Loading

Dia: 4 de Março, 2004

4 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Interlúdio

Neste pequeno intervalo do estudo de Medicina Legal (nós, estudantes de Direito, nesta cadeira, somos insensivelmente usados pelos senhores de Medicina como divertimento :o) ), aqui coloco um excerto de uma letra do meu grupo preferido: The Divine Comedy. A música chama-se Don’t look down e é do álbum Promenade.

(…)

And then a God who really ought not to exist

Sticks out a great big hand

And grabs me by the wrist

And asks me “why?” and I say

“Well God, it’s like this

It may be arrogance

Or just appalling taste

But I’d rather use my pain than let it all go to waste

On some old god who tells me what I want to hear

As if I cannot tell obedience from fear

I want to take my pleasures where and how I will,

Be they disgraceful or distasteful or distilled

And to be frank I find that life has more appeal

Without a driver who’s asleep behind the wheel”

(…)

4 de Março, 2004 André Esteves

Está nas bancas!! Dieu, la science et la religion.

Está nas bancas portuguesas o número 14 dos dossiers temáticos da La Recherche (em françês «Hors série», ou seja, «extra-edição») com o tema: Deus, a Ciência e a Religião.

Inclui temas tão interessantes, como a economia e a religião, cosmologia, matemáticos e deus (numa perspectiva muito actual), os biólogos e o seu novo deus, o DNA.
Numa posição combativa face á religião (e não necessariamente a deus…) encontramos artigos que cobrem a neurologia, sociologia e etnografia das religiões.
Um dos artigos mais interessantes, na minha opinião, «Os perigos da harmonia a todo o preço…» (pag.74) cobre as tentativas mais recentes dos religiosos moderados de fazerem a concordância entre as suas escrituras e as descobertas científicas modernas…

La Recherche


Hors série n°14 – Dieu, la science et la religion – Sumário

4 de Março, 2004 Carlos Esperança

A objecção de consciência e os hospitais públicos.

Durante a discussão do aborto na Assembleia da República, Leonor Beleza, ex-ministra da Saúde, chamou a atenção para um assunto bizarro e dramático. É o caso de serviços hospitalares que recusam proceder à interrupção voluntária da gravidez (IVG) em casos legalmente previstos (risco de vida da mãe, malformação do feto e violação), graças a uma verdadeira insurreição beata que dá pelo nome de objecção de consciência.

Alegam os médicos e enfermeiros que são contra o aborto e que, por isso, não o fazem. Nem cuido de saber se o fazem, depois, na clínica privada, interessados em salvar a alma apenas dentro do horário oficial. O que está em causa é o boicote deliberado ao cumprimento da lei.

Claro que os partidos que têm ocupado o poder são responsáveis pela manutenção deste estado de coisas. A subserviência à Igreja (neste caso à ICAR) levou os governantes a prescindirem da sua autoridade.

O papa faz chantagem com médicos e enfermeiros católicos, obrigando-os a absterem-se de proceder à IVG. Já tentou a mesma canalhice com advogados, em relação ao divórcio, mas, neste caso, foi desautorizado pelo próprio bastonário da Ordem dos advogados.

O aborto e o divórcio nunca serão obrigatórios, apenas se exige aos crentes que respeitem os outros. A visão totalitária da ICAR é que não pode ser consentida.

Então o que há a fazer para evitar que a aplicação da lei seja sabotada pela demência mística de beatos e hipócritas?

Naturalmente deve o Estado, na abertura de concursos de Obstetrícia/Ginecologia, pôr como primeira condição: «Não ser objector de consciência».

Veremos que passam a ser raros os objectores e não mais se sujeitam mulheres com malformações fetais ou violadas a andar por Ceca e Meca, numa insuportável angústia, enquanto a gravidez, os riscos e a ansiedade se agravam de forma dramática.

É isto que os cidadãos exigem da democracia. É esta a tarefa de um Estado laico.