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24 de Julho, 2005 Palmira Silva

Ditadura segundo o evangelho

Segundo o Cardeal Rosalio Castillo Lara a Venezuela está a viver em ditadura, sob o jugo do «mais nefasto governo na história da Venezuela» e acha que a situação se pode resumir à oração «pede a Deus que nos liberte deste flagelo».

A igreja católica venezuelana, que perdeu boa parte da sua credibilidade junto ao governo a partir de 11 de abril de 2002, quando a sua hierarquia participou activamente no golpe de Estado que derrubou, por algumas horas, o presidente Chávez, fala num processo revolucionário em curso naquele país, nomeadamente no fim anunciado das liberdades democráticas, e da promoção da tão combatida«cubanização» da Venezuela.

As declarações do piedoso prelado inserem-se no espírito do último livro do finado João Paulo II, «Memória e Identidade», em que este afirmava que não aceitar os ditames dos Evangelhos é uma nova forma de totalitarismo. Assim, qualquer regime político não sujeito às leis de Roma seria ditatorial. Não importa que Hugo Chávez tenha sido recentemente ratificado nas urnas, para desespero da mui democrática e católica oposição que promoveu a tentativa de golpe de estado, procurando nas ruas aquilo que não conseguiu nas urnas. Para a Igreja católica a definição de democracia é tão só o acatamento dos seus ditames anacrónicos.

Aliás, a História da América latina está recheada de ditaduras democracias católicas apoiadas entusiasticamente pela Igreja Católica. Nomeadamente a ditadura democracia militar na Argentina apoiada ostensivamente pela delegação da ICAR local, «salvando» assim a Argentina do comunismo internacional.

Suponho que dentro em breve ouviremos protestos semelhantes da «elite» católica em relação ao governo da Argentina, também pela inusitada e «ditatorial» reacção do governo de pedir a substituição do bispo das Forças Armadas, António Baseotto, dizendo que deixaria de lhe pagar o salário respectivo se tal não acontecesse. Acção classificada pelo porta-voz do Episcopado, Jorge Oesterheld, como «um passo para a discriminação e um atropelo à liberdade religiosa».

Tudo porque o indignado prelado proferiu umas «justas» palavras sobre o ministro da Saúde, muito pouco catolicamente a favor do uso de métodos contraceptivos não «naturais», o famigerado e pecaminoso preservativo entre eles, e da despenalização do aborto. Assim foi certamente exagerada e ditatorial a supracitada reacção às declarações do bispo que o ministro merecia «ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço», uma prática corrente na ditadura militar, em que se atiravam os presos políticos ao mar, a partir dos aviões navais. Aliás, de acordo com as declarações ao canal Plus de França do general Benito Bignone, ditador da Argentina entre 1982 e 1983, uma prática aprovada pelos bispos da Igreja Católica argentina, que concordavam com a política da última ditadura militar de torturar e silenciar os «desaparecidos» opositores políticos. Certamente possuídos pelo demo para atentar contra tão católico regime. E contra o demo todas as acções são legítimas!

Como o comprovam os relatos de diversos sobreviventes dos campos de concentração da ditadura democracia católica, que indicam a presença de padres da Igreja Católica nas salas de tortura, que participavam activamente nas torturas e interrogatórios, certamente para despistar e exorcizar possessões demoníacas nos prisioneiros.

23 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Terrorismo cheio de fé

Em Londres os actos de terrorismo voltaram. A insegurança e o medo regressam à capital do Reino Unido. Não há desculpa nem perdão.

Os sucessivos crimes perpetrados por fanáticos não são um mero epifenómeno de extremistas exaltados, resultam da interpretação dos livros sagrados e da catequese terrorista dos dignitários religiosos que os acirram.

Tal como os crimes de que Hitler e Stalin foram autores se devem a ideologias que fanatizaram milhões de pessoas, também os atentados inspirados por Bin Laden têm origem numa ideologia que convence os autores da bondade dos seus desvarios.

A Al-qaeda não é diferente do IRA. Os atentados de Londres, Madrid ou Nova York não são mais perversos do que os que os sionistas cometeram na Palestina ou os cristãos perpetraram, no passado, contra os judeus.

A violência e a crueldade cristãs pareciam ter atingido o auge com as cruzadas mas o delírio assassino não foi, todavia, menor na Reforma e na Contra-Reforma. Valeu à Europa, continente martirizado pelo proselitismo e demência do fanatismo cristão, a Revolução Francesa, a progressiva secularização social e, finalmente, a nem sempre pacífica separação da Igreja e do Estado.

Mas não nos iludamos com o carácter aparentemente mais civilizado dos bispos e pastores cristãos. Aguardam apenas que a correlação de forças lhes permitam recuperar o poder e dominar as sociedades. Não desistem de as submeter aos seus preconceitos e de as controlar, moral, jurídica e politicamente.

A evangelização começa por falar de bondade, paz e amor; serve-se do ensino, da assistência e da caridade; visa o poder económico, social e político, ao serviço do clero.

Não haverá paz enquanto os Estados não remeterem a religião para a esfera privada, garantindo a cada cidadão o efectivo direito à sua prática ou ao seu desprezo e uma igualdade sem tergiversações aos crentes das diversas religiões, aos agnósticos e aos ateus. Além disso, o respeito pela laicidade do Estado, a observância das leis civis e a submissão ao poder democrático, devem ser condições necessárias à liberdade de culto.

A origem divina do poder foi a farsa com que o clero dominou os povos. A vontade soberana dos cidadãos, regularmente sufragada, decide as normas de conduta que a todos obrigam. As religiões que não se conformarem com a democracia terão de ser proscritas. Não podemos consentir crimes em nome de Deus. A civilização não o permite.

Post Scriptum – Hoje, no Egipto, os loucos de Alá provocaram mais algumas centenas de mortos e feridos. Um Deus assim não pode andar à solta.

23 de Julho, 2005 Palmira Silva

Operação Murambatsvina

O mui católico Robert Mugabe, presidente do Zimbabwe desde 1987, lançou a chamada operação Murambatsina, em acção desde 19 de Maio do corrente ano, poucas semanas depois da reeleição do ditador sanguinário, vista por muitos como uma operação punitiva dos citadinos que votaram massivamente nos seus opositores políticos. Em Shona, o dialecto natal de Mugabe, Murambatsvina significa ver-se livre do lixo e, de acordo com o comissário da polícia Augustine Chihuri, «Precisamos limpar o nosso país da massa informe de vermes apostada em destruir a nossa economia».

Num país onde se estima que apenas 20% da população tem emprego formal, Mugabe pretende acabar com a economia paralela destruindo mercados e habitações «clandestinas» em todas as zonas urbanas do país, e queimando culturas «clandestinas», a maior fonte de alimentação para muitos, num país onde a agricultura se encontra num estado desastroso e a população necessita ajuda externa para suprir as necessidades alimentares mais básicas e o governo usa essa ajuda exterior como forma de chantagem política.

Os milhares de demolições de casas de pessoas sem quaisquer alternativas de alojamento, para além de terem criado centenas de milhares de desalojados que o governo pretende «ruralizar», já provocaram duas vítimas mortais, dois bébés esmagados pelos bulldozers juntamente com as casas em que habitavam.

O desrespeito pelos mais elementares direitos humanos cometidos sob a égide do católico Mugabe, educado num colégio jesuíta, que compareceu ao funeral de João Paulo II não obstante as sanções impostas pela Comunidade Europeia, só recentemente começou a ser criticado por alguns dignitários eclesiásticos locais, com especial ênfase pelo arcebispo de Bulawayo, Pius Ncube. Até 2003 Mugabe era suportado entusiasticamente pelas Igrejas de confissão cristã, católica proeminente entre elas. Ano em que morreu o seu grande amigo e apoiante, o arcebispo Patrick Chakaipa, que oficiou em 1996 ao segundo casamento de Mugabe, com Grace Marufu, a sua secretária 40 anos mais nova com quem já tinha dois filhos à data, uma cerimónia possível devido a uma dispensa especial, já que Marufu era divorciada.

Aliás, antes da eleição tentou «reconquistar» o apoio cristão instituindo um «dia nacional de oração», no primeiro dos quais, cerca de um mês antes das eleições de Março último, foi abençoado por Stephen Mangwanya, um representante das Igrejas Pentecostais, e em que o bispo anglicano Kunonga o apelidou «verdadeiro cristão».

Infelizmente a História, mesmo a mais recente, está repleta de «verdadeiros cristãos» como Mugabe, que governaram despoticamente com o beneplácito do Vaticano ou das autoridades de outras denominações cristãs. Quiçá a alteração da posição da Igreja de Roma em relação a Mugabe se deva não só à idade avançada do ditador, que faz prever que o seu reinado de terror não se possa estender muito mais, como também à condenação unânime do seu regime por todo o mundo ocidental.

22 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Santo DVD

Foi colocado à venda um DVD nos quais Josemaría Escrivá de Balaguer fala sobre vida cristã e santidade, agora que faz trinta anos sobre a sua morte.

O DVD, intitulado «Diálogos com um santo», contem três filmes: um encontro de Escrivá com centenas de pessoas em Barcelona, outro encontro no Peru e o documentário «Santidade e apostolado», no qual se descreve a espiritualidade do Opus Dei através da pregação no campus da Universidade de Navarra, a 7 de Outubro de 1967.

Josmaría Escrivá foi o fundador da Opus Dei, organização obscura da ICAR, e ferveroso adepto do Fascismo. Agora a Opus Dei dá-nos a oportunidade de, no conforto do nosso lar devidamente equipado tecnologicamente, sabermos mais sobre a vida e obra daquele santo. Claro que a perspectiva não será a mais imparcial, mas não se pode esperar outra coisa da Opus Dei. Espero é que o seu visionamento não tenha como efeitos secundários a vontade de auto-flagelação como forma de expiação de pecados.

22 de Julho, 2005 jvasco

Alerta! A seita do bule gigante foi atacada!


Autoridades da Malásia prenderam 58 seguidores de uma seita bizarra que cultuava um bule de chá gigante, dois dias depois de a sede do grupo ter sido incendiada.

Uma pessoa pode pensar que uma «seita do bule gigante» já é suficientemente anedótico, mas aquilo que não é para rir, e sim realmente triste, é a atitude de intolerância das autoridades islâmicas da Malásia.

Eles levaram o bule «a sério» e agiram de forma criminosa.

21 de Julho, 2005 jvasco

Religião: medo de ser livre

«Liberdade – A coragem de ser genuíno» é o nome de um livro onde se alega que as religiões actuais existem principalmente para corresponder ao medo do ser humano de ser livre.

O comentário feito ao livro neste artigo do jornal de notícias fez aumentar a minha curiosidade em lê-lo, se bem que o antepenúltimo parágrafo me faça reagir com algum cepticismo.

Trocar as religiões tradicionais por delírios pseudo-místicos (espero que não seja o caso) não traz grandes vantagens.

19 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Os talibãs de J. Cristo

À medida que o terror islâmico e a demência suicida dos fiéis de Maomé avançam, esperar-se-ia uma resposta laicista a conter as alucinações de trogloditas fanatizados por mullahs com versículos do Alcorão.

Cada vez que os talibãs se deleitam a decepar membros, lapidar mulheres e degolar infiéis, os países civilizados deviam remeter as manifestações religiosas para o espaço lúgubre dos templos e vigiar os ímpetos assassinos dos crentes exaltados e de quem os acirra.

Sempre que os dignitários instigam ao crime por motivos religiosos deviam cair sob a alçada do Tribunal Penal Internacional que os julgaria por crimes contra a humanidade.

Paradoxalmente, bandos de beatos de um deus concorrente (JC) vão assaltando os aparelhos de Estados dos países laicos, infiltrando a lepra religiosa, confiscando escolas e espalhando vírus pios por hospitais, lares e outros centros de assistência.

O cristianismo, quer na versão autoritária e agressiva – o catolicismo -, quer na histeria evangélica do presidente Bush e dos seus sequazes, amigos do peito e da eucaristia, infiltra as universidades transformando-as em sacristias do mais néscio proselitismo.

Nos EUA são cada vez mais as universidades onde jovens se organizam sob a orientação de clérigos para as transformarem em madraças para divulgação da filosofia e teologia cristãs mais conservadoras.

Católicos, evangélicos, baptistas, mormons e outros fanáticos cristãos, competem num ardor beato, a lembrar suicidas islâmicos, para corroerem o pluralismo, a laicidade e as amplas liberdades que os regimes democráticos asseguram.

Os evangélicos e os movimentos católicos são os mais desvairados neste proselitismo que se acentuou no dealbar do novo milénio.

A influência perniciosa do Papa JP2 e do seu avatar e sucessor B16 criou ou estimulou numerosos bandos católicos, agressivos e beatos, como Neocatecumenais, Comunhão e Libertação, Focolares, Carismáticos, Regnum Cristi e Opus Dei, todos ansiosos por converter as escolas em covis de uma educação «teocêntrica» e os alunos em soldados de Cristo, prontos para novas cruzadas e o regresso à intolerância medieval de que o jacobinismo, o espírito republicano e as aspirações laicistas haviam curado a Europa.

Ao fundamentalismo islâmico, visto com benevolência nas alfurjas do Vaticano e nos antros das Conferências Episcopais, respondem os coriféus do cristianismo com um fanatismo simétrico. Buscam o Paraíso combatendo a liberdade, o ateísmo, a laicidade e o agnosticismo.

19 de Julho, 2005 Mariana de Oliveira

Terrorismo na enfermidade

O Papa Ratzinger exortou os médicos a ensinarem aos doentes «o sentido transcendente da dor e da enfermidade». Nessa carta, B16 incita «os médicos católicos a exercerem sua profissão acompanhando os enfermos com uma atitude de caridade, ensinando-os a aceitar os próprios limites humanos e a enfermidade e animando-os a oferecer ao Senhor seus sofrimentos, unindo assim ao sacrifício redentor de Cristo».

Olhando para o nosso pequeno país à beira-mar plantado, o pedido de Ratzinger, antes de acontecer, já tinha visto acolhimento nos nossos hospitais: temos capelanias hospitalares, assistência espiritual e religiosa, objecções de consciência por parte de médicos que se recusam a praticar o aborto permitido ou cópias da Bíblia. Como se isto não bastasse, e para além da doença, corremos o sério risco de encontrarmos um médico que nos quer fazer ver o «sentido transcendente da dor e da enfermidade».

19 de Julho, 2005 jvasco

Simulador Divino

E se vocês fossem Deus?
Teriam feito o mundo tal como ele é?
Agora pensem um pouco sobre o que fariam nessa situação e explorem o fantástico Simulador Divino que, de uma maneira simples e divertida, coloca a nu as fraquezas da mitologia cristã.

E, já que estão com a mão na massa, divirtam-se também com este gerador de religiões.