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Dia: 1 de Agosto, 2006

1 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

A Laicidade ameaçada

Há, na Europa, uma tendência política para sobrepor a identidade étnica e religiosa à cidadania comum, o desejo de fazer penetrar o clero nas escolas, uma capitulação da laicidade face ao poder e agressividade crescentes dos parasitas de Deus.

A criminalização da blasfémia é a suprema aspiração das sotainas, aliadas conjunturais dos mullahs para quem qualquer referência desagradável ao profeta e à sua demência, ao Corão e à sua incompatibilidade com a democracia, provoca desejos assassinos.

Sendo Deus o alvo não vejo quem possa ter legitimidade, sem procuração expressa, para litigar em seu nome. Sendo improvável a sua existência torna-se absurdo punir ofensas a coisa nenhuma, mas a obsessão do clero e o oportunismo político eleitoral, podem conduzir a Europa a um passado de que se libertou com sangue.

O Estado é incompetente em matéria religiosa ainda que pudesse e devesse criminalizar as burlas cometidas por numerosos credos que disputam crentes com números de circo e falsos milagres. Certamente não vai distinguir entre deuses idiotas e deuses respeitáveis.

Considerar chefe de Estado o teocrata que no Vaticano organiza, comanda e acirra o exército de sotainas é dar importância excessiva ao comandante-chefe dos bispos, padres e monsenhores que andam pelo mundo a executar a política dos 44 hectares da teocracia sedeada num bairro de Roma mal frequentado.

1 de Agosto, 2006 Palmira Silva

O anti-semita Mel Gibson

Há dois anos o Carlos escreveu, a propósito do filme «a Paixão de Cristo» – que não vi, não sou apreciadora deste tipo de ficção fantástica xenófoba – «Mel Gibson é um fanático, reaccionário e cruel – futuro santo da ICAR – que se masturba com o sofrimento e traz de regresso o anti-semitismo que, após a segunda grande guerra, tem estado entre parêntesis».

Os recentes acontecimentos confirmam o anti-semitismo do católico conservador, cujo pai é um assumido negador do Holocausto.

De facto, Mel Gibson, foi detido na sexta-feira, na Califórnia, depois de ter sido apanhado pelas autoridades a conduzir embriagado.

Mel Gibson seguia na auto-estrada do Pacífico, quando foi interceptado numa operação de fiscalização, depois de ter sido detectado em «claro excesso de velocidade».

O actor, depois de uma exibição deplorável de vernáculo, lançou-se numa longa tirada anti-semita que culminou com a declaração «Os judeus são responsáveis por todas as guerras que já aconteceram no mundo» perguntando de seguida a um dos polícias, James Mee: «Você é judeu?».

Toda a intervenção foi gravada em audio por um dos polícias e pode ser ouvida aqui.

Entretanto o actor pediu desculpas pelo seu comportamento. Este pedido de desculpas, em que Mel Gibson reconhece abertamente ter proferido declarações anti-semitas, foi aceite pela Liga Contra a Difamação que tinha considerado o seu primeiro pedido insuficiente e pretendia que Gibson fosse severamente punido. «Parece que a combinação de algumas bebidas e a prisão revelou o seu verdadeiro carácter», declarou Abraham Foxman, o director da Liga Contra a Difamação, que já tinha alguns diferendos com o actor e realizador a propósito das declarações deste quando do lançamento do filme «A Paixão de Cristo».

Na altura as acusações de anti-semitismo a Gibson, nomeadamente «se ele pode dizer que há uma cabala de judeus laicos liberais que querem culpar a Igreja Católica pelo Holocausto isso é a conversa anti-semita clássica» foram repudiadas com grande indignação e fanfarras como calúnias. Parece que os recentes acontecimentos deram razão a Foxman…

Devido ao incidente a rede de televisão ABC cancelou uma mini-série sobre o Holocausto a ser produzida por Mel Gibson. De facto, um anti-semita realizar uma série sobre o Holocausto não me parece uma boa ideia. Mel Gibson já fez estragos q.b com o espectáculo sado masoquista, uma representação realista de que de facto o negócio das religiões é violência que simultaneamente deixa claro em todos os fotogramas que os judeus são o inimigo que é «A Paixão de Cristo», tão elogiada por João Paulo II.

Tanto que, pela primeira vez, a Sala de Imprensa da Santa Sé emitiu uma nota, depois de João Paulo II ter visionado o filme, assegurando que a história contada por Gibson «é uma transposição cinematográfica do facto histórico da Paixão de Jesus Cristo segundo o relato evangélico».

1 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Violência de Deus

Não é vulgar os homens odiarem com a violência de que o clero é capaz. Abre-se a TV e, perante os horrores do terrorismo, ouvem-se mullahs a dizer que Deus é grande e a clamar vingança. Crentes embrutecidos pela fé dizem que a maior alegria é terem filhos mártires e eles próprios imolarem-se na orgia de sangue que a cegueira da fé provoca.

Do outro lado, os que desejam derrubar o Muro das lamentações à cabeçada, dizem que Deus está com eles, enquanto os aliados rogam a Deus pelos soldados que enviam para os campos de batalha.

Deus é uma espécie de amuleto pouco recomendável, disposto a sacrificar inimigos dos seus amigos, um déspota parcial e violento que, a troco de orações, aumenta as mortes dos adversários e reduz as dos amigos.

Ninguém ignora os motivos económicos que motivam as guerras em curso, mas todos se dão conta da violência potenciada pela fé, da demência exacerbada pelas orações e do fanatismo induzido pelos clérigos.

As sociedades que se subjugam ao clero regridem sob o ponto de vista civilizacional e são espoliadas dos mais elementares direitos. A teocracia é a antítese da democracia e, nestas, a influência religiosa promove a intolerância, o fanatismo e a renúncia aos direitos cívicos.

1 de Agosto, 2006 Palmira Silva

O genoma Neanderthal

Reconstrução tridimensional de um crânio Neanderthal efectuada no Instituto Max Planck para a Antropologia Evolucionista em Leipzig.

O Max Planck para a Antropologia Evolucionista iniciou um projecto de colaboração com a 454 Life Sciences Corporation em Branford, USA, que pretende sequenciar o genoma do Neanderthal nos próximos dois anos. Depois da sequenciação do genoma do chimpanzé, este projecto é mais um marco no esclarecimento da evolução do homem mas igualmente de algumas controvérsias evolutivas.

O Homem de Neanderthal ou Homo sapiens neanderthalensis, o ramo evolutivo dos hominídeos mais próximo do homem moderno, viveu na Europa e na Ásia Ocidental há mais de 200 000 anos tendo sido extinto há cerca de 30 000 anos, aproxidamente a altura da chegada do Homo sapiens sapiens à Europa.

Durante muito tempo pensou-se que o Neanderthal foi um degrau na evolução do homem, isto é que a árvore filogenética do homem seguiu uma única linha entre o Australopithecus, Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis e o Homo sapiens sapiens. Hoje em dia acredita-se que o Neanderthal é um ramo paralelo, sem sucesso, da evolução dos descendentes do Homo heidelbergensis, que seguiram duas linhas de evolução diferentes, determinadas pelo meio ambiente, respectivamente na Europa e em África.

Os hominídeos que viviam no Hemisfério Sul enfrentaram uma seca terrível. E os que evoluiram no norte tiveram de se adaptar a um frio glacial, com temperaturas de -30ºC. Para isso, isto é para resistir a um frio extremo, o Neanderthal desenvolveu características físicas específicas, tinha braços e pernas curtos e era mais robusto e baixo do que o homem moderno. Media cerca de 1,60m, e enquanto o Homo erectus tinha um volume craniano médio de 1000 cm3, o Neanderthal apresentava um volume de 1450 cm3 e o Sapiens de 1300 cm3. De igual forma, o pescoço, cujas dimensões aumentaram do Australopithecus ao Homo erectus, era muito curto no Neanderthal voltando a ser longo no sapiens .

Estas e outras evidências experimentais levaram os antropólogos a classificar o Neanderthal como um ramo paralelo da evolução. Com o aperfeiçoamento da datação de ossos através do carbono-14, descobriu-se que o Homo erectus (um ramo extinto do Homo Ergaster), o Homo sapiens e o homem de Neanderthal foram contemporâneos.

Ou seja, várias questões permanecem em aberto, nomeadamente se a extinção do Homo erectus e do Neanderthal foi um processo natural e se, especificamente, o Neanderthal foi exterminado pelos seus parentes próximos e se houve cruzamento genético entre ambas as espécies.

As descobertas paleontológicas no Vale Lis, nomeadamente o fóssil «menino do Lapedo», parecem indicar que houve cruzamento do Neanderthal com o sapiens. Mas nem todos os cientistas estão de acordo com Zilhão e existem muitas dúvidas sobre se o menino do Lapedo é de facto um híbrido de sapiens e Neanderthal.

O projecto do Genoma do Neanderthal pode esclarecer esta questão. Por comparação do genoma do Neanderthal com o genoma do homem poder-se-à averiguar se existiu contribuição genética do Neanderthal para o homem moderno. A comparação conjunta com o genoma do chimpanzé permitirá lançar luz sobre o que significa geneticamente ser humano.

(continua)