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6 de Maio, 2006 Carlos Esperança

O Deus dos cavalos

Se os cavalos, à semelhança dos homens, tivessem sido suficientemente burros para criar o seu Deus, ter-se-iam extinguido aos coices.

O Deus dos cavalos, feito à sua imagem e semelhança, teria nascido de égua virgem, com cascos de oiro, crinas de seda, estrela e beta.

Teria vivido no deserto, a reflectir, alimentado 40 dias de palha trilhada, caída do céu, enquanto reflectia no que ia relinchar quando voltasse à companhia dos cavalos seus discípulos.

O Deus-cavalo morreria exausto a fugir dos leões, a galope. Ressuscitaria ao terceiro dia e reapareceria a trote aos dilectos antes de subir ao céu mais veloz que o relâmpago.

Hoje o Deus-cavalo tinha um Cavalo de Deus que relincharia a sua vontade e diria quem era digno de viver a eternidade na sua companhia. Seria um cavalo selado a rigor, alimentado a palha escolhida por velhas éguas e a viver com vetustos cavalos dados à castidade e algum potro de estimação para as confidências.

No seu pio estábulo todos os solípedes se curvariam perante o Cavalo de Deus que, após a morte, teria solenes exéquias procedendo depois um grupo de provectos e destacados equídeos à eleição de um sucessor vitalício.

Se os cavalos fossem, à semelhança dos homens, suficientemente burros, ainda hoje se reuniriam em concílios para discutir se os póneis eram filhos dos cavalos e se as éguas poderiam ser iguais aos cavalos em dignidade como uma perigosa heresia sustentava.

Muitos cavalos morreriam mordidos e escoiceados na defesa da ortodoxia enquanto seriam excomungados os ímpios, execradas as éguas com cio e sangrados os muares do mesmo sexo que se envolvessem em brincadeiras suspeitas.

Assim, os cavalos mantêm o porte altivo e não andam de joelhos nem de rastos. Nem rezam.

6 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Mau sinal – Barroso no Vaticano

Alexander Lukachenko, na Bielorrússia, e Bento 16, no Vaticano, são os dois últimos biltres que perseguem os adversários e se fizeram eleger em condições alheias às regras democráticas vigentes na Europa.

O Sapatinhos Vermelhos, além de interferir na vida interna dos países democráticos, é ditador vitalício, chefe de uma rede internacional de cardeais, bispos e outros clérigos disponíveis para trair os seus países em obediência à teocracia resultante dos acordos de Latrão, por vontade de Mussolini – um católico impoluto e ditador fascista.

O presidente da Comissão Europeia, entusiasta da invasão do Iraque, que garantiu a existência de provas de armas de destruição maciça, foi visitar o velho pastor alemão, sem uma palavra de censura pela ausência de uma Constituição democrática nem referência à luta que o ditador tem conduzido contra o preservativo no mundo infectado de SIDA.

José Manuel Barroso era um dos que exigia a referência ao cristianismo na Constituição Europeia, um dos que ignora que as referência confessionais são motivo de ódios entre pessoas e de quezílias entre as nações.

A visita ao ditador vestido de garridos trajos femininos não é um mero acto diplomático, é a manifestação de subserviência e falta de firmeza perante uma teocracia que fomenta a homofobia, o espírito misógino e o ódio à sexualidade.

Quem se ajoelha perante um déspota e é capaz de lhe lamber o anelão com ametista, não representa cidadãos, é um político que rasteja para gravitar em torno de um tirano.

6 de Maio, 2006 Palmira Silva

Cristocracia no Ohio

«Um governo arbitrário é aquele em que as pessoas têm homens que os governam … Só Deus tem essa prerrogativa … por isso homens usurparem essa autoridade é tirania e heresia» John Winthrop (1588 – 1649)

Na passada quarta-feira, sem grandes fanfarras na imprensa, o secretáro de Estado J. Kenneth Blackwell ganhou as primárias do GOP (o partido republicano) para a governação no Ohio. Se Blackwell, conhecido por levar uma Bíblia para todos os eventos a que se desloca, ganhar as eleições para governador do Estado Novembro próximo, como tudo indica, será o primeiro governador negro do Ohio. Será também o governador mais abertamente teocrata nos Estados Unidos desde que John Winthrop governou a colónia de Massachusetts Bay assumindo-se como a mão direita de Deus. Blackwell, a quem se deve a vitória de Bush neste estado em 2004, é igualmente considerado para vice-presidente republicano nas próximas eleições presidenciais.

A relação demasiado íntima (e possivelmente ilegal) de Blackwell com dois megamercados da fé cristã do Ohio já mereceu a atenção do programa Now da PBS. E constitui material que merece uma atenção redobrada.

De facto, duas mega-igrejas do Ohio, a World Harvest Church e a Fairfield Christian Church, esta última dirigida pelo pastor Russell Johnson que está igualmente à frente da Ohio Restoration Project, uma organização cristã cujo objectivo é eleger candidatos que transcrevam nas leis do Estado as aberrações cristãs em matéria de direitos individuais, fizeram campanha activa por Blackwell.

O secretário de estado do Ohio, membro do painel nacional da Juventude por Cristo (Youth for Christ), analista político da Heritage Foundation em Washington, D.C e um comentador muito activo da Salem Communications, participando em programas nas mais de 90 estações desta emissora cristã, pretende, no caso de ser eleito, proceder à «Renovação cívica» deste Estado, isto é, pretende impôr um regime dominionista puro e duro! O que o torna extremamente atraente aos teocratas americanos que, como declarou Rod Parsley, co-fundador com Johnson da Ohio Reformation Movement, pretendem transformar o Ohio em «um campo de treino que lançará uma reforma nacional». Reforma nacional que consiste na abolição da «ateia» democracia uma vez que «Os americanos devem ser cristocratas – cidadãos em simultâneo do seu país e do reino de Deus. E isso não é uma democracia, é uma teocracia».

Os detalhes de como Blackwell usou e usa politicamente (algo que é proíbido nos Estados Unidos em que para beneficiarem de isenção de impostos as igrejas não podem intervir directamente em política) as mega-igrejas e os chamados «pastores patrióticos», nomeadamente Johnson que afirmou serem as próximas eleições de Novembro «um choque apocalíptico entre a cristandade virtuosa [Blackwell] e os fazedores do mal que se opõem aos valores da cristandade [e querem «impôr» a ímpia democracia]», podem ser apreciados num programa recente da PBS, reproduzido aqui.

5 de Maio, 2006 Ricardo Alves

As virgens terão que esperar

Zacarias Moussaoui é um desgraçado. Em 2001, deixou-se apanhar com o passaporte caducado algumas semanas antes do 11 de Setembro. Os seus dezanove amigos conseguiram capturar quatro aviões comerciais, despenhar dois deles contra edifícios de Nova Iorque e outro contra o Pentágono, e apenas perder o controlo do último dos quatro aviões, todavia perpetrando o maior ataque terrorista de sempre.

Reduzido a contemplar, da prisão, o sucesso da conspiração em que participara, Zacarias gritou «Deus é grande», mas é crível que tenha tido alguma inveja. Na religião com que o iludiram, não apenas se acredita numa «vida eterna» posterior à morte, mas também que morrer matando os inimigos da fé garante a maior das glórias nessa «vida depois da morte», em algumas versões garante mesmo umas dezenas de donzelas virgens. Devido ao seu próprio desleixo, Zacarias falhara a ida para este «paraíso das virgens».

Não tem sido devidamente sublinhado que o 11 de Setembro só foi possível porque há pessoas, na Europa e noutros continentes, que vendem a ilusão de que existe uma «vida depois da morte», e que se apresentam como únicas conhecedoras do caminho para essas maravilhas póstumas. Em Portugal, a maioria desses charlatães são muito respeitados, e a ilusão que vendem raramente é criticada em público. Mas é essa ilusão que permite o bombismo suicida.

Zacarias Moussaoui teve azar. O tribunal não o condenou à morte, que ele acha que ainda seria consideravelmente gloriosa e que lhe abriria o caminho, acredita ele, para a «glória eterna». Foi uma decisão humanista do tribunal, mas foi também a segunda desilusão de Zacarias Moussaoui. Esperemos que tenha agora tempo para compreender que foi enganado, e que a vida vale muito mais do que a morte, mesmo sem «paraíso» nem «virgens».

4 de Maio, 2006 Palmira Silva

O pior presidente da História


«A concepção de Bush de uma missão baseada na fé, que está acima de qualquer questionamento racional, condiz com os dogmas pró empresariais da sua administração em relação ao aquecimento global e outros assuntos ambientais urgentes». A não perder esta análise dos mandatos de Bush pelo historiador Sean Wilentz, que faz a capa «The Worst President in History» (ou quase, é a opinião da maioria dos historiadores que estudam o tema) da Rolling Stone, a publicação que recuperou o seu estatuto de revista de culto nos últimos tempos. Em que o tema religião é um dos pratos fortes, já que a base de apoio de Bush está neste momento quasi restrita aos que o consideram «um cristão que de facto age de acordo com a sua crença»…

4 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Terras da Beira

São cada vez mais os mortos que povoam os cemitérios e menos os vivos que ficam. Os jovens saíram pelas estradas que invadiram o seu habitat. Fugiram das courelas que irmãos disputavam à sacholada e à facada, dos regatos que secaram a caminho das hortas, da humidade que penetrava as casas e os ossos e da pobreza que os consumia.

Não há estímulo para permanecer. Não se percebe que as penedias tivessem custado vidas na disputa da fronteira, que homens se tivessem agarrado aos sítios e enchido de filhos as mulheres que lhes suportavam o vinho, a rudeza e os maus-tratos.

Os tempos mudaram e os campos, abandonados, são pasto de chamas que lhes devoram os arbustos, no estio, e os entregam à erosão.

Os funerais são o momento de fazer o recenseamento dos que resistem. Nas missas, os padres em via de extinção debitam com ar sofrido a homilia, com pressa de passar à paróquia seguinte e sem coragem para falar do Inferno. Ora, sem medo, sem ameaças e sem convicção não há fé que resista ao ar lúgubre de uma igreja, ao frio do lajedo e às imagem abonecadas que substituíram as antigas que rumaram aos antiquários.

Falar de castidade a quem a idade condenou, dos malefícios do aborto a quem passou há décadas a menopausa e na obrigação de aceitar os filhos que Deus mandar a quem já não é capaz de os gerar, é persistir em rotinas que a desatenção e a demência cultivam.

Há dias fui à Beira onde nasci. São poucas as pessoas que ficaram e Deus, na sua eterna ficção, aparece apenas como pretexto para arejar umas imagens que adejam em padiolas, com um velho padre que tropeça sob o pálio erguido por braços frouxos que ameaçam deixar-lho cair em cima, enquanto carrega a custódia.

Por hábito, e bem parecer, enquanto uns ruminam orações, outros vão na procissão para acertar o preço da vaca ou das ovelhas de que querem livrar-se. A fé desfez-se com o tempo e a bíblia, que tanto medo infundia, enfeita o altar e apara as cagadelas das moscas que ornamentam as páginas do Levítico.

4 de Maio, 2006 lrodrigues

Um Mal Menor

Segundo o «Independent», a Igreja Católica poderá estar próxima de uma mudança histórica na sua atitude perante o uso do preservativo, «o que poderá trazer uma nova esperança para milhões de pessoas» de países subdesenvolvidos actualmente devastados pela SIDA.

Um responsável do Vaticano declarou mesmo que está a ser conduzido «um estudo científico, técnico e moral muito profundo».

Mas atenção:

A ser aberta uma excepção o uso do preservativo só será permitido para casais devidamente unidos pelo matrimónio católico, e em que um deles, ou ambos, estejam infectados com o vírus do HIV.
Nesta situação a Igreja Católica poderá vir a considerar o uso do preservativo «um mal menor».

Para os restantes casos não serão abertas excepções!

Ora bem:
Não quero aqui falar da interessantíssima forma como a Igreja, da escuridão fria dos corredores do Vaticano, continua a encarar a mulher e, sem sequer se aperceber daquilo que diz, declara com a certeza de um especialista na matéria: «se a sobrevivência de uma mulher estiver ameaçada pelos avanços sexuais do marido, ela terá a justificação de se defender a si própria, persuadindo o homem a usar um preservativo».
Absolutamente notável!

Também não quero falar da estupidez de uma instituição religiosa que nem sequer com os seus próprios erros aprende: ora queima Giordano Bruno ou excomunga Galileu, ora lhes pede desculpa séculos mais tarde.

Nem sequer da imbecilidade despropositada de meia dúzia de cretinos que se arrogam o direito de determinar a vida das pessoas – católicos e não católicos – e de friamente influenciar por esse mundo fora a sua vida e a sua morte.

Nem sequer quero falar do próprio reconhecimento de que a simples mudança da política da Igreja Católica perante o preservativo «poderia trazer uma nova esperança a milhões de pessoas», num planeta que conta já com 40 milhões de infectados e com 13.000 novas infecções todos os dias.

Mas é interessante realçar que para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, e para os nababos de saias que vivem à sua sombra, os dogmas religiosos e uma encíclica anacrónica e imbecil continuam a ser mais importantes que as vidas dos milhões de seres humanos que «os restantes casos» não abrangidos pela «excepção» ainda representam.

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

3 de Maio, 2006 jvasco

O homem só podia ser maluco!

Um dos comentadores do nosso blogue deixou a referência de uma notícia bizarra: «Virgem Maria era um extraterrestre».

A notícia fala de uma tese sustentada por Santiago Camacho, que após muito investigar terá concluído que os eventos que tiveram lugar na Cova da Iria em 1917 não foram mais do que sucessivas aparições de OVNIs extraterrestres.

Parece quase anedótico. O investigador acredita mesmo numa tolice dessas? Foi ao ponto de escrever uma tese sobre isso? E escrever um livro? E há quem compre? Sem ser para se rir às gargalhadas? Em que é que ele se baseia para afirmar tal coisa? Os indícios referidos na notícia parecem tirar qualquer réstia de credibilidade que o homem pudesse ter…

Mas esta é uma atitude arrogante e desagradável. Então não existem milhões de pessoas em Portugal que acreditam numa história ainda menos plausível? Que acreditam que a Senhora de Fátima apareceu aos três pastorinhos para lhes anunciar a conversão da Rússia e a tentativa falhada de assassinato do Papa? Que acreditam que o Sol se mexeu para uns milhares de Portugueses enquanto ficou parado para todo o resto do mundo? E que o seu movimento não foi visto pelos descrentes que lá estavam, uns tantos crentes que lá estavam? E também não foi registado pelas centenas de jornalistas que se encontravam no local?
Que Deus, podendo comunicar a cura para o cancro e solução para a dependência do petróleo, prefere comunicar com os seres humanos para lhes dizer que o Papa não vai morrer num atentado, só deixando revelar esse segredo décadas depois do mesmo ter acontecido? E que rastejar de joelhos pela EN1 fora pode beneficiar a saúde de enfermos doentes por fazer aquela pressão que vai mudar a postura e a atitude de um Deus alegadamente perfeito, omniponte, omnisciente e infinitamente bom?

Santiago Camacho já não parece tão maluco assim…

3 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Opus Dei – Al-qaeda do catolicismo

O número 666 é o número da Besta do Apocalipse, um número tão detestado pela Igreja Cristã Ortodoxa que pretendeu opor-se a que uma deliberação da União Europeia com o referido número fosse transcrita para a ordem interna da Grécia.

Todavia, há uma seita católica, fundada por um admirador de Franco, um entusiasta da ditadura que derrubou a República espanhola e assassinou centenas de milhares de adversários, que elaborou um manual com 999 máximas.

Não digo que o ora Santo Escrivá, o morto que logo desatou a fazer milagres, é a Besta do Apocalipse de patas para o ar. A superstição é apanágio dos beatos que percorrem de joelhos e língua de fora o espaço que os separa do cálice e da patena donde recolhem a rodela de pão ázimo convencidos de que o corpo e o sangue de Cristo aí foi parar pela alquimia dos sinais cabalísticos de um padre.

O Opus Dei está para a fé como os bordéis estão para o amor. Interessa-lhe o dinheiro, o poder e a influência. A «santificação pelo trabalho» é a forma de infiltração nos centros do poder e a tentativa do seu controlo.

«O Mundo Secreto do Opus Dei» de Robert Hutchison e «Uma vida na Opus Dei» vivida «do lado de dentro» pela autora, Maria del Carmen Tapia, que trabalhou directamente com Escrivá, são dois livros imprescindíveis para se conhecer a «associação secreta» que actua «ocultamente, com um máximo de opacidade nos seus assuntos», como reconheceu o Tribunal Federal Suíço, com sede em Lausanne.

Escrivá foi elevado a beato graças à cura miraculosa de um cancro da freira Concepcion Boullón Rubio, prima de um ministro de Franco ligado ao Opus Dei, e cuja doença era desconhecida da madre superiora do convento.

O processo de canonização foi aprovado em 20 de Dezembro de 2001 graças à intercessão num milagre na área da dermatologia.

A cura do médico Mário Nevado Rey, que sofria de radiodermite, confirmou a preferência que Monsenhor Escrivá, já em vida, nutria pelas classes mais favorecidas.

2 de Maio, 2006 Palmira Silva

Espírito Opus Dei em São Paulo

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e pré-candidato tucano à presidência, cedeu uma fazenda de 87 hectares, 54 vezes maior que o parque Ibirabuera, para uma fundação católica que mantém a rede de comunicação Canção Nova, com assumidos fins de evangelização. Gabriel Chalita, secretário de educação de SP, é o menino de ouro dos projectos da rede Canção Nova e quer ser o próximo governador de SP.

O jornal Folha de Sao Paulo noticiou em 21 de Janeiro último a cedência generosa de Geraldo Alckmin, filho do primeiro supranumerário do Brasil e ele próprio pelo menos com fortes ligações à Opus Dei, informando ainda que a referida fazenda tinha sido solicitada para projectos de inquestionavel interesse público ligados a instituições públicas. O Instituto de Terras do Estado de SP avaliou a área e solicitou-a para reforma agrária e a Faculdade de Engenharia Quimica de Lorena pedia a área para expansão do seu campus. De igual forma a Faenquil, ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Económico e Turismo do Estado, requereu em 2004 o terreno da fazenda para a ampliação de um dos seus campi, vizinho à propriedade do Estado.

No entanto o governador ignorou tais pedidos e arbitrariamente cedeu a fazenda Centri, localizada em Lorena, para a Fundação João Paulo II, responsável pela rede de evangelização Canção Nova, «uma comunidade católica que tem como objectivo principal ‘a evangelização através dos meios de comunicação’».

Alckmin, em campanha activa para a presidência, é conhecido pela sua visão católica da política, que inclui o esperado mui católico «apreço pelos Direitos Humanos» assim como subscreve de cruz o que diz Ratzinger na sua primeira encíclica, isto é, os governos não devem combater a desigualdade e exclusão sociais com medidas políticas que não sejam a educação, católica claro, como é evidenciado na resposta a um cidadão que procurou a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, para resolver um problema relacionado com uma bolsa de estudo, e recebeu a seguinte «oração» da Central de Atendimento (que não resolveu o problema em questão):

«No caminho de todos nós existem desafios e obstáculos que exigem empenho, dedicação, garra e perseverança. Por outro lado, esta mesma trajectória abre-nos a possibilidade de aprender, evoluir, enfrentar, ir além. Nessa jornada, tão importante quanto a chegada, é a beleza do caminho. Pois, é no transcorrer do caminho que nossa fé vai se fortalecendo, nossa esperança é renovada, nossos sonhos são embalados e as promessas positivas, mensageiras de novos amanhãs, se descortinam à nossa frente.

O Senhor caminha nessa direção, com esse olhar diferenciado. (…)

Que Deus a proteja e continue iluminando seu coração.»

O secretário da educação de SP, o encarregue da iluminação dos corações paulistas (e da manutenção das desigualdades sociais, necessárias ao fortalecimento da fé), Gabriel Chalita, é uma das figuras centrais da programação da rede Canção Nova, com destaque em todos os meios, inclusive na página de abertura do site, apresentando um programa diário de rádio e outro, semanal, na televisão, além de ter um livro publicado pela editora Canção Nova, ou seja, uma fazenda pública de 84 hectares foi doada para proselitismo católico ao grupo religioso do qual faz parte o piedoso autodenominado filósofo e escritor que integra o executivo que fez a (auto)doação.

O pseudo-filósofo Chalita é um prolixo (ou melhor pró-lixo) autor, cuja extensa (e mui publicitada) bibliografia inclui o livro «Seis lições de solidariedade com Lu Alckmin», uma elegia biografia da primeira-dama paulista, cujo primeiro casamento foi providencialmente anulado pelo Vaticano, com uma ajudinha da Opus Dei, depois de a dita dama ter começado a namorar o devoto candidato à presidência do Brasil.

Mário Sérgio Conti, um dos mais conceituados jornalistas brasileiros, que foi editor da «Veja» e do «Jornal do Brasil» entre outros, é o autor da melhor análise da dita prosa que encontrei. Isto é, Conti não conseguiu encontrar algo digno de análise nos ditos livros. Apenas selecionou trechos da vacuidade católica de Chalita para os leitores do seu blog No Mínimo. Na realidade não há muito para comentar. Talvez apenas uma única palavra: pavor! Ou nojo!