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12 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

Abraão, ou a obediência

No primeiro livro da Bíblia, Abraão recebe ordem de «Deus» (dito, significativamente, «o Senhor») para matar o seu filho Isaac. Abraão não estranha a ordem e nem sequer hesita: pega no seu único filho e leva-o para o altar dos sacrifícios. Pelo caminho, Isaac (cuja idade desconhecemos mas que é suficientemente crescido para falar), pergunta ao seu pai que animal sacrificarão em holocausto. Abraão responde que «Deus proverá quanto à vítima para o holocausto, meu filho». Chegados ao altar, Abraão dispõe a lenha, ata o filho, e já ergue o cutelo no ar para lhe cortar a garganta quando recebe ordem divina para parar. Era apenas um teste, e pela sua obediência é recompensado pelo «Senhor» com a promessa de uma descendência numerosa. Registe-se que o Isaac deste episódio nascera pouco depois de uma «aliança» entre o «Senhor» e o obediente Abraão, na qual Abraão prometera cortar o prepúcio a todas as crianças do sexo masculino suas descendentes a troco de algumas terras do Médio Oriente.

O episódio do sacrifício de Isaac tem um sentido evidente: o «Senhor» («Deus») recompensa a obediência imediata e incondicional, e a disponibilidade para matar os próprios filhos. Não é demais sublinhar este último aspecto. A evolução dotou o animal humano de sentimentos de afecto pelos filhos. Matar a própria descendência é destruir a sua própria herança genética e perder também um enorme investimento em alimentos, aquecimento e educação. A disponibilidade de Abraão indica-nos o ponto na história da humanidade em que a cultura começou a combater a natureza humana, ou seja, o momento em que surgiram instituições suficientemente poderosas para tentarem convencer os seres humanos de que poderiam ter algo a ganhar na obediência acrítica e ilimitada à autoridade. Evidentemente, a aliança celebrada nesse momento não é entre os homens e um «Senhor» que não dá ordens porque não existe. A aliança é entre a religião e o Estado centralizado e autoritário: a religião convence os homens de que devem obedecer à autoridade estatal; o Estado protege a religião e os seus sacerdotes.

A religião que celebra esta aliança propõe um «Deus» sem obrigações éticas ou morais, pois pode mandar os seus seguidores matar os próprios filhos. O Estado que aceita esta aliança saberá utilizar este ideal de obediência bovina, para proveito seu e da religião abraâmica, durante séculos. Existe forma melhor de se convencer os pais (e as mães) a enviar os seus filhos para a morte quase certa numa guerra perdida à partida, do que convencê-los de que há uma vida eterna?

As religiões abraâmicas começaram a ser desafiadas na Europa e em toda a bacia mediterrânica no século 18, o momento em que se disse claramente pela primeira vez que as autoridades tradicionais podiam e deviam ser questionadas, que nenhuma autoridade se podia arrogar um poder acima dos homens (ou das mulheres), e que cada indivíduo era soberano de si próprio. No entanto, o princípio abraâmico sobrevive. Foi útil no século 20 a todos os que quiseram sacrificar o indivíduo ao colectivo, o presente ao futuro, a liberdade individual à autoridade estatal. O princípio abraâmico sobrevive hoje nas religiões que dele saíram (judaica, cristã e islâmica), e que continuam a homenagear Abraão e a sua prontidão para matar o próprio filho ao primeiro resmungo (capricho?) divino. A mutilação sexual que simboliza a «aliança» entre Abraão e o «Senhor» é praticada, até hoje, em todos as crianças que têm o azar de nascerem de pais judeus ou muçulmanos. É a obediência de Abraão que os muçulmanos homenageiam na sua peregrinação a Meca. E entre os cristãos, o homicida Abraão é elogiado por Paulo de Tarso, o verdadeiro fundador da seita. Existe mesmo em Portugal um Fórum Abraâmico que não se envergonha de ostentar o nome do obediente e entusiasta candidato a infanticida.

Em pleno século 21, felizmente são cada vez mais os que rejeitam o ideal de obediência abraâmico e preferem a sua liberdade enquanto indivíduos sem «Senhor».

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

11 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

Sinais dos tempos

O ditador vitalício admoestou aqueles homens com ar grave a quem o fumo das velas e as genuflexões tiraram o sorriso e consumiram as vidas.

Ver os bispos portugueses ansiosos por aplaudir o supremo e infalível ditador antes de serem chamados a capítulo, como os pais obsoletos fazem aos garotos, foi uma visão deslumbrante de quanto pode a subserviência da fé e o medo do tirano.

Um bispo que não é capaz de reagir ao insulto do Papa não merece respeito dos que acreditam na existência do seu Deus. Quando um homem perde o respeito por si próprio não merece que lhe respeitem o Deus de que se alimenta. A atitude papal merecia que os bispos portugueses nunca mais pusessem os pés no antro do Vaticano. Mas, daqui a cinco anos, voltam lá. A pôr os pés. Todos.

11 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

Factos & documentos. A ICAR e o nazismo

Há tempos traduzi alguns trechos do «Traité d´athéologie», de Michel Onfray, 2005 – Ed. Grasset (pg. 221/22) já publicados no Diário Ateísta.

Face à urticária que a verdade provoca nos católicos, aqui se repetem os factos:

«Do nascimento do nacional-socialismo à cobertura dos criminosos de guerra do III Reich, depois da queda do regime, ao silêncio da Igreja desde sempre, e mesmo hoje – ver a impossibilidade de consultar os arquivos sobre este assunto no Vaticano -, o património de S. Pedro, o herdeiro de Cristo, foi também o de Adolfo Hitler e dos seus nazis, fascistas franceses, colaboracionistas, vichystas, milicianos e outros criminosos de guerra.

Eis os factos: A ICAR aprova o rearmamento da Alemanha, indo contra o tratado de Versalhes (…); a ICAR assina uma concordata com Adolfo Hitler após a chegada do chanceler ao poder em 1933: a ICAR silencia o boicote aos comerciantes judeus, cala-se na proclamação das leis raciais de Nuremberga em 1935, guarda silêncio após a Noite de cristal em 1938; a ICAR fornece o seu ficheiro de arquivos genealógicos aos nazis que sabem a partir daí quem é cristão, portanto não judeu; a ICAR reivindica, no entanto, o «segredo pastoral» para não comunicar o nome dos judeus convertidos ao cristianismo ou casados com cônjuge cristão; a ICAR sustenta, defende, apoia o regime pró-nazi de Ante Palevic na Croácia; a ICAR dá a sua absolvição ao regime colaboracionista de Vichy a partir de 1940; a ICAR, ao corrente da empenhada política de exterminação desde 1942, não condena, nem em privado, nem em público, jamais ordena a algum padre ou bispo que condene o regime criminoso perante os fiéis.

As forças aliadas libertam a Europa e descobrem Auschwitz. Que faz o Vaticano? Continua a apoiar o regime derrotado: a ICAR, na pessoa do cardeal Bertram, ordena uma missa de Requiem à memória de Adolfo Hitler; a ICAR fica em silêncio e não manifesta reprovação pela descoberta de pilhas de ossos, câmaras de gás e campos de exterminação; A ICAR, pelo contrário, organiza para os nazis sem Führer o que nunca tinha feito por qualquer judeu ou vítima do nacional-socialismo: organiza a fuga dos criminosos de guerra para fora da Europa; a ICAR utiliza o Vaticano, dispensa papéis com vistos, activa uma rede de mosteiros europeus como esconderijos para assegurar a segurança dos dignitários do Reich desmoronado; a ICAR nomeia para a sua hierarquia pessoas que ocuparam funções importantes no regime hitleriano; a ICAR jamais lamentará – enquanto oficialmente não reconhecerá nada disso».

Estes factos merecem penitência e algum pudor na defesa da ICAR.

10 de Novembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Somos todos o anticristo


Talvez a maior das paranóias monoteístas seja o mundo a preto a branco, o que não é branco é preto e o que não é preto é branco, dois rótulos surgem para classificar todas as diversas existências Humanas, fiel e infiel talvez os mais recorrentes. No cristianismo surge outro interessante raciocínio a preto e branco, quem não é cristão é o anticristo, a mais incrível exultação de parvoíce teológica, ou simples estupidez arrogante. O João, co-autor da antologia conhecida por Bíblia diz o seguinte, “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho.”. Seguindo a lógica do pensamento cristão pode-se estipular que, segundo o estudo divulgado em 2000 pela Agência americana Mission Frontiers, no Mundo existem 2/3 de anticristos e 1/3 de cristãos. Daqui se pode deduzir que o anticristianismo é a maior religião mundial.

Mas continuando a lógica nos mesmos moldes podemos assumir que os católicos são anticristos, pois Pedro, um anticristo e fundador da seita católica romana foi crucificado de pernas para o ar, o oposto à crucificação de Cristo, devidamente eternizada no quadro de Filippino Lippi, “A crucificação de Pedro”, ou no de Michelangelo, “Crucificação de São Pedro”.

Ficam por definir os cristianismos não-católicos, que realmente não são cristianismos segundo o sucessor do anticristo Pedro, Ratzinger, “Cristo constituiu sobre a terra uma única Igreja e instituiu-a como grupo visível e comunidade espiritual, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá.” dizia o documento católico “Repostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja” de Julho de 2007. Ratzinger é infalível, faz parte dos genes herdados dos seus antecessores, uma infalibilidade perfeita baseada no conceito da antítese, os papas nunca se enganam, ou seja, os cristianismos não-católicos não são cristianismos sequer.

Toda as pessoas que habitam o planeta Terra são o anticristo e a anticrista.

Ámen.

Links úteis:
BBC: Vaticano define Igreja Católica como ‘única de Cristo’
Religious Tolerance: Religions of the World
Wikipédia: Filippino Lippi

Também publicado em LiVerdades

10 de Novembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

Feminismo anticlerical islâmico

Uma apresentadora da televisão Saudi TV, Buthayna Nasser, enfrenta corajosamente as demências de uma sotaina islâmica, expondo um livre pensamento e expressão sublimes perante o fascismo islâmico da Arábia Saudita. Incrível a comparação entre a total vacuidade intelectual emanada pelo clérigo e a riqueza de pensamento, raciocínio e beleza de Nasser.

Também publicado em: LiVerdades

10 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

A canonização de Nuno Álvares Pereira

Não cuido de saber se Nuno Álvares traiu ou não os códigos de honra da nobreza ao assumir o lado da barricada onde se destacou; não emito juízos de valor sobre os bens que exigiu para se colocar ao lado do Mestre de Avis; não julgo à luz dos critérios de hoje as decisões de D. Nuno, na Idade Média.

Custa-me ver o herói, que inflamou gerações, acabar como santo. Enquanto a Espanha impava de fé jamais o Vaticano se atreveu a fazer-lhe a ofensa de canonizar o algoz de castelhanos e a humilhação imposta, apesar do empenhamento do salazarismo e do seu braço pio – o episcopado católico -, em elevá-lo aos altares.

Mas, à medida que a fé se liquefaz numa Espanha rica, culta e poderosa, a canonização do guerreiro português é uma gota de água no mar de santidade ibérica onde um milhar de beatos foi dispensado de milagres em troca do martírio. Não se adivinha qualquer protesto do Governo espanhol, pouco dado a milagres, nem do clero, mais inquieto com o fim do ensino obrigatório da disciplina de Religião católica nas escolas públicas.

O direito canónico dispensa de milagres os bem-aventurados que sejam reconhecidos como santos, pelo povo, há mais de duzentos anos. Não se vê para que se exige um milagre, sempre sujeito ao crivo da dúvida e à galhofa dos incrédulos.

Sei que as minhas tias-avós, casadas em Espanha, ameaçavam os filhos com D. Nuno quando recusavam a sopa e os resultados épicos da ameaça ainda hoje são recordados pelos últimos sobreviventes. Como duvidar de tanta santidade?

É certo que não matou mouros nem judeus e eram católicos os que mais cedo chegaram ao Paraíso nas batalhas dos Atoleiros e de Aljubarrota mas adivinha-se o que faria se os andaluzes, que ainda eram moiros, lhe tivessem saído ao caminho, vindos de Granada.

9 de Novembro, 2007 Ricardo Silvestre

e agora, um momento desportivo

Este é um artigo baseado num texto que saiu no sítio Slate.

entre [ ] estão comentários meus.

«Deus parece que está cada vez mais interessado em desporto profissional. Mais interessado do que alguns dos fazedores de apostas desportivas em Las Vegas.

Algumas semanas antes do SuperBowl [final do campeonato americano de Futebol Americano] o melhor jogador da equipa de St Louis, Kurt Warner, um cristão devoto, declarava «o Senhor tem alguma coisa especial preparado para a nossa equipa». Também na mesma equipa, Issac Bruce, que afirmou que por gritar o nome «Jesus» não se magoou seriamente num acidente de carro, descreveu a recepção da bola que acabou por ser a jogada vencedora «Não fui eu. Foi exclusivamente Deus, eu só tive de fazer um pequeno ajustamento e Deus fez o resto» [o que leva a pensar que deus pode ser considerado como doping, uma ajuda extra fora das regras do jogo].

Um antigo jogador da equipa de Green Bay [ainda futebol Americano] Reggie White, um dos mais vocais lideres dos atletas cristãos, sabia que deus intervém em jogos de futebol «por causa de ter interferido na luta entre David e Gólias». O capelão da equipa dos Atlanta Falcons [mais uma equipa de futebol Americano] chegou a afirmar que «Deus preocupa-se com os pontapés aos postes e se eles vão entrar ou não».

O Prof. James Mathisen do Wheaton College diz que «atletas são pessoas pragmáticas e viradas para a performance. Muitos atletas acreditam na existência de Deus e no seu envolvimento no desporto, uma vez que esses atletas querem ver resultados, e resultados das suas preces

Alguns capelões, teólogos e ministros evangelistas rejeitam a ideia de deus ou Jesus Cristo estarem a guiar passes ou a ajudar a apanhar uma bola. Na opinião de alguns dessas pessoas, como por exemplo o teólogo James Freeman da Emory University, «Deus não se importa com quem ganha ou perde, uma vez que Deus preocupa-se com problemas do mundo e não acontecimentos desportivos.» Igualmente o director da organização Pro Atheletes Outreach, um grupo de atletas influentes que afirmam o seu cristianismo, James Mitchell, diz que «Deus intervêm em assuntos que são realmente importantes, como por exemplo quando Hitler tentou dominar o mundo, mas que não se preocupa com jogos de homens crescidos» [não estou a brincar, podem ler no texto original, este Capelão teve a coragem de dizer esta frase, que o seu deus esperou 5 anos e 70 milhões de pessoas mortas para impedir Hitler de conquistar o mundo].»

Tragédias naturais? Acidentes? Más formações congénitas? Pobreza? Crime? Desespero?
Que nada! Remates ao canto, defesas apertadas, «nossas senhoras» nos balneários para a Selecção Nacional ir dar um beijo nos pés: deus é o capitão de equipa.

Quem sabe de mais infantilidades como estas? Conte como foi.

9 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

É preciso topete

Já imaginaram os monárquicos a preparar o centenário da República e os vegetarianos a integrarem-se na festa do leitão à Bairrada? Já pensaram no rei de Espanha a preparar-se para visitar Portugal e associar-se às comemorações da batalha de Aljubarrota?

Era como se Angola, Moçambique e Guiné mandassem os seus presidentes a exaltar os soldados portugueses mortos na guerra colonial e a condecorar os órfãos e as viúvas dos militares que os combateram, num qualquer dia 10 de Junho de triste memória.

Por mais humor negro que alguém tenha não pensa que os japoneses prepararem as comemorações do ataque à base de Pearl Harbor ou os alemães comemorem a invasão da Polónia. Como jamais os americanos se atreverão, no futuro, a comemorar a decisão que Bush tomou de invadir o Iraque.

Mas o impensável acontece. Os bispos portugueses querem estar presentes na celebração do centenário da implantação da República, eventualmente com uma missa de Acção de Graças.

Ninguém acredita, conhecida a união de facto entre o trono e o altar, que os bispos vão celebrar as leis do divórcio, da separação da Igreja e do Estado e a do registo civil obrigatório. Nem sequer para manifestarem arrependimento do ódio e do ressentimento que manifestaram à República e do apoio que deram ao seu derrube no 28 de Maio e à cumplicidade com a ditadura salazarista.

Para meditação dos leitores ficam aqui as Palavras do Presidente da CEP na abertura da Assembleia Plenária, em Roma: [Com o aproximar da celebração do centenário da implantação da República, D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse que «devemos estar presentes para que a interpretação dos acontecimentos seja exacta»].

Ora o 5 de Outubro também foi feito contra o poder das sotainas.

8 de Novembro, 2007 Carlos Esperança

O ateísmo salva

Foi convidado para a excursão da Universidade Sénior Albicastrense, apesar de só a mulher a frequentar. Henrique Alves, de 70 anos, acabou por não aceitar o convite porque diz ser “ateu”. “Se fosse a outro local eu tinha ido, agora a Fátima não vou”, revela o reformado. (JN)