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O que é uma seita?

Ninguém declara espontaneamente que o seu grupo religioso é uma seita. Seitas, para qualquer crente, são sempre outras religiões (ou algumas das outras), necessariamente condenáveis. O problema é que aquilo que se condena existe muitas vezes na religião de quem condena. Ser seita ou religião depende do ponto de vista.
Se não, vejamos: a palavra «seita» é usada habitualmente, por crentes ou ateus, em duas acepções.
Numa primeira acepção, mais abrangente, uma seita é qualquer grupo que disside da religião maioritária num dado local e momento histórico, geralmente seguindo um líder carismático. Nesse sentido, quase todas as religiões são seitas, embora umas tenham tido um sucesso maior do que outras. O cristianismo, por exemplo, será uma seita que dissidiu da religião judaica seguindo JC (na versão eclesial e mítica) ou Paulo de Tarso (na versão céptica, e dado que não existem provas históricas da existência de JC). Recorde-se que o islão foi tratado de «seita maometana» pelos cristãos pelo menos até ao século 16, e que as «seitas protestantes» (que seguiam Lutero,Calvino, etc.), dado o seu sucesso, passaram rapidamente a ser referenciadas como religiões. No entanto, dada a carga pejorativa associada ao termo, o seu uso deixa de ser corrente quando o número de seguidores e a continuidade histórica de um grupo religioso lhe conferem «respeitabilidade». Todavia, embora seja pouco comum, é estritamente correcto afirmar que o catolicismo é uma seita (de sucesso) e não é impossível que a IURD ou a Igreja Maná deixem de ser referidas como «seitas» num futuro mais ou menos próximo.
Numa segunda acepção, mais restrita, uma seita é um grupo religioso que exerce um controlo apertado sobre os seus seguidores. Esta definição é mais vaga do que parece, pois quase todas as religiões exercem, de alguma forma, controlo sobre os seus membros, estando as diferenças no grau de controlo. O catolicismo tem uma vasta gama de preceitos para os seus seguidores, e através (por exemplo…) da confissão, verifica se os seguem. No entanto, sente-se actualmente a necessidade de usar um termo (e em português tem sido «seita») para grupos mais fechados, que controlam mais aspectos da vida dos indivíduos e dos quais, portanto, não se sai facilmente. Ao contrário do que se pensa, estes grupos, incluindo os que conseguem levar alguns dos seus membros ao suicídio (Templo do Sol, Porta do Céu, Al-Qaeda) não são, historicamente, uma novidade. Existe muita discussão sobre se se deve ou não controlar as actividades destes grupos. Alguns países elaboram relatórios oficiais que pretendem alertar os seus cidadãos para o «perigo» destes grupos que efectuam «lavagens cerebrais» e que exigem aos seus membros a ruptura dos laços sociais (familiares ou profissionais). E no entanto, quase todas as religiões apelam a um «renascer» que pode ser olhado como «formatação mental», e quase todas exigem alterações na vida dos seus seguidores. As diferenças são de grau ou de modo.

Uma seita pode ser, portanto, qualquer grupo religioso que induza os seus membros a fazer algo que eu não aprovo. O que dá para tudo.