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4 de Setembro, 2025 João Monteiro

Sobre o aproveitamento do desastre

Ontem à tarde, os portugueses foram confrontados com o trágico acidente do Elevador da Glória, em Lisboa, que causou 16 mortos e 21 feridos, dos quais pelo menos 5 em estado grave. Dada a gravidade da situação, considero correcto que tenha sido decretado um dia de luto nacional e três dias de luto municipal. Mas a par do processo de luto, é importante que durante os próximos dias se apurem os factos e as responsabilidades do sucedido.

Face à gravidade e seriedade do desastre, esperava que todos os atores, sociais e civis, evitassem fazer qualquer tipo de aproveitamento deste caso, durante o período de luto instituído. As minhas expetativas foram logo goradas, uma vez que a Igreja Católica decidiu fazer uma missa na Igreja de S. Domingos, no Rossio. A missa, presidida pelo Patriarca de Lisboa, pretendeu ser «um momento de oração e solidariedade para com os familiares e amigos das vítimas». Dado o mediatismo do acidente, na missa estiveram presentes também políticos locais e representantes do governo. Fica a dúvida se lá estiveram para uma sincera homenagem às vítimas ou se estavam preocupados com possíveis ganhos políticos, dado que estamos a pouco mais de um mês das eleições autárquicas. Deixo a resposta à consideração dos leitores.

Se a intenção fosse de prestar uma genuína homenagem às vítimas, haveria outras maneiras de o fazer que não num templo religioso, em que uma religião em particular tem a ganhar com essa visibilidade e protagonismo, resultado do mediatismo do acidente.

Também compreendo que dado o desastre ter sido muito recente, que cada um de nós, principalmente em Lisboa, estará ainda a lidar a quente com todas as emoções, sem pensar bem nas suas ações. Outros, porém, poderão estar a ser mais calculistas. Os próximos tempos permitirão a cada cidadão tirar as suas conclusões.

Por enquanto, espero que se continue a respeitar o luto pela perda de vidas. A minha solidariedade aos sobreviventes e às famílias de todas as vítimas.

4 de Setembro, 2025 Onofre Varela

O RECADO DE UM SOCIÓLOGO… E O MEU.

Por Onofre Varela

Na imprensa espanhola li uma entrevista ao professor de sociologia norte-americano Douglas Massey, na qual disse que, depois de Donald Trump ter ganho as eleições a Kamala Harris, teve este desabafo que enviou aos seus amigos, por Internet:

«A maioria dos votantes parece aceitar a sombria mensagem de uma nação em decadência, com a falsa narrativa de uma economia em crise, o aumento da delinquência e das minorias predadoras […] A campanha de Trump foi abertamente racista, xenófoba e autoritária. Os seus partidários parecem dispostos a abandonar a democracia apoiando um demagogo autocrático que promete ‘oferecer tudo’ enquanto alimenta a sua ira e o seu ressentimento […] Uma vez no poder, com um Congresso e um poder judicial controlados pelos republicanos, Trump governará despoticamente como um populista, baseando-se na sua compreensão desinformada e cada vez mais delirante da nação e dos seus desafios, causando estragos na economia política dos Estados Unidos e da ordem política global». 

Foi um discurso premonitório!

Neste momento o mundo tem conflitos produzidos por vários actores políticos, destacando-se de entre eles o próprio Trump, mais Putin e Netanyahu. São três protagonistas de dramas que ocupam noticiários mostrando destruição e morte em dois territórios invadidos (a Palestina por Israel e a Ucrânia pela Rússia), cujas invasões são condenadas por todas as leis e acordos internacionais… mas que Trump apoia! 

Sendo evidente a maldade feita aos povos inocentes da Palestina e da Ucrânia, os invasores são apoiados por alguns jovens (e menos jovens) deste meu país que teve um ditador durante 48 anos, o qual foi combatido, unicamente, pelos heróicos militantes comunistas (cujo reconhecimento público e nacional está por fazer) que sofreram no corpo e na mente as acções da ditadura fascista que nos oprimia e que enviou a juventude para uma guerra colonial ignóbil.

50 anos depois de vivermos em Democracia pluralista, neste Portugal regido por uma Constituição verdadeiramente HUMANISTA (quiçá, ao tempo, a mais progressista do mundo) que saiu da Assembleia da República em 1976, vejo, com muita preocupação, o aumento do apoio dado, dia-a-dia, a aprendizes de ditadores que querem destruir as liberdades conquistadas, e que, no plano internacional, apoiam o genocídio que Israel tenta na Palestina, mais a invasão da Ucrânia pela Rússia!… 

E de entre tais apoiantes contam-se militantes comunistas que desprezam o espírito dos seus heróicos combatentes, os quais me levaram a aderir ao Partido em 1978… mas a abandoná-lo quando os seus deputados, no Parlamento, viraram costas à Ucrânia numa descarada demonstração de apoio ao invasor e condenação do invadido!…

O mundo está ao contrário… o HUMANISMO já não tem valor… deixou de ser atendido por militantes comunistas (alguns nascidos depois da Revolução dos Cravos… mas outros com a minha idade e vivências) e que defendem ditadores pela sua visão sem pinga de HUMANISMO, desfocada pela cegueira ideológica. Os heróicos anti-Salazaristas e militantes comunistas na clandestinidade (cujos exemplos HUMANISTAS me levaram a aderir ao Partido) devem estar a dar voltas no túmulo.

Ou então… eu estive enganado toda a vida!… (Eu não fui ao Trivago…)

OV

Douglas Massey – Fonte: Wikipedia
3 de Setembro, 2025 Onofre Varela

O Papa Leão XIV existe?

Por Onofre Varela

O Papa Leão XIV foi eleito a 8 de Maio de 2025. São passados três meses (100 dias) da sua tomada de posse da cadeira de S. Pedro. Bem sei que três meses não é muito tempo numa organização bi-milenar como é a Igreja Católica… em termos temporais na longevidade de qualquer carreira (mesmo não considerando a idade da instituição), três meses foi ontem.

Porém, tal como o mundo hoje se apresenta, afogado em guerras alimentadas por líderes bélicos, invasores e assassinos dos povos seus vizinhos, a voz do Papa, enquanto referente de uma moral verdadeiramente Humanista e tão propalada pela sua Igreja (é assim que ela se identifica) tem-se mantido quase em silêncio (como é comum dizer-se: num silêncio ruidoso)!…

Pode ser uma atitude defensiva, obrigando-o a pensar muito bem no que quer dizer e como dizer, para ser bem compreendido e aceite, não correndo o risco de mostrar uma imagem de navegador sem rumo definido num mar de interpretações tão diversas e falsas como Judas. O mais certo (segundo o meu pensamento de ateu) é a figura do Papa não valer mais do que a de um chefe de qualquer grupo que só tem interesse para os elementos daquele grupo.

Podemos tentar provar este pensamento com o facto de o Papa Francisco ter sido tão falado, cantado, idolatrado e apresentado como exemplo moral de um perfeito “Jesus” actual, como referência moral que recuperou a degradada imagem da Igreja Católica depois de dirigida por um extremista de Direita-radical como alguns críticos reconhecem ter sido Bento XVI.

Há cem dias que Leão XIV é chefe da Igreja Católica… e nada do seu pensamento passou para a opinião pública, nem o seu nome é referido pelos sectores políticos e sociais que fazem a actualidade. A imagem do seu antecessor, Francisco, ainda perdura na história mais recente da Igreja como seu chefe supremo… como que se Leão XIV não exista, porque não dá sinais de vida, não discursa para fora da Igreja, não critica, não vaticina nem chama a atenção do mundo para aquilo que choca (ou deveria chocar) o seu pensamento… o qual, ninguém sabe qual seja!…

Se eu me colocar no lugar do Papa (o que é um exercício difícil, mas se cada um o fizer quando pretende julgar alguém, esse julgamento deixará de ter razão, ou será feito de um modo menos radical do que a ideia que o produziu), encontro-me sob o peso da forte imagem pública do meu antecessor, e obrigo-me a escolher uma de duas atitudes possíveis: ou continuo no caminho de quem me antecedeu, com todas as imensas dificuldades que vou encontrar no percurso porque eu não sou ele; ou então corto com os laços que me ligariam a ele, fazendo o meu caminho sem receio de comparações que me podem menorizar ou engrandecer, por muito diverso que o meu caminho seja daquele que Francisco percorreu, assumindo o risco de desiludir os crentes que esperavam de mim um “Francisco Segundo”.

Muito provavelmente, neste meu entendimento, estou a atribuir à maioria dos crentes católicos uma consciência moral e ética que eles não têm!… Por outro lado, a parte económica da Igreja é demasiado importante neste mundo onde nada se faz sem o dinheiro que “brota do Inferno” mas que tomou conta dos “altares” das nossas vidas… e dos da Igreja também. O “deus-dinheiro” é o verdadeiro deus da sociedade moderna tão precisada de evoluir no sentido de reconhecer a falta de valores que o dinheiro alimenta, e promover um sentimento maior onde o dinheiro nada vale.

Esta visão moral da despromoção do valor do dinheiro seria uma mais valia para uma Igreja que se diz fraterna e defensora do sentimento do “amor”… mas sem “o guito” que a alimenta, a Igreja falece como falecem os indigentes nas bermas das estradas e nos portais das cidades. Por isso me parece urgente reconhecer a menos-valia do dinheiro e do poder de quem o detém, trocando-o pela mais-valia das pessoas, independentemente de quem elas sejam… basta existirem!

Leão XIV conseguirá promover esta alteração social, transformando qualquer indigente num representante da espécie humana, muito mais importante e digno do que a importância falaciosa e a ausência de dignidade que retratam ratazanas de esgoto como são Trump, Putin e Netanyahu?

2 de Setembro, 2025 Onofre Varela

Leitura de férias para desenjoar

Por Onofre Varela

Agosto é o mês de férias por excelência. É tempo de colocarmos de lado as nossas preocupações diárias e relaxarmos. Atendendo a tal necessidade, decidi transformar esta crónica em leitura “light” (uso este termo inglês por ser mais fino… o que fica sempre bem!…) na tentativa de ajudar os neurónios dos meus leitores e leitoras, a manterem o descanso que as férias exigem.

Ofereço-vos uma pequena colecção de frases divertidas que, através dos tempos, foram ditas por gente de gabarito. Para desenjoar, escolhi-as de modo a que nem todas obedeçam à característica destas minhas crónicas que, maioritária e habitualmente, versam Religião na sua vertente crítica.

São frases variadas, sortidas, de âmbito geral… e apenas umas poucas entram no tema das minhas crónicas habituais. Cá vão elas:

Tenham cuidado com o médico velho e com o barbeiro jovem”. (Benjamin Franklin; 1706-1790).

Temam a velhice porque ela nunca vem só”. (Platão; 428 aC-341 aC).

Os homens da Igreja não pensam. Continuam a dizer aos 81 anos o mesmo que diziam aos 18”. (Óscar Wilde; 1854-1900)

Querer é quase sempre poder. O que é excessivamente raro é o querer”. (Alexandre Herculano; 1810-1877).

Não confio em pessoas que sabem exactamente o que Deus quer que elas façam”. (Susan Brownell Anthony; 1820-1906).

Os preconceitos estão mais enraizados do que os princípios”. (Nicolau Maquiavel; 1469-1527).

O que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por ele”. (Gustave Flaubert; 1821-1880).

A ciência é o conhecimento organizado. A sabedoria é a vida organizada”. (Emmanuel Kant; 1724-1804).

Aqueles que tornam impossível a revolução pacífica, tornam inevitável a revolução violenta”. (John F. Kennedy; 1917- 1963).

Deus é o único ser que, para reinar, nem precisa de existir”. (Baudelaire; 1821-1867).

Nenhuma coisa desengana a quem quer enganar-se”. (Padre António Vieira; 1608-1697).

Gasta-se menos tempo a fazer uma coisa bem, do que a explicar porque a fizemos mal”. (Henry Wadsworth Longfellow; 1807-1882).

A desigualdade de direitos é a primeira condição para que haja direitos”. (Friedrich Nietzsche; 1844-1900).

Aprendam com estas frases, porque aqueles que as proferiram já morreram… e nós para lá caminhamos! (A mim já não falta tudo… só me restam nove anos para os noventa. Bem feitas as contas… noves fora… sobra nada!…)

Boas férias.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

1 de Setembro, 2025 Onofre Varela

«Pode-se viver sem deuses, mas não sem conhecimento»

Roberto Calasso foi um escritor e editor italiano que morreu em Milão no dia 29 de Julho de 2021, com 80 anos de idade. Reconhecido pelos seus amigos como sendo dono de um carácter “muito difícil e complicado”, também se lhe reconhecia a sua extrema elegância, falando com a precisão dos sábios. E sabia manter o silêncio sobre qualquer pensamento do qual ainda não tivesse tomado consciência plena para se poder exprimir sobre ele.

O filósofo e ensaísta espanhol Juan Arnau, especialista em religiões orientais, escreveu sobre Roberto Calasso, começando por dizer que “da solidão surge o conhecimento, do conhecimento a arte e da arte o eterno, fechando-se o ciclo”. Calasso não encontrava diferença entre “o pensamento e a literatura”, convivendo com as duas matérias como se fosse uma só.

Numa das suas últimas entrevistas, o escritor e editor confessou que se pode viver sem os deuses, mas que “a experiência do divino muda tudo”, e é essencial saber reconhecê-lo. Calasso soube ler o mundo como se fosse um texto sagrado no qual estamos entrelaçados, mas, ao mesmo tempo, olhava com receio os êxitos da nossa civilização tecnológica, dizendo que “a tecnologia cria a ilusão do conhecimento”, e que “estamos perto de sabermos quase tudo do que não nos interessa saber”.

Sobre a Neurociência (disciplina da moda no século XXI), Calasso mostrou-se muito crítico da ideia de “a consciência ser uma propriedade da matéria”, concluindo que a antiga busca do divino, encetada pelos gregos, se transformou hoje na indagação sobre a Natureza e a consciência, mas que a nossa civilização não foi (ainda) capaz de distinguir “mente e consciência”.

Nem sequer Husserl, que foi o primeiro a fazer da consciência o tema central da filosofia contemporânea. (Edmund Gustav Albrecht Husserl [1859-1938] foi um filósofo e matemático alemão, fundador da “escola da fenomenologia”, cujo pensamento influenciou profundamente todo o cenário intelectual do século XX, mais a parte do século XXI em que já vivemos).

Ao contrário do que é aceite – de que a mente está no cérebro – Calasso defendeu o contrário: o cérebro é que está dentro da mente! A identificação entre mente e cérebro é um dos descalabros do pensamento moderno – dizia ele – para a seguir sentenciar que “na sociedade secular tudo é idolatria, e que toda a boa literatura é sagrada”. A mente deixou-se embrulhar na sua própria projecção “e a inteligência deixou-se absorver pelos algoritmos”, do que resultou esta fatalidade: “os verdadeiros problemas não têm solução”… ou não estamos nada interessados em procurá-la, encantados que nos sentimos na artificialidade com que decoramos a naturalidade, como se fosse uma árvore de Natal!… 

 OV 

Roberto_Calasso_(1991)_by_Erling_Mandelmann

24 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Deus está morto”

Imagem: Internet

Muita gente terá questionado o que realmente pretendia Nietzsche dizer com a célebre frase do seu Livro III Gaia Ciência…

Deus está Morto” 

“Deus não morre porque é eterno e todo-poderoso…” -comentam alguns crentes.

“Se Deus não existe, logo não pode morrer!…” -comentam alguns descrentes.

Pensando no que eventualmente Nietzsche teria pensado…

Penso que simplesmente previa o princípio da morte abstrata de “deus”.

Penso que simplesmente previa o princípio do fim da religião, em particular o Cristianismo, pelo facto de analisar, raciocinar e percecionar que a religião está a perder o lugar de destaque na cultura ocidental e a entrar num irreversível espiral de declínio.

No passado “Deus” era praticamente o “centro do mundo”!

No presente, a cada dia que passa, cada vez mais, deixa de ser o centro cultural do mundo e sobretudo o centro do ser humano.

No futuro apenas uma recordação de alguém… depois, não será absolutamente nada!

Cada vez mais precocemente o homem se liberta da sua prisão mental…

Cada vez mais “a ciência, a filosofia, a literatura, a arte, a música, a educação… e a vida social quotidiana…” se libertam da religião…

Cada vez mais o poder estatal, seu milenar aliado, se separa da religião…

Cada vez mais o cidadão comum rejeita ou simplesmente ignora a “religião” para evitar cair no ridículo de justificar o injustificável, observar e invisível, ou concluir o inconclusivo.

Ainda existem milhões de pessoas em todo o mundo que são profundamente religiosas fruto da constante doutrinação… -é um facto!

Muitas delas acreditam piamente que o seu Deus está realmente vivo.

Grande parte não sabe, não lê, não percebe… e nem sequer pensa ou questiona se o seu “deus” estará realmente morto!… -apenas acredita que existe porque tem fé… como se a sua fé o fizesse existir.

A tradicional imagem que cada ser em particular tem de “deus”, e o Cristianismo em geral (movido pelo ideal de poder, de domínio e sobretudo ganância económica), sempre fez parte do quotidiano e do pensamento filosófico humano; praticamente todos os sistemas educacionais e sociais eram geridos pela religião ao ponto de ainda hoje quase toda a gente ser “batizada, casada ou sepultada pela igreja, frequentando-a com alguma regularidade durante toda a vida”.

O que tem realmente causado a “morte de deus” é o pensamento racional!…

O que tem realmente causado a “morte de deus” é a explosão do conhecimento… a liberdade da literatura e de tantos génios como Nietzsche…

A globalização e a revolução científica têm vindo a permitir a explicação objetiva de inúmeros fenómenos naturais que acabam por deitar por terra as escrituras e dogmas religiosos que, em alguns casos, serviam de lei ou de inquestionáveis mandamentos.

O iluminismo do séc. XVIII, com a ideia de “razão” em detrimento de “tradição”, a Revolução Industrial do séc. XIX, com o crescente poder tecnológico e económico desencadeado pela ciência, a evolução da medicina, a melhoraria significativa das condições de vida da maioria da população mundial, também foram fatores determinantes para o declínio da ideia de “deus”.

Durante milhares de anos, reinou a “suprema ideia de Deus”.

O omnipotente, o omnisciente, omnipresente era o criador da terra e do céu… o pai; o fiel amigo; a moral; a lei fundamental… a base de todo o pensamento humano; o determinante do comportamento dos fiéis, a eternidade… o limiar do paraíso… ou inferno -a punição de todos os que ousassem não seguir o seu caminho.

“Deus está morto!” -afirmou Nietzsche…

Talvez se trate mesmo de um processo de extinção simples e natural… afinal, todos os conceitos acabam por expirar na consciência de todas as civilizações porque na realidade apenas existem na mente de quem neles crê.

Simples espectadores como eu…

Pensadores, escritores, artistas…

Apenas voam em liberdade…

Apenas observam e descrevem a realidade!

Deus está morto! -subscrevo-o obviamente.

Podem até pensar que esteja louco por também o afirmar ainda no presente!

Talvez também tenha estado por aqui cedo demais e não seja este ainda o meu tempo.

Talvez a maior parte só o entenda um pouco mais à frente…

Talvez até nunca o entenda…

Afinal, tudo precisa de tempo para ser observado… provado e comprovado!

.

Nota:

Curiosamente, em países como Portugal ainda hoje se realizam Jornadas Mundiais de Juventude católicas, cujo maior “embaixador” é um presidente católico duma República laica! Ah… e (quase) todos acreditam que “deus está vivo”!


AGORA ATEU (I), 2023-11-14 Carlos Silva

19 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Desintoxicação religiosa”

Imagem: Internet

Perguntava o Rui Batista numa das suas publicações…

“COMO COMEÇAR O PROCESSO DE DESINTOXICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA?”

E o próprio respondeu…

“A crença religiosa não é algo que se “desligue” de um momento para o outro.

Eu próprio levei anos.

Há vários pontos importantes que contribuem para nos libertarmos dessa fantasia que se torna parte de nós desde tenra idade.

Primeiro, e talvez o mais importante, é perceber que NÃO TEMOS RESPOSTAS PARA TUDO, E ISSO NÃO É MAU.

Ou seja, por vezes, a resposta para algo é “NÃO SABEMOS” e isso não é vergonhoso. Vergonhoso é não saber, mas dizer que se sabe, e usar uma desculpa qualquer para justificar aquilo que, realmente, não se sabe.

Ler sobre vários temas é importante, pois existem ligações (por vezes não imediatamente claras) entre temas que parecem não ter relação. Por exemplo, o comportamento religioso está relacionado com a socialização, com a procura de aceitação e confirmação no seio de uma sociedade (uma família, um grupo de amigos, a cidade onde se vive, o país em que se vive, etc.), com a autojustificação de princípios que se tomam como certos, com aspetos da psicologia humana (como o viés de confirmação, a confusão entre casualidade e causalidade, etc.), com a dificuldade de aceitação de que se investiu tempo e recursos em algo que se tem medo de abdicar, com dissonâncias cognitivas, etc.

Portanto, ler sobre psicologia, antropologia, sociologia, história, cosmologia, etc., é importante. Já a filosofia é uma área com tantas ramificações que pode dar para ambos os lados, pois a filosofia é ótima para fazer perguntas, mas não particularmente boa a dar respostas, portanto pode ser usada como tentativa de se justificar aquilo que se pretende acreditar, através do processo de levantar mais dúvidas do que oferecer respostas.

Outra coisa importante é questionar, pesquisar e não ficar satisfeito com os primeiros dados que se obtém e, acima de tudo, não aceitar apenas aqueles dados que parecem confirmar o que já tomamos como certo e descartar aqueles que contrariam aquilo que queremos acreditar. Fundamentalmente, procurar o maior número de dados sobre algo, cruzar e filtrar esses dados, e apenas reter aqueles que são sólidos e que se corroboram entre si e que cujas fontes são fidedignas.

Também importante é perceber que a avaliação pessoal baseada em senso comum é altamente insegura, e pode ser influenciada por inúmeros fatores que irão distorcer a apreensão e avaliação seja do que for. Acima de tudo, usar a “navalha de Occam”, que postula que entre duas ou mais explicações para um facto, a mais simples é usualmente a correta. E, uma explicação natural é sempre mais simples do que uma explicação que exige que se recorra a magia, esoterismo, sobrenatural (basicamente, que exija que se aceitem coisas que nem sequer podem ser comprovadas).

Basicamente, seguindo estes princípios será um excelente caminho para deixar de se acreditar em algo que não é real, nunca foi, e nunca será, pois quando se estuda o suficiente, ficamos a saber que a religião foi apenas o primeiro esforço humano de tentar arranjar explicações para o que não compreendia. Um esforço digno, louvável, mas extremamente pueril e baseado em fantasia, ignorância e superstição.

E isto leva-nos à máxima mais importante que é preciso seguir para largar a religião:

SABER É MAIS IMPORTANTE QUE ACREDITAR.”

*

Impulsivamente, tal como outros, acabaria também por responder à sua questão com um pequeno comentário…

“COMO COMEÇAR O PROCESSO DE DESINTOXICAÇÃO DA CRENÇA RELIGIOSA?”

Para dar início a um “processo de desintoxicação da crença religiosa” é necessário reunir um grupo de pessoas que estejam dispostas a lutar por um objetivo comum que pode ser fundamental para o futuro de muitos jovens e sobretudo das gerações vindouras.

Será certamente um trabalho contínuo, longo e árduo… -nunca é demais recordar que, no passado, muitos heróis improváveis e anónimos sacrificaram a própria vida para salvar milhares de crianças de seitas religiosas, da guerra, da fome e da miséria.

O primeiro passo será, pois, reunir esse grupo de pessoas…

O segundo, conversar, definir estratégias, objetivos e ações concretas que possam ser materializadas e traduzidas em resultados reais.

É de louvar a “luta diária” do Rui com todos os seus “amigos crentes” … -um trabalho realmente árduo!… -já lhe disse uma vez, que é preciso muita paciência para responder/argumentar com todos… por vezes fico cansado (sorriso) só de ver!

Despertar/desvendar/desmascarar dogmas religiosos…. sim, porque não, usando da “navalha de Occam”?…

Após estabelecer as diretrizes, o terceiro passo é passar à ação!

Fazer parte de um grupo ou associação ateísta é fundamental. É no âmbito dessa união que residirá a força!

A Associação Ateísta Portuguesa e a Associação República e Laicidade, são exemplos pioneiros dessa ação pacífica em Portugal. Embora existam há alguns anos, conheci-as há pouco através da comunicação social onde surgiram a contestar as “Jornadas da Juventude Religiosa”. São dois magníficos exemplos de heróis que escolheram viver sem a religião que lhe querem impor… que assumiram defender a laicidade do Estado e lutar contra a doutrinação/chantagem religiosa sobre as sociedades livres e democráticas.

O meu elogio para todos os seus membros!

O meu orgulho por também agora ser um deles!

(…)

VAMOS COMEÇAR!


AGORA ATEU (I), 2023-07-01 Carlos Silva

14 de Agosto, 2025 Carlos Silva

Feriado (15 agosto)

Imagem: Internet

Muita gente, crente e descrente, hoje questionará certamente…

Porque se celebra o 15 de agosto?!
Porque é que é feriado nacional?!

Será este dogma da Igreja Católica tão importante ao ponto de fazer dele mais um feriado nacional?
Sabe-se que em 1950, o Papa Pio XII determinou que na “Constituição Apostólica” constasse que a “Imaculada Mãe de Deus, a Virgem Maria, terminaria o seu curso de vida terrestre e subiria de corpo e alma à glória celestial.”
À luz desta brilhante determinação, a Igreja Católica, decretaria que o 15 de agosto passasse a ser feriado nacional em todos os países ditos católicos, e consequentemente, dia de “santo descanso”.
Embalado nesta mesma luz, dois anos depois, o Primeiro-Ministro, António de Oliveira Salazar, em nome do Estado português, ratificaria a determinação do Papa, decretando o 15 de agosto feriado nacional.
Foi a partir dessa data que no calendário religioso português se passaria a celebrar a “Assunção de Nossa Senhora”, que é como quem diz, o fim da vida terrena e a sua subida ao céu.

Subida ao céu? Mas qual céu!? -questionarão alguns…
Que local é esse para onde ela foi? Onde é que fica?! -questionarão outros…
Terá ido de avião, de foguetão, ou apenas de corpo e alma?! -questionarão os mais céticos.
Se realmente a “Senhora” decidiu subir ao céu a 15 de agosto de 1950, porque é que não o teria feito nos últimos dois mil anos?!
Porque é que a Igreja Católica e os anteriores Papas não se lembraram disto antes!?
Sempre poderiam ter gozado mais uns feriados!

Se é importante ou não, dirá o povo, não importa!
O que realmente importa é que hoje é feriado e dia de “santo descanso”!

AGORA ATEU (I), 2023-08-15 Carlos Silva

9 de Agosto, 2025 Carlos Silva

“Peregrinação das crianças”

Imagem: ECCLESIA

“FÁTIMA RECEBE MILHARES DE CRIANÇAS EM PEREGRINAÇÃO APÓS 2 ANOS DE PAUSA”

“Gostei muito de ver Nosso Senhor”, uma frase do vidente de Fátima, Francisco Marto, é o tema da peregrinação, para a qual os serviços do Santuário esperam grande afluência, tendo em conta que este momento concentra, nalguns anos, um número de participantes maior do que o registado na Peregrinação Aniversaria de 12 e 13 de outubro.
As cerimónias da Peregrinação das Crianças serão presididas pelo bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, e o programa começa na noite de quinta-feira, com uma vigília de oração, às 21:00, na Basílica da Santíssima Trindade, onde, na manhã do dia seguinte, terá lugar uma encenação relativa ao tema da peregrinação, a partir das 09:30.
Após a recitação do rosário, às 10:00, na Capelinha das Aparições, segue-se a celebração da missa às 11:00, no recinto de oração. O dia terminará com a repetição da encenação da manhã, às 15:00, na Basílica da Santíssima Trindade, à qual se seguirá a celebração de despedida.
Os grupos de crianças presentes terão um lugar reservado no recinto de oração, durante a missa da peregrinação e, no final, como é tradição, receberão uma surpresa que ficará a assinalar a sua presença na Cova da Iria neste dia.
O tema da peregrinação remete para “a experiência do encontro íntimo, pessoal e transformador com Cristo”, segundo informação do Santuário de Fátima.
“Em Fátima, três crianças — Lúcia, Francisco e Jacinta – tornaram-se testemunhas de um encontro profundo com Cristo Ressuscitado. (…) A intimidade da amizade com Jesus, que viram naquela luz, transformou o coração e o olhar dos três. Cada um, a seu modo, passou a ver tudo e todos com a mesma compaixão de Jesus. E as suas vidas tornaram-se sinal luminoso desse amor”, refere a apresentação desta peregrinação, que tem o objetivo de despertar as crianças em grupos de catequese para a mensagem de Fátima e dar-lhes a conhecer a vida e a espiritualidade dos santos Francisco e Jacinta Marto.
07/06/22 LUSA


Em pleno século XXI, é impossível a qualquer mente minimamente sensível e racional, assistir a este contínuo massacre de crianças indefesas e ficar absolutamente indiferente!
A doutrinação religiosa de crianças é uma flagrante violação de liberdade e personalidade!
A doutrinação religiosa de crianças tem que ser objeto de um amplo debate público para esclarecer as suas reais causas e sobretudo denunciar as suas nefastas consequências!
Nenhuma criança nasce devota de imagens de pedra, madeira ou gesso!
São influenciadas para acreditarem piamente em seres imaginários!
Pela envolvência simbólica do cenário e sofreguidão do discurso apresentado, certamente que muitas destas crianças idealizarão o seu “Senhor” e a maioria ficará plenamente convicta que realmente ali o viu!
É um assunto demasiado grave para não ser levado a sério!
Não se trata de transmitir inofensivas mentiras a inocentes crianças!…
Trata-se de transformar mentiras em verdades inquestionáveis com o vil propósito de manter acesa a chama da religião… até se tornarem adultas… úteis e rentáveis aos doutrinadores!
Trata-se de incutir mentiras em inocentes antes de alcançarem discernimento racional ou terem acesso a informação fatual, o que lhes pode acarretar graves consequências para o futuro.
A maioria destas crianças, ao chegar à idade adulta, acreditará incondicionalmente nestas falsidades e deixará de ter capacidade crítica para as questionar.
Cegarão… não terão sequer consciência da cegueira que as condenará a uma dependência e subserviência total aos doutrinadores, ocultos sobre o manto de entidades supremas e divinas.

“Gostei muito de ver Nosso Senhor”…
(…)
“Em Fátima, três crianças (Lúcia, Francisco e Jacinta), tornaram-se testemunhas de um encontro profundo com Cristo Ressuscitado. (…)

No caso acima apresentado pela LUSA, o objeto de doutrinação infantil é precisamente a “visão” de uma pobre criança de 9 anos, um dos “videntes”, usado e exorbitado na construção da mentira que agora se pode obviamente constatar.

O objetivo da doutrinação infantil?!
Neste caso em concreto, obviamente prolongar no tempo a mentira de Fátima, também ela sustentada sem o mínimo pudor na inocência de três pobres crianças… hoje principal fonte de rendimento da Igreja em Portugal e fundamental para a sua sobrevivência.

O objetivo geral da doutrinação de Fátima?!
João Ilharco revelou-o (denunciou-o) melhor que ninguém:

“O sobrenatural de Fátima foi obra de um pequeno grupo de eclesiásticos, inteligentes e ousados, que tinham contra o regime republicano, implantado em 1910, grandes ressentimentos.
A República reduzira a importância social do clero e os seus rendimentos, e isso levou os padres a hostilizarem abertamente o novo regime, tanto no púlpito como fora dele.
E se eclodisse em Portugal um fenómeno sobrenatural, capaz de causar alguns engulhos a republicanos e livres-pensadores?
Usando de prudência e de absoluto sigilo, dois ou três eclesiásticos começaram a estudar um plano de atuação -e desses conciliábulos nasceram as aparições da Cova da Iria, na freguesia de Fátima, distrito de Santarém.
Os autores do sobrenatural de Fátima pretendiam alcançar três objetivos imediatos:
– Tentar a fundação de uma nova Lourdes, que conservava então o primeiro lugar entre os centros de peregrinação do mundo católico.
– Arranjar uma copiosa fonte de receita para a propaganda católica.
– Fazer de Fátima uma arma contra o regime republicano, implantado em Portugal em outubro de 1910.”

O fim último desta doutrinação é obviamente o lucro. O autêntico “deus”: O DINHEIRO!
Uma ilusão fundamental à continuidade e à sobrevivência da religião!
Criar, perpetuar e explorar uma ilusão até ao limite… até que o povo finalmente abra os olhos e desperte para a realidade dos factos. Há custa de muito sofrimento… é inegável!
Enquanto o interesse do estado/clero continuar a prevalecer sobre o interesse destas inocentes crianças, que ainda não têm capacidade para distinguir a fantasia da realidade…
A doutrinação continuará…
A mentira perdurará…
É evidente que não basta apenas ler e entender os factos… não basta apenas ficar indignado…
É preciso agir em defesa dos doutrinados, dos que realmente sofrem as trágicas consequências desta doutrinação infantil…

As crianças!
Afinal, “o futuro são as crianças!”


AGORA ATEU (I), 2022-06-29 Carlos Silva


Nota: Peregrinação das crianças 2025

Imagem: Santuário de Fátima

7 de Agosto, 2025 João Monteiro

Sobre “A hóstia do questionamento”

Ricardo Correia, um jovem ateu, contactou-nos com uma ideia: “e se promovêssemos o ceticismo e a cultura portuguesa num registo descontraído e acessível”? E logo de seguida concretizou: a ideia passaria por “rancho folclórico cético”, que combinasse a estética tradicional dos ranchos folclóricos portugueses com letras que promovessem o pensamento crítico e o humor cético.

Estava lançado o mote que logo concretizou na sua página do facebook e que, com a devida permissão, aqui partilhamos:

Hóstia do Questionamento

(Instrumental tradicional – acordeão abre, toque alegre e animado)

Verso 1:

No terreiro da aldeia, o povo a dançar,
Mas o vinho que eu trago é pra mente acordar.
Não quero promessas, nem dogma a mandar,
Só hóstia de dúvida pra nos alimentar.

Refrão:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Verso 2:

O padre e a missa, a festa tradicional,
Mas o santo que eu venero é o meu pensamento racional.
No meio da dança, uma risada solta,
É a ética que muda, a fé que não volta.

Refrão:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Ponte:

E se o mundo acabar, antes da próxima festa,
Que eu morra cético, e com alegria na testa!
Nada de mentiras, nem conto do vigário,
Só a luz do conhecimento, o nosso sagrado relicário.

Refrão final:

Adega cética, filhos da razão,
Bebo o vinho da dúvida, não sigo o sermão.
Com acordeão e palito, vou questionar,
No rancho da verdade, vamos todos cantar!

Foto que acompanha o poema na conta do Facebook do Ricardo. Créditos: Vítor Neno, Jornal de Cá.