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21 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Missa, dinheiro, mulheres e droga…

A arquidiocese de Braga, o baluarte do catolicismo mais jurássico, que se distinguiu pela fé explosiva do cónego Eduardo Melo, volta a ser notícia pelos pecados dos seus padres. E uma diocese que não comprova a virtude dos seus clérigos não convence os paroquianos da bondade do seu Deus.

Segundo o «Correio da Manhã» há sacerdotes afastados devido ao envolvimento com mulheres, um caso de dependência da droga e, agora, um jovem padre que se afundou em dívidas.

O P.e Nuno Melo, de 29 anos, gosta de carros de luxo, jantaradas e diversões nocturnas. A gula, a vaidade e a luxúria são três pecados capitais que qualquer confissão bem feita aliviaria mas o dinheiro esportulado pelos paroquianos não é dívida que se possa remir com padre-nossos e ave-marias.

O promissor apóstolo do Senhor está num retiro em Santo Tirso, aguardando o regresso ao múnus enquanto «algumas dívidas já começaram a ser pagas, por intermédio do arcipreste de Amares e também pelos conselhos económicos das paróquias».

21 de Maio, 2006 Palmira Silva

Petro-fundamentalismos

Lyman Stewart (1840-1923) presidente da Union Oil Company e um dos fundadores da Biola University (Bible Institute of Los Angeles), co-autor e financiador dos «The Fundamentals», os textos que cunharam o termo fundamentalismo.

Pensar-se-ia à primeira vista que o tema do post seria um contrasenso, isto é, que petróleo e religião seriam palavras inesperadas na mesma frase.

Na realidade, o ressurgir anacrónico dos fundamentalismos religiosos e das guerras da religião está intimamente ligado ao ouro negro. Não só porque o petróleo está associado ao Islão radical, Arábia Saudita e Irão, dois dos países que surgem imediatamente da associação, como boa parte dos movimentos fundamentalistas islâmicos são suportados por petrodólares, fonte de financiamento igualmente da expansão preocupante do Islão nas zonas mais pobres de África. As madrassas wahabitas, com fundos sauditas quasi ilimitados, são em muitos locais a única fonte de alimentação, cuidados básicos de saúde e educação para a população. E incubadoras de fanáticos dispostos a dar a vida por honra e glória do profeta.

De igual forma, a associação petróleo e fundamentalismo (cristão) é especialmente válida nos Estados Unidos, já que o próprio termo fundamentalismo deve o seu nome ao dinheiro do petróleo. De facto, a publicação da série de 4 livros, «The Fundamentals», publicados em 1909 pelo Bible Institute de Los Angeles (BIOLA) foi financiada com petrodólares por um dos fundadores do BIOLA, Lyman Stewart, presidente e fundador da Union Oil Company of California (agora a UNOCAL/Chevron) .

A correlação actual petróleo-fundamentalismo islâmico pode estar a mudar drasticamente, na opinião do analista político Michael Weinstein daqui a menos de duas semanas. Caracas será anfitriã da próxima Conferência extraordinária da OPEC e espera-se que no decurso desta reunião Hugo Chavez anuncie que a Venezuela é agora o país mais rico em petróleo do mundo, com reservas muito superiores às da Arábia Saudita.

De facto, Chavez assenta parte da sua oposição à influência americana na América do Sul na sua fé católica. E parece quase tão certo quanto Bush que a sua actividade política tem uma inspiração divina. Mas o seu Deus católico é um Deus socialista que se opõe ao Deus capitalista evangélico de Bush. Um Deus que procura aliados não nos poderes conservadores cristãos emergentes, quasi teocracias, como a Polónia ou a Ucrânia na Europa e os Estados Unidos no continente americano, mas sim nos países em que a teologia da libertação foi marcante há umas décadas (antes de ser violentamente suprimida pelo Vaticano) e há uma inédita base de apoio cristã a políticas de esquerda. Países como a Venezuela, Argentina, Chile (não obstante a sua presidente, Michelle Bachelet ser ateísta), Bolívia, o Brazil e até Cuba (em que Fidel Castro parece quasi um cristão renascido em alguns discursos).

Weinstein aponta ainda que este bloco socialista católico pode ascender no continente americano se nas eleições de Julho próximo o anterior presidente da câmara da Cidade do México, Andre Manuel Lopez Obrador, for, como parece provável, eleito presidente mexicano em substituição de Fox. Obrador tem sido erradamente considerado um cristão evangélico pela frequência com que recheia discursos oficiais com o nome do mítico fundador do cristianismo. Na realidade, Obrador é um católico que tem o apoio dos bispos mexicanos, não obstante ter recusado que sejam estes a decidir as políticas de saúde (leia-se contracepção e aborto) do país no caso de ser eleito. A mesma posição de Chávez, que tantas críticas tem merecido das cúpulas católicas.

O preocupante nesta história é que o Vaticano, com séculos de experiência em relações internacionais e manipulação política, já se apercebeu há muito desta alteração geopolítica. Como indica a recente reunião de Ratzinger com Chávez! E tem em marcha uma série de cartadas que tentarão ser o Vaticano quem ditará os termos de um próximo petro-fundamentalismo!

20 de Maio, 2006 Carlos Esperança

O Código Da Vinci queimado em Itália (2)


A intolerância faz o seu caminho. Depois das caricaturas de Maomé que foram pretexto para desacatos da horda imensa de árabes ociosos, acicatados pela demência de mullahs, regressou à Europa o gosto pirómano contra a cultura.

As religiões monoteístas mobilizam crentes embrutecidos para protagonizarem cenas que julgávamos exclusivas da Idade Média. Na própria Europa, um romance e o filme que sobre ele foi realizado são alvos da ira eclesiástica e da fúria de crentes exaltados.

A queima em praça pública de exemplares de «O Código Da Vinci», uma iniciativa da extrema-direita italiana patrocinada por Stefano Gizzi, da Democracia Cristã, e Massimo Ruspandini, da Aliança Nacional, remete-nos para os totalitarismos do séc. XX que ensombraram a Europa.

As fogueiras são a dolorosa memória dos tempos do Santo Ofício e um perigoso indício do retrocesso civilizacional que dignitários de diversas religiões estimulam.

A ira beata contra um romance policial (bem interessante, por sinal) e respectivo filme, é uma ameaça às liberdades europeias, conquistadas através de um longo processo de secularização.

Se não formos vigilantes perante os detentores das verdades absolutas seremos vigiados de novo e a liberdade é um bem demasiado precioso para que a deixemos sacrificar no altar da intolerância e do fanatismo.

Quando se celebra o Ano Mundial do Livro há quem se excite com as fogueiras que queimam livros e incite à proibição de filmes.

Quando das caricaturas de Maomé, encontrei no PSD e no CDS aliados na defesa da liberdade de expressão. Espero achá-los de novo a execrar o comportamento violento dos díscolos que queimaram o romance de Dan Brown e querem proibir o filme.

Diário Ateísta/Ponte Europa

20 de Maio, 2006 Palmira Silva

Código da Vinci queimado em Itália

A produção de 100 milhões de dólares baseada no romance homónimo de Dan Brown, O Código da Vinci, chegou aos cinemas propulsionada pelos acéfalos protestos das religiões do livro, que se uniram a uma voz para tentar (e conseguir em muitos pontos do globo) censurar e proibir o filme. Acéfalos porque a polémica e os protestos encenados pelos devotos de todos os flavours serviram apenas para garantir que o filme baterá recordes de audiência.

Algumas das iniciativas de protesto são francamente grotescas. Um exemplo é a queima em praça pública de exemplares do livro, uma iniciativa sob os auspícios da extrema-direita italiana através de Stefano Gizzi da Democracia Cristã e de Massimo Ruspandini da Aliança Nacional, que em reminiscências nostálgicas dos tempos «gloriosos« da Inquisição e dos totalitarismos que ensombraram o século XX pretendem purificar na fogueira as «ofensas graves» do livro.

A orgia de fé, a realizar hoje, numa altura em que se celebra o Ano Mundial do Livro, pretende incitar os cristãos a «reagir com força e convicção a este ataque horrível à pessoa santissima de Jesus».

Incitando a reacções que se repetem um pouco por todo o mundo, como a de María Raquel Mendioroz que, armada de um rosário, arrancou os cartazes das portas da sala de um cinema argentino que exibia o filme, enquanto gritava que tinha sido enviada por Deus para impedir a estreia do filme.

Ou o aviso de uma onda de violência na Rússia, onde a Igreja Ortodoxa denunciou o filme como «uma perigosa provocação» que não deixará de merecer resposta «apropriada» dos cristãos deste país. Aparentemente a devoção pela purificação de blasfémias na fogueira é comum a todas as religiões do livro e um grupo de devotos ortodoxos queimou cartazes do filme em Pushkin Square, no centro de Moscovo. Já na Bielorrússia, a agência Interfax informou hoje a decisão das autoridades de Minsk em suspender a projecção do filme devido à «reacção negativa dos fiéis».

Uma vez que o Directorado Espiritual Central dos muçulmanos russos considera difícil «conter» os muçulmanos e impedir que estes venham para as ruas protestar o que consideram uma injúria análoga à que despoletou a recente guerra dos cartoons parece que de momento estão esquecidas as divergências com os cristãos ortodoxos. As duas religiões maioritárias na Rússia parecem ter aproveitado o pretexto para desencadearam uma cruzada conjunta contra a famigerada «cultura laica»!

20 de Maio, 2006 Palmira Silva

Defesa da laicidade na Turquia

Dezenas de milhares de turcos compareceram ao funeral de Mustafa Yucel Ozbilgin, o juíz assassinado na quarta-feira for um fanático muçulmano no que foi considerado pelo presidente Ahmet Necdet Sezer, ele próprio um juíz, «um ataque à república laica».

Dezenas de milhares de turcos encheram as ruas de Ankara simultaneamente em homenagem ao juíz assassinado em nome de Deus e em defesa da constituição laica do país. As Forças Armadas, as guardiãs da laicidade na Turquia, compareceram em força ao funeral, precedido por uma marcha ao mausoléu de Mustafa Kemal Ataturk, o fundador da Turquia moderna e do estado laico.

Os membros do Governo que compareceram ao funeral foram apupados e recebidos com cânticos de «assassinos fora» e exortações à sua resignação.

O ataque aos juízes da segunda câmara do Supremo Tribunal Administrativo está ligado à defesa intransigente da laicidade do estado por estes juízes, nomeadamente no que respeita à estrita independência da religião e do ensino e à proibição do lenço islâmico em Universidades e instituições públicas.

De facto, o uso do lenço islâmico tem sido transformado num símbolo do Islão radical, um braço de ferro entre aqueles que pretendem transformar a Turquia num estado islâmico e os que defendem a laicidade deste país. O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que conta no currículo uma estadia na prisão por ter declamado versos anti-laicidade, tem estado na frente dos que pretendem que a proibição do seu uso seja removida, medida que os fundamentalistas islâmicos consideram o primeiro passo para a restauração de um regime islâmico.

Sumru Cortoglu, o presidente do Conselho de Estado, que declarou Ozbilgin um mártir da laicidade, afirmou perante a imensa multidão que homenageou o juíz:

«A bala que foi disparada contra o seu cérebro foi disparada contra a República turca. Mas a vida de pessoas como ele ajudar-nos-ão a manter a República viva eternamente».

Ahmet Necdet Sezer, muito aplaudido no funeral, avisou que «ninguém será capaz de derrubar o regime laico».

Esperemos que de facto assim seja! A bem da paz e dos direitos humanos, palavras desconhecidas dos fundamentalistas de qualquer religião! Porque como tão bem disse o Carlos, a deriva fundamentalista que varre as religiões do livro, os ódios acumulados pelos dignitários eclesiásticos que vêem na secularização a perda de prestígio e influência, a falta de cultura e excesso de fanatismo que exalta os crentes, estão na origem de guerras cujo fim não se vislumbra. E de constantes atropelos dos direitos humanos, especialmente das mulheres, sub-humanos de terceira categoria para estas religiões.

19 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Um seminarista agora, outro logo, sem preservativo

Tal como a Palmira, também não quero deixar de me referir a um dos mais sórdidos episódios da ICAR.

O Vaticano comunicou ontem a decisão tomada pela Congregação para a Doutrina da Fé sobre o Padre Marcial Maciel Degollado, fundador da Congregação dos Legionários de Cristo. Tendo em conta a idade avançada do Padre Maciel, bem como a sua precária saúde, renuncia ao processo canónico e «convida o Padre a uma vida reservada de oração e penitência, renunciando a qualquer ministério público».

Nunca se diz nas duas notícias da Agência Ecclesia que foram os abusos sexuais contra seminaristas que perderam o santo homem. Ao Papa Ratzinger interessou salvar a honra da congregação (500 sacerdotes Legionários, 2.500 seminaristas, 65.000 membros e 12 universidades) e do Movimento Regnum Christi, fundados pelo Padre Marcial Maciel.

O padre era um pedófilo inveterado cujos escândalos eram abafados pela ICAR que via no fundador da congregação e de um movimento, ambos fortemente conservadores, um candidato à santidade. Mas a sofreguidão por jovens seminaristas foi mais forte do que a atracção pelos altares.

Com a reputação desfeita diluiu-se o odor a santidade. A mancha não se fixa na alma (seja lá isso o que for). Não falta a benzina da confissão e a lixívia da absolvição, de seminarista em seminarista, até que a idade e a saúde ponham cobro ao desvario.

Os Soldados de Cristo não terão como os jesuítas, os franciscanos, os beneditinos e, até, o Opus Dei, o seu fundador canonizado, como é usual nas Ordens e Congregações com sucesso.

Não vale a pena guardar dentes, unhas e, muito menos, o prepúcio do devoto soldado de Deus, aliás general de um exército de prosélitos. Não há relicários para relíquias de um bem-aventurado que, ao distribuir o corpo de Cristo só pensava no dos seminaristas.

Eis um caso frustrado de uma auspiciosa carreira de santidade. Foi a luxúria que o traiu, que lhe roubou a peanha onde a sua imagem seria adorada por seminaristas e outros devotos à espera da sua intercessão por milagres.

Claro que o tempo tudo apaga. Daqui por um século, se a congregação for rica e pródiga para o Vaticano, os processos desaparecem, as virtudes serão exaltadas e os milagres não faltarão. A ICAR é uma lavandaria com dois mil anos de experiência.

Post Scriptun – «O Santo Padre, pseudónimo do Papa Ratzinger, aprovou as decisões» A Congregação dos Legionários de Cristo e o Movimento Regnum Christi, obras fundadas pelo Padre Marcial Maciel, reagiram ao comunicado da Santa Sé sobre a conclusão da investigação das acusações feitas ao seu fundador com uma nota em que «renovam o compromisso de servir a Igreja».

19 de Maio, 2006 Palmira Silva

Vaticano deixa cair queixas de abuso sexual

A Congregação dos Legionários de Cristo e o Movimento Regnum Christi, ambas fundadas pelo padre mexicano Marcial Maciel Degollado, uma «máquina» de angariação de fundos para a Igreja de Roma, reagiram muito favoravelmente ao anúncio pelo Vaticano de que vai passar uma esponja sobre as inúmeras acusações de abuso sexual de menores que pendem há décadas sobre o seu fundador.

Aliás, esta era a conclusão há muito anunciada e em completa concordância com aquela que é a prática centenária da Igreja de Roma em relação ao abuso sexual de menores e adultos vulneráveis perpetrado por membros do clero católico, o encobrimento descarado.

Hoje, foi tornado público que «a Congregação para a Doutrina da Fé, sob a orientação do novo Prefeito, Cardeal William Levada, decidiu – tendo em conta a idade avançada do Pe. Maciel, bem como a sua precária saúde – renunciar a um processo canónico e convidar o Padre a uma vida reservada de oração e penitência, renunciando a qualquer ministério público».Acrescentando que «O Santo Padre aprovou estas decisões».

Apesar de a ICAR ser uma instituição de que já espero tudo esta decisão não deixa de me indignar pela hipocrisia, falta de vergonha e descaramento! Especialmente porque enquanto padres abusadores sexuais são defendidos com unhas e dentes pela hierarquia católica leio que uma professora de uma escola católica que ficou grávida por inseminação artificial foi despedida com alardes de grande indignação pelo seu inadmissível comportamento, contrário à doutrina de Roma.

Sobre Maciel volto a recomendar a leitura de «Vows of Silence: The Abuse of Power in the Papacy of John Paul II», de Jason Berry e Gerald Renner e uma análise do livro no National Catholic Reporter.

19 de Maio, 2006 Palmira Silva

Leitura indispensável

Para acompanhar a leitura da Visão desta semana, recomendo a leitura de outro artigo da Visão «Opus Dei, o exército de Balaguer», escrito há já quatro anos.

Que se inicia explicando as origens da «Obra» em Portugal:

«Tudo começou com um ‘jeitinho’ de Lúcia, a vidente de Fátima, quando se encontrava no Convento das Doroteias de Tuy, em Espanha. A antiga pastorinha incita o homem que recebeu ‘ordens divinas’ para fundar também o Opus Dei em Portugal. Só que, em 1945, Josemaría Balaguer não tinha com ele o passaporte e era preciso que alguém abrisse as fronteiras ao pai da Obra de Deus (Opus Dei, em latim). A solução partiu do convento galego, com um visto caído do céu e Balaguer consegue, por fim, penetrar no nosso país, visitar Fátima e encontrar-se com altos dignitários da Igreja Católica, incluindo o cardeal Cerejeira.»

Boa leitura!

19 de Maio, 2006 Palmira Silva

Tensão religiosa no Quénia

No passado dia 13 uma estação de rádio cristã na capital do Quénia, Nairobi, foi assaltada por homens mascarados que mataram duas pessoas e feriram várias. A estação foi parcialmente destruída pelo fogo depois dos assaltantes terem despoletado uma bomba incendiária.

A estação, Hope FM, da Igreja Pentecostal de Nairobi, passava à altura do ataque um programa em que eram comparados a Bíblia e o Corão, programa que mereceu ameaças por parte de alguns ouvintes, que ligaram para a estação exigindo que o programa fosse interrompido.

A polícia queniana está a investigar a origem dos telefonemas já que de acordo com os trabalhadores da estação os assaltantes gritaram com os produtores do programa que estes não tinham atendido aos seus telefonemas. E ordenaram a um técnico para calar a estação.

O ataque surgiu uns escassos dois meses depois de um jornal, o Standard, e a estação de televisão KTN terem sofrido um ataque semelhante perpetrado por forças policiais a mando do ministro da Segurança, John Michuki, que achou inadmissíveis as críticas ao governo destes dois orgãos da comunicação queniana.

19 de Maio, 2006 Palmira Silva

Estreia do Código da Vinci adiada na Índia

A estreia do filme Código da Vinci, um sucesso de bilheteira garantido não obstante as críticas negativas e o acolhimento gélido em Cannes, tem deixado as hostes católicas em polvorosa.

Um pouco por todo mundo os dignitários católicos multiplicam-se em iniciativas contra o que consideram injúrias e mentiras sobre a sua mitologia. Especialmente depois de uma pesquisa divulgada na terça-feira ter indicado que «O Código Da Vinci» abalou a fé na Igreja Católica e prejudicou enormemente a sua credibilidade. Em particular a credibilidade do Opus Dei fica pelas ruas da amargura já que depois da leitura do livro as pessoas ficam quatro vezes mais propensas a ver na Opus Dei uma seita assassina.

Assim não é de estranhar que o Opus Dei tenha criticado duramente não só o filme mas também o grupo Sony depois de confirmar que foram mantidas as cenas do romance «que são falsas, injustas e ofensivas aos cristãos». Manuel Sánchez Hurtado, do Escritório de Informação da Opus Dei em Roma, lembrou que, durante os últimos meses, muitos católicos, cristãos, judeus, muçulmanos (uma clara alusão à guerra dos cartoons) e outros crentes clamaram por respeito, «mas parece que não tiveram êxito».

O Opus Dei tentou, sem sucesso, que a Sony-Columbia retirasse do filme todas as referências à Obra no romance de Dan Brown, em que é apresentada como uma perigosa seita.

Sánchez Hurtado afirmou, quiçá em lamento, que os cristãos «sempre reagiram perante a falta de respeito com uma atitude pacífica, buscando o diálogo e evitando o conflito». Mas o porta-voz da Opus assegurou que este episódio pode servir para que os cristãos «levem mais a sério a fé e para que todos aprendam a compreender e a respeitar os demais».

Não sei se o ciliciado Hurtado pretendia com esta última afirmação referir-se aos católicos indianos, que pretendem ensinar a Dan Brown o respeito pela mitologia católica oferecendo uma recompensa pela sua cabeça, e que conseguiram do governo indiano um adiamento da estreia do filme e muito provavelmente a proibição deste filme na Índia.

De facto, o polémico filme chegou a ser aprovado nesta segunda-feira pelo controle de censura indiano, sem cortes, embora tenha sido classificada para adultos e tenha sido decretado a passagem de uma mensagem dizendo que o filme «é pura ficção e não está baseado em nenhuma pessoa viva ou morta». Mas posteriormente o Ministério de Informação e Difusão da Índia anunciou o adiamento da estreia , três dias antes da data prevista.

O ministro de Informação, Priya Ranjan Dasmunsi, explicou que quinta-feira iria assistir ao filme com líderes religiosos cristãos, antes de tomar uma decisão final, a ser comunicada hoje. Não é muito complicado de prever que o filme será proibido na Índia já que o ministro afirmou:

«Se houver alguma questão que afecte as suas sensibilidades, então não permitiremos a exibição do filme».

Assim, os menos de 2% de católicos indianos conseguiram impôr pela força a censura ao filme!