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14 de Setembro, 2009 Carlos Esperança

Cruzada contra os homossexuais (2)

Por

E – Pá

A ICAR tem tremendas dificuldades em perceber os comportamentos humanos, seja no campo científico, cultural, sexual, etc.

Bento 16, no início do seu pontificado, “produziu” sobre o tema da homossexualidade um inflexível documento doutrinário, para orientação do clero, que é um autêntico repositório homofóbico (link).

É um documento que encerra, por outro lado, uma incomensurável dose de hipocrisia, onde se determina:

“…embora respeitando profundamente as pessoas em questão, [9] não pode admitir ao Seminário e às Ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas ou apoiam a chamada cultura gay [10]”.

Todos sabemos que nos seminários, nos mosteiros e nas instituições militares a homossexualidade tem condições particulares para se desenvolver e proliferar, já que há uma evicção dos contactos entre sexos diferentes (um outro tipo de discriminação).
Aliás, penso que esta característica será sempre favorecida pelo ensino religioso – fundamentalmente os colégios que funcionam em regime de internato – e que discriminam a frequência desses estabelecimentos por sexos.
São os colégios católicos (unissexo).

Penso que a própria ICAR tem muito contestação no seu seio quanto a esta questão. Essa oposição à doutrina oficial da Igreja está sediada, essencialmente, nos EUA.

Mas a ICAR usa um artifício para iludir a criminalidade sexual que grassa no seu interior, praticada por alguns (muitos) dos seus eclesiásticos.
Acusada – em quase todo o Mundo – de estar envolvida em casos de pedofilia, tenta confundi-los com homossexualidade…

Para a ICAR a sexualidade é sinónimo de procriação. Logo, os actos sexuais têm a finalidade última de possibilitar a concepção de um novo ser.

É esta visão obsoleta das relações humanas e do Mundo que leva a ICAR a proibir a masturbação, a contracepção e todo o tipo de relações fora do sacramento do casamento (p. ex.: pré-matrimoniais)…
É aqui que também se entronca a sua oposição às “uniões de facto” que colhe adeptos, como p. ex., o actual PR (embora publicamente usando outros argumentos).

A esta doutrina chama a Igreja a “lei natural”. Seria a ordem que o “Criador” deu ao Universo. E, caímos, na concepção criacionista do Mundo. Embora, este ano, no centenário de Darwin, tentasse a aproximação com a comunidade científica, dando débeis e oportunistas passos no sentido da aproximação com o evolucionismo.

A Igreja, com o avançar modernidade, perde a coesão doutrinária. Dentro de alguns anos será um novelo de contradições teológicas, defendidas por um arreigado dogmatismo que conduzirá, inevitavelmente, a atitudes fundamentalistas.

A ICAR, como Bento 16, posiciona-se à beira de um dos mais trágicos retrocessos humanitários e civilizacionais.

13 de Setembro, 2009 Fernandes

Valores cristãos

Por falar em valores cristãos e como este fim-de-semana foi a festa (tardia) de S. Bartolomeu na minha terra, recordei: A Noite de S. Bartolomeu.

Introito: Paulo II obtivera o barrete cardinalício entregando Julia Farnese ao monstro Alexandre VI; eleito Papa, envenenou a mãe para se apoderar da sua possessão e, juntando um duplo incesto a um segundo parricídio, mandou matar uma das suas irmãs, com ciúmes dos amantes; envenenou Bosesforce, marido de Constância, sua filha, que ele tinha já corrompido. Em seguida aumenta a perseguição contra os desgraçados dos Luteranos. Seus sobrinhos tornam-se os executores da sua crueldade e ousam gabar-se publicamente, terem feito correr rios de sangue onde cavalos podiam nadar. Durante essas carnificinas o Papa entrega-se às suas monstruosas voluptuosidades com Constância, sua própria filha.

Júlio III juntando à crueldade a depravação, elege ao cardinalato um mancebo encarregado na sua casa do duplo emprego, guardar um macaco e prestar-se aos vergonhosos prazeres do Papa.

Paulo IV excita o furor do Rei de França contra os protestantes, forma com este uma aliança abominável pela destruição e devasta a Europa inteira. À sua morte, o povo cansado da violência insuportável dos Bispos de Roma e arruinado pela avidez insaciável dos padres, começa a despertar do sono letárgico em que estava sepultado, emancipa-se daquele jugo infernal e atroz, arromba os cárceres da Inquisição, larga fogo às prisões, derruba a estátua do Papa, quebra-lhe a cabeça e a mão direita, arrasta-a durante três dias pelas ruas de Roma.

Pio IV resolve despertar o fanatismo de Carlos IX e Filipe de Espanha, reúne-os em Bayonna para os convencer a exterminar os calvinistas.

Os princípios do pontificado de Gregório XIII foram assinalados pelo mais horrível de todos os crimes, o massacre de S. Bartolomeu, conspiração abominável levada a cabo por sugestão de Pio IV.

Intermezzo: À meia-noite, véspera de S. Bartolomeu, o relógio do palácio dá o sinal. Saint-Germain L`Auxerrois toca a rebate, e, ao som lúgubre dos sinos, os cristãos invadem as casas dos protestantes, degolando no seu leito as crianças e os velhos; apoderam-se das mulheres e depois de as haver ultrajado abrem-lhes as entranhas, tiram delas as suas crianças meio formadas, arrancam-lhes o coração e com uma ferocidade sem dó de que só a fé é capaz, rasgam-nas com os dentes e devoram-nas. Coisa quase inacreditável, tão horrível é a acção. Os homens pereciam pelo ferro e pelo fogo, as mulheres eram violadas antes de serem enforcadas, afogadas ou massacradas e os cadáveres manchados ainda pela luxúria daqueles algozes fanáticos. Os padres e os frades eram os próprios a degolarem aquelas vítimas inocentes; obedecendo às ordens do Pontífice de Roma.

Todavia, esses atentados como que se apagam diante da devoção que os crentes da minha terra dedicam a S. Bartolomeu! Ouve-se o sino tocar, o sino fatal! Mas não se ouvem os algozes esfaimados de sangue, fartos de fé, precipitarem-se sobre os inocentes, arrancando-os das suas camas, das suas casas, atirando-os pelas janelas sobre as lanças dos soldados, mutilando vergonhosamente aqueles corpos ensanguentados, a arrastarem os cadáveres das mulheres pelas ruas, e a esmagarem as crianças contra a calçada depois de arrancados dos berços. O massacre durou três dias em Paris e dois meses em toda a França. Historiadores apontam para quase cem mil protestantes assassinados nos estados cristãos! Depois daqueles dias sanguinários, os autores do macabro dirigem-se a Montfaucon para contemplar aqueles corpos completamente nus e horrivelmente mutilados, que ainda lutavam contra a agonia da morte.

Finale:  O ódio da Fé foi tão grande que o papa Gregório XIII fez cantar um Te Deum à Santa Maria e dirigiu uma cerimónia de Acção de Graças a São Luís, santo francês, em Roma, nos dias 5 e 8 de Setembro de 1572, para agradecer a Deus por ter permitido o massacre da Saint-Barthélemy. Numa bula do dia 11 de Setembro do mesmo ano ordenou um jubileu para obter a mesma graça da destruição dos huguenotes e o desaparecimento da heresia na França.

*Referências: Lachatre, Maurice. Os crimes dos Papas.

O monoteísmo é a forma religiosa mais propensa à realização de guerras santas. Os judeus inventaram o deus único, e o ocidente nunca mais se livrou da intolerância religiosa. – Ver padres a apelar aos valores cristãos é como ver a Cicciolina a apelar à virgindade.

7 de Setembro, 2009 Fernandes

Superstição

 

Segundo o Catecismo:

 – A superstição existe, sempre que se atribui uma importância de algum modo mágica, a certas práticas.

Pergunto se essas práticas e a sua natureza supersticiosa muda, pelo simples facto de se imputarem ou não a poderes “mágicos” ou “divinos”. Para um estudioso da fenomenologia existe comportamento supersticioso em qualquer dos casos. As práticas comportamentais de tipo “irracional”, psiquicamente patológicas, referenciam instâncias fetichistas de carácter religioso. Sucede com o que se convencionou chamar de, milagres – que segundo a Igreja só os seus são autênticos, dignos de fé e veneração. Assim, não passa de pura superstição a maior parte da prática católica, ou seja: todo o conjunto de missas, orações, relíquias, imagens milagrosas, peregrinações, aparições, etc. Não existe uma fronteira precisa entre Religião e Superstição, porque ambas têm a mesma origem, prática e objectivo, que é a busca de instâncias protectoras contra os riscos e a insegurança do dia-a-dia, e cujo horizonte se manifesta num “terror mortis” omnipresente.  É nesta fantasia da mente, que assentam todas as religiões enquanto vínculos imaginários com seres inexistentes. Neste contexto não surpreende a generalizada expressão da fé religiosa mediante “formas supersticiosas de comportamento”.

A superstição com o seu vastíssimo reportório, é uma conduta essencialmente “religiosa” que associa irracionalmente, afectos desejados a causas imaginárias. Isto sucede com todo o tipo de superstições seja dentro ou fora das Igrejas. Mesmo que no ritual supersticioso o resultado alcançado entre a soma dos êxitos e fracassos, os fracassos predominem, a “conduta supersticiosa” continuará a dominar a vida das pessoas que encontram nesta prática “um estado anímico subjectivamente gratificante”. O comportamento supersticioso repetir-se-á uma e outra vez qualquer que seja o resultado do “acto”. É impressionante que neste século voltem a florescer as condutas supersticiosas, enquanto as chamadas “confissões positivas de fé” tendem a perder aderentes.  A base da superstição é a ignorância, a compulsão psíquica e a alienação. São sintomas patológicos de uma sociedade insegura que vive numa atmosfera de “medo e angústia”.

1 de Setembro, 2009 Fernandes

Bem de primeira necessidade

Em Paraná, Entre Rios, está prevista a construção de uma estátua de João Paulo II com 100 metros de altura, e com um custo de 1,5 milhões de dólares. O empreendimento conta com o apoio do deputado Jorge Cáceres, do governador e do Cardeal Estanislao Karlic (arcebispo emérito de Paraná). A Igreja reconhece que 40% da população vive na pobreza.

A Igreja sabe  o que é melhor para os pobres.

28 de Agosto, 2009 Carlos Esperança

Novidade literária

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O novo romance de José Saramago chama-se “Caim” e tem como personagens principais aquela figura bíblica, Deus e a Humanidade “nas suas diferentes expressões”, segundo a descrição de Pilar del Río no blogue do Nobel da Literatura.

Novo Saramago põe Deus como autor moral de um crime

8 de Agosto, 2009 Ludwig Krippahl

Vale a pena

Vários religiosos, tanto amadores como profissionais, me têm dito que as minhas críticas às suas respectivas religiões são fúteis. Que não vale a pena criticar a religião da forma como eu critico. O que me parece estranho logo à partida. Se eu andasse a distribuir revistas sobre o ateísmo de porta em porta compreendia que dissessem não valer a pena estar a incomodar as pessoas e a estragar papel. Ou se o governo pagasse salários a ateus só para falarem de ateísmo em hospitais até concordava que era dinheiro mal gasto. Isso é coisa para cada um fazer por sua conta e não um serviço prestado ao estado. Mas eu não faço nada disso. Escrevo num blog, só lê quem quer, e se falo destas coisas em público é porque me convidam para o fazer. Parece-me estranho que se comente um post que não vale a pena só para dizer que não vale a pena.

E discordo da justificação. Dizem que as minhas criticas são fúteis porque só critico caricaturas da religião. Mas isto ignora a diversidade de crenças e a diversidade de maneiras de se aproveitarem delas. Há muita gente que se arrasta de joelhos julgando que isso convence Maria a ajudá-los. Há quem gaste dinheiro em velas e pernas de cera, quem reze aos santinhos, quem acredite que a Terra foi criada há umas dúzias de séculos e assim por diante. Para cada religioso há muita coisa que é caricatura – todas as outras religiões, por exemplo – mas também há muita coisa que não é. E os profissionais de cada religião tendem a opor as “caricaturas” mais por conveniência que por princípio. Por exemplo, os sacerdotes católicos opõem o criacionismo evangélico mas não a idolatria em Fátima. É inescapável a suspeita que o que distingue estes casos é um fazer perder clientes enquanto o outro dá lucro.

Além disso, as “caricaturas” são apenas exemplos. Sintomas. Não são o problema em si. Se alguém acredita que Jesus nasceu de uma virgem ou que Noé levou aquela bicharada toda no barco, é lá consigo. O problema começa ao afirmá-lo como verdade, o que acarreta a responsabilidade de aplicar critérios coerentes na distinção entre o que se considera verdadeiro e o que se considera falso. Esta diferença importante entre crença e verdade é deliberadamente ignorada pelas religiões.

A crença é um estado pessoal que só diz respeito ao crente. Mas a verdade é algo partilhado, supostamente objectivo e igualmente válido para todos. Uma crença verdadeira supõe-se mais legítima que outras que não se saiba sê-lo. E daí vem uma responsabilidade adicional. Quando um crente afirma que crê, pouco me importa. Mas quando afirma que aquilo em que crê é verdade fico curioso em saber como chegou a essa conclusão. E se me diz que sabe que é verdade só porque acredita então vale a pena apontar que a mera crença não chega para que uma hipótese corresponda à realidade.

Este problema agrava-se quando o erro é cometido por uma autoridade, como um padre, ou por quem quer propagar a sua fé, como os evangélicos costumam fazer. Porque, neste caso, deixa de ser apenas um erro do crente e passa a enganar os outros. A crença pode ser sincera, mas crença não é conhecimento e, ao afirmá-la como verdade, está a fingir saber aquilo que não sabe. Isto é óbvio no literalismo bíblico dos evangélicos, por exemplo. Dizem que a sua interpretação da bíblia é infalível quando as evidências sugerem o contrário. Mas a teologia dos católicos sofre do mesmo problema, mesmo que mais disfarçado. Por um lado dizem que Deus é incompreensível, para além do tempo e do espaço e da imaginação humana. E, por outro, dizem saber que veio à Terra, que nasceu de uma virgem, que quer isto, manda aquilo, reprova o outro e faz trinta por uma linha. E tudo apenas porque acreditam.

É isto que vale a pena apontar. Não a crença em si que, desde que não incomode ninguém, também não me preocupa. Mas o erro, logro ou desonestidade de afirmar ter conhecimento de um facto quando só se tem crença, sem qualquer evidência relevante. Não peço dinheiro para ir dizer isto aos doentes nos hospitais nem vou de porta em porta com revistinhas na mão. Mas acho que vale a pena chamar a atenção, a quem se interessar, que aquilo que as religiões afirmam como verdade são coisas que os religiosos não sabem. Especulam, crêem, julgam que é verdade mas não sabem, e nem têm nada que justifique concluir que a sua religião é mais verdadeira que as outras.

Também no Que Treta!