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Quem são os Deuses dos ateus?

Uma das críticas mais curiosas que se fazem aos ateus em geral é a de se quererem substituir aos Deuses.

Numa primeira análise, a crítica parece patética. Os ateus não acreditam em Deuses, não poderiam querer substituir-se a estes. A única justificação para uma crítica tão despropositada seria a falta de argumentos de quem se sente incomodado com a nossa posição. Estas considerações poderão ser válidas se a crítica fôr feita a certos ateus.

Mas em relação a outros ateus (nos quais me incluo), considero que a crítica faz sentido. A questão que se coloca é se deve ser ou não considerada uma crítica. Passo a explicar:

Os Deuses não existem. Tal como as outras personagens mitológicas, são fruto da imaginação humana. Os Deuses garantiriam os desejos intrinsecamente humanos: imortalidade (sim, a selecção natural criou o instinto de sobrevivência que se consubstancia num desejo de imortalidade); o Paraíso; a Justiça Final; a atenção total, absoluta, e amor de um ser Perfeito, Omnipotente.

Só que as pessoas podem inventar seres e sonhar com uma vida eterna que não existe, ou então, em vez de confundirem a realidade com os seus desejos, trabalharem para mudar a realidade de acordo com os seus desejos, construindo um mundo melhor.

Queremos o Paraíso? Construamo-lo. Construamos um mundo sem miséria, combatamos a doença com a medicina, construamos um mundo sem guerras, construamos um mundo melhor. «Brincar aos Deuses» assim é uma brincadeira mais séria e construtiva que qualquer Religião.

A estes ateus, a estes que querem construir um mundo melhor passo após passo, a estes que não querem ficar de braços cruzados, a estes que não esperam passivamente que os seus desejos se tornem realidade, trabalhando para os concretizar, a estes ateus faz sentido que lhes digam «vocês querem substituir-se aos Deuses». É caso para responder: «de alguma forma, é verdade, e ainda bem».

PS- Já tinha ouvido várias vezes esta crítica. A última vez que a li foi no sistema de comentários deste blogue, em relação ao artigo «Mitologia sim, mitomania não». Respondi de imediato à crítica, e considerei posteriormente que deveria publicar uma resposta a esta crítica como artigo do blogue (por ser uma crítica relativamente comum). Desta forma algum texto deste artigo é copiado dessa resposta.