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8 de Junho, 2007 Carlos Esperança

O bispo e a condecoração

Quando amanhã o bispo Manuel Martins estender o pescoço ao laço da venera, não é o cidadão, aliás probo, que é premiado, é o primeiro chefe da delegação do Vaticano na cidade de Setúbal que vai ser condecorado.

Se o Presidente da República decide outorgar a grã cruz da Ordem de Cristo a um bispo católico, cria a obrigação de impor o grande minarete da Ordem de Maomé ao Sheik David Munir e a grã estrela de David da Ordem de Jeová ao rabino da sinagoga de Lisboa, Boaz Pash. E, no mínimo, deve convidar para um chá em Belém o Sr. Edir Macedo, bispo da IURD, com as respectivas esposas.

Se não existem ainda tais veneras é altura de as criar por razões ecuménicas e de não discriminação religiosa, embora fosse melhor, por razões de salubridade, a separação entre o Estado e a Igreja dominadora, como aconselha a laicidade do Estado.

O PR tem o direito de condecorar quem entender, sem perda da consideração e respeito que lhe são devidos, mas discordo da vassalagem da República a qualquer religião ainda que o clérigo, como é o caso, mereça a minha simpatia.

É provável que a condecoração do bispo seja levada em conta no tribunal divino onde os crentes são julgados, motivo que os leva a cuidar da vida eterna.

Mas o Presidente da República não pode confundir a representação pública do Estado, que exerce ao mais alto nível, com a louvável preocupação com o destino da alma que não passa de mero interesse privado.

8 de Junho, 2007 Ricardo Alves

Pensamento religioso: o sentido proibido como modo de funcionar

O verdadeiro símbolo do pensamento religioso é o sinal de sentido proibido. Porquê? Porque o que realmente caracteriza um pensamento genuinamente religioso é a paragem no desenvolvimento normal do raciocínio, o estacar perante uma conclusão incómoda, ou até o voltar para trás com medo daquilo que está à frente.

Muitas pessoas pensam que aquilo que caracteriza o pensamento religioso é dar respostas erradas para algumas das interrogações realmente interessantes do universo. Mas o que caracteriza o pensamento religioso é o assassinar cada uma dessas perguntas com uma proibição. Enquanto o pensamento científico consiste exactamente em aceitar rever as nossas ideias de forma a adaptá-las à realidade verificável ou ao que for logicamente plausível, a religião é o exacto contrário: não rever; não verificar; não aprofundar; não questionar.

Deveríamos definir religião, em sentido lato, como qualquer modo de pensar em que todas as contradições e perguntas interessantes são bloqueadas com um sinal de proibido. Exemplo: «Cristo ressuscitou». O mais relevante seria saber como, mas o pensamento religioso não explica como. Diz que é «dogma» ou «mistério», e passa à frente ignorando tudo o que importaria realmente saber. A origem do universo? Foi «Deus». Enquanto nome que se dá arbitrariamente ao que se quiser, funciona superficialmente. Mas o problema é que explicar algo respondendo «Deus» não é uma resposta. É uma paragem forçada na marcha do raciocínio.

A religião alimenta-se tanto da ignorância sobre as respostas correctas, como do medo das consequências de colocar perguntas ou de dar respostas imprevistas. A proibição reconforta: é mais fácil parar do que andar, resolver a angústia da morte com uma esperança falsa, não estudar e não corrigir as próprias ideias, não mudar de ideias.

Esqueçam as cruzes (com ou sem «Cristo»), os crescentes e as menorás. No fundo, «Deus» é um grandessíssimo sinal de sentido proibido.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
8 de Junho, 2007 Helder Sanches

One Nation Under God (2)


anteriormente escrevi sobre a forma como a sociedade norte-americana encara o fenómeno religioso. Faço-o novamente e, sem surpresas, para vos dar a conhecer os resultados de mais uma sondagem levada a cabo pela Gallup.

Digo sem surpresas porque no que respeita a assuntos religiosos já me habituei a esperar as maiores aberrações dos sobrinhos do Uncle Sam. Desta vez ficamos a saber que 1 em cada 3 americanos acredita que “a Bíblia é totalmente exacta e deve ser interpretada literalmente palavra por palavra”! Três quartos dos americanos acreditam que “a Bíblia é a palavra de deus ou por ela inspirada”! Apenas 19% consideram a Bíblia um livro de antigas fábulas, histórias e preconceitos morais registados pelo Homem.

Como já vem sendo hábito, nos estados do sul os números são ainda mais radicais. Como também já vem sendo hábito, quanto maior é o grau de escolaridade menos fundamentalistas são os resultados.

Destaco o último parágrafo da notícia no Washington Times: as vendas anuais da Bíblia ascendem a 609 milhões de dólares por ano! Afinal, porque é que ainda há fome no mundo?

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

8 de Junho, 2007 jvasco

Ateísmo na Blogosfera

  1. «Imaginemos que não há bombistas suicidas, que não houve 11 de Setembro, nem 7 de Julho, que não houve cruzadas nem caça às bruxas, que não existe guerra na Caxemira nem existe qualquer conflito entre a Índia e o Paquistão, que não há guerra entre israelitas e palestinianos, que não houve massacres sérvios/croatas/muçulmanos, ou que não há qualquer “problema” na Irlanda do Norte.
    Imaginemos que nunca houve talibans a destruir estátuas centenárias, que não se chicoteiam mulheres por mostrarem uns centímetros de pele, que não se decapitam blasfemos ou apóstatas em público.

    Imaginemos que nunca houve perseguições a judeus, e até que nem há já judeus de sobra para perseguir, porque, sem a sua religião, há muito que os judeus se tinham integrado nas populações dos países em que vivem.»Imagine», no Random Precision)

  2. «Eu me considero ateu por não admitir possibilidades de deus existir, e não deixo de ser cético por isso, pois dentre as possibilidades que conheço não vejo lógica mas estou aberto a discussão e ao diálogo sobre o conceito de deus e sobre a sua suposta existência.»É o agnosticismo uma fuga?», no Filosofia Ateísta)
  3. «[…] filósofos que mais admiro pela qualidade de seus textos acerca do ateísmo um deles é Sartre, em que sua obra O Ser e o Nada demonstra a existência como sendo validada por si própria e fala da ma-fé que a crença em deus e na religião trazem ao anular a responsabilidade do homem. Outro filósofo é Feuerbach, que era teólogo e se aprofundou na antropologia e explicou como o homem faz a projeção do que há de melhor em si neste ser imaginário que é deus. E afirma que o amadurecimento do homem se dá com a perca da infantilidade de fazer essa projeção.»Deus não existe», no Filosofia Ateísta)
7 de Junho, 2007 fburnay

Pastor Tom Honey

Descobri no Youtube o vídeo da Ted talk, que já havia referido, em que o pastor Tom Honey coloca a questão sobre como Deus permitiu o tsunami. Aqui fica para quem quiser ver.

7 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Hoje há procissão

A Procissão Eucarística na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo sai à rua em numerosas localidades. Numa padiola viajará um Cristo fúnebre e infeliz, com ar de quem regressa ao quarto, de castigo, para fazer companhia a S. Sebastião furado de setas e à Maria Madalena de cabelos compridos, oferecidos por uma devota que nunca lavava a cabeça.

Antigamente ainda acompanhavam o andor anjinhos de asas derrubadas que chegavam ao fim da procissão, em dias de chuva, com as alvas túnicas mais sujas do que as calças de um pintor da construção civil. As mães vigiavam a compostura das criancinhas e a banda da música enganava-se na partitura.

Hoje é um ritual sem graça que se aguenta por hábito. Os devotos profissionais enchem as ruas para os turistas tirarem fotografias e o bispo arejar a mitra e exibir a custódia sob o pálio que uns mancebos seguram com ar de enfado.

Quando a GNR manda soldados a cavalo aumenta o folclore e a ofensa à laicidade do Estado. Os cavalos defecam nas ruas por onde passam.

Alguns presidentes da Câmara, confundindo as devoções particulares com os deveres oficiais, aproveitam a boleia do pálio e a companhia do clero com o mesmo ar com que os cavalos transportam os soldados com dragonas.

As procissões são restos de um mundo que se transformou, encenações de uma liturgia que deixou de ser levada a sério.

6 de Junho, 2007 Ricardo Alves

Há 100 anos, em Portugal, ia-se para a prisão por escrever sobre religião

No Almanaque Republicano:

  • «1906 [Dia 29 de Maio] – O professor Carlos Cruz, secretário da Associação do Registo Civil sai da cadeia, indultado pelo governo de João Franco. Este cidadão encontrava-se preso por ofensas à religião e tinha sido condenado a vinte meses de cadeia

Conforme já referido pelo mesmo Almanaque Republicano (noutra nota), o livre pensador Carlos Cruz cumpriu setenta e oito dias de prisão por ter criticado publicamente, por escrito, o «Dogma da Imaculada Concepção de Maria» (segundo o qual os avós do JC não cometeram «pecado» – seja lá isso o que for – ao conceberem a mãe do próprio JC, a qual mais tarde teria engravidado sem sexo, etc.).

Os clericais tentam-nos convencer dia-sim/dia-sim de que os republicanos tentaram implantar em Portugal um regime de ateísmo de Estado horrorosamente repressivo. É necessário recordar-lhes continuamente que a liberdade em matéria religiosa não serve apenas para afirmar dogmas; também existe para criticar esses dogmas. E, como se vê, não é necessário recuar até à inquisição para encontrar casos de perseguições a livre pensadores. Pelo contrário, não conheço um único caso de um católico preso durante a «pavorosa» República por afirmar este ou outro qualquer dogma católico em público…

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

6 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Corpus Christi

O corpo de Cristo, carcomido pelo tempo e pelos vermes, foi desprezado até ao Século XIII, altura em que o departamento de marketing resolveu aproveitá-lo para uma festa anual a ter lugar na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade, seja lá isso o que for.

O Papa Urbano IV foi o inventor da festa que realça a presença real do «Cristo todo» na hóstia. E quem não acreditar que naquela rodela está o corpo e o sangue do fundador da seita, é um herege.

Claro que causa alguma perplexidade que um corpo que subiu ao Céu, desça à hóstia em cada consagração e se meta na língua dos devotos, sem se saber qual a parte anatómica que pode calhar ao mais pudico dos crentes.

A primeira procissão temática teve origem em 1230 de acordo com visões de uma freira que as comunicou ao cónego que viria a ser o Papa Urbano IV.

Essas visões da freira exigiam uma festa da Eucaristia, à semelhança das visões da Irmã Lúcia que, menos de cinco séculos depois, obrigavam ao terço para conversão da Rússia e apaziguamento do «Nosso Senhor» que andava muito zangado e com humor lábil.

Esta festa da ICAR é festa «de preceito», isto é, uma festa que obriga todos os católicos a assistirem à missa. Assim, quem trocar a liturgia pela praia comete um pecado mortal e arrisca as perpétuas penas do Inferno onde o azeite fervente e o cheiro a enxofre eram os castigos certos antes de JP2 ter abolido o Inferno.

Na dúvida, católicos romanos, amanhã não faltem à missa nem à «Procissão Eucarística na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo». Até o nome é uma delícia.

Ateu que vos avisa, vosso amigo é.

5 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Os homens nascem ateus

Os homens nascem ateus mas há bandos de avençados do divino à espera de lactentes para os iniciarem nos rituais cabalísticos que os tornam pertença da religião professada e não mais os abandonam.

O parto é profano mas não tarda que a criança se transforme em neófito, aspergido pela água benta e submetido a um ritual litúrgico com a conivência dos progenitores. Depois desse ritual outros vêm numa sequência que mantém as vítimas presas aos carcereiros.

O baptismo é o averbamento místico na Conservatória do Registo Religioso do Deus que tem o registo predial do local de nascimento.

Assim, em Portugal o Deus é normalmente o do Papa, seja qual for o Papa e tenha ele o entendimento que tiver do Deus que na altura for mais apelativo à perpetuação da fé.

As crianças nascem ímpias mas não tardam a mudar a fralda com conteúdo cristão.

É este proselitismo que faz dos inocentes, crentes, e, destes, prosélitos ensinados a odiar os que não amam o Deus deles e não se conformam com os seus dogmas.

No negócio da fé há uma geografia cujas fronteiras todos os fanáticos querem alterar como, outrora, nas aldeias se mudavam os marcos às propriedades.

É preciso amansar os ímpetos prosélitos dos que não se contentam em transmitir os seus dogmas aos sócios e usam o terrorismo para os imporem aos crentes de outras religiões e aos descrentes de todas elas.

O remédio encontra-se no aprofundamento da laicidade do Estado.