4 de Setembro, 2025 João Monteiro
Sobre o aproveitamento do desastre
Ontem à tarde, os portugueses foram confrontados com o trágico acidente do Elevador da Glória, em Lisboa, que causou 16 mortos e 21 feridos, dos quais pelo menos 5 em estado grave. Dada a gravidade da situação, considero correcto que tenha sido decretado um dia de luto nacional e três dias de luto municipal. Mas a par do processo de luto, é importante que durante os próximos dias se apurem os factos e as responsabilidades do sucedido.
Face à gravidade e seriedade do desastre, esperava que todos os atores, sociais e civis, evitassem fazer qualquer tipo de aproveitamento deste caso, durante o período de luto instituído. As minhas expetativas foram logo goradas, uma vez que a Igreja Católica decidiu fazer uma missa na Igreja de S. Domingos, no Rossio. A missa, presidida pelo Patriarca de Lisboa, pretendeu ser «um momento de oração e solidariedade para com os familiares e amigos das vítimas». Dado o mediatismo do acidente, na missa estiveram presentes também políticos locais e representantes do governo. Fica a dúvida se lá estiveram para uma sincera homenagem às vítimas ou se estavam preocupados com possíveis ganhos políticos, dado que estamos a pouco mais de um mês das eleições autárquicas. Deixo a resposta à consideração dos leitores.
Se a intenção fosse de prestar uma genuína homenagem às vítimas, haveria outras maneiras de o fazer que não num templo religioso, em que uma religião em particular tem a ganhar com essa visibilidade e protagonismo, resultado do mediatismo do acidente.
Também compreendo que dado o desastre ter sido muito recente, que cada um de nós, principalmente em Lisboa, estará ainda a lidar a quente com todas as emoções, sem pensar bem nas suas ações. Outros, porém, poderão estar a ser mais calculistas. Os próximos tempos permitirão a cada cidadão tirar as suas conclusões.
Por enquanto, espero que se continue a respeitar o luto pela perda de vidas. A minha solidariedade aos sobreviventes e às famílias de todas as vítimas.
