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Dia: 12 de Fevereiro, 2004

12 de Fevereiro, 2004 André Esteves

Dia de Darwin – Reflexões sobre a ciência e a razão em Portugal



Hoje é dia de Darwin. Ele nasceu há 195 anos.

Nas universidades progressistas americanas e inglesas, e um pouco por todo o mundo, comemora-se este dia, não só pelas descobertas científicas que Darwin deu a todos nós, mas também para celebrar a humanidade comum que todos partilhamos e um certo deslumbramento pelo universo que todos os exploradores e verdadeiros cientistas sentem.

Vejam a imagem que está à vossa esquerda. É uma fotografia de Darwin com 68 anos.

Sabem o que gosto imenso nela? Olhem para os olhos…

Confusos? Pois… Darwin com 68 anos era estrábico.

Mas se olharem para a imagem focando o olho da direita, vêem um Darwin sonhador… a olhar para o futuro e para as estrelas…

Se olharem focando para o olho da esquerda, terão uma surpresa…

Um Darwin sorridente, que aparenta uma calma transcendente.

Dizem as lendas, que Demócrito, o filósofo grego que «inventou» o átomo, sorriu durante toda a vida, tal era a felicidade fulminante que o iluminou naquele momento único, em que a ideia do átomo se formou na sua mente.

Na vida de um cientista, artista ou de qualquer pessoa apaixonadamente criativa vive-se para e desse momento…

Não é necessário ser uma ideia original.

Qualquer ideia é sempre única, quando floresce pela primeira vez dentro do nosso cérebro.

Venho de uma família protestante, e apesar de todo o gênero de experiências com o «espírito santo», nada me marcou como o momento em que tive «Uma luz no meio da escuridão».

Tinha 12 anos, e tinham-me emprestado um computador, e por mim próprio aprendi a programar BASIC.

Uma das coisas que sempre me tinha fascinado, eram os números primos…

De modo que, programei o computador para gerar números primos de uma maneira muito básica, a partir de uma progressão aritmética de impares (o único número primo par é o 2) e testava a primalidade desses números…

Escusado será dizer, que ao fim de algum tempo, o computador praticamente parava…

No entanto, a memória RAM não era toda utilizada…

Havia algo de fundamentalmente lento no algoritmo que eu criara.

Tinha notado algo acerca da própria natureza dos números primos!!!

Mas deveria haver alguma maneira mais eficiente, mais rápida, mais sensata de calculá-los…

O problema obcecou-me… Enquanto dormia os números chocavam-se nos meus sonhos.

Quando visualizei pela primeira vez um método mais rápido, foi como se abrissem as portas da criação e trombetas tocassem por todo o mundo! E quando o implementei, funcionava!

Anos mais tarde, consegui arranjar um livro sobre Teoria dos Números, que é a parte da matemática que estuda as propriedades intrínsecas aos números e descobri!

Surpresa de adolescente!

O método já era conhecido. Tinha sido descoberto por um dos grandes matemáticos da antiguidade. Chamava-se Eratóstenes. E o algoritmo é conhecido por Crivo de Eratóstenes.

Nesse momento tive outra epifania…

Eu e Eratóstenes, separados de séculos, tivéramos a mesma ideia.

Dois milénios separavam-nos, mas juntos, partilhamos aquele problema, aquela revelação.

Éramos homens separados no tempo, mas tão próximos na nossa curiosidade e solução.

Ainda hoje, fico profundamente emocionado quando penso nesta experiência.

Creio que é uma das experiências mais intensas sobre o que é a condição humana que a ciência tem para nos oferecer.

Quando olho para a fotografia de Darwin, com 68 anos, e tendo lido várias biografias, sei que ele está feliz. Morrerá feliz.

Deu-nos a teoria da evolução.

Com calma, sofrimento, no meio da doença e da enorme pressão social por que passou, deu um passo de gigante na nossa compreensão do que somos, de onde vimos e potencialmente, para onde quisermos ir.

É uma pequena certeza… Não é uma grande construção de toda a realidade, que explique todo o universo. No entanto, como disse um poeta turco:

«Prefiro uma vela acesa no meio da escuridão, a holofotes ligados em pleno dia».

É esta a diferença que um amante da ciência tem, em relação a qualquer verdade revelada…

Lentamente, mas com a força das pequenas confianças que obtemos, vamos tendo um vislumbre da verdade que é mais pura que qualquer visão do universo que as religiões nos oferecem.

É um projecto sem fim, de homens ligados através dos tempos, pelas suas experiências com a realidade.

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Não se comemora o dia de Darwin em nenhuma universidade portuguesa. Porquê?

O número de artigos científicos têm aumentado ao longo dos anos.

Universidades crescem e «elites» se estabelecem…

Será que temos ciência em Portugal, mas não temos cientistas?

12 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

As feras de Alá continuam à solta

O desvario metodista de G. W. Bush é responsável pela agressão ao Iraque, com base numa mentira – a existência de armas de destruição maciça. Este cruzado desacreditou a superioridade moral de que as democracias justamente se reclamam e lançou o caos e o ressentimento. A fé e a mentira costumam dar-se as mãos.

O fanatismo islâmico, por sua vez, não distingue entre o seu próprio povo e o exército invasor. Apenas o ódio beato e a obsessão paranóica do paraíso devora os suicidas que perpetram atentados. Nas últimas 24 horas fizeram 102 mortos e provaram que a violência está para durar.

Os aliados confundiram a rapidez da vitória com a virtude da expedição, a febre de destruição com sede de liberdade e procuraram na crueldade do regime de Saddam disfarçar a brutalidade da agressão.

A passividade perante a fúria devastadora de bandos ensandecidos deveu-se à cultura dos soldados americanos. Suspeitando que os sumérios fossem terroristas e os assírios financiadores da Al Qaeda, nas tábuas de gesso, com mais de cinco mil anos, desconfiaram da escrita cuneiforme, e numa cabeça esculpida, da época suméria, não viram além de um busto de Saddam. E foi assim que o museu de Bagdade foi saqueado.

Uma biblioteca a arder, com preciosidades únicas, foi vista como a livraria de um eventual cunhado do ministro da informação e nem o incêndio foi debelado.

Perante a passividade e a indigência dos invasores rapidamente pulularam cáfilas de díscolos numa orgia destruidora e hordas de saqueadores em busca de despojos.

No Iraque o povo que sobrou devastou palácios, arruinou o património, ajustou contas antigas e recentes, desfez o país que restava. Todos juntos não se limitaram a arrasar um país, quiseram apagar uma civilização. Agora restam populações fanatizadas, convencidas de que Alá é grande e Maomé o seu profeta.

É neste ambiente de destruição e anarquia que hoje medra a fé e os mullahs se impõem. Mingua a comida mas sobram as orações; as comunicações estão destruídas mas organizam-se peregrinações a Meca; faltam medicamentos e sobram louvores ao profeta; não funcionam as escolas mas regurgitam as mesquitas.

E não faltam armas, tal como não faltam clérigos a incitar às orações e ao martírio.

Quando os níveis de sofrimento se tornam insuportáveis os povos viram-se para a religião. E o clero aproveita a desgraça para vender a ilusão eterna.

12 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Dia de Darwin

Charles Robert Darwin nasceu, em Inglaterra, a 12 de Fevereiro do 1809. Como muitos cientistas, acreditava que a vida na Terra tinha evoluído (ou desenvolvido gradualmente), ao longo de milhares de anos, de alguns antepassados comuns.

Na América do Sul, enquanto membro de uma expedição científica, descobriu fósseis de animais extintos muito semelhantes a espécies modernas. Nas ilhas Galápagos, constatou várias variações entre plantas e animais do mesmo tipo daqueles que se encontravam no continente americano.

De regresso a Inglaterra, ao estudar as suas notas, Darwin elaborou diversas teorias. A primeira defendia que, efectivamente, houve evolução; a segunda, que a mudança evolutiva foi gradual; a terceira, que o mecanismo primário da evolução era a selecção natural; a quarta, que os milhões de espécies actualmente vivas surgiram de uma única forma de vida através de um processo derivativo chamado especialização.

A teoria darwinista da evolução propugna que a divergência entre as espécies ocorre aleatoriamente e que a sobrevivência ou extinção de cada organismo é determinada pela capacidade desse organismo de se adaptar ao ambiente. Estas teorias viram a luz do dia no livro “On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life” (1859).

O trabalho de Darwin teve um profundo impacto no pensamento religioso, apesar do autor evitar falar sobre os aspectos teológicos e sociais do seu trabalho, mas outros autores aproveitaram-no para sustentar as suas próprias teorias sobre a sociedade.

Houve que afirmasse que, no leito da morte, em 1882, Charles Darwin renunciou a sua teoria evolutiva. Pouco depois da sua morte Elizabeth Hope, evangelista e defensora da moralidade, disse que tinha estado com o cientista nos seus últimos momentos e testemunhado a sua renúncia. No entanto, tudo foi refutado pela filha de Darwin que afirmou: “Estive presente no seu leito da morte… Ele nunca retractou qualquer uma das suas perspectivas científicas, nem naquele momento nem antes”.