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20 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Lech Walesa renuncia ao catolicismo?

«O antigo presidente polaco Lech Walesa ameaçou na sexta-feira renunciar ao título de cidadão honorário de Gdansk (antiga Danzig alemã) para não compartilhar a distinção com o escritor alemão Günter Grass, que confessou há uma semana ter pertencido às Waffen-SS». (DN, hoje, pág. 32).

Admite-se que Walesa, por coerência, renuncie ao catolicismo, para não compartilhar a fé com o Papa Rätzinger que igualmente pertenceu às SS, a não ser que a religião seja menos importante para o devoto Walesa do que uma condecoração.

20 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Encefalização e evolução do homem

Do ponto de vista neurofilogenético, a inteligência das espécies tem sido avaliada pela extensão das áreas associativas corticais, pela massa cerebral e especialmente pela relação massa cerebral/massa corporal ou índice de encefalização (I.E.), o indicador favorito da maioria dos antropólogos.

Apesar de este índice não ser um indicador absoluto de inteligência, especialmente se aplicado a pequenos animais, cujas massas corporal e encefálica são acentuadamente baixas – por exemplo um rato*, com uma massa cerebral de 0.4 g e uma massa corporal de 0.012 kg tem um índice muito superior ao do Homo sapiens – é interessante analisar a evolução deste índice na árvore filogenética humana. Na tabela que se segue são indicados valores médios usando uma das muitas definições de IE.

Espécie

Capacidade craniana /cm3

IE

A. afarensis

414

3.1

A. africanus

441

3.4

P. boisei

530

3.5

P. robustus

530

3.5

H. habilis

640

4.0

H. erectus (Java)

937

5.5

Homo sapiens neanderthalensisH. neanderthalensisHomo sapiens neanderthalensis

1450

7.8

H. sapiens

1350

7.6

P. troglodytes

395

2.6

Ou seja, uma análise desta tabela confirma que a evolução do homem é igualmente a evolução do cérebro, isto é, da encefalização. Este aumento da dimensão do volume craniano associado ao bipedalismo teve algumas consequências não despiciendas, nomeadamente no desenvolvimento do nosso comportamento moral e social.

Como escrevi há uns tempos, o homem é o mamífero superior cujas crias nascem mais impreparadas para o mundo, numa fase em que o seu cérebro mal começou a desenvolver-se. Isto é, nos humanos o cérebro continua a crescer com taxas próximas às fetais durante cerca de 1 ano; nos outros mamíferos (incluindo primatas) o crescimento rápido do cérebro ocorre apenas antes do parto.

De facto, o desenvolvimento de um cérebro (e crânio) maior não acarretou apenas vantagens. Por um lado, um cérebro maior necessita de mais energia – o nosso cérebro consome cerca de 1/5 da energia que produzimos – ou seja, implica a necessidade de uma dieta mais energética, e por outro para um bipedalismo eficiente a pélvis é necessariamente mais estreita.

O parto é assim um acontecimento muito arriscado apenas nos humanos pois para além de um crânio do nascituro comparativamente maior e uma pélvis materna menor, durante o nascimento a cabeça do feto tem de efectuar uma rotação complexa. Ou seja, mesmo com o nascimento numa fase que podemos considerar fetal, a cabeça do nascituro é muitas vezes demasiado grande em relação à pélvis da mãe.

Na realidade todos os nascimentos humanos, como qualquer estudante de biologia sabe, poder-se-iam considerar abortos de fetos viáveis. Esse é quiçá o acaso da selecção natural que resultou no maior trunfo da Humanidade, aquele que distingue o ser do Homem do ser dos demais animais, já que a selecção natural privilegiou os exemplares capazes de dar à luz fetos viáveis sensivelmente a meio do tempo de gestação «normal», fetos com poucas conexões neuronais estabelecidas mas a cujo nascimento uma maior percentagem de gestantes sobreviviam. E é um trunfo que a evolução proporcionou porque o desenvolvimento cerebral extra-uterino é muito mais rico em estímulos o que permite uma «programação» francamente mais diversa e flexível que a possível uterinamente.

Por outro lado, os perigos associados ao parto humano levaram ao desenvolvimento de comportamentos sociais únicos nos humanos, nomeadamente no que respeita à necessidade de cooperação entre as fêmeas de um dado grupo e à relação mãe-cria. Especialmente interessante de analisar no contexto da apologética cristã, no que concerne não só ao desenvolvimento moral como igualmente ao advento da dor no parto, atribuído ao castigo «divino» à mítica Eva depois da dentadinha no fruto da árvore do conhecimento!

(continua)

*O cérebro humano apresenta uma superfície convoluta muito rara – com uma área neocortical de ~2275 cm2 – que é a zona utilizada para a resolução de problemas. A superfície do cérebro do rato é lisa. Ou seja, não é apenas o IE que interessa mas igualmente a «composição» do cérebro.

20 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Encefalização e evolução do homem : Neanderthal

Árvore filogenética humana. Clique na imagem para aumentar.

O recente artigo da Nature que identifica uma zona do genoma humano que poderá ser co-responsável pelo desenvolvimento cerebral humano fez-me recuperar o post que escrevi sobre o projecto do Genoma do Neanderthal.

O que nos torna diferente das outras espécies animais são as capacidades possibilitadas por um cérebro único no reino animal. Perceber a evolução humana é assim perceber o processo de evolução do cérebro humano, ou encefalização.

O bipedalismo teve um papel crucial na expansão do neocortex humano já que não só a posição erecta possibilitava mais estímulos visuais – o que implicava o desenvolvimento de uma maior cérebro necessário para processar este aumento de informação – como a maior versatilidade de movimentos implicava uma expansão cortical, nomeadamente da área de Broca, para controlar estes novos movimentos.

Um estudo recente – que descreve que os macacos rhesus usam regiões do cérebro correspondentes aos principais centros de linguagem humanos, as áreas de Broca e Wernickes, no tratamento das vocalizações de macacos da mesma espécie – publicado na Nature NeuroScience (reservado a assinantes), propõe que os mecanismos neuronais necessários à evolução da linguagem humana estavam presentes no ancestral comum de humanos e restantes primatas.

Ou seja, corrobora não só Stephen J. Gould, que argumentava ser a linguagem um sub-produto do processo evolucionário e que boa parte do que nos distingue dos restantes animais são consequências colaterais do processo de encefalização, como a recente hipótese de Chomsky e colaboradores sobre a evolução da linguagem humana. Chomsky sugere que a maioria dos aspectos da linguagem humana são partilhados com os modos de comunicação de outras espécies mas que alguns pontos específicos são um produto recente da evolução do cérebro humano e são únicos ao Homo sapiens.

O nosso conhecimento da evolução do cérebro humano é, no entanto, rudimentar, e o pouco que sabemos deve-se a estudos comparados da neuroanatomia de espécies extintas. De igual forma, pouco se sabe sobre a evolução da especialização do cérebro humano e concumitantes capacidades comportamentais e cognitivas únicas aos humanos. A genética molecular é assim uma das poucas técnicas disponíveis para elucidar esta questão e por isso a sequenciação do genoma do Neanderthal será um marco importante, já que acredito ser a diferença entre os cérebros do Neanderthal e do sapiens a razão do sucesso da nossa espécie.

Já foram identificados alguns genes envolvidos no processo de encefalização que ocorreu durante a evolução humana. Dois desses genes são o microcephalin e o ASPM (abnormal spindle-like microcephaly associated). Uma examinação do polimorfismo destes genes indica que certas variantes surgiram há aproximadamente 5 800 e 37 000 anos respectivamente, ou seja, muito depois do aparecimento dos homens modernos, o que ocorreu há cerca de 200 000 anos. O aparecimento da variante da microcephalin coincide com o desenvolvimento da agricultura e o uso de linguagem escrita pelo que é tentador correlacionar este gene com a cognição humana.

O GLUD2 é outro gene «implicado» na evolução do cérebro humano. Este gene, que surgiu nos hominídeos há cerca de 18-23 milhões de anos, codifica a enzima glutamato desidrogenase (GDH), uma enzima que regula a concentração de glutamato e permite maior actividade neuronal.

A comparação dos genomas humano e do Neanderthal não irá elucidar as diferenças anatómicas ou funcionais entre o cérebro deste e o do sapiens, mas permitirá uma análise dos acontecimentos a nível molecular subjacentes à evolução do cérebro humano. Especialmente interessantes serão a análise e comparação não só de genes tais como o microcephalin, ASPM, GLUD2 ou HAR1F , como das sequências que regulam a respectiva expressão.

(continua)

19 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

A Argentina e o aborto

Só nos hospitais da província de Buenos Aires registam-se, em média, 95 abortos diários. Segundo o Centro de Estudos Estado e Sociedade (Cedes) morrem vítimas de aborto clandestino 27,4% das mulheres que a ele recorrem.

A hipocrisia, mais acentuada do que a outras latitudes, ignora o grave problema de saúde pública e só se torna notícia quando o caso assume contornos especiais.

Não interessa o drama diário de milhares de mulheres, destaca-se um drama particular que interpela diversas autoridades que se refugiam na moral e na fé.

Recentemente uma deficiente mental, de 19 anos, com idade mental de 10 anos, violada, viu ser-lhe negado o direito ao aborto, solicitado pelos tutores, num hospital do Estado.

Médicos, juízes e bispos são solidários na luta contra a despenalização do aborto. A irmã da deficiente interrogava-se, desesperada: «não vêem que, com a capacidade mental de 10 anos, ela não compreende que vai ser mãe e terá uma criança»?

Na sexta-feira passada, os nove membros do Supremo Tribunal de Buenos Aires ouviram a jovem deficiente, à porta fechada, antes de proferir a sentença. Tudo indicava que autorizariam o aborto.

Perante tal eventualidade não se fez esperar a reacção colérica do arcebispo de La Plata, Héctor Aguer: «A suposição de que a criança possa nascer com um defeito físico ou psíquico não autoriza a sua eliminação. Ou pensa-se, quiçá, que é possível produzir uma humanidade ideal»?

19 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Os perigos de uma educação universitária

gClique na imagem para aumentar

O número de Agosto da revista da American Family Association, uma organização de extrema-direita teocrata anteriormente conhecida como National Federation for Decency, contém um artigo que considero extremamente revelador da mentalidade obscurantista e castrante dos teocratas americanos.

No artigo, cujo objectivo me pareceu ser convencer devotos pais a não mandar os seus filhos para a Universidade, são apresentadas as razões que permitem à iluminada autora prevenir os ditos pais que «os ‘campuses‘ [a iletrada que escreveu o artigo não sabe que o plural de campus é campi] universitários funcionam como doutrinação no reino do liberalismo», fervilhando de ideias «blasfemas» derivadas do execrado secularismo que permeou os meios académicos norte-americanos. De facto, segundo a teocrata escriba, Rebecca Grace:

«As universidades modernas, tendo perdido as suas convicções morais, ligaram-se a doutrinas relativistas tais como tolerância e diversidade, o que significa, na prática, tolerância de tudo menos a fé bíblica e a moralidade tradicional».

Traduzindo por miúdos, Grace adverte os pais que se mandarem os filhos para a Universidade eles vão perceber que existem pessoas neste mundo que pensam e agem de forma diferente da preconizada pelo conjunto de delírios neolíticos que dá pelo nome de Bíblia e, horror dos horrores, que essas pessoas não só têm direitos, nomeadamente a existir, como a não serem perseguidos. E, tal como a autora, não tenho dúvidas irão descobrir que ser-se tolerante é necessariamente sinónimo de ser-se anti-cristão.

Esta diversidade e tolerância totalmente anti-bíblicas, a total desorientação espiritual do campus moderno, de acordo com J. Budziszewski, que escreveu sobre o tema num artigo da revista de outra organização teocrata, a Focus on the Family, citado por Grace, devem-se a:

«Métodos de doutrinação que incluem não apenas disciplinas mandadórias mas também a cursos de orientação de calouros, códigos de discurso, cursos obrigatórios de diversidade, normas de dormitórios, linhas para organizações estudantis e aconselhamento psicológico».

Como escreve PZ Meyers, para além das disciplinas anti-bíblicas como Biologia e afins, não se percebe como os pontos enunciados podem ser considerados anti-cristãos. Excepto, claro, as normas de discurso que proibem a mui bíblica vociferação contra homossexuais e restantes «pecadores» e o aconselhamento psicológico que pode tornar os cristãos renascidos «normais» e mentalmente sãos…

O gráfico apresentado como papão pela mui cristã Focus on the Family, que se esforça a convencer os fiéis que uma educação universitária é equivalente a pôr em perigo a salvação da «alma» – afinal estas organizações precisam de manter os seus generosos financiadores ignorantes e estúpidos para que continuem generosos e financiadores – é, tal como o artigo, completamente imbecil em termos estatísticos. Mas claro que quanto mais educadas forem as pessoas menor a respectiva possibilidade (e capacidade) para acreditar nos dislates debitados pelos fundamentalistas teocratas!

19 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Desenvolvimento cerebral humano e o HAR1

Esquema de um neurónio. As dendrites são receptores de estímulos, as «antenas» do neurónio. Os axónios são prolongamentos mais ou menos longos que actuam como condutores dos impulsos nervosos. O axónio entra em contacto com outros neurónios e/ou outras células (por exemplo células da glia) pelo terminal axonal. À região entre o terminal axonal de um neurónio e as dendrites do adjacente chama-se sinapse. Um neurónio pode estabelecer entre 1000 a 10000 sinapses.

Desde a recente publicação do genoma do Pan troglodytes ou chimpanzé, inúmeros cientistas têm analisado comparativamente a sequência genética do Pan troglodytes com o genoma humano em busca das alterações genéticas fundamentais que expliquem a evolução humana.

O comparação do genoma humano com o dos seus parentes próximos na árvore filogenética dos primatas tem sido até agora maioritariamente devotada à comparação dos genes codificantes de proteínas mas a maioria das alterações genómicas entre as duas espécies, cerca de 99%, verifica-se em zonas não codificantes (de proteínas).

A equipa de David Haussler da UCSC (Universidade da Califórnia Santa Cruz) decidiu olhar para todo o genoma à procura de zonas conservadas (isto é, com poucas alterações) noutras espécies mas com alterações significativas entre humanos e chimpanzés. Claro que com aproximadamente três mil milhões de bases no ADN humano a deriva genética durante os cerca de 6 milhões de anos que separam os dois ramos evolucionários, humano e do chimpanzé, é um factor não despiciendo que Hussler levou em consideração na sua análise.

Ontem foi publicado na revista Nature um estudo do consórcio em que Hussler se inclui, constituído por cientistas dos Estados Unidos, Bélgica e França, que identificam 49 zonas, as HAR ou «Região Acelerada Humana», em que a variabilidade genética entre as duas espécies é mais evidente. Na mais activa, identificada como HAR1, encontraram 18 diferenças numa sequência de 118 nucleótidos muito conservada entre chimpanzés e galinhas, duas espécies que se separaram do ancestral comum há 310 milhões de anos, e que apresentam apenas duas alterações na sequência.

A zona em questão pode ajudar a explicar a evolução do cérebro humano já que codifica ARN expressado em células que têm um papel crucial no desenvolvimento do córtex e pode lançar luz sobre o que confere ao cérebro humano as qualidades que nos distinguem dos outros animais.

O cérebro do chimpanzé tem apenas cerca de um terço das dimensões do cérebro humano e os factores responsáveis pelo desenvolvimento cerebral são um ponto fulcral na compreensão da evolução humana. Como David Hussler afirma, este gene, o HRA1, pode estar envolvido num passo crítico deste desenvolvimento, embora, como também indica, seja provável que mais genes estejam envolvidos.

O HAR1 faz parte de um novo gene de ARN, o HAR1F, expressado nos neurónios Cajal Retzius, que estudos anteriores indicaram serem determinantes no desenvolvimento cortical já que regulam a expressão da relina (uma proteína que regula a migração e crescimento neuronal; mutações no gene que a codifica podem dar origem a autismo, esquizofrenia, etc.). A equipa de investigação verificou que a relina e o ARN HAR1 são co-expressados em regiões muito específicas do cérebro entre as 7 e 19 semanas de gestação.

O córtex cerebral, sede de algumas das funções mais complexas do cérebro, como a linguagem e o processamento da informação, tem igualmente um papel muito importante no nosso comportamento moral.

18 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Crime de honra

Em Itália, um piedoso paquistanês, Muhammad Saleem, de 55 anos, foi preso por matar uma filha. A jovem Hina Saleem, de 20 anos, perfeitamente integrada, a trabalhar numa pizzaria, acalentava o sonho de fazer carreira no cinema.

O italiano com quem a jovem vivia, há cinco meses, comunicou o desaparecimento que conduziu ao pai. Um tio e um cunhado estão provavelmente implicados neste nefando «crime de honra».

A família não suportava a união com um homem divorciado e casado segunda vez. Ao ser preso o pai exclamou: «eu não queria que se tornasse uma puta como tantas outras raparigas».

A influência religiosa e os preconceitos sociais da comunidade não hesitam perante o crime, desprezando as leis do País de acolhimento. Cometem-se na Europa imensas transgressões em nome da tradição e à sombra da condescendência com a barbárie.

O pai já tinha prometido a rapariga a um primo, no Paquistão, e a sua desobediência só podia, nos costumes tribais da família, ser punida com a morte, friamente premeditada.

Tenho a convicção de que não há guerra de civilizações, há uma luta entre a civilização e a barbárie, a democracia e a teocracia, a liberdade e a tradição. Há um longo caminho a percorrer para impor o respeito pela Declaração Universal dos Direitos Humanos».

Fonte: LE MONDE 18.08.06

18 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Os novos planetas do Sistema Solar

A inclusão de novos planetas no nosso Sistema Solar, eventualmente oficializada na próxima semana, quando terminar a 26ª Assembleia Geral da International Astronomical Union, pode vir a ter consequências inesperadas.

Via o blog de ciência Pharyngula, descobri uma caricatura fabulosa dos criacionistas americanos, mas que pode reproduzir fielmente o que se passa na cabeça de alguns alucinados cristãos. No post em questão, uma imitação tão fabulosa dos argumentos IDiotas que enganou a maioria dos leitores, o escriba, um biólogo, recuperou a argumentação IDiota em relação à evolução agora para discutir geocentrismo versus heliocentrismo. Assim, tal como os IDiotas, pretende não perceber que o que está em causa no aumento da única população celestial reconhecida pela comunidade científica é simplesmente a definição de planeta, ou seja, como já referi, discute-se semântica e não ciência.

Mais, assume que a controvérsia em relação à definição de algo tão «fundamental» como planeta, significa que toda a física, nomeadamente a astrofísica está em dúvida e que o geocentrismo bíblico – aliás como toda a colecção de dislates do «livro», mitos da criação inclusive – vai em breve ser reconhecido como a «verdade absoluta» sobre o tema.

Ou seja, na mesma linha do que se passa na evolução, transforma, na boa maneira fundamentalista, uma questão de clarificação de uma definição na admissão por parte da comunidade científica de que as suas teorias, nomeadamente o heliocentrismo, são um nonsense contraditório.

Os criacionistas queixam-se amargamente que as teorias científicas estão em constante mutação (algo que por uma razão que nunca percebi irrita profundamente todos os fundamentalistas) e que os cientistas debatem infindavelmente entre si a interpretação dos factos, sendo as teorias aceites por consenso e não assentam, como deveriam, numa verdade absoluta «externa»!

O autor do post, recorrendo à verdade absoluta externa, a Bíblia, constante e imutável (reflectindo o pensamento neolítico dos alucinados que a debitaram ) que indica claramente que a Terra foi criada no 1º dia e o Sol apenas no 3º, deixa alguns conselhos para os cientistas: que expliquem em torno de quê a Terra orbitou nos três primeiros dias da Criação e que … larguem os telescópios e olhem para o céu, para confirmarem que é o Sol que orbita a Terra e que o heliocentrismo está errado!

E, que dada a controvérsia em torno de definições, que indica existirem dúvidas legítimas sobre o heliocentrismo, sugere que, tal como em relação à evolução, os livros de texto americanos passem a indicar no futuro que o heliocentrismo é uma teoria, não um facto.

Simplesmente brilhante!

18 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Todo o bem vem de Deus

Viajar pela história das religiões não é apenas entrar no pântano da mentira e da intriga, é percorrer um mundo de horrores, descer às alfurjas da sordidez, penetrar num passado de crimes de que a civilização actual se procura libertar.

Julgamos epifenómenos as Cruzadas, a evangelização, a Reforma, a Contra-Reforma, a Noite de S. Bartolomeu e a própria Inquisição. Vemos o calvinismo como patologia benigna e o protestantismo evangélico uma demência sazonal com acessos esporádicos.

Temos a tendência de esquecer o oceano de sangue que liga os primórdios das religiões abraâmicas aos nossos dias e recordar as doces falsificações de paz e amor que o clero forjou laboriosamente ao longo dos séculos.

Nunca a liberdade teve o contributo empenhado de qualquer religião e quase sempre se conquistou na luta contra o poder do clero e a violência do dogma.

Do Islão e da sua patologia vemos o hábito das decapitações, a euforia com que serram vivos os inimigos da fé, a excitação das lapidações e o zelo com que fazem amputações.
Veneram Deus e Maomé, o primeiro a merecer manicómio e o último internamento num reformatório, se acaso o primeiro existisse e fosse vivo o segundo.

O Vaticano, um bairro de 44 hectares mal frequentado e pior governado, é a cabeça de um imenso e antigo tumor que espalha pus pela humanidade. A Santa Aliança, serviço de espionagem da Santa Sé, desde 1566, é uma associação de malfeitores para uso do vigário de Cristo e apoio aos ditadores que lhe são afectos.

Basta recuarmos ao segundo quartel do século passado e vermos Pio XI, após o pacto de Latrão, a entusiasmar os padres de toda a Itália a apoiarem os fascistas, considerando Benito Mussolini como «enviado pela Providência» o que, a ser verdade, colocaria pior o Deus do que o próprio Papa.

O apoio explícito de Pio XII a Hitler e ao nazismo foi ratificado quando o Papa ordenou ao arcebispo Orsenigo, núncio em Berlim, que organizasse uma grande recepção para celebrar os cinquenta anos do Führer. Desde aí, e durante toda a guerra, Hitler recebeu em Berlim felicitações por parte do cardeal Bertram.

Ante Pavelic desejou criar uma Croácia católica pura através de conversões forçadas, deportações ou extermínios. De 1941 a 1945 os ustachis levaram a cabo o assassínio sistemático de sérvios ortodoxos, ciganos, judeus e comunistas. Pavelic teve, desde o princípio do seu governo, o apoio público de Pio XII ao nacionalismo católico croata.

Durante uma peregrinação a Roma, em Novembro de 1939, Pio XII, não poupou nos encómios aos ustachis, encabeçados pelo tenebroso arcebispo Stepinac. Pio XII via no extermínio e nas deportações dos sérvios a oportunidade de proselitismo e o avanço do catolicismo para leste.

Pio XII manteve-se silencioso quando um agente dos serviços secretos papais informou que as vítimas eram obrigadas a abrir uma cova, antes de serem atadas com arames e enterradas vivas». Outro agente, da contra-espionagem papal, enviou um relatório datado de 11 de Maio de 1941 em que dizia: «Os ustachis prenderam 331 sérvios, entre os quais estavam um padre sérvio ortodoxo e o seu filho de nove anos. As vítimas foram esquartejadas com machados. O padre foi obrigado a rezar enquanto lhe matavam o filho. A seguir torturaram-no, arrancaram-lhe a barba, furaram-lhe os olhos e esquartejaram-no vivo».

Pio XII manteve silêncio, talvez para rezar em sossego.

Fonte: A Santa Aliança – Eric Frattini – Ed. Campo das Letras

18 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Mais planetas no Sistema Solar

Bem-vindos ao novo Sistema Solar

Durante décadas, não obstante a acesa controvérsia em relação a Plutão, o Sistema Solar tem sido considerado como constituido por nove planetas. A discussão sobre se Plutão é ou não um planeta é na realidade uma questão de semântica, isto é, depende da definição de planeta. A definição original de planeta foi devida aos filósofos gregos que chamaram «viajantes» a estes objectos que pareciam passear pelo firmamento.

Numa tentativa de resolver de vez a controvérsia, a International Astronomical Union, isto é, os mais de 2500 astrónomos reunidos em Praga na sua 26ª Assembleia Geral, vai votar a proposta elaborada pelo seu comité executivo que compreende, entre outras, uma nova definição de planetas e introduz oficialmente o termo plutonito para designar os planetas que orbitam o Sol para lá de Neptuno.

A proposta vai certamente ser aprovada, podem seguir o debate neste blog da conferência, pelo que a partir da semana que vem o Sistema Solar vai ser oficialmente constituido por 12 planetas, que para além dos 8 planetas «tradicionais», incluem os 3 plutonitos, Plutão, Caronte e o 2003 UB313 , para além do até agora asteróide Ceres.


Plutão faz parte da cintura de Kuiper, uma zona em forma de disco para lá de Neptuno, que contém milhares de cometas e outros objectos planetários. Desde a sua descoberta em 1930, a inclusão de Plutão como planeta no Sistema Solar permaneceu controversa já que, inicialmente considerado do tamanho da Terra, se descobriu posteriormente ser menor que a Lua. Por outro lado, para além de nos últimos anos se terem descoberto mais objectos nesta zona do espaço de dimensões próximas às de Plutão e de forma igualmente arredondada, Plutão apresenta uma série de características únicas: com a sua órbita muito eliptíca e um plano orbital peculiar comporta-se mais como os outros objectos da cintura de Kuiper que um planeta tradicional; a sua lua, Caronte, descoberta em 1978 por James Christy, tem apenas cerca de metade das dimensões de Plutão pelo que muitos astrónomos consideravam ser Caronte e Plutão um planeta duplo e não um planeta e a sua lua.

A recente descoberta do 2003 UB313 catapultou a já acesa controvérsia, já que o objecto descoberto por Michael Brown, do Caltech, é maior – e mais distante do Sol – que Plutão. De facto, o Hubble mediu o objecto brilhante a 14 mil milhões de quilómetros do Sol, oficialmente denominado 2003 UB313, e chegou a um diâmetro de 2 384 km, cerca de 112 km mais que Plutão. Brown chamou Xena à sua descoberta mas não é de esperar que a alcunha pegue.

Veremos como esta decisão da International Astronomical Union vai ser recebida por charlatães sortidos, astrólogos e afins, e se estes, como a charlatã astróloga russa Marina Bai o fez à NASA, vão intentar processar a IAU por… «danos espirituais»!