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15 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

Questão de reciprocidade

Na vida como no amor o principal é a reciprocidade. A igualdade e a justiça dependem dela.

A poligamia repugna-se mas resigno-me se a poliandria tiver igual tratamento jurídico. O adultério é um acto de traição mas se a anuência for mútua não o estigmatizarei.

Os deuses são falsos e as religiões fraudes organizadas mas se as mulheres e os homens tiverem direitos iguais tornam-se toleráveis e passam a meras multinacionais para venda e divulgação de orações.

O direito de repúdio de uma mulher só é infame e infamante porque não é permitido à mulher o direito de repudiar o homem.

Sem casamento não há divórcio mas, aceitando a legitimidade de um, tem de se aceitar o direito ao outro.

Se os símbolos religiosos entram nos edifícios públicos o busto da República deve estar presente nas igrejas. Se as paredes das escolas têm crucifixos as capelas devem ter fotos do Presidente da República. Se a imagem da Senhora de Fátima viaja pelas paredes dos hospitais a primeira-dama deve ter a fotografia nas paredes das sacristias.

A toponímia das nossas cidades está pejada de santos e referência religiosas. É altura de as paróquias começarem a denominar-se Afonso Costa, República e Joaquim António de Aguiar.

Um bispo dá nome a largos, Voltaire pode designar as novas igrejas. O Papa entra na toponímia de uma cidade, a Praça de S. Pedro deve passar a chamar-se Garibaldi.

Não é justo que o espaço público fique saturado de santos, beatos, bispos e papas e a ICAR ignore nomes que evocam a liberdade e a cultura, de Machado Santos a Salgueiro Maia, de Voltaire a Raul Rego, de Tomás da Fonseca a Saramago.

A próxima basílica de Fátima devia ser consagrada ao Diário Ateísta – um espaço de liberdade -, em vez da improvável Santíssima Trindade.

15 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Cubo da Apple ofensivo ao Islão


De acordo com o The Middle East Media Research Institute, um grupo islâmico afirmou ser a nova loja da Apple na Quinta Avenida, a que muitos chamam a Meca da Apple, uma blasfémia e um insulto ao Islão. O grupo urge os fiéis a espalharem este alerta na esperança de que «os muçulmanos possam parar este projecto».

Na realidade, o edíficio, em operação desde Maio último – isto é, há muito que não é possível parar o projecto – não se chama a Meca da Apple e não serve bebidas alcoólicas como pretende o tal grupo ultrajado por a Apple, ou mais concretamente Steve Jobs, ter esta preferência pelo cubo como o indica o NeXT Cube ou Power Mac G4 Cube.

É certo que a missão do MEMRI é exactamente apresentar material encontrado em sites islâmicos, traduzido directamente das fontes, que de outra forma passaria despercebido. Missão que de acordo com declarações ao Washington Times de Ibrahim Hooper, do conselho das relações Americano-Islâmicas, se traduz em encontrar «as piores citações possíveis do mundo islâmico e disseminá-las tanto quanto possível».

Mas o mero facto de um grupo islâmico se sentir no direito de pedir que seja parado um projecto apenas porque este é referido informalmente como Meca e por acaso foi escolhida uma arquitectura cúbica na sua construção é profundamente rídiculo! Como são profundamente rídiculas, para além de atentórias dos direitos humanos, todas as ululações de blasfémia e insulto às respectivas religiões com que os fanáticos de todas as cores e credos nos têm mimoseado neste início de século!

De facto, os últimos tempos têm sido fertéis em manifestações de ultraje por parte dos representantes mais fundamentalistas de todas as religiões, não apenas a islâmica. A conjunctura actual e a contemporização das autoridades internacionais em relação às reinvidicações rídiculas dos fanáticos de todas as religiões permitem prever que este estado de ultraje se vai perpetuar e acentuar se não for inequivocamente demonstrado que não se aceitam atropelos aos valores que regem as nossas sociedades.

Especialmente agora que a Assembleia Geral das Nações Unidas exortou os estados membro à criação de leis punindo a «blasfémia» via a moção que defende a tomada de medidas contra «a difamação das religiões».

Considerando que tudo e mais umas botas, especialmente a mera existência de ateus e daqueles que não aceitam ser regidos pelas patetadas debitadas como «valores radicados na natureza mesma do ser humano», são tidos como ofensas inadmíssiveis para os fanáticos em nome do seu Deus, os próximos tempos, previsivelmente abundantes em ululações sortidas de ultraje por «ofensas» absolutamente ridículas, vão ser um teste à Declaração Universal dos Direitos do Homem, ou seja, aos valores civilizacionais que supostamente se pretende defender com esta contemporização com os dislates religiosos.

Na realidade, o facto de que os fanáticos de todas as religiões manifestam estridente e muitas vezes violentamente o seu ultraje pelos motivos mais imbecis – invariantemente por não serem impostas a todos as inúmeras proibições indissociáveis das religiões – leva a esta contemporização com as palermices religiosas por parte dos responsáveis políticos dos respectivos países. Responsáveis políticos que sabem serem os ateístas e laicistas francamente mais pacíficos e civilizados nas suas manifestações de repúdio às consequentes violações flagrantes das leis que regem os nossos estados, supostos laicos e assentes no respeito dos direitos humanos.

Para além disso, os crentes «moderados» a que eu chamo civilizados, isto é, que foram permeados pelos valores civilizacionais preconizados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, confundem fanatismo e fundamentalismo com convicção ou coerência religiosas. Como perorava – contra a laicidade e o oxímero «fanatismo laico» – o nosso cavaleiro da pérola redonda, JC das Neves, os «fanáticos religiosos são desequilibrados mas fiéis à sua fé».

Os católicos que apontam a ausência de vozes moderadas do Islão a condenar a intolerância dos seus congéneres na fé mais fundamentalistas deveriam reflectir no facto de que são os primeiros a desculpar com o fervor da fé as manifestações de intolerância e fundamentalismo dos membros do rebanho a que pertencem e a indignar-se com quem os critica.

Para mim não há qualquer diferença entre o ridículo da «ofensa» que dá título ao post e das muitas ofensas ululadas por cristãos nos últimos tempos: contra o Código da Vinci, contra o último disco dos Slayer, contra a peça Me Cago en Dios, contra «rock blasfemo», contra a série da MTV Popetown, alguns episódios de Southpark, representações «blasfemas» de um motivo de da Vinci utilizado na Capela Sistina, contra o programa «Jerry Springer – The Opera», contra obras de arte e publicidade sortidas, enfim, contra tudo e contra todos os que não seguem estritamente as imbecilidades cristãs!

Infelizmente, a maioria dos cristãos em geral e dos católicos em particular, mesmo os civilizados, reconhece como cretinas e insurge-se contra as reinvidicações imbecis dos fundamentalistas de outras religiões mas «compreende» as motivações quando os «ofendidos» que se manifestam são católicos.

14 de Outubro, 2006 pfontela

O iluminismo, uma visão não linear

Ao processo que começa com Descartes e que prossegue ao longo do século XVII e XVIII, que deu origem a uma revolução no esquema mental até do habitante europeu mais desligado da vida intelectual e política, dá-se o nome de iluminismo mas o fenómeno não possui uma lógica de evolução linear ou sequer dualista. De facto o iluminismo foi construído através de um esquema triangular, da interacção de 3 movimentos e conceitos diferentes, representados grupos muito distintos.

Os radicais, que queriam aplicar a razão de forma sistemática e universal a toda a realidade, formavam uma minoria em termos de números e poder social (muitas das suas publicações eram feitas ilegalmente à revelia das autoridades reais e eclesiásticas e estavam quase universalmente excluídos do sistema de ensino) mas tiveram um poder formativo na sociedade desproporcional ao que seria de esperar – em parte devido às inconsistências dos que defendiam as posições intermédias e às insuficiências gritantes dos que se lhes opunham frontalmente. As ideias cruciais sobre igualdade, secularização do estado e naturalismo que partilhamos hoje no mundo ocidental foram essencialmente propostas por este grupo que teve por principais vozes e influências: Epicuro, os estóicos clássicos, Maquiavel, Espinoza, Bayle, Fontenelle, Diderot, D’Alembert, Helvétius, D’Holbach entre outros.

Os moderados, ou o grupo que procurava reconciliar a razão e um deus mais ou menos tradicional e com as normas sociais vigentes. Este grupo representaria a maioria dos intelectuais que já não podiam aceitar a arbitrariedade de uma visão do Homem que era completamente teológica mas que não estavam dispostos a abraçar completamente os novos conceitos. Esta corrente de iluminismo “moderado”, que saiu profundamente derrotada já que foram os ideias dos radicais que prevaleceram (a coexistência da fé e da razão a um mesmo nível provou ser um projecto inundado de contradições e compartimentalizações que desafiavam os mais coerentes), era essencialmente caracterizada por uma anglofilia sendo que o seu esquema seguia a corrente dos seguintes pensadores: Bacon, Boyle, Locke, Newton, Montesquieu, Voltaire e Hume. Para suprema ironia muitas das propostas e métodos de alguns dos pensadores do iluminismo moderados foram absorvidas pela corrente radical – por exemplo: o empirismo de Hume foi absorvido pela corrente radical mas não as opiniões do autor sobre a sociedade, desigualdade racial e tradição.

O último grupo é o que os historiadores chamaram “contra-iluminismo”. Um conjunto de ideias que essencialmente limitava-se à reacção face às novas propostas radicais e á reafirmação da tradição, obediência à autoridade (monárquica e religiosa) e à prevalência da fé face a qualquer método de investigação sobre a realidade. Apesar de este grupo deter praticamente o monopólio do poder durante a maior parte dos séculos XVII e XVIII foi perfeitamente incapaz de responder ás questões levantadas pelo esprit philosophique. Muito depois de os seus edifícios ideológicos terem sido derrubados e do pensamento de Descartes e principalmente de Espinoza terem sido levados às suas consequências lógicas ainda tinham medo de falar abertamente do Espinosismo – Durante décadas todos os defensores da cristandade tiveram de tal modo pavor a Espinoza e ás suas ideias que não se atreviam a escrever o seu nome, fazendo sempre alusão às suas ideias gerais (com o propósito de as rebater) sem o mencionar directamente.

Através deste conflito entre três sectores, ou mais correctamente, da interacção entre radicais e moderados e com a oposição dos conservadores, nascia um conjunto de filosofias e ideias que seriam a base do que hoje se chama a sociedade ocidental moderna.

Dado o ambiente gerado pelas monarquias absolutas que reinavam na maior parte da Europa ser um radical (e em países oficialmente católicos até ser um moderado) era oferecer-se a represálias brutais por parte das autoridades e por isso durante mais de um século todos as publicações de cariz naturalista, materialista ou republicano eram feitas ilegalmente com grande risco por parte dos autores e dos editores. Ao longo deste tempo, e apesar das perseguições, estabelece-se uma comunidade intelectual marginal que viria a ser a pedra central de todo o edifício da modernidade. Inicialmente centrada nas recém liberadas (do domínio espanhol) Províncias Unidas Holandesas e em menor escala na Inglaterra estas ideias seriam disseminadas por toda a Europa começando pela França que viria a tornar-se o centro intelectual das luzes durante o século XVIII e mesmo XIX.

[artigo publicado também no InBetween]
13 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Christ Illusion banido na Índia

A banda Slayer – Tom Araya (baixo), Kerry King e Jeff Hanneman (guitarra) e Dave Lombardo (bateria) – os pioneiros e reis absolutos do speed/trash metal extremo, viu o seu novo álbum, Christ Illusion, banido na Índia.

O CD, e também a capa de Larry Carroll, 10 faixas que incluem títulos como Jihad ou Skeleton Christ, foi proíbido depois de pressões do Fórum Social Católico (CSF), o mesmo cujo dirigente Joseph Dias iniciou uma «greve de fome até à morte» pela proibição do filme «Código da Vinci».

O CSF ficou chocado com a capa do disco em que figura um «Cristo sem um dos olhos e com os braços amputados», e considerou «um insulto ao Cristianismo» a letra do tema «Skeleton Christ».

Num memorando enviado ao comissário da polícia de Bombaim, Joseph Dias achou-se no direito de falar por todos os indianos afirmando que o novo álbum dos Slayer «irá afectar a sensibilidade dos muçulmanos, na faixa ‘Jihad’, e a de todos os indianos seculares, que respeitam todas as fés».

A EMI Virgin indiana, com sede em Bombaim, atendeu aos protestos dos fundamentalistas católicos indianos recolhendo e destruindo todos os CDs.

12 de Outubro, 2006 lrodrigues

A Mãe de Deus

O dia 13 de Outubro é uma data de extrema importância para os católicos de todo o mundo.

De facto, foi no dia 13 de Outubro de 1917 que a mãe de Deus, ela própria, em pessoa, em directo e ao vivo, apareceu pela sexta vez aos três videntes de Fátima, tal como tinha anunciado que ia fazer no dia 13 de Maio desse mesmo ano.

Nesse dia 13 de Outubro, a Virgem Maria, decerto cansada que a tratassem por esse nome (ela lá saberá porquê), disse aos três videntes que queria passar a ser tratada por outro nome mais actualizado.
E disse-lhes então: eu sou a «Nossa Senhora do Rosário».
Segundo rezam as crónicas da época, os videntes não acharam estranho que a mãe de Deus se referisse a ela própria por «Nossa», em vez de «Vossa». Mas isso é um pormenor de somenos importância.

Já que estava ali sem fazer nada, a Vossa Senhora do Rosário aproveitou a oportunidade e resolveu anunciar que queria que no local das aparições fosse construída uma capela em sua honra.
E lá lhe fizeram a vontade, não fosse o Diabo tecê-las. Olá se fizeram!

Rezam ainda as crónicas da época que foi nesse dia que o Sol dançou no céu.
Embora não se conheça ninguém em concreto que tivesse presenciado este milagre, pois todas as pessoas que foram inquiridas individualmente negaram ter visto alguma coisa digna de nota, o que é facto é que para todos os efeitos o Sol dançou, e isso é o que interessa.

Mas o verdadeiro significado das aparições da Cova da Iria é outro completamente diferente e muito mais importante.
Vejamos então:

Um belo dia a mãe do Deus pai, do Deus filho e do Deus Espírito Santo, isto é, a mãe desta gente toda, resolveu vir ao planeta Terra transmitir uma mensagem aos humanos.
Andava preocupada com a gente, coitada.

E então, decerto persuadida da enorme importância desta divina mensagem, a santa progenitora escolheu como seus interlocutores nada menos do que três pastores analfabetos e meio atrasados mentais.
Ainda por cima as «sopas de cavalo cansado» não os tinham ajudado nada, coitados.

Nunca ninguém lhe perguntou a razão desta escolha. Mas da parte de quem gostava de aparecer às pessoas em cima das árvores, também nada é de estranhar.

Dado o inegável significado simbólico e atenta até a enorme relevância para a História da Humanidade, a mensagem foi de início considerada um segredo divino.
Só foi conhecida aos bochechos e depois de cuidadosamente dividida em três partes.

Na primeira parte, esta senhora «mais brilhante que o Sol» resolveu dedicar-se às banalidades. E lá entendeu dizer aos visionários que deviam rezar muito.
Sim, porque Deus gosta muito que lhe rezem. Faz-lhe bem ao ego, dizem.

Na segunda parte, resolveu dedicar-se às previsões e à futurologia. E lá entendeu por bem prever que a Guerra acabava nesse ano de 1917 e que os soldados portugueses já estariam de volta ao solo pátrio pelo Natal.
O pior foi que a I Guerra Mundial, a tal guerra de 1914-18 acabou, tal como o próprio nome indica, no ano de 1918.
Então não querem lá ver que a mãe de Deus se enganou, coitada?

Finalmente, a terceira e última parte a ser conhecida, aliás mais de meio século depois, fazia mais uma previsão. Desta vez de um atentado ao Papa.
O pior é que as previsões que são conhecidas depois dos acontecimentos que predizem ainda são piores que os prognósticos feitos no fim do jogo.

Ou seja, quer isto dizer que, nesta insigne e extraordinária mensagem transmitida aos Homens, a mãe de Deus numa parte fez um prognóstico no fim do jogo, noutra disse uma banalidade e na terceira, coitadita… enganou-se!

O que é facto é que ainda hoje me custa a entender por que raio terá a mãe de Deus resolvido um belo dia vir à Terra insultar desta maneira os católicos de todo o mundo…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

12 de Outubro, 2006 Ricardo Alves

Ortiga contra Policarpo

Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse ontem que o aborto «tem que ser também uma questão religiosa». O arcebispo de Braga da ICAR entrou assim em clara contradição com o cardeal-patriarca de Lisboa da mesma igreja, José Policarpo, que afirmara recentemente que o aborto «não é um problema religioso».

As divergências teológicas entre estas duas figuras reflectem-se nas questões operacionais: enquanto Policarpo, o anterior presidente da CEP, afirmou que «queria que fossem os leigos, os pais de família e os médicos a liderar a campanha do “não”», o actual presidente da mesma CEP garante que a ICAR «não se alheará» da campanha anti-escolha e pró-prisão, e não descarta a participação activa da sua seita e o exercício da manipulação religiosa, prometendo explicitamente que «[irá] alertar todos os cidadãos para que votem em consciência e de acordo com a sua fé».

Os dois homens que dirigem a mais importante organização autoritária de Portugal aparecem assim divididos entre a postura mais fundamentalista do bispo bracarense e a atitude mais cautelosa do bispo lisboeta…
12 de Outubro, 2006 Carlos Esperança

O Vaticano encerrou o Limbo

O Papa JP2, supersticioso e crente em Deus, acabou com o Inferno embora sem efeitos retroactivos. Ainda existia quando Cristo foi visitar a Irmã Lúcia e lhe deu uma bolsa de estudo para visitar o reino de Satanás onde, por coincidência, estava o Administrador do concelho de Ourém, que faltava à missa, resistia o incenso e não consumia água benta.

Agora o Papa Rätzinger acaba com o Limbo. Não há direito. Encerra o parqueamento que, por usucapião, estava reservado à minha descendência para toda a eternidade.

O Sapatinhos Vermelhos foi mais rápido a acabar com o estacionamento das almas que não sofreram a tortura do baptismo, aberto por Santo Agostinho no Século V, do que a reconhecer a teoria da Evolução das Espécies. Esta é ciência, o Limbo é um direito de superfície com prazo de validade sujeito ao poder discricionário do Papa.

A partir de agora, resta para os crentes o Céu. Não sei se o Paraíso arrendado pelo Papa tem virgens e rios de mel para oferecer aos utentes que pagam a taxa moderadora em orações e, sobretudo, em dinheiro. As virgens são inúteis e o mel faz mal às glicemias.

Com a alienação do Purgatório, Inferno e Limbo o património imobiliário celeste fica reduzido a uma courela para Deus jogar às cartas com o Filho, o Espírito Santo e o Papa enquanto S. José serve as bebidas e a Virgem Maria faz as lides da casa.

A pouco e pouco, vai o Céu ruindo e da imensa burla ficam os garridos paramentos com que a clericanalha ganhou a vida durante séculos.

Nota: O encerramento tinha sido previsto pela Palmira em «Os Vagabundos do Limbo».

12 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Ideologia neo-conservadora contra a ciência

Um artigo do astrofísico Rui Curado Silva simplesmente a não perder no Cinco Dias. Que apenas resume o que há anos vimos denunciando no Diário Ateísta. Um pequeno excerto:

«O novo livro de Richard Dawkins (autor de ‘O Gene Egoísta’) intitulado The God Delusion e a edição hors-série a lançar no próximo dia 8 da revista Ciel et Espace, L’Univers a-t-il besoin de Dieu, são duas respostas enérgicas de quem na comunidade científica já percebeu o carácter organizado e profundamente político da tentativa medieval de retorno ao criacionismo.

O padrão que encontramos nestes ataques à ciência encaixam perfeitamente nos mecanismos de controlo social da ideologia neo-conservadora: o controlo do indivíduo através de um moralismo religioso validado por fraudes científicas e o controlo do colectivo confinando o grosso do lucro e da produtividade a grupos empresariais fiéis à ideologia (industrias do petróleo, tabaco e sector alimentar). A tentativa de introdução do criacionismo nas escolas é um exemplo do primeiro mecanismo e o negacionismo do aquecimento global é um exemplo de tentativa de eliminação de obstáculos ao bom funcionamento do segundo. »

12 de Outubro, 2006 Palmira Silva

Outra guerra dos cartoons?

Um grupo intitulado «Defending Denmark» infiltrou a juventude do partido Danish People’s Party para «documentar as suas associações de extrema-direita». Uma dessas documentações foi um vídeo filmado no campo de Verão da juventude partidária e mostrava um concurso de «desenho» em que os jovens se entretiveram a desenhar cartoons de Maomé, entre outros cartoons alusivos ao terrorismo islâmico.

O filme foi colocado no Youtube (agora retirado) e depois transmitido em dois canais da televisão dinamarquesa.

O primeiro ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que os excertos do vído transmitidos o foram não para «provocar os muçulmanos mas sim para ilustrar o assunto».

Esta explicação não obstou a que o Irão e a Irmandade Muçulmana, mais uma vez confundindo as acções de alguns com uma posição oficial, reagissem contra o sucedido ululando que os cartoons são insultuosos ao Islão e um grupo militante em Gaza ameaçasse os dinamarqueses que se encontram na Palestina. Os governos iraniano e indonésio exigiram explicações aos respectivos embaixadores dinamarqueses. A maioria dos deputados iranianos pediu ao presidente Ahmadinejad para suspender as relações diplomáticas com a Dinamarca.

Ontem a embaixada da Dinamarca em Teerão foi atacada com cocktails molotov e encontra-se temporariamente encerrada.

O governo dinamarquês, entretanto, avisou os seus cidadãos para não visitarem alguns países muçulmanos e espera o conteúdo das orações de sexta-feira para ver se o incidente vai acender outra guerra dos cartoons.

O ministro dos negócios estrangeiros, Per Stig Moller, afirmou numa conferência de imprensa que:

«Nós vamos esperar pelas orações de sexta-feira (no mundo muçulmano) e se nada acontecer talvez este assunto seja ultrapassado».