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Jesus era socialista

«Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e mesmo quem tem mantimentos faça o mesmo» Lc 3:11

Já é recorrente e cansativa a acusação que alguns comentadores fazem de que o DA «é de esquerda». Não importa que se escreva que o ateísmo e o DA não têm côr política, que temos autores de diferentes ideologias, que nos encontramos da defesa do laicismo mas não na defesa deste ou daquele ideal – tudo isso é indiferente. Porque há pessoas que acham mais fácil ignorar argumentos e razões dos ateus se os etiquetarem como defendendo determinadas ideias/partidos/interesses, sem precisarem de expôr suas probres cabecinhas a novas ideias e relações. Não importa que seja errado: é fácil.

Eu acho a acusação particularmente irónica, precisamente porque vejo na figura e nas ideias de Jesus a maior defesa do ideal socialista! A doutrina que a Bíblia defende para a organização económica da sociedade é o socialismo! Sim: o Novo Testamento defende o ideal socialista da mesma forma que o «manifesto comunista».

Pessoalmente, eu rejeito o socialismo – acho uma forma pouco adequada e eficiente de distribuir os recursos pela sociedade (não vou explicar porquê, visto não estarmos num blogue de política) – mas eu posso fazê-lo à vontade, porque sou ateu. Se eu fosse cristão (e já fui), não poderia rejeitar o socialismo: por muito ineficiente que o sistema me parecessse, eu não iria pôr em questão a «vontade de Deus».

Assim sendo, cada vez que escrevo mostrando que Deus é produto da nossa imaginação e que Jesus (aquele que afirmou que que «é mais fácil passar um camelo na ponta de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus» ou que «ai de vós ricos que destes a vida em vosso consolo pois vos digo que haveis de chorar» e outras que tais…) não é filho de Deus nem tem nada de divino, estou na verdade a defender a hipótese de que o socialismo não é necessariamente (como creio não ser) a solução para a sociedade.

E não me venham com a conversa de que a Igreja é inimiga dos comunistas, que sempre esteve contra os marxistas, e argumentos do tipo, como se isso fizesse apagar a enorme quantidade de passagens bíblicas que exortam ao socialismo. A Igreja já vendeu indulgências, já encorajou cruzadas, já instituiu a inquisição, já condenou a tradução da Bíblia – a Igreja por diversas vezes ao longo da história colocou os seus interesses geo-políticos à frente daquilo que notoriamente seria a mensagem de Cristo. Quem defende que Cristo nunca aprovaria as cruzadas, não pode defender que a doutrina económica que a Igreja defende ou deixa de defender é mais válida do que aquela que notoriamente é defendida no novo testamento.