Sempre que aparece, Bin Laden provoca uma onda de pânico em parte da humanidade enquanto outra exulta e anseia por se colocar ao seu serviço, por dar a vida pelo virtuoso e pio muçulmano que desafia os EUA e os países democráticos.
Há naquele biltre, misto de Urbano II e de Hitler, a demência e a maldade de ambos e o mesmo poder de sedução que o converte em condutor de massas, no Messias que os crentes aguardam, no profeta em que acreditam as multidões famintas, humilhadas e desesperadas, vítimas de uma civilização falhada e das teocracias corruptas.
No entanto o místico assassino dirige uma cruzada contra os infiéis – todos os que não lêem o Corão a seu jeito -, com a mesma fria violência com que o Papa Inocêncio III mandou massacrar os cátaros. E não lhe faltará determinação para, à semelhança de Arnaldo Amalarico, em Béziers, quando houver dúvidas sobre quem é ou não é infiel, decidir: «Matai-os a todos. Depois, no Céu, Deus distingui-los-á».
Não tenhamos ilusões. Bin Laden converteu-se num ícone que a rua muçulmana adora. Ele não é apenas o estratego que conduz uma guerra gloriosa, é o justiceiro que vai derrotar os maus e conduzir os seus devotos ao paraíso, aos rios de mel e à volúpia das 70 virgens cansadas de esperar.
O frio e cínico devoto é hoje um fenómeno de massas, o ideólogo de milhões de crentes, o mártir que fanatiza e seduz franjas de todos os estratos sociais, em todas as latitudes, sem exclusão de raças. Ele representa uma ideologia planetária, é o apóstolo do único Deus verdadeiro que um rude pastor de camelos importou para regiões tribais com erros de tradução e hábitos de brutalidade.
O fascismo islâmico é uma mancha de óleo que alastra em todas as direcções. O Corão é o Mein Kampf da horda de assassinos beatos e Bin Laden o seu Führer.
Num comentário ao meu post relativo às declarações de Ratzinger sobre a teoria da evolução, Bernardo Motta do blogue «Espectadores» (http://espectadores.blogspot.com/) aconselha-me a que «Leia, por favor, o que o São Tomás diz sobre a simplicidade de Deus» (para mais detalhes ver a secção de comentários do post acima referido).
O lider de 1.1 bilião de pessoas diz que o debate sobre criacionismo e evolução é «absurdo», uma vez que «evolução pode coexistir com fé». Mais, a mente iluminada de Ratzinger acha que «evolução parece real» mas que não explica «de onde vêm todas as coisas» (http://www.msnbc.msn.com/id/19956961/)
O que o papa Benedict está a fazer é, explicar a pessoas como Richard Dawkins ou Edward Larson, «vocês os cientistas podem perceber muito sobre evolução, fosseis, ADN, progressão orgânica, fisiologia animal, mas a verdade é que somos nós que temos a explicação para a origem das coisas. Vocês até podem dar um cenário quase real, mas sem a nossa contribuição, a evolução não pode ser totalmente entendida».
Para além do óbvio, ou seja, a religião não tem qualquer autoridade para estar a emitir tais dilates, esta tentativa de conciliação com o método científico é leviana e prejudicial para a ciência. É como dizer a um estudante de biologia,«não se esforce para encontrar o princípio das coisas, assuma apenas que houve uma força superior que as criou».
A agenda mediática portuguesa ignorou praticamente as eleições em Marrocos cuja política é relevante para a Europa e de grande interesse económico para Portugal.
Em monarquias absolutas as eleições não passam de imitação grosseira do acto cívico que as democracias repetem regularmente, pelo que a abstenção de 63% do eleitorado encontra aí uma das suas justificações. A única surpresa eleitoral de Marrocos foi a vitória relativa do partido conservador e nacionalista (Istiqlal), fiel à monarquia alauita.
Não há democracias onde a cidadania dependa do poder discricionário de um monarca ou da violência tribal das teocracias. Em Marrocos o rei pretende conciliar o seu poder absoluto e a liderança religiosa com a abertura política –, equação difícil de resolver.
Marrocos está aqui ao pé de Portugal e o que aí se passa não é indiferente à Europa e, sobretudo, à Península Ibérica com democracias recentes e debilmente consolidadas, afirmando-se graças à protecção da União Europeia que dissuade os nostálgicos de Franco e Salazar.
Os países do Magreb abastecem de mão-de-obra e rejuvenescem a população europeia, mas, as alterações étnicas e culturais demasiado rápidas que induzem, são um elemento social perturbador e fonte de medos que recentes atentados terroristas islâmicos, embora frustrados, vieram aumentar.
Se Marrocos e Argélia se transformarem em democracias serão a retaguarda protectora do sul da Europa. Caso contrário, convertem-se na vanguarda do terrorismo islâmico, em santuário da al-Qaeda e numa ameaça permanente para novas tragédias fomentadas pelo proselitismo islâmico.
A Europa, que sofreu sangrentas disputas religiosas, que a dilaceraram, está a facilitar o poder religioso em vez de aprofundar a laicidade que a tem poupado à violência dos que julgam ganhar o Paraíso convertendo os outros à sua fé.
É mau confundir a liberdade religiosa, que deve ser defendida, com a mistura do Estado e das Igrejas, que deve ser combatida.
Resultados eleitorais: RTP
Há seis anos escrevi este texto, publicado no Expresso:
No dia 11 senti-me americano, sufocado pela orgia de terror que desabou num país que tem sobre os inimigos a superioridade moral (o que não é pouco) que lhe confere a democracia.
Parece ser o fundamentalismo islâmico responsável pelo holocausto provocado, a origem da demência assassina de quem gravita em torno de um credo como moscas à volta do seu alimento predilecto, a incubadora de suicidas beatos que acreditam na virtude do martírio porque descrêem da bondade do seu Deus.
Recordo a elegante e altiva silhueta de Manhattan pela câmara de Woody Allen, hoje uma memória dolorosa com milhares de vítimas sepultadas sob os escombros do cenário rasgado. Olho a estátua da Liberdade, rodeada de morte e sofrimento, dolorosa metáfora duma civilização ferida. E os valores de que nos reclamamos foram desafiados.
Apesar da dor e da revolta, da raiva e do sofrimento, penso que devemos sobrepor a justiça à vingança, o castigo dirigido ao ódio cego.No Expresso de 15 de Setembro, para além da sensatez do P.R. e do 1.º Ministro, dois artigos estimulantes de Mário Soares e Freitas do Amaral podem servir de alerta a comportamentos desajustados.
Não podemos permitir que, à sombra de uma terrível emoção, se deixe arrasar a Palestina ou se permita a caça ao árabe. Não é nos crentes que está o perigo, é no poder do clero que os conduz. Jeová, Cristo ou Alá são inofensivos. Perigosos são os funcionários que agem em seu nome.
E, tal como nós, que nos libertámos do poder clerical que há século e meio se não conformava com a separação do poder espiritual e temporal, que considerava a Igreja incompatível com a democracia e o progresso, também eles, os islamitas, hão-de conquistar o direito à liberdade religiosa e política, reconhecer os direitos das mulheres e apreciar a democracia.
O horror está nos estados teocráticos, nos totalitarismos com que nos conformamos, na pobreza, na ignorância e no analfabetismo que os sustentam.
Há seis anos atrás, também a uma terça-feira, o mundo assistia, incrédulo, a um acto terrorista que viria a transformar as relações e os equilíbrios internacionais.
Na origem destes actos estiveram, não só mas também, motivações religiosas. Motivações movidas por uma cegueira que afecta o discernimento, o bom senso e qualquer tipo de respeito pela vida humana. A religião pode ser muita coisa, mas também é isto. Nela – exclusivamente nela – se encontram as razões para as guerras santas, as tais guerras que pretendem aniquilar e conquistar todos os que não sofrem da mesma espécie de loucura, justificadas por palavras “sábias” de indivíduos gastos de velhos e ultrapassados.
Infelizmente, muitos dos países ocidentais, em vez de aproveitarem esta excelente oportunidade para promoverem os benefícios das sociedades seculares, optaram pela postura populista ao, também eles, incendiarem os seus discursos políticos e de Estado com imagens religiosas contribuindo, assim, para uma maior “beatificação” das guerras, das crises e das injustiças que se seguiram a 2001.
Ainda é muito cedo para sabermos ao certo as consequências destas opções. Tenho esperança que a reacção das sociedades ocidentais não chegue tarde de mais.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.