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George Orwell II

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Sendo reputadíssimas escolas de como acreditar em algo e no seu oposto ao mesmo tempo, as religiões merecem certamente um diploma em Doublethink.

Seguindo o exemplo da ICAR, não vou mencionar as inúmeras contradições bíblicas já que o comum católico não lê a Bíblia. Em vez disso talvez seja mais interessante pegar naquilo que a maioria dos crentes assimila na sua formação religiosa.

A ICAR apresenta-nos uma divindade única e tríplice. Esse deus é o criador de tudo. Mas Jesus, filho de Deus, não foi criado, foi gerado. Jesus, igual em tudo aos homens excepto no pecado, nasceu de uma virgem, é capaz de realizar milagres, subiu aos céus e, aparentemente, ainda não morreu. Jesus é certamente daqueles homens mais iguais do que os outros.

Na doutrina catecista da ICAR encontram-se vários exemplos de doublethink: «Não matarás», reza o mandamento. Nada de aborto, nada de eutanásia, presume-se. Mas a pena de morte, estranhamente, já faz sentido. Tal como a guerra pode ser justa.
Também a superstição é condenada no catolicismo. A prática de magia, a idolatria, adivinhações e afins são crendices pecaminosas. Ao mesmo tempo o clero transforma água da companhia em água benta, vinho em sangue, pão em carne, limpa os pecados das almas dos seguidores e prega em templos pejados de ídolos – as divindades multiplicam-se segundo a latitude – advertindo a multidão para o tempo que há de vir.

Isto para não falar da misoginia do clero que diz respeitar muito o género feminino, apontando como prova Maria, Mãe de Jesus, auto-proclamada Escrava do Senhor. Homossexualidade é uma atitude sexual contra-natura por não preceder «de uma complementaridade afectiva e sexual verdadeira». Com o celibato não se passa a mesma coisa.

Acreditar que o mundo não tem criador é impossível para o crente. Acreditar que esse criador nunca foi criado nem espanto causa.
A vida depois da morte é garantida no catolicismo mas a crença em vidas passadas é descabida e supersticiosa.
Chamar um crente à razão é vê-lo, se for esperto o suficiente, declarar que Deus está para além da lógica humana. Crimestop, diria Orwell…