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24 de Março, 2007 Carlos Esperança

Crescei e multiplicai-vos

“Jornal de Leiria” – Edição de 22 de Março
Coluna «Pessoalíssimo»

Amável deferência do leitor M.M.

23 de Março, 2007 Carlos Esperança

Vitória da liberdade de expressão

O director do jornal satírico francês Charlie Hebdo foi ontem absolvido por um tribunal parisiense da acusação de injúrias de cariz religioso.

O referido semanário publicou em Fevereiro de 2006 três cartoons sobre Maomé, que a comunidade muçulmana considerou ultrajantes e injuriosos.

O tribunal considerou que as imagens, ente as quais a que se vê neste post, não contêm matéria de injúria. A liberdade de expressão foi mais importante do que as idiossincrasias dos crentes.

Pessoalmente, entendo que o juiz devia ter indeferido a queixa no despacho saneador por os crentes não serem parte interessada. Não consta que Maomé se tivesse sentido ofendido. Pelo menos não apresentou queixa.
23 de Março, 2007 Carlos Esperança

Véus e cruzes

Enquanto o Islão político procura multiplicar os véus na paisagem urbana das cidades europeias, conquistar direitos de proselitismo e erguer mesquitas para obrigar os que tiveram a desgraça de nascer na anti-cultura islâmica, os católicos semeiam nichos de virgens nas esquinas dos caminhos, plantam cruzes nas paredes das estradas e capelas no cimo dos montes.

No Islão os mujaidines chamam os fiéis para as orações e a pregação do ódio aos infiéis, no cristianismo os padres promovem a missa, a confissão, a eucaristia e a excomunhão.

Em terras de Maomé lapidam-se mulheres que amem e degolam-se os crentes que não resistam ao álcool ou à carne de porco. Nos países onde B16 lança a peçonha, combate-se o divórcio, a homossexualidade e o aborto.

No terreno da fé a intolerância marca o ritmo do amor a Deus.

De há anos a esta parte o catolicismo aparece com a mesma virulência do islamismo. Só não mata porque os governantes não usam mitra e báculo. Deve ser prodígio mimético.

As cruzes aumentam no pescoço dos cristãos e nos bolsos viajam crucifixos a substituir a velha navalha de ponta e mola. Nos automóveis adejam Cristos nos suportes dos retrovisores e espalham-se imagens de santos pelo habitáculo.

São cada vez maiores as cruzes dependuradas nos pescoços dos católicos, manifestação de fé ou provocação, vá-se lá saber, numa ostentação pública das convicções privadas.

Se as cruzes continuam a aumentar de tamanho, dentro de décadas não há católicos de cruz ao peito, há cruzes em movimento com católicos dependurados. E ai de quem não se render ao instrumento de tortura com que o Papa quer crucificar a humanidade.

22 de Março, 2007 Carlos Esperança

O segundo casamento é uma praga?

Bento 16 considera o segundo casamento uma praga. Mas que autoridade assiste a quem não teve um primeiro casamento, para condenar o segundo? Celibatário há 79 anos, o último teocrata europeu não é um líder religioso, é um inquisidor violento.

Sabe-se que nasceu em tempos de cólera, que a educação da infância o há-de ter persuadido de que é herdeiro de uma raça superior, mas escusava de ser de tão má raça.

Que negue a hóstia aos casados pela segunda vez, como se faz nas tascas com o vinho a quem bebeu demais, é um direito de quem administra a mercadoria e impõe as regras de distribuição. Agora que se meta na vida dos casais e que queira escoar a água benta nas cerimónias, é uma ingerência inaceitável.

B16 é um talibã romano, um veículo litúrgico em rota de colisão com a modernidade.

22 de Março, 2007 Carlos Esperança

A democracia e o véu

Depois da inaceitável indulgência com os pregadores do ódio nas mesquitas, situação que, por exemplo, não seria permitida – e bem – a dirigentes políticos, a Inglaterra já autoriza as escolas a proibir o uso do véu islâmico dentro dos estabelecimentos de ensino.

Há quem se oponha a esta decisão, em nome da democracia e da liberdade individual, acusando os opositores de intolerância. Esquecem-se de que a Europa tem vivido em paz graças à laicidade do Estado que jovens muçulmanas desafiam, estimuladas pela família e pelos pregadores religiosos. Os constrangimentos sociais e o domínio sobre as mulheres são de molde a impor-lhes o símbolo da sua própria escravidão.

Só a França (até quando?) sobrepõe os direitos de cidadania aos desejos dos clérigos das diversas religiões. No exercício de funções públicas ou frequência de escolas do Estado não são permitidos os hábitos das freiras, as sotainas ou o véu islâmico. Alguém, de boa fé, nega a liberdade religiosa francesa?

Ninguém duvida do proselitismo que devora as diversas confissões, todas desejosas de convencer os ímpios da bondade do seu Deus e da única forma de salvação eterna – a sua -, impondo-a, se puderem, mesmo a quem a dispensa.

Sendo o Estado incompetente para se pronunciar sobre as convicções pessoais, só lhe resta manter a neutralidade que permita a efectiva liberdade religiosa e impedir que qualquer religião se aproprie de forma definitiva e permanente do espaço público.

Londres só agora começa a sentir o perigo do proselitismo e a reagir às provocações que faz uma multinacional do ódio que se serve de jovens com forte dependência da família, do clero e da tradição.

Desacreditar da superioridade moral da democracia em relação à teocracia e dos Estados laicos face aos confessionais, é renunciar à defesa dos direitos humanos sob o pretexto de cumprir a vontade de Deus.

DA/Ponte Europa

21 de Março, 2007 jvasco

Portanto, deixa cá ver…

Deus criou-nos à Sua imagem e semelhança. Bem, tirando pequenos pormenores como a omnisciência, a omnipresença, omnipotência, trindade (ou seja: espécie de simbiose metafísica com outros dois seres que também somos nós), e perfeição, mais a diferença de desconhecermos o Bem e o Mal e sermos mortais.

Também criou a serpente que foi tentar a sua criação humana. Apesar das Suas capacidades de presciência, ficou revoltado após verificar que a sua criação escolheu desobedecer (não Lhe terá ocorrido que os seres humanos nem sequer poderiam supor que a desobedeciência ao Criador era má antes de conhecerem o Bem e o Mal).

O resto já se sabe: na sua Infinita Justiça castigou os seres humanos que Lhe desobedeceram e todos os seus descendentes.

Mais tarde, talvez por achar que uma eternidade de sofrimento atroz era um pouco excessivo para nos castigar pela desobediência dos nossos ascendentes, e porque é um Deus de Amor Infinito, decidiu enviar o seu filho para ser torturado. A ideia era que com o sofrimento deste inocente Deus pudesse perdoar as faltas dos culpados – o que podermos julgar injusto, mas isso apenas mostra que não compreendemos a Sua Justiça, o que mostra que é Infinita, pois nós não compreendemos o Infinito.

Claro que a palavra de Jesus só terá chegado a uma parcela reduzida da humanidade, mas os missionários vão fazendo com que chegue mais longe, pois não se pode ser feliz sem Cristo (por isso é que não existe felicidade a não ser nos países cristãos: os hindús, budistas, confucionistas, taoístas, ateus e agnósticos em geral são uns infelizes; por isso é que as igrejas são os lugares mais felizes das cidades).

Enquanto os missionários não chegam não é certo se as pessoas vão parando ao Inferno quando morrem (azar o delas!), ou se apenas correm esse risco depois dos missionários lhes anunciarem Cristo e elas O rejeitarem (o que devia fazer os missionários pensar duas vezes antes de oferecer a alguém o risco de uma eterninidade de sofrimento atroz).

Enquanto isso fica por esclarecer em que medida é que os terramotos, tsunamis e vulcões, criação de Deus como tudo o resto, se encaixam no seu plano de Amor Infinito para nós. Mas o importante é não questionar, pois é uma arrogância pensar que a nossa compreensão limitada pode sequer vislumbrar as intenções do Deus de Amor e Justiça Infinitas. O importante é não questionar. Acreditar. Sem pensar.

E há sempre o conforto de verificar que os Mormones e os Cientologistas acreditam em coisas ainda mais absurdas.

20 de Março, 2007 Carlos Esperança

Deus, fé e poder

Deus é um mito que se alimenta da morte ou, melhor, do medo que inspira. A fome, a doença, a miséria, o analfabetismo e o subdesenvolvimento são instrumentos que lhe garantem a existência e restauram a vitalidade.

A juntar às desgraças humanas vêm os interesses de uma casta de parasitas que, como necrófagos, se alimentam do cadáver de Deus. E, como se isso não bastasse, interesses instalados e a máquina de poder erguida em torno do mito, apavoram e perseguem para que a fábula perdure e se fanatizem fiéis que a aceitem, promovam e morreram por ela.

Nunca uma ideia tão ingénua se tornou numa realidade tão perniciosa. Não faltariam dementes que, após uma lavagem ao cérebro, avançassem para a morte, na defesa de D. Afonso Henriques, capazes de matar o suposto assassino. Não podemos, pois, admirar-nos da quantidade de devotos capazes de percorrer de joelhos os santuários e viver de mãos postas perante a autoridade eclesiástica. Catequizam-nos desde a infância.

Claro que a liberdade exige tanto empenho na defesa da liberdade religiosa como no combate às mentiras das religiões.

Os crentes têm o direito de viajar de joelhos e rastejar aos pés dos padres, fazerem sinais cabalísticos para afastarem os maus-olhados, debitar orações para seduzirem o Deus em que os treinaram, mas não têm o direito de impor a fé, perseguir apóstatas ou formarem uma sociedade de acordo com os seus preconceitos.

Sempre que o poder do clero avança, a liberdade e a democracia recuam.