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O genoma Neanderthal

Reconstrução tridimensional de um crânio Neanderthal efectuada no Instituto Max Planck para a Antropologia Evolucionista em Leipzig.

O Max Planck para a Antropologia Evolucionista iniciou um projecto de colaboração com a 454 Life Sciences Corporation em Branford, USA, que pretende sequenciar o genoma do Neanderthal nos próximos dois anos. Depois da sequenciação do genoma do chimpanzé, este projecto é mais um marco no esclarecimento da evolução do homem mas igualmente de algumas controvérsias evolutivas.

O Homem de Neanderthal ou Homo sapiens neanderthalensis, o ramo evolutivo dos hominídeos mais próximo do homem moderno, viveu na Europa e na Ásia Ocidental há mais de 200 000 anos tendo sido extinto há cerca de 30 000 anos, aproxidamente a altura da chegada do Homo sapiens sapiens à Europa.

Durante muito tempo pensou-se que o Neanderthal foi um degrau na evolução do homem, isto é que a árvore filogenética do homem seguiu uma única linha entre o Australopithecus, Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis e o Homo sapiens sapiens. Hoje em dia acredita-se que o Neanderthal é um ramo paralelo, sem sucesso, da evolução dos descendentes do Homo heidelbergensis, que seguiram duas linhas de evolução diferentes, determinadas pelo meio ambiente, respectivamente na Europa e em África.

Os hominídeos que viviam no Hemisfério Sul enfrentaram uma seca terrível. E os que evoluiram no norte tiveram de se adaptar a um frio glacial, com temperaturas de -30ºC. Para isso, isto é para resistir a um frio extremo, o Neanderthal desenvolveu características físicas específicas, tinha braços e pernas curtos e era mais robusto e baixo do que o homem moderno. Media cerca de 1,60m, e enquanto o Homo erectus tinha um volume craniano médio de 1000 cm3, o Neanderthal apresentava um volume de 1450 cm3 e o Sapiens de 1300 cm3. De igual forma, o pescoço, cujas dimensões aumentaram do Australopithecus ao Homo erectus, era muito curto no Neanderthal voltando a ser longo no sapiens .

Estas e outras evidências experimentais levaram os antropólogos a classificar o Neanderthal como um ramo paralelo da evolução. Com o aperfeiçoamento da datação de ossos através do carbono-14, descobriu-se que o Homo erectus (um ramo extinto do Homo Ergaster), o Homo sapiens e o homem de Neanderthal foram contemporâneos.

Ou seja, várias questões permanecem em aberto, nomeadamente se a extinção do Homo erectus e do Neanderthal foi um processo natural e se, especificamente, o Neanderthal foi exterminado pelos seus parentes próximos e se houve cruzamento genético entre ambas as espécies.

As descobertas paleontológicas no Vale Lis, nomeadamente o fóssil «menino do Lapedo», parecem indicar que houve cruzamento do Neanderthal com o sapiens. Mas nem todos os cientistas estão de acordo com Zilhão e existem muitas dúvidas sobre se o menino do Lapedo é de facto um híbrido de sapiens e Neanderthal.

O projecto do Genoma do Neanderthal pode esclarecer esta questão. Por comparação do genoma do Neanderthal com o genoma do homem poder-se-à averiguar se existiu contribuição genética do Neanderthal para o homem moderno. A comparação conjunta com o genoma do chimpanzé permitirá lançar luz sobre o que significa geneticamente ser humano.

(continua)