28 de Agosto, 2006 Carlos Esperança
O Vaticano e as células estaminais
Quando a civilização avança recua Deus como a lepra com os antibióticos e a cólera e a febre-amarela com a vacina.
Em períodos de crise Deus reaparece como, durante o estio, as pulgas nos cães. Não faltam agentes transmissores – padres, rabis, mullahs e pastores -, capazes de modificar uma pessoa sadia num beato exacerbado.
Foi certamente na defesa de Deus que os padres amaldiçoaram os medicamentos e se danaram com as vacinas, certos de que os avanços da medicina ridicularizariam os seus milagres e erradicariam Deus, como acontece a outros agentes patogénicos.
Mas tendo-se Deus sumido do convívio dos homens não ficou quieta a padralhada e eis que se apresenta como intérprete da sua vontade.
Tornadas obsoletas a inquisição e as fogueiras restou o Inferno como veículo do medo e ameaça para quem despreza a vontade do mais exótico empregado divino, de sapatinhos vermelhos e orelhas aconchegadas sob o camauro.
Virou-se agora o sumo parasita de Deus, ditador vitalício do Vaticano, para a luta contra o preservativo, o aborto e a sexualidade. É um velho clérigo que considera indissolúvel o celibato e se julga presidente da Sociedade Protectora dos Embriões (SPE).
À medida que a idade e o emprego o tornaram casto desenvolveu um acrisolado amor às células embrionárias onde julga poder achar-se o seu Deus, farto de o procurar em todo o lado sem encontrar o mais leve vestígio ou a mais ínfima pista.
É por isso que os cientistas, enquanto procuram avançar com soluções para prolongar a vida e melhorar a sua qualidade, têm a ladrar-lhe às canelas mastins dos diversos credos, incapazes de aceitarem o progresso, a modernidade e, sobretudo, a ciência.