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8 de Março, 2014 José Moreira

Dia da Mulher

imagesEu acho giro o “dia da mulher”. Assim como o “dia da criança”, o “dia do avô” e, de um modo geral, todos os “dias do”, seja do que for. Estou a lembrar-me de uma luminária que até queria criar o “dia do cão”, certamente para o pôr em paralelo com outro “dia do”, ou “da”, qualquer. Mas o “dia da mulher” é diferente, no fim de contas, um dia passa depressa e temos os outros 365 para pôr a mulher onde se deve: na cozinha, e nas quotas partidárias. E no hospital, quiçá na morgue. Ou seja, podemos continuar, alegremente, com a nossa hipocrisia social. Estou convencido, aliás, de que hoje, “dia da mulher”, nenhuma vai ser assassinada pelo companheiro, ou ex-companheiro. “Dia da mulher “é para se respeitar, e no ano passado, 2013, mais de três mulheres por mês foram assassinadas, mas, se a memória não me atraiçoa, nenhuma delas o foi no “dia da mulher”. O que já é um sinal positivo, como diria um dos nossos inefáveis políticos de pacotilha.

Há pouco, num canal de TV, e não me perguntem qual porque eu já tenho calo no dedo polegar por causa do “zapping”, um anúncio publicitário proclamava que “Março é o mês da mulher”, o que representa um progresso inquestionável, suponho que uma conquista irreversível, já que de um mísero “dia da mulher” se passa para o “mês da mulher”. Com jeitinho, ainda chegaremos ao “trimestre da mulher”, daí saltaremos para o “semestre da mulher”, e não tarda nada estaremos no “ano da mulher”, nada de confusões, singular é singular, plural é plural e escreve-se sempre com “o” e sem acento circunflexo no “a”.

Estou à espera que alguém se lembre, também, de instituir o “dia da hipocrisia”. Apenas para o tornar diferente dos outros dias.

7 de Março, 2014 José Moreira

Do destino

Há quem acredite que uma pessoa só morre quando chega a sua hora, do mesmo modo que há quem acredite no destino.

Tudo bem.

Por mim, até podem acreditar nas promessas eleitorais. Eu é que não acredito – nem no destino, nem na hora pré-determinada para morrer. Nem, naturalmente, nas promessas eleito­rais. Nem em muitas outras coisas que agora não vêm ao caso.

Na verdade, as coisas não são assim tão simples; e o mero facto de acreditar nisto ou na­quilo, tem muito que se lhe diga, torna-se muito complicado, por muito simples que pareça.

Vejamos, por exemplo: eu dou um tiro num freguês qualquer, e mato-o. A minha pergunta é: tinha, ou não, chegado a hora da morte do cidadão? A pergunta parece cavilosa, mas não é. Por­que duas questões se nos deparam imediatamente: se ainda não era chegada a hora de o ca­ramelo morrer então prova-se, sem que reste a menor margem para qualquer resquício de dúvi­da, que a hora da morte pode ser quando um homem quiser, como o Natal. O que põe logo em causa a legiti­midade da crença acima referida; por outro lado, se já era a hora de o ex-cidadão, ora transformad­o, para poder servir de exemplificação, em respeitável defunto, deixar este vale de lágri­mas, eu pergunto por que carga de água há-de a polícia andar atrás de mim, se eu me li­mitei a cumprir os desígnios do altíssimo, seja lá isso o que for? Sim, porque não é de desprezar a hipóte­se de o ho­nesto cidadão se ter esquecido de que era chegada a sua hora ou, mais grave ainda, de se tratar de um cidadão relapso que, mesmo sabendo que era chegada a sua hora, se tenha positivamente borri­fado para o assunto, sem o menor respeito pelo cumprimento dos altos desígnios. Ora, assim sendo, a polícia apenas teria que se limitar a ouvir as minhas explicações e a mandar-me em paz, com dis­pensa absoluta de entrada nos calabouços.

Mas não é isso que acontece; por isso, não me venham lá com as histórias da chegada da hora, e mais não-sei-quê.

 

In “Enquanto As Armas Falavam”  Editora Lugar da Palavra.

24 de Fevereiro, 2014 Ludwig Krippahl

Treta da semana (passada): os argumentos.

Numa entrevista no New York Times, o famoso filósofo e apologista católico Alvin Plantinga argumentou que o ateísmo é irracional e que a explicação para 62% dos filósofos serem ateus é ser psicologicamente difícil aceitarem que Deus existe (1). Mas não explicou porque é que esta alegada limitação psicológica haveria de afectar mais os filósofos do que, por exemplo, os analfabetos, e a pobreza os seus argumentos são uma desilusão, vindos de alguém tão citado pelos católicos.

Primeiro, argumenta que a ausência de evidências para a existência do deus dos católicos só justificaria o agnosticismo e nunca o ateísmo. Quando o entrevistador menciona o bule de Russel, um hipotético bule de loiça a orbitar o Sol entre a Terra e Marte que concluímos não existir mesmo sem podermos prová-lo (2), Plantinga alega que isso é diferente por termos evidências da inexistência do bule: «tanto quanto se saiba, a única forma de pôr um bule nessa órbita seria se algum país com capacidades para tal a lançasse para lá. Mas nenhum país com essas capacidades iria desperdiçar recursos em tal coisa. Além disso, se algum o fizesse apareceria nas notícias e saberíamos que o tinha feito». Este argumento não serve porque, ao contrário do que Plantinga alega, ele invoca precisamente a falta de evidências para rejeitar a existência desse bule. Assume que o bule só pode estar em órbita se algum país o lançar porque não tem evidências de haver outras formas de o colocar lá, como por magia, milagre ou intervenção de extraterrestres. Assume que nenhum país o faria porque não tem evidências de que o faça e que seria tema de notícia porque não tem evidências de haver alguma conspiração secreta para pôr bules em órbita. Inexistência de evidências para algo e evidências da inexistência de algo não são duas coisas independentes e completamente distintas como Plantinga quer fazer parecer.

Outro exemplo de Plantinga torna isto mais claro: «falta de evidências […] não justifica o ateísmo. Ninguém acha que há evidências para a proposição de que o número de estrelas é par; mas também ninguém pensa que daí se conclui que o número de estrelas é ímpar». Neste caso, o agnosticismo é realmente a posição mais justificável. Mas vamos supor que a proposição em causa era outra. Por exemplo, que o número de estrelas é múltiplo de dez. Nesse caso já teríamos de ter em conta que há nove vezes mais possibilidades de não ser múltiplo de dez do que de ser. Se a proposição for de que o número de estrelas é múltiplo de cem, de mil ou de dez mil, a justificação para a rejeitar como falsa é cada vez mais forte, e cada vez menos razoável será ficar indeciso. Se alguém alegar, por exemplo, que o número de estrelas do universo é um múltiplo de 166221987090122196, é perfeitamente razoável rejeitar a alegação simplesmente por não haver evidências suficientes para compensar a sua inverosimilhança a priori.

É este o problema das alegações acerca da existência de algo. Afirmar que algo existe é afirmar como verdadeiras todas as proposições que descrevem as suas alegadas propriedades. Por exemplo, afirmar que o deus católico existe é afirmar que criou o universo, é inteligente, é bondoso, é omnipotente, é pai, filho e espírito santo, morreu por nós, nasceu de Maria, transubstancia hóstias e uma data de outras proposições que têm de ser verdadeiras para ser verdade a proposição de que esse deus existe. Esta conjunção é tão inverosímil à partida que só com evidências muito fortes a seu favor se justificaria sequer o agnosticismo. O bule de Russel, ao qual basta apenas ser bule e estar entre a Terra e Marte, é muito mais verosímil do que qualquer deus de qualquer religião que eu conheça e ninguém duvida da sua inexistência.

Plantinga alega também que o facto de não ser preciso invocar qualquer deus para explicar seja o que for é uma fraca justificação para o ateísmo: «Também não precisamos da Lua para explicar os lunáticos mas não se pode concluir daí que se deva crer que a Lua não existe». Por outro lado, defende que a melhor razão para crer no deus dos católicos é a experiência religiosa. Ou seja, não se trata de acreditar que Deus existe por isto explicar algo mas porque o crente sente que esse deus existe. Há tempos escrevi sobre os problemas de assentar as crenças religiosas numa alegada sensação. Não há consenso, as sensações são pouco fiáveis e nunca uma sensação pode dar o detalhe necessário para fundamentar os dogmas das religiões (3). Mas este argumento de Plantinga mostra outro problema. Nós acreditamos que a Lua existe porque vemos facilmente uma bola grande brilhante no céu à noite. Essa visão é uma experiência imediata, mas a hipótese da existência da Lua não é a mera experiência de a ver; é a melhor explicação para a causa dessa experiência. E de muitas outras coisas, desde as filmagens das missões Apollo até às marés. Isto é verdade para qualquer hipótese acerca do que sentimos: justifica-se crer na hipótese se for a melhor explicação para essa sensação. Também assim, mesmo que alguém creia em Deus porque sente que Deus existe, essa crença é justificada apenas como hipótese explicativa para essa sensação. Por isso, uma boa justificação para o ateísmo, entre outras, é que as sensações dos crentes podem ser melhor explicadas por factores corriqueiros da psicologia e sociologia do que invocando a existência de deuses omnipotentes, criadores do universo e transubstanciadores de hóstias.

Depois de ler os argumentos de Plantinga, parece-me que o que carece explicação não é que 62% dos filósofos sejam ateus. É haver 38% que ainda não admitiram ter percebido que estas coisas dos deuses são todas uma treta.

Errata: O Plantinga não é católico (obrigado pela chamada de atenção). Por isso não deve estar a argumentar a favor do catolicismo. Ainda assim, é interessante apontar que tanto faz, porque os argumentos dele servem igualmente bem para quase todas as religiões.

1- NY Times, Is atheism irrational?. Recomendo também esta resposta do Massimo Pigliucci: Is Alvin Plantinga for real? Alas, it appears so (via Facebook)
2- Wikipedia, Russell’s teapot
3- Sentir (aquele) deus.

Em simultâneo no Que Treta!

23 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Córdova

A ancestral mesquita de Córdova (actualmente designada sob um nome híbrido de ‘mesquita-catedral’) volta a merecer a atenção pública tendo-se transformado num problema regional (para a Andaluzia) mas, na verdade, a sua dimensão é maior  [mundial] já que diz respeito à propriedade e usufruto de bens culturais sejam civis, militares, religiosos, profanos, artísticos, arquitectónicos, museológicos ou até mesmo naturais.
Está em curso uma petição link para transformar esse riquíssimo e único património histórico-religioso (há quase 30 anos Património da Humanidade link) num templo ecuménico, onde ficasse assegurada a prática de uma ampla liberdade religiosa. Esta é mais uma ‘acção popular’ no sentido de devolver aos cidadãos a capacidade de disfrutar em pleno as suas liberdades, pública e constitucionalmente, consagradas.
Indo mais além do solicitado na petição julgo que este conjunto histórico-religioso e cultural deveria ser um ‘espaço aberto’, um ‘museu-vivo’, que os cidadãos pudessem usufruir conforme desejassem. Uns oravam (e não só os crentes das ‘religiões do livro’ como se pretende) outros pura e simplesmente tinham oportunidade de disfrutar aquela extraordinária beleza, arquitectónica e patrimonial.
Travar a possessão redutora da Igreja (no caso vertente será por usucapião?) é uma missão a que os cidadãos livres não podem ficar indiferentes, mesmo para as mentes povoadas por fantasmas acerca de uma ‘islamização ocidental’ nascente e subsidiária das passadas glórias de um histórico Al-Andalus (Ocidente). As nossas liberdades (é disso que se trata) devem estar acima de tacticismos imediatos (ditos ‘anti-terroristas’) que pretendem responder às ameaças do momento, mas são eminentemente castradoras (derrogadoras) de direitos individuais.
Finalmente, a notícia sobre a petição reavivou-me memórias de uma passagem por Córdova ocorrida há uma dezena de anos.
Encontrando-me a visitar a mesquita em plena canícula estival (na Andaluzia severa) trajava vestuário adequado à elevada temperatura (T-shirt e calções). Inebriado no meio das centenas de colunas rematadas por arcos em ferradura, brancos e vermelhos, foi abordado por um clérigo que me confrontou com a discrepância entre a exiguidade do meu vestuário e a dignidade do local.
Respondi-lhe, ironicamente, que a minha família há dezenas de gerações tinha deixado de usar ‘djellaba’… e virei-lhe as costas!

23 de Fevereiro, 2014 José Moreira

Os Crimes do Ateísmo

Quando, neste espaço, se escreve acerca de enormidades cometidas pelas igrejas, nomeadamente a Igreja Católica, logo aparece uma catrefada de comentários a berrar “aqui d’el rei” que os ateus também… E apontam, como exemplos supremos, os mesmos: Enver Hoxa, Paul Pot, eventualmente falam na Coreia do Norte e/ou na China, etc.

E bom que se saiba que há ateus sacripantas, como há religiosos honestos; são as excepções que confirmam a regra. Mas é intelectualmente desonesto misturar ateus com ateísmo, tal como não se deve misturar cristãos com cristianismo ou católicos com catolicismo.. Hitler era católico, toda a gente o sabe, menos os que não querem saber, mas seria uma enormidade culpar o catolicismo pelo Holocausto – embora a ICAR não esteja completamente inocente.

A semântica nunca foi o meu forte, pelo que não sei se há ateus pulhas, ou se há pulhas que, por acaso, são ateus; o que sei é que há pulhas que nunca o seriam se não fossem religiosos. E tenho todas as razões para duvidar que uma pessoa decente se tornou pulha só porque é ateu. Aliás, alguns comentários que aparecem neste portal dão-me razão, mas não é por aí que quero ir. Todavia, uma coisa é praticar atrocidades em nome de um qualquer deus, e outra é praticar as mesmas atrocidades em nome do ateísmo. E a segunda hipótese não me consta. Não me consta, mas não nego a existência; simplesmente, não me consta. Já quanto à primeira, consta e de que maneira: basta consultar os anais da Santa (?) Inquisição.

Pelo que não me parece intelectualmente honesto falar em “crimes do ateísmo”;  já o mesmo não poderei dizer dos crimes do catolicismo.

21 de Fevereiro, 2014 José Moreira

Bispo em xeque…

Afinal, eles também têm direito. Aliás, quando convém até dizem que “são homens como os outros”. E são, claro! Mas só quando convém.

bispoboris

13 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Salazar também pensava o mesmo da ONU

Igreja: Porta-voz da Conferência Episcopal considera «lastimável» que ONU tenha omitido relatórios do Vaticano
Em causa diretrizes em curso na Igreja Católica sobre casos de abuso sexual

LFS/Agência ECCLESIA
Setúbal, 12 fev 2014 (Ecclesia) – O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) lamentou hoje que as Nações Unidas tenham dirigido recomendações à Santa Sé sobre o tratamento de casos de abusos sexuais na Igreja Católica omitindo o relatório anteriormente entregue pelo Vaticano sobre o assunto.