claro.

31 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Viagem de fim de férias (Crónica)

Com o céu enevoado e as nuvens a anunciarem borrasca, no penúltimo dia de Agosto, dei um passeio por velhas aldeias que neste mês voltaram à vida, sobretudo nos dias de festas canónicas, e já se encontram de novo desertas.

Saí de Almeida para comprar umas bolas de carne, na Reigada, para enfeitar a mesa no dia da Feira Nova, em 1 de Setembro, destinadas a parentes e amigos que ainda vêm. O forno estava alugado aos de Vilar Formoso para confeccionar doces para a festa do dia seguinte. Não faz mal, amanhã é domingo e coze o que hoje devia, o Inferno foi extinto, é preciso ganhar o pão de cada dia, ficaram as bolas encomendadas.

Passei por Vilar Torpim onde não enxerguei vivalma. A aldeia tinha o ar de ter sido habitada em época recente mas estariam os autóctones fechados em casa, quiçá receosos ainda das lutas liberais.

Tomei café em Figueira de Castelo Rodrigo. Havia afinal gente nos restaurantes, jovens nas esplanadas dos cafés e repuxos a esguichar num lago que há-de ter surgido para um autarca ganhar eleições. Havia vida na sede de concelho, até crianças a quem os pais hesitaram entre o gelado e o tabefe acabando por aceder ao pedido e abdicar do desejo. As vilas ainda se mantêm graças à hemorragia das aldeias e aos empregos municipais.

Passei pelo convento de Santa Maria de Aguiar, por Nave Redonda, que me pareceu fechada e parei junto à barragem de Santa Maria de Aguiar um razoável lençol de água vulgar apesar da santidade do nome que não lhe evita a conversão em charco ou a seca em estios mais cálidos.

Em Almofala, fiel a um velho hábito, entrei na igreja onde duas piedosas mulheres que mudavam as flores aos santos me acenderam as luzes e dois homens desmanchavam os andores de uma festa recente para os despacharem para a sacristia. Não cuidei da destruição castelhana em Outubro de 1642 e passei por Escarigo cujo martírio na Guerra da Restauração foi maior sem me deter na igreja matriz cujo tecto e talha dourada valem a viagem. Foi José Saramago, em «Viagem a Portugal», que me alertou para essas jóias da arte sacra numa aldeia que guarda memórias e afectos da minha juventude.

Apenas me compadeci de uma velhinha de olhos vagos, com a pele curtida de muitos sóis, absorta, indiferente à passagem do automóvel, perscrutando no horizonte o futuro que lhe resta ou recordando o passado que lhe coube. Estava só, na soleira da porta, sem raios de sol que a aquecessem, sentada, com o céu pesado de nuvens.

Alguns quilómetros depois, atravessei a Vermiosa. Apenas um velho, também só, via o tempo passar do banco de pedra onde jazia a bengala que, decerto, lhe serviria de amparo na volta. Mais à frente estava um cão escanzelado, imóvel, indiferente às pulgas e carraças, se acaso as tinha, e milagre era não tê-las, resignado, deitado na terra.

Dos dois seres vivos que encontrei na aldeia, outrora pejada de gente, o cão, pequeno rafeiro sofredor, foi a mais eloquente metáfora dos que teimam em ficar nas aldeias que outrora foram um alfobre de gente e são hoje um cemitério de recordações.

Nem dei por passar em Malpartida no regresso à casa. Espero pela Feira Nova que ainda há-de juntar gente e partirei logo.

28 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Memórias achadas (crónica)

Quando Agosto se faz mês regressamos às origens para ver quem resta e abraçar os que estimamos.

Os corpos mudam com o tempo. Nos rostos esculpiram-se sulcos que lavram a pele e alteram os traços que nos caracterizaram. A memória devolve a saudade. Uns minutos bastam para acordar afectos, adormecidos durante décadas, que irrompem com fúria e perturbam a razão e a compostura.

Basta um olhar mais terno, um abraço mais estremecido ou um beijo que se alonga uma fracção de segundo, para agitar os sentidos, humedecer os olhos e acelerar as pulsações. O raio do tempo só hiberna os sentimentos, não sepulta afectos, que resistem décadas e mantêm prazos de validade que a conveniência e o decoro deviam ter enterrado.

A vida é uma arma carregada que nos segue com o cano apontado. Tropeçamos em memórias e logo uma descarga nos atinge para voltarmos ao passado, a sangrar por dentro e com fracturas expostas.

O diabo do sono altera-se enquanto as lágrimas nos marejam os olhos. Que insegurança é essa que nos conduz pelo lado proibido da estrada, em sentido contrário?

É apenas um pesadelo de Verão com que o Outono da vida nos sufocou numa derradeira viagem à Primavera? Não tarda que as folhas caiam e, com elas, desfeitas em pranto, as recordações que nos apoquentam. Há um solstício à espera dos equinócios que restam.

24 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

A missa é um placebo

Jogos Olímpicos. Encomendou missa católica e a equipa nacional… perdeu!

Na Lituânia o basquetebol é o desporto-rei! Há quem diga que o basquetebol é a segunda religião. O país vibra com a sua equipa e apoia-a fervorosamente. Como no futebol em Portugal.

Um católico praticante, de 59 anos, solicitou uma missa católica na catedral principal da capital, Vílnius, para pedir a “Deus” que a sua equipa ganhasse à Espanha em basquetebol, na passada sexta-feira. E a missa foi celebrada! O representante da Catedral disse que foi a primeira vez que tal aconteceu. O crente tinha muita fé que com a ajuda de “Deus” a equipa lituana ganharia aos espanhóis…

O resultado do jogo foi de 91-86 a favor de Espanha que, assim, chegou à final de basquetebol nos Jogos Olímpicos.

 

CONCLUSÃO: A “mão de Deus” nem sempre faz milagres e os crentes não têm vergonha de falsear a verdade desportiva, tentando colocar mais um “Jogador” em jogo!

a)  kavkaz (leitor habitual do DA)

22 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Hipocrisia perante a tragédia

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O pontífice disse que está rezando pela alma das vítimas. Bento XVI enviou uma mensagem de condolências ao arcebispo de Madri para manifestar sua “conexão espiritual” com as famílias das vítimas e para desejar a rápida e total recuperação das 19 pessoas que sobreviveram à tragédia, algumas delas gravemente feridas. Na mensagem, o papa manifesta suas “sentidas condolências pelo terrível acidente”.
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Era preferível que tivesse rezado para evitar a tragédia se as orações valessem alguma coisa.
11 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Crise no sector terciário

As celebrações dos 150 anos das aparições de Nossa Senhora em Lourdes, em França, e a crise económica estão a contribuir para a diminuição do número de peregrinos em Fátima este ano, admitiu hoje o reitor do Santuário .

Nota – A falta de milagres também é responsável pelo declínio de um destino turístico que mata vários peregrinos na estrada e não cura ninguém.