Loading
28 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Vaticano – O Papa, a teocracia e a liturgia 28-2-2013

B16 atirou com o chapéu de Papa

Há 7 anos, o Vaticano, bairro de 44 hectares, abriu vaga para Papa. Bento 16 deliberou manter-se vivo. Nos últimos dias procedera como os líderes profanos: continuou a fazer exonerações e nomeações. Substituiu-se a si próprio, dispensou o gerente do IOR, aceitou a resignação de cardeais pouco estimáveis, nomeou o novo bispo de Lisboa, futuro cardeal, e antecipou o consistório. O bispo de Lisboa, notoriamente reacionário, teve com Bento XVI uma oportunidade que dificilmente se repetiria.

Sendo o primeiro Papa a sair vivo do cargo, em quase 600 anos, criou alguns problemas à monarquia eletiva cujo sucessor, perdida a tradição dos Bórgias, deixou de ser filho ou familiar. A eleição do sucessor viria a ser feita pelos cardeais maioritariamente criados (termo canónico) pelo “Papa emérito”, título que demorou vários dias a encontrar, e foi igual ao dos bispos que terminam o prazo de validade.

Perdeu mordomias. Deixou o anel, que foi destruído, poupando o dedo; ficou impedido de usar a batina de peregrino; suspendeu o alvará da infalibilidade e criação de cardeais cujo trespasse passou para o novo pontífice; a interdição absoluta atingiu os sapatinhos vermelhos e o camauro. Manteve o direito a vestir-se de branco, ao uso do pseudónimo de Bento XVI e a tratamento de luxo com mordomos paramentados e freiras dedicadas.

Antes das 20H00 (19H00, em Lisboa) foi para Castel Gandolfo onde ficaria dois meses, até à conclusão das obras do convento, no Vaticano, onde estava previsto ficar até que o ciclo de vida se cumprisse. Admitiu-se que a euforia provocada pela eleição de um novo Papa rapidamente o fizesse esquecer, mas a sua sombra continuou a pairar através de sequazes que a correlação de forças não permitiu enxotar, como se viu com a publicação de um livro que impediu o sucessor de ordenar homens casados e, eventualmente, mulheres

Manteve o título de Santidade, título que designa a profissão e o estado civil, apesar da jubilação. E, como o cavalo de Jacques Prévert, pode gritar:

Eu estou vivo

É o principal

Bom apetite

Meu general!

(Tradução minha de um poema memorizado)

27 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Contrastes

21 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Bem-aventurada Conferência Episcopal Portuguesa

Quando a morte era assistida, os moribundos saudáveis e era o clero a tratar da saúde, já havia a estranha devoção de negar a morte sem sofrimento.

A morte não era a pedido, o sofrimento era obrigatório, e já eram ruidosas e participadas as manifestações de júbilo do clero, nobreza e povo, unidos no delírio da combustão de judeus, bruxas, hereges, apóstatas e blasfemos.

Mais contido o êxtase, mantém-se a coerência.

19 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Eutanásia – Paradoxos

 

Há argumentos respeitáveis de um lado e de outro, razões para reflexão e dilemas éticos, e todos conhecemos situações de indescritível sofrimento, dor lancinante e incapacidade física para lhes pôr termo e exercer o direito de decidir, situações que ninguém descreve melhor do que os crentes, “era uma esmola que Nosso Senhor o/a levasse”.

O que surpreende é a aceitação do direito individual de quem não tem condições físicas de o exercer, por quem pensa que a morte é o fim inexorável da vida, única e irrepetível, e a resistência dos que têm a certeza de que há outra vida e acreditam na ressurreição.

Vá lá alguém entender estes paradoxos!

18 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Saudades para Vanessa

Há quinze anos, num dia de fevereiro de 2005, lia e não acreditava. Voltava a ler. Julgava estar a perceber mal, e relia. Pensava que havia gralha, que o jornalista tivesse cometido um lapso e dissesse o contrário do que queria. Li uma última vez.

Senti comoção e a raiva. Sabia das baixezas de que os homens são capazes. Estive 26 meses na guerra colonial. Mas, talvez, a estupidez não seja o pior dos males. Pior só a estupidez e a crença reunidas.

Paulo, drogado, saído da prisão de Custóias há quatro meses, desempregado, fazia filhos em várias mães no Bairro do Aleixo, bairro de problemas e miséria da cidade do Porto. Uma das filhas chamava-se Vanessa. Tinha cinco anos e a vida para viver. Paulo matou-a à pancada.

A mãe de Vanessa mandou rezar-lhe missa do 7.º dia na igreja de Lordelo do Ouro, no Porto. Foi o mimo que lhe faltou em vida.

Copiei devagar o que li e reli na pg. 90 da “Visão”, desse dia. Domingos Oliveira, padre que celebrou a missa, por Vanessa, criança de cinco anos, morta à pancada pelo pai, disse na homilia: “matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos” e invetivou a sociedade “que favorece o uso de preservativos”.

Havia na demência mística do padre Domingos Oliveira uma tal insensibilidade, um tão grave insulto à memória de uma criança mártir, um desrespeito tão grande pela mãe que encomendou a missa e um tamanho ultraje à vida, que estupefazia e arrepiava.

Esse almocreve de Deus, apóstolo da fé, santa besta fiel ao Papa, padre católico, achava preferível matar uma criança de cinco anos à pancada do que interromper a gravidez de um embrião de cinco semanas.

Queriam que eu esquecesse esse facto cuja data exata não registei? Que esquecesse as Vanessas mortas aos cinco anos por pais violentos e drogados? Que ocultasse o nome dos padres que perpetuam a violência e os preconceitos?

17 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Giordano Bruno – Há 420 anos (17 de fevereiro de 1600)

Enquanto os padres se afadigam em missas de ação de graças para que Deus impeça os deputados de matarem velhinhos, celebra-se hoje, em pio silêncio, o 420.º aniversário da cremação em vida de Giordano Bruno. Ao contrário da eutanásia, a morte pelo fogo não era pedida por quem a sofria, e era obrigatória para quem a não pedia.

Era o tempo do 8.º Clemente do Vaticano, homólogo do antipapa com o mesmo número e nome, quando a Santíssima Inquisição, alarmada com a teimosia do herege em renegar a teoria heliocêntrica, a existência de outros mundos e a dúvida sobre a natureza divina de Jesus Cristo, decidiu a sua morte na fogueira purificadora.

Filósofo, matemático e teólogo, defendeu com exemplar coragem e convicção as ideias que tornava absurdos os dogmas, néscios os padres e ignorante a sua Igreja. Que podia esperar um filósofo que considerava infinito e inacabado o Universo cuja perfeição era a maravilha do Deus dos senhores padres inquisidores?

Era ousado, Giordano Bruno, um exemplo de amor à ciência e um caso raro de coragem perante o sadismo da Inquisição. Ao filósofo italiano, escritor e religioso, excomungado por protestantes e católicos, foi-lhe imposto ouvir de joelhos a sentença que o condenou à fogueira na presença de uma multidão ululante. Há algo mais estimulante para a fé do que queimar vivo um livre-pensador? E mais angustiante para os inquisidores do que o atrevimento do réprobo a afirmar perante os santos algozes, “Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la”.?

O cosmólogo considerava o Universo infinito e inacabado, como se Deus tivesse criado uma porcaria à espera de remendo, e contrariava os mestres escolásticos, que ensinavam que, se a Terra se movesse, as nuvens ficariam para trás, as folhas mortas voariam sempre para o mesmo lado e a pedra caída do alto de uma torre afastar-se-ia sempre da sua base. Haveria maior herege e heresia maior do que tais afirmações?

O cardeal Belarmino seguiu o processo onde a heresia e a blasfémia eram tão evidentes que a queima do herege foi saudada pelas almas dos bem-aventurados para quem a ignorância e a fé eram condição essencial para a salvação da alma. Acabou canonizado. Só o sofrimento é purificador.

Hoje, 420 anos após o auto-de-fé, permanece de pé a estátua em sua honra, num desafio ao Vaticano de onde numerosos papas, com incontida azia, quiseram derrubá-la.

Na praça onde foi imolado, onde peregrinam devotos da ciência e do livre-pensamento, ergue-se uma estátua em sua honra, na única praça de Roma sem igreja, onde a ciência é venerada em pedra e bronze, materiais mais perenes do que a metafísica.

Ir a Roma sem procurar a estátua de Giordano Bruno, é como ir a Paris e ignorar a Torre Eiffel.

17 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Eutanásia, outra vez.

Por

Onofre Varela

A Assembleia da República irá discutir, mais uma vez, o problema da despenalização da prática da eutanásia, em casos de processo de doença incurável e irreversível, a pedido do doente. 

Não será uma decisão fácil por se tratar de apressar o fim da vida de alguém, mesmo sendo a pedido do próprio, já que o sentimento dos familiares também poderá ter peso no processo. 

A lei que possa vir a ser aprovada nesse sentido, terá de ter em conta processos desonestos que visam, por exemplo, o recebimento de heranças indevidas num esquema de antecipação. O interesse material que se possa esconder por detrás de uma lei, obriga a que os legisladores tenham em conta toda a “reguilice” tão própria da nossa condição, não só a condição puramente humana, mas também a condição de latino e a de português. 

Lembremo-nos de que, a nível mundial, Portugal ocupa a 30ª posição entre 180 países avaliados tendo em conta a corrupção em situações de suborno. Há, como exemplo, uma lista de casos recentes, incluindo nela os paquetes alugados para a Expo, mais os casos da Tecnoforma, da Bragaparques, do Freeport, dos vistos Gold… que atestam a nossa tendência para a vigarice.

No caso da eutanásia, a lei que a aprove terá de levar em linha de conta as indemnizações dos seguros de vida. Quem os tem, os seus beneficiários perdem o direito a eles pelo facto de a morte ter sido provocada? O paciente está obrigado à morte sofrida, recusando o direito à eutanásia, para não perder o seguro de vida? 

Estes parecem-me ser os casos mais relevantes da implicação que a lei do direito à morte antecipada e medicamente assistida, terá na vida dos familiares daqueles que querem sair da vida mais cedo, evitando a morte sofrida anunciada pela irreversibilidade da doença.

O resto, principalmente a preocupação da Igreja, é mero folclore que nada conta para a validação da lei. Impor a uma comunidade a vontade de um sector, na convicção de usar um código moral ditado por uma divindade inexistente, é, também, uma “reguilice”! 

A eutanásia não é obrigatória!… Só a pratica quem a deseja. Ao contrário da vontade da Igreja que quer impor a sua opinião a toda a sociedade, impedindo a liberdade de consciência de cada um. A consciência da Igreja, guarde-a ela para si própria e para os seus fieis defuntos. Não a imponha a toda a sociedade. A Igreja que olhe para si própria, para o historial que tem dentro do Vaticano, não só no decorrer de toda a sua história recheada de crimes vários, incluindo os de sangue, mas também para casos mais recentes. 

Ao que parece (porque foi negada a autópsia) o Papa João Paulo I foi “eutanasiado” contra a sua vontade, pois morreu imediatamente após ter sido escolhido para a cadeira de S. Pedro. Ele teria demonstrado a vontade de fazer muito daquilo que Francisco I está a concretizar, e terá sido assassinado por isso mesmo. Será esta a verdade da morte de João Paulo I? A extrema-Direita sacerdotal está contra Francisco I pelas mesmas razões que levaram à morte de João Paulo I?

Leão Tolstoi, disse: “Deve valorizar-se a opinião dos estúpidos porque são a maioria”. Será por isso que a Igreja quer um referendo?!

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

16 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

Tudo é vontade de Deus?

Pode fundir o gelo da Antártida e o dos glaciares, a antecipar a submersão de países; os recursos do Planeta consumirem-se mais cedo em cada ano; os vírus tornarem-se mais mortíferos e frequentes; o apocalipse nuclear acontecer com a demência de governantes estúpidos e amorais, e é o exercício dos direitos individuais que muitos desejam negar, sendo, talvez a vontade do seu Deus.

Pouco importam os milhões de mortos por inanição, à míngua de água e alimentos; as vítimas das teocracias e ditaduras laicas; os mortos dos cataclismos naturais; os países dilacerados pelo racismo; os conflitos étnicos, religiosos e geopolíticos. É o direito de cada um decidir a morte, já que não é ouvido para nascer, que os incomoda. Os crentes, que negam um direito, esquecem que é Deus quem mata, sendo os homens instrumento?

15 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A eutanásia e o ruído dos do costume

A eutanásia não é decisão que possa ou deva ser tomada de ânimo leve. A posição que defendo, engloba as minhas opções filosóficas e, sobretudo, as minhas lições de vida.

Em 2011, tive uma experiência que é motivo de reflexão e se mantém presente quando abordo a eutanásia, 52 dias em coma induzido, com septicemia provocada por bactéria multirresistente, na sequência de uma colecistectomia laparoscópica. Estive dependente de uma máquina, aliás, de várias, com o prognóstico a piorar em cada dia que passava.

A eutanásia, como o divórcio, a IVG, ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é obrigação, é um direito individual. Cabe ao próprio exercê-lo ou não, e não aos outros impedi-lo. Por isso, os direitos individuais não devem ser referendáveis, tal como, em sentido contrário, a obrigatoriedade do ensino, das normas de higiene ou das vacinas.

Há 13 anos foi despenalizada a IVG e, ao contrário do que previa quem rejubilava com a pena de prisão da mulher que interrompia a gravidez, com riscos e traumas, calam-se agora com a redução drástica dos abortos, desolados com a melhoria da saúde pública da mulher e a sua autodeterminação sexual.

Há entre a lei que legalizou a IVG e a que definirá a eutanásia um paralelismo flagrante. As mesmas pessoas e os mesmos grupos de pressão voltam agora a exigir um referendo, com desprezo pela democracia representativa e pelos direitos individuais.

Os que menos respeitam a liberdade são os que mais querem impor o modo de a adiar e, se possível, de a impedir, para imporem as suas convicções totalitárias.

Quem ande distraído há de julgar que está em causa a eutanásia obrigatória e não o direito individual de a solicitar, com as precauções e ponderação que a lei há de prever.
Arrepia o terror dissimulado na pergunta que os bispos formulariam sobre um tema que exigiria, como resposta, Sim ou Não, para poderem privar todos da eutanásia:

“Concorda que matar outra pessoa a seu pedido ou ajudá-la a suicidar-se deve continuar a ser punível pela lei penal em quaisquer circunstâncias»?

Não condenam a sua religião por manter a pena de morte no catecismo (que só o Papa Francisco condenou) nem a que impede o médico de salvar a vida da criança que os pais condenam à morte, negando-lhe autorização para uma transfusão de sangue.

É destas madraças que saem padres que afirmam «que “pedofilia não mata ninguém”, ao contrário do aborto».

A vida é um direito inalienável, e não a condenação perpétua.

13 de Fevereiro, 2020 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e o Quincas* – 13 de fevereiro de 2005 – 15.º aniversário

Leva três lustros de defunção a principal protagonista do embuste internacional, com guião e encenação a cargo do cónego Formigão, considerado o 4.º pastorinho. A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Lúcia para os amigos, íntima da Senhora de Fátima, morreu carregada de anos e de visões a 13 de fevereiro de 2005.

Em 19 de fevereiro de 2006 foi trasladada para a Basílica de Fátima onde foi sepultada junto dos primos, Francisco e Jacinta, já adiantados no processo de santidade graças à precocidade na defunção. Chovia. As bátegas não pararam de fustigar os peregrinos. As novenas dos padres não conseguiram que S. Pedro contrariasse a meteorologia.

Não foi a inutilidade das rezas ou a ausência de Deus que dissuadiu os crentes, alagados de fé e chuva até aos ossos, de estarem presentes na segunda edição do funeral de Lúcia.

Não houve na reprodução das exéquias fúnebres a saudade genuína das prostitutas de S. Salvador da Baía a passearem o cadáver do Quincas Berro D’Água, nas ruas em cujos botequins devorou cachaça com a sofreguidão com que as beatas chupavam hóstias.

A freira, a quem o terrorismo religioso do catecismo induziu alucinações, nunca terá um Jorge Amado que a celebre em «A morte e a morte da Irmã Lúcia, vidente».

O Quincas, quando devorou, de um só trago, água em vez de cachaça, deu tal berro que passou a ser carinhosamente tratado por «Berrinho» e fez-se personagem de romance. Lúcia comungava por hábito e obrigação pia, mantinha olhos vagos e a postura de quem vive morta por dentro envergando como mortalha o hábito.

Quincas é o delicioso personagem que diverte e comove o leitor de «A morte e a morte de Quincas Berro D’Água», marginal que viveu a vida, pecador que amou e foi amado.
Lúcia é o exemplo trágico de criança pobre, fanatizada com orações e amedrontada pelo Inferno, que sonhou virgens nas azinheiras, cambalhotas do Sol no caminho das cabras, profecias de conversão da Rússia e churrascos de almas para absentistas da missa.

A criança adestrada em embustes sobre o Divino foi um cadáver de estimação, acolitado pela força pública, a viajar com padres, bispos, freiras e romeiros, num cenário com quatro missas, orações pias e um futuro promissor de oferendas de gente aflita.

Não foi o final da história de uma encarcerada de Deus, foi o início da caminhada para a santidade, à espera de milagres e oferendas que hão de alimentar funcionários de Deus e manter Fátima como uma das mais lucrativas sucursais do Vaticano.

A fraude não acabou, estreou um novo ciclo. Há15 anos iniciou a carreira da santidade.