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Terrorismo cheio de fé

Em Londres os actos de terrorismo voltaram. A insegurança e o medo regressam à capital do Reino Unido. Não há desculpa nem perdão.

Os sucessivos crimes perpetrados por fanáticos não são um mero epifenómeno de extremistas exaltados, resultam da interpretação dos livros sagrados e da catequese terrorista dos dignitários religiosos que os acirram.

Tal como os crimes de que Hitler e Stalin foram autores se devem a ideologias que fanatizaram milhões de pessoas, também os atentados inspirados por Bin Laden têm origem numa ideologia que convence os autores da bondade dos seus desvarios.

A Al-qaeda não é diferente do IRA. Os atentados de Londres, Madrid ou Nova York não são mais perversos do que os que os sionistas cometeram na Palestina ou os cristãos perpetraram, no passado, contra os judeus.

A violência e a crueldade cristãs pareciam ter atingido o auge com as cruzadas mas o delírio assassino não foi, todavia, menor na Reforma e na Contra-Reforma. Valeu à Europa, continente martirizado pelo proselitismo e demência do fanatismo cristão, a Revolução Francesa, a progressiva secularização social e, finalmente, a nem sempre pacífica separação da Igreja e do Estado.

Mas não nos iludamos com o carácter aparentemente mais civilizado dos bispos e pastores cristãos. Aguardam apenas que a correlação de forças lhes permitam recuperar o poder e dominar as sociedades. Não desistem de as submeter aos seus preconceitos e de as controlar, moral, jurídica e politicamente.

A evangelização começa por falar de bondade, paz e amor; serve-se do ensino, da assistência e da caridade; visa o poder económico, social e político, ao serviço do clero.

Não haverá paz enquanto os Estados não remeterem a religião para a esfera privada, garantindo a cada cidadão o efectivo direito à sua prática ou ao seu desprezo e uma igualdade sem tergiversações aos crentes das diversas religiões, aos agnósticos e aos ateus. Além disso, o respeito pela laicidade do Estado, a observância das leis civis e a submissão ao poder democrático, devem ser condições necessárias à liberdade de culto.

A origem divina do poder foi a farsa com que o clero dominou os povos. A vontade soberana dos cidadãos, regularmente sufragada, decide as normas de conduta que a todos obrigam. As religiões que não se conformarem com a democracia terão de ser proscritas. Não podemos consentir crimes em nome de Deus. A civilização não o permite.

Post Scriptum – Hoje, no Egipto, os loucos de Alá provocaram mais algumas centenas de mortos e feridos. Um Deus assim não pode andar à solta.