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23 de Dezembro, 2006 lrodrigues

Algumas citações no Solstício de Inverno

«God? He doesn?t exist, the bastard!»
– Bertrand Russell

«Acreditar em Deus é desprezar todos os mistérios do mundo e todos os desafios à nossa inteligência. Simplesmente desliga-se a mente e diz-se: foi Deus que o fez».
– Carl Sagan

«A fé é a grande escapatória, a grande desculpa para se fugir à necessidade de pensar e avaliar as evidências. A fé é acreditar ?apesar de?, e até talvez precisamente ?por causa?, da falta de provas».
– Richard Dawkins

«Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas a fazer coisas boas e más pessoas a fazer coisas más. Mas para termos boas pessoas a fazer coisas más, para isso é preciso uma religião».
– Steven Weinberg

«Eu sou contra a religião porque ela nos ensina a contentarmo-nos com a nossa incompreensão do mundo»
– Richard Dawkins

«Eu não tento imaginar um Deus pessoal; para mim é suficiente contemplar em admiração a estrutura do mundo na medida em que os nossos inadequados sentidos nos permitirem apreciá-lo».
– Albert Einstein

«A ideia de Deus sempre me foi completamente estranha e parece-me até muito ingénua»
– Albert Einstein

«Talvez haja fadas no fundo do jardim. Não há provas disso, mas como também não podemos provar que não as há, deveremos então ser agnósticos no que respeita a fadas?».
– Richard Dawkins

«Se por Deus se entender um conjunto de leis da física que regem o Universo, então esse Deus claramente existe. Mas esse Deus é emocionalmente insatisfatório… não faz muito sentido rezar à lei da gravidade»
– Carl Sagan

«Penso que na discussão dos problemas da natureza deveríamos começar não pelas escrituras, mas antes pelas experiências e demonstrações».
– Galileo Galilei

«Penso que nenhuma forma de religião deveria ser ensinada nas escolas públicas»
– Thomas Edison

«A maior parte das pessoas pensa que é preciso Deus para explicar a existência do mundo e especialmente a existência da vida. Estão erradas, embora a educação que recebem não lhes permita aperceberem-se disso».
– Richard Dawkins

«Eu não acredito na imortalidade do homem; e considero que a ética é um conceito exclusivamente humano e não diz respeito nem depende de qualquer autoridade sobrenatural».
– Albert Einstein

«Se as pessoas são boas porque temem uma punição ou porque esperam uma recompensa, então somos todos, de facto, uma espécie lamentável».
– Albert Einstein

«Sempre que a moralidade se basear na teologia, sempre que a razão estiver dependente de uma autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser estabelecidas e justificadas»
– Ludwig Feuerbach

«Quando as pessoas não aprendem os instrumentos para julgarem por si próprias e seguem unicamente as suas esperanças, então estão semeadas as sementes para a sua manipulação política»
– Stephen Jay Gould

«Se foi algum espírito que criou o Universo, então foi um espírito muito malévolo».
– Quentin Smith

«Qualquer das grandes religiões da actualidade é, no sentido Darwiniano, uma vencedora da sua luta entre as culturas; de facto, nenhuma delas floresceu por tolerar as suas rivais».
– Edward O. Wilson.

«Podemos citar centenas de referências que demonstram que o Deus bíblico é um tirano sanguinário; mas basta alguém encontrar duas ou três passagens que digam que Deus é amor, para nos acusarem de fazer citações fora do contexto».
– Dan Barker

«Pensar que Deus vai acorrer em auxílio de alguém e vai violar as leis da natureza para o ajudar, é o cúmulo da arrogância»
– Dan Barker

«Acredito que muitas pessoas se afastam daquilo que está estabelecido como religião simplesmente pelas suas implicações morais e intelectuais»
– John Dewey

«É às religiões que se deve esta inédita disparidade entre o homem e a mulher»
– Taslima Nasrin

«Toda a concepção de Deus é derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a menosprezarem-se a si próprias e a dizerem que são miseráveis pecadores e tudo o mais, isso parece-me desprezível e indigno de criaturas humanas que se respeitem».
– Bertrand Russell

«A ideia de Deus é um conceito antropológico que eu não consigo levar a sério»
– Albert Einstein

«Eu não preciso do conceito de Deus para explicar o mundo em que vivo»
– Salman Rushdie

«Vocês acreditam num livro que fala de feiticeiros, bruxas, demónios, paus que se transformam em cobras, animais que falam, comida que cai do céu, pessoas que caminham sobre a água e toda a espécie de histórias mágicas absurdas e primitivas e depois vêm dizer que nós é que precisamos de ajuda?»
– Dan Barker

«O que eu fiz foi demonstrar que é possível determinar pelas leis da ciência o modo como o Universo começou. Neste caso, não é necessário apelar a Deus para explicar como começou o Universo. Se isto não prova que Deus não existe, pelo menos prova que Deus não é preciso para nada»
– Stephen Hawking

«Um assunção generalizada, e que a maior parte das pessoas da nossa sociedade aceitam, é que a fé religiosa é especialmente vulnerável à ofensa e deve ser protegida por uma parede de respeito incrivelmente espessa; um respeito tal, que é até diferente daquele que as pessoas devem umas às outras».
– Richard Dawkins

«Acusam-me repetidamente de blasfémia. Mas o que é facto é que eu não posso ser condenado por um crime contra uma vítima inexistente».
– Dan Barker

«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis»
– Thomas Jefferson

«Deus não passa de uma infame chantagem de medo, de um amesquinhamento ignóbil e indigno de quem tem um mínimo de respeito por si próprio, não é mais do que uma desculpa cobarde de quem não tem a coragem e a dignidade suficientes para olhar a morte de frente e para, antes, aproveitar e desfrutar em liberdade cada um dos momentos que a vida nos proporciona».
– LGR

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

23 de Dezembro, 2006 lrodrigues

Uma sugestão

O site noticioso israelita «Haaretz.com» relata que Miriam Shear, uma judia americana de visita a Israel, foi repetidamente agredida por um grupo de fanáticos judeus ultra-ortodoxos, simplesmente porque, quando viajava num autocarro em Jerusalém, se recusou a dar o seu lugar a um homem e a mudar-se para os bancos traseiros.

Foi no dia 1 de Dezembro de 1955 que Rosa Parks que viajava num autocarro em Montgomery, no estado norte-americano do Alabama, se recusou a levantar-se para dar o seu lugar a um passageiro de raça branca.
O seu posterior julgamento e condenação por «desobediência civil» despoletou o mais famoso movimento de resistência contra a segregação racial nos Estados Unidos, liderado por Martin Luther King, Jr.

Mais de 50 anos depois desta atitude incrivelmente corajosa de Rosa Parks, estão pelos vistos muito longe de, por esse mundo fora, terminarem estes abjectos comportamentos de segregação e discriminação e esta imbecil persistência na intolerância e no preconceito, sejam em razão da raça, da religião, do sexo ou até da orientação sexual.

Por isso, não posso deixar de me dirigir às deputadas Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda, da bancada do PS, que têm conseguido evitar o agendamento por parte da maioria parlamentar de que fazem parte de qualquer forma de solução legislativa que reconheça efectivamente os direitos dos homossexuais e possibilite o seu casamento, e a quem faço uma pequena sugestão:
– Que dêem um pulinho até Jerusalém, que façam uma viagem de autocarro e se sentem nos bancos da frente.
Talvez aprendam qualquer coisa!…

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

23 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O aborto no Mundo e as práticas actuais – III


Especialmente didáctico é o cálculo deste parâmetro – o número médio de IVGs efectuados por mulher – nos países da América latina onde, por pressões religiosas, o aborto é criminalizado. Embora a estimativa do número total de abortos nestes países, baseada no número de mulheres hospitalizadas ou mortas em consequência de um aborto clandestino, possa pecar por defeito, os valores calculados – referentes à década de 90 – falam por si. No gráfico estão representadas em dois tons de azul estimativas assentes em diferentes formas de cálculo da percentagem de mulheres que necessitam recorrer aos serviços de saúde após um aborto clandestino.

De acordo com os dados, nestes países onde a influência do catolicismo se traduz na criminalização do aborto – nalguns mesmo para salvar a vida da mulher* -, todas as mulheres realizarão em média entre 1 a 1,5 abortos ao longo da vida!

Isto é, nestes países em que o aborto é criminalizado, a taxa estimada de aborto por mulher, mesmo a mais conservadora – que assume que 67% das mulheres sujeitas a um aborto clandestino recorrem a um hospital público na sequência de complicações pós-aborto – é francamente superior, com as excepções já referidas por anormalmente altas, à que se verifica em países onde este é permitido!

*Recordo que na origem da actual lei que proibe qualquer tipo de aborto na Nicarágua mesmo em caso de perigo de vida da mulher, estão as pressões da Igreja católica. No rescaldo da mui mediática interrupção da gravidez de uma criança de 8 anos, grávida na sequência de violação, a Igreja, pela voz do bispo Abelardo Mata, declarou ser o aborto «um crime abominável mesmo quando disfarçado por atenuantes pseudo-humanitárias como aborto terapêutico».

O poder da Igreja Católica na Nicarágua, especialmente efectivo em tempo de eleições, resultou numa lei que é uma sentença de morte para muitas mulheres neste país. Jazmina del Carmen Bojorge, uma jovem de 18 anos que morreu devido a complicações de uma gravidez, foi apenas a primeira vítima desta tão católica lei!

23 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O aborto no Mundo e as práticas actuais – II


Um exercício igualmente didáctico que a consulta das estatísticas a nível mundial disponíveis permite efectuar, diz respeito ao número médio de IVGs efectuados por mulher, calculado multiplicando por 30 e dividindo por mil o número de abortos por mil mulheres em idade fértil (dos 15 aos 44 anos) realizados em países com estatísticas de confiança.

Ficaram de fora da análise países como o Vietname ou a Roménia, em que apenas há dados sobre as IVGs realizadas em organismos estatais, mas que mesmo apenas com estes dados apresentam valores muito altos, 2,5 e 2,34, respectivamente, que reflectem no primeiro caso o baixo grau de eficácia do método contraceptivo mais utilizado neste país, o DIU, e no segundo, assim como em quase todas as ex-repúblicas soviéticas, não só vestígios do conservadorismo comunista em relação a políticas de educação sexual como especialmente o difícil acesso a métodos contraceptivos.

De qualquer forma, este exercício permite-nos concluir que, excluindo Cuba – onde o embargo torna os contraceptivos mais fiáveis de difícil acesso – e as ex-Repúblicas soviéticas pelas razões apontadas, nos países ocidentais em média uma em cada duas mulheres realizará um aborto ao longo da vida. Mesmo nos países que apresentam as taxas mais baixas a nível mundial – Bélgica, Holanda, Alemanha e Suiça – quase 1 em cada 4 mulheres interromperá uma gravidez indesejada.

Isto é, o aborto não é uma questão residual como pretende Vasco Pulido Valente, o nosso fazedor de opinião recentemente transformado em cruzado na inexistente guerra ao Natal! O aborto é uma realidade que não podemos ignorar pretendendo que apenas fúteis e irresponsáveis mulheres a ele recorrem! Mesmo utilizando «religiosamente» os contraceptivos mais eficientes todas as mulheres fertéis têm uma probabilidade, calculada de forma conservadora, de pelo menos 1,5 gravidezes indesejadas!

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(continua)
23 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Finalmente… o alívio da morte

À semelhança de Ramón Sampedro, Piergiorgio Welby viu o seu desejo realizado. Repetiu três vezes a palavra «obrigado» antes de lhe desligarem a máquina que o mantinha agarrado ao sofrimento. Nos últimos meses negaram-lhe a caridade que reclamou, impuseram-lhe a agonia que não quis, obrigaram-no à tortura cujo fim implorava.

Os problemas da vida e da morte não são fáceis. Mexem com os nossos sentimentos e cultura. Podem tornar os doentes vulneráveis ao crime. Estão no limite de todas as emoções. Enfim, há um problema que a sociedade não pode continuar a ignorar, uma legislação que é preciso discutir, uma ponderação a fazer com a urbanidade e sensatez possíveis.

Que ninguém seja obrigado, algum dia, a prescindir de um segundo de vida, mas não deve alguém ser condenado a meses e anos de não-vida. A autodeterminação do indivíduo merece respeito. Não há o direito de ficar sadicamente a repetir que uma pessoa não é dona de si própria.

Se um dia me tocar a desgraça que atingiu Piergiorgio Welby quero ter junto de mim o anestesista Mario Riccio.

23 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

Notícias do Vaticano

1 – IGREJA VOLTA A CONDENAR VENDAS DE RELÍQUIAS DE JOÃO PAULO II

Comentário: É preciso evitar o comércio paralelo e excluir do negócio os ciganos;

2 – Abertas inscrições para a «Clericus Cup»

Comentário: É reservado a sacerdotes e seminaristas, não sendo as noviças autorizadas a assistir aos jogos;

3 – Vaticano reafirma castidade como melhor forma de evitar a SIDA

Comentário: A melhor forma de evitar os acidentes de automóvel é andar a pé.

4 – Vaticano defende arcebispo polaco, suspeito de espionar para comunistas

Comentário: a) Em termos de espionagem, os bispos têm contrato de exclusividade com o Papa; b) O cardeal Jozef Glemp espionava para a CIA e o seu sucessor, Stanislaw Wielgus, para o KGB, numa demonstração do pluralismo da ICAR

5 – Vaticano contra a eutanásia

Comentário: A ICAR quer que a última palavra seja a do patrão;

6 – Natal não celebra nenhum mito – diz B16

Comentário: É uma mera pantominice.

Post scriptum – Grécia: sete monges feridos em confrontos

Comentário: Os cristãos ortodoxos não são melhores.

22 de Dezembro, 2006 Ricardo Alves

A «guerra» continua, «Cristo» no meio da rua!

Ao separar os cadernos do Público hoje de manhã à mesa do café, o primeiro título que me chamou a atenção estava no caderno Local e noticiava que uma figura de «Cristo» fora roubada, pela segunda vez, do presépio que se encontra num jardim de Faro. A câmara municipal, preocupada com a correcção religiosa do presépio, teme que não consiga repor a dita figura até dia 24. Pensei imediatamente: porque será que o católico militante António Marujo não juntou esta estória verídica aos pseudo-factos que coligiu no domingo passado, no seu afã para inventar uma «guerra ao Natal» que nem nos países anglo-saxónicos é real?

Passei ao caderno principal, e descobri com pasmo que o Público dedicou as páginas dois e três à fantasmática «proibição do Natal», e que existem na edição de hoje deste jornal quatro artigos de opinião (incluindo o editorial) que se dedicam a combater denodadamente na «guerra pelo Natal». (Alguns deles retomam, como verdadeiros, pseudo-factos que a carta da Associação República e Laicidade ontem publicada refutara, numa demonstração do poder da «imprensa de referência» na criação de mitos urbanos.)

Dado que a Associação é referida em dois artigos de opinião de hoje (e no próprio conteúdo noticioso), haverá a resposta devida no local próprio. Por enquanto, deixarei apenas, e a título pessoal, algumas precisões.

Primeira: a insistência em usar o termo «proibição» sugere que houve um esforço estatal, através de legislação ou de regulamentos, para normatizar as situações referidas por António Marujo, e que em muitos casos (as «boas festas» que desejamos a outras pessoas, por exemplo) estão muito para além (felizmente!) dos poderes dos Estados democráticos. Seria conveniente, a bem da clareza da discussão, que se separasse o que é feito por livre iniciativa de indivíduos ou empresas, daquilo que corresponde a recomendações do Estado. Porque, e é isso que toda esta discussão demonstra, existe na Europa ocidental um movimento de secularização da sociedade (abandono da religião e das suas referências), que não é dirigido nem coordenado, mas ao qual terá que corresponder, cedo ou tarde, uma consentânea laicização do Estado (aprofundamento da neutralidade estatal em matéria religiosa, e do igual tratamento dos cidadãos). Por muito que custe aos conservadores, a queda na frequência das igrejas não é um fenómeno passageiro e terá necessariamente consequências (algumas das quais, perfeitamente espontâneas).

Segunda precisão: os laicistas portugueses não têm, nunca tiveram, um discurso de defesa do «direito à diferença», pois temem, fundadamente, que descambe na diferença de direitos. Os laicistas defendem a igualdade de direitos de todos os cidadãos, quer sigam a religião que foi maioritária, quer sejam de uma religião minoritária ou quer não tenham religião de todo.

Terceira: faço um apelo a que se deixe de usar expressões como «bem-pensante» ou «politicamente correcto» com sentido pejorativo. Pensar bem não é mau (penso eu… «bem» ou «mal»?), e cada um de nós defende aquilo que considera ética, social ou politicamente correcto, e combate ou denuncia o que considera incorrecto. Já vai sendo tempo de contar a verdade às crianças: o movimento «politicamente correcto» é uma lenda urbana, nunca existiu, pelo menos em Portugal.

Finalmente, e quanto ao fundo da questão: qualquer «fascista por Cristo» que me queira obrigar a desejar «um santo natal» em vez de «boas festas» estará a exigir-me uma hipocrisia que recuso, e a interferir com a minha liberdade de expressão. Se há empresas que fazem essas exigências, provavelmente também as haverá que façam o contrário, e quem não gostar pode boicotá-las em conformidade. O que me importa discutir é o facto, real, de que na escola pública portuguesa existem tentativas recorrentes e documentadas de impôr a religião a crianças cujos pais têm o direito, inalienável, a que sejam educadas sem religião (tentativas que chegam a incluir «comunhões pascais» em horário lectivo e sem autorização dos encarregados de educação). Nessa esfera estatal, qualquer abuso é e será combatido pelos laicistas portugueses (já dentro de casa e dos templos, cada um faz o que quiser e que os seus aceitem). Quanto aos presépios que se encontram nas repartições públicas e nas praças, a verdade é que estão no meio da rua. E se põem a religião no meio da rua, não se queixem da chuva, do vento e das reacções de quem passa.
22 de Dezembro, 2006 Carlos Esperança

A cruzada do Público. Carta ao Director

O Público de hoje parece ter sido escrito pela Conferência Episcopal. Do «Editorial» à estimável crónica de Vasco Pulido Valente, de Constança Cunha e Sá a António Marujo, é um mar de água benta, em prosa, com cheiro a incenso.

Fracassado o proselitismo evangélico de Bush, aparece agora, numa aparente coincidência, uma onda de proselitismo católico a rivalizar com a demente missionação do mundo islâmico.

Quando o sectarismo religioso está na origem de confrontos sangrentos e actos de terrorismo, mandava o bom-senso que o aprofundamento da laicidade do Estado e a sua defesa pela comunicação social dos países democráticos, servissem de vacina à insensata tentativa de submissão a uma verdade única, a livros únicos da fé e às imposições do clero.

Portugal, que não teve Reforma, partilhou com a Espanha o entusiasmo na violência da Contra-Reforma. O Público de hoje parece a voz da Igreja católica, saída das paróquias rurais, num ataque ao laicismo e na defesa descabelada do que não esteve nem está em risco – a comemoração do Natal cristão.

Pelo contrário, é a laicidade do Estado que tem sido posta em causa, não faltando bispos nas inaugurações, nomes de santos na toponímia, autarcas de joelhos, ministros de cócoras e o primeiro-ministro a benzer-se.

Basta lembrar a tragédia das teocracias para haver contenção na promiscuidade entre as Igrejas que se julgam maioritárias e os Governos que capitulam perante o incenso e a água benta. A neutralidade do Estado é uma condição indispensável à liberdade religiosa que a todos cabe respeitar e defender.

Dos EUA à Arábia Saudita, da Polónia ao Irão, sabemos o mal que a subordinação do Estado aos interesses confessionais tem provocado. É por isso que o Público, de hoje, me surpreende e entristece.

22 de Dezembro, 2006 Palmira Silva

O aborto no Mundo e as práticas actuais


Um dos papões agitados pelos pró-penalização consiste num lamento, insustentado em factos, de que se a IVG for despenalizada em Portugal o número de gravidezes interrompidas dispara e as mulheres abortarão pelas mais fúteis razões. A não ser que todos tenham lido este artigo da Onion e tomado uma sátira pela realidade, este espantalho não abona muito da opinião sobre a mulher dos pró-penalização, que concordam com o aborto por opção médica mas fantasiam sobre a calamidade moral que será «conceder» à mulher o direito de decisão sobre uma IVG!

Na realidade, os dados disponibilizados por uma série de organismos, incluindo a ONU, indicam que se uma mulher considera não ter condições para levar a termo uma gravidez a interrompe. Legalmente e em segurança nos países onde tal é permitido, em condições muitas vezes desumanas e atentórias da dignidade, saúde e vida da mulher, nos países onde o peso político da religião se traduz na criminalização de «pecados».

Isto é, a criminalização do aborto não é impedimento para que este se realize! Para além de acesso a contraceptivos fiáveis e a educação sexual, o único outro parâmetro que parece influenciar o número de abortos realizados a nível mundial é a segurança no emprego e a segurança económica.

Assim, os Estados Unidos sob Bush, o grande cruzado pela «vida» e paladino de óvulos, espermatozóides e células estaminais, viram reverter drasticamente a tendência de diminuição do número total de abortos – menos 17.4% nos anos 90 atingindo um mínimo histórico no final da década de 90. De facto, os dados estatísticos disponíveis indicam um aumento do número de abortos nos Estados Unidos, mais 52 000 em 2002 do que seria expectável e um aumento ainda maior nos anos seguintes!

De qualquer forma, e porque o exercício é didáctico, resolvi investigar as estatísticas disponíveis a nível mundial sobre a evolução do número de abortos nos países em que este foi legalizado. O gráfico com que se inicia o post é ilustrativo do que encontrei! Não se vê qualquer tendência para a subida do número de abortos nos países escandinavos e na República Checa há uma diminuição drástica para cerca de um quarto do número de abortos praticados no ínicio da década de 90 e para um quinto se nos reportarmos à década de 80 – o que reflecte uma melhor educação sexual e um mais fácil acesso a contraceptivos.

De igual forma, o espantalho nove semanas e meia não tem razão de ser! Na realidade, tal como em França, a esmagadora maioria dos abortos são realizados antes das nove semanas nos países para que encontrei estatísticas discriminadas, sendo os poucos abortos tardios realizados por razões médicas – as mesmas que já estão contempladas na nossa lei actual!

Uma das razões para que as IVGs sejam realizadas cada vez mais cedo é o recurso a fármacos, mifepristone (a pílula RU-486) e outros, que são utilizados na maioria das intervenções realizadas nos países onde foram introduzidos – em 2005, 51% na Suécia, 52% na Noruega, 53% na Finlândia, na República Checa o procedimento não é ainda autorizado – que podem ser apenas utilizados no máximo até às 9 semanas e preferencialmente até às 7 semanas.

Por exemplo na Noruega, mais de metade dos aborto realizam-se antes das 7 semanas – e 71,5 e 82,5% antes das 8 e 9 semanas, respectivamente-, como se pode apreciar no gráfico seguinte. O aborto na Noruega é permitido por opção da mulher até às 12 semanas, depois deste limite é apenas permitido por decisão médica.Este exercício permite concluir que a despenalização do aborto não só permite intervenções mais cedo, sobre embriões e não fetos, como normalmente conduz a uma diminuição da taxa de aborto – já que o sistema de saúde em causa tem acesso e pode esclarecer as mulheres que abortam sobre métodos contraceptivos. Mas principalmente permite que as mulheres o possam realizar em condições de segurança, sem riscos para a sáude ou mesmo para a vida, e sem o trauma psicológico de terem de recorrer a um sub-mundo marginal, arriscando-se ainda a humilhação na praça pública e devassa da sua vida íntima!

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