Loading

Categoria: Não categorizado

18 de Janeiro, 2010 Luís Grave Rodrigues

O Insulto

 

A «Agência Ecclesia» noticia que o Papa Bento XVI visitou este Domingo a Sinagoga de Roma, e defendeu que «o Vaticano ajudou os judeus, muitas vezes de forma “escondida e discreta”, durante a II Guerra Mundial».

 

E pronto: numa única e singela frase este Papa imbecil insultou a memória e vilipendiou a coragem, a honra e a dignidade de milhares de pessoas – sim, muitas delas católicas – que durante a noite nazi e o pesadelo do Holocausto ajudaram tantos e tantos judeus, se virmos bem todas elas bem conscientes de que o faziam frequentemente com o risco das suas próprias vidas.

 

Na sua cegueira fanática de limpar a imagem de Pio XII, o Papa de Hitler, com o óbvio fito de o canonizar mal lhe arranje uma curazinha milagrosa a uma maleita qualquer, Ratzinger tem o autêntico desplante de fazer de conta que não sabe que a política oficial do Vaticano foi tudo menos ajudar os judeus.

 

Muito pelo contrário, é perfeitamente conhecida a ajuda dada aos nazis fugitivos no final da Guerra – de Eichmann aos mais sanguinários comandantes de campos de extermínio – a quem foram concedidos passaportes diplomáticos do Vaticano que lhes possibilitaram a fuga para países da América do Sul.

 

Não sem antes Pio XII ter tido o cuidado de celebrar uma Concordata com a Alemanha de Hitler, como sempre procurou fazer com todos os ditadores, o Vaticano ia mantendo um silêncio confrangedor tanto à «Noite de Cristal» como às atrocidades nazis que o mundo ia conhecendo com o desenrolar da Guerra.

 

E se em 1939 o Vaticano concedeu vistos a cerca de 3.000 judeus que pretendiam fugir da Alemanha, só o fez depois de ter obtido garantias de que todos eles se tinham convertido ao catolicismo e já tinham sido convenientemente baptizados!

 

Pois bem:

Se Bento XVI sabe tudo isso muito bem, quando tem a autêntica lata de vir afirmar que «o Vaticano ajudou os judeus» isso só demonstra que este Papa não é sério e é de uma desonestidade intelectual a toda a prova.

 

Só resta saber quem é que ainda se revê nesta tão curiosa espécie de «líder espiritual»…

18 de Janeiro, 2010 Ludwig Krippahl

Treta da semana: quanto mais me bates…

Caro Joseph,

Por razões inefáveis vai haver um terremoto de magnitude 7.0 perto de Port-au-Prince na próxima Terça-Feira. Será pouco depois das cinco da tarde. Avisa as autoridades para que evacuem a cidade, os católicos locais para que não se preocupem e confiem em Mim, e aos ateus, que não vão acreditar nisto, diz que cá os espero terça à noite para lhes explicar o argumento ontológico.

Que Eu te abençoe,
J, J e E.S.

Esta semana morreram mais de cem mil pessoas com o sismo no Haiti. Muitas mais ainda vão morrer de ferimentos, sede, fome, violência e doença. Se o deus dos católicos existisse, se amasse os haitianos e tivesse contacto com o Papa, seria de esperar pelo menos um aviso. É o mínimo que a decência exige, mesmo que se aceite terremotos onde as pessoas são tão vulneráveis. Ou em qualquer sítio. Bastava que tivesse feito os «pilares da Terra» como deve ser para isto não abanar tanto.

Cristãos diferentes vêem este sismo de forma diferente. Para evangélicos como Pat Robertson, se Deus manda em tudo manda nos terremotos, e se o Haiti levou com um é porque mereceu (1). É doentio, mas segue logicamente das premissas. Por outro lado, os católicos vêem neste sofrimento uma prova do amor de Deus. Cem mil pessoas morrem num sismo, portanto oremos e louvemos o criador dos terremotos. Do cima a baixo da hierarquia os católicos rezam. O mecanismo pelo qual estas preces terão efeito não é claro, mas o Papa convida «toda a gente a juntar-se a mim em oração ao Senhor pelas vítimas desta catástrofe […] implorando de Deus consolo e alívio do seu sofrimento»(2). No Colégio de Lamego, os alunos da primeira classe rezaram «pelos milhares de pessoas que morreram de forma tão trágica», também esperançosos «Que a nossa oração ajude a aliviar tanto sofrimento.»(3)

Esta ideia algo masoquista de ver amor no sofrimento é estranha mas deve ter ajudado o cristianismo a durar tanto. Todos gostaríamos de ser amados pelo grande chefe de tudo, mas o amor não chega para justificar a doutrina, as regras e o poder da hierarquia da Igreja. Para isso é preciso aproveitar doenças, sismos e outras tragédias naturais, por vezes dar uma ajuda com autos de fé e inquisição, e aferir a medida com o sofrimento eterno. Paus que complementam a cenoura do amor divino.

Mas os deuses são ficção e esta tragédia não foi apenas por culpa da geologia. No dia 17 de Outubro 1989, também por volta das cinco da tarde, o sismo de magnitude 7 em São Francisco matou 63 pessoas. É a diferença entre ter betão armado e colar os tijolos com cuspo. E não foi por falta de caridade ou de pena do pobre povo haitiano. Há dez mil organizações de caridade a operar nesse país, uma para cada mil habitantes (4). Só que cada uma tem a sua ideologia e a sua forma de operar, há pouca cooperação entre as almas caridosas e ainda menos cooperação com o governo e com o povo que querem ajudar.

Além disso, a caridade trata sintomas. Em alturas como esta os sintomas são o mais urgente e, neste momento, é preciso tudo. Até caridade*. Mas fora de tragédias e emergências a caridade ajuda o pobre sem o tirar da pobreza. Alivia sem resolver. É preciso ir além da esmolinha para atacar as causas do problema.

Em 1970, 22 dos países mais ricos prometeram na ONU dedicar um mínimo de 0,7% do seu PIB a ajudar os mais pobres. Em 2005 ainda só cinco tinham atingido a marca. Portugal contribuiu 0,21% (1). Este tipo de ajuda governamental, organizada e estruturada, isenta de ideologias e proselitismo, é essencial mas é apenas uma pequena parte do que é preciso. É também preciso melhores políticas de imigração nos países mais ricos, acordos comerciais mais justos, perdoar dívidas incapacitantes (e impossíveis de saldar), facilitar a formação e transferência de tecnologia para quem mais precisam e outras medidas que fomentem o desenvolvimento destes países. Pelo menos até que possam construir casas que não lhes caiam em cima.

E isto não se consegue com pena dos pobrezinhos ou rezando a quem nos maltrata. É um problema que se tem de resolver de forma organizada, sistemática e estrutural e, acima de tudo, contrariando a ideia que a miséria no estrangeiro conta menos que a de cá.

* Se quiserem uma sugestão para ajudar: AMI.

1- Huffington Post, Pat Robertson: Haiti ‘Cursed’ By ‘Pact To The Devil’ (VIDEO)
2- CNS, Pope prays for victims of Haiti quake; archbishop’s body found
3- Colégio de LamegoPelas vítimas do sismo…
4- Tracy Kidder, The New York Times, Country Without a Net
5- Millenium Project, The 0.7% target: An in-depth look

Em simultâneo no Que Treta!

15 de Janeiro, 2010 Ludwig Krippahl

Amor e família.

Deus é o nosso pai, a Igreja é a sua esposa, tal como as freiras, os padres também são nossos pais e somos todos irmãos. É amor por todo o lado. O cristianismo aproveita os laços familiares de afecto, familiares em ambos os sentidos, para persuadir que o seu deus é um deus de amor e que o universo foi criado como uma família feliz. Mas tirando os olhos do umbigo, olhando além do que gostaríamos que fosse a norma na nossa espécie, vemos que este antropomorfismo optimista não representa adequadamente a realidade.

O amor fraternal é um de muitos ideais que esta religião diz poder ser corrompido pelo exercício da vontade livre. Mas o fratricídio é comum em animais aos quais não atribuem tal capacidade. Em pássaros como o pelicano ou a garça-vaqueira é normal as crias competirem agressivamente pela comida que os pais trazem. Tão agressivamente que acabam por matar as mais pequenas, sob o olhar indiferente dos progenitores. Muitas vespas parasitárias injectam vários ovos em cada vítima e as larvas que eclodem atacam-se mutuamente até só restar uma. E alguns tubarões começam o canibalismo ainda no ventre materno, comendo os irmãos antes de nascerem.

O infanticídio por parte de adultos também é comum em muitas espécies. Os leões machos matam as crias das fêmeas quando se apossam de um bando, as fêmeas de coelho matam as crias umas das outras e em algumas espécies, como os escaravelhos necrófagos, alguns peixes e até hamsters, os progenitores matam os próprios filhos. Ao contrário do que alguns crentes sugerem, o amor de mãe não deve ser gratuitamente assumido. Como qualquer outra hipótese, também esta deve ser confrontada com os dados.

O amor conjugal dá uma bela metáfora para a relação entre Deus e a Igreja mas também tem muito que se diga. Os machos de Harpactea sadistica, uma aranha nativa de Israel, perfuram o corpo da fêmea e depositam o sémen directamente no seu abdómen (1). Muitos invertebrados “fazem amor” de formas semelhantes (2). Os patos forçam as fêmeas a ter relações sexuais, os chimpanzés amansam as futuras “amadas” à pancada (3) e se olharmos para o nosso comportamento com imparcialidade vemos que não andamos muito longe disto. Nos costumes de alguns povos, bíblicos e contemporâneos, para muitas raparigas a diferença entre a violação e o casamento é uma mera formalidade.

A hipótese que um deus criou os humanos à sua imagem e todo o universo por amor, com o amor de um pai, não é plausível. Podia parecer plausível a quem ignorava quase tudo acerca da natureza. A quem julgava que o universo teria a duração e o tamanho da sua tribo e vizinhos. Mas o que sabemos hoje indica uma alternativa. O mais plausível é que esse deus, como tantos outros, seja apenas um personagem fictício onde uns projectam o que querem fazer crer aos outros.

1- Aqui um post do Ed Yong, com vídeo para quem gostar destas coisas: Traumatic insemination – male spider pierces female’s underside with needle-sharp penis
2- Wikipedia, Traumatic insemination
3- Short Sharp Science, Male chimps use sexual coercion

Em simultâneo no Que Treta!

13 de Janeiro, 2010 Luís Grave Rodrigues

Mas esta gente não aprende?

 

Segundo a «Agência Ecclesia», a Conferência Episcopal Portuguesa considerou que «a aprovação da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo pelo Governo e pelo Parlamento foi uma precipitação e a ausência de um referendo sobre esta matéria abre uma “ferida democrática”».

De facto, esta gente não aprende!

O que diriam estes energúmenos paramentados de palhaços se o Governo ou a Assembleia da República de Portugal decidissem legislar sobre o celibato do clero, sobre a dimensão das hóstias ou sobre os programas dos seminários onde ainda hoje alguns jovens são deformados e autenticamente amestrados de forma a ingressarem no autêntico circo a que chamam Igreja Católica?

Que os padres, os bispos e outros quejandos opinem sobre aquilo que se passa na vida política do país em que vivem, isso obviamente não oferece reparo.
São cidadãos como todos os outros, claro está. Andam por aí vestidinhos de saias e rendinhas a vender a vida eterna por 30 dinheiros, mas, enfim, também são cidadãos de pleno direito.
E ao contrário do que eles próprios defendem, não podem, enquanto cidadãos, ser discriminados nos seus direitos, liberdades e garantias fundamentais.
Deviam talvez falar mais na pedofilia que grassa no seio da organização tenebrosa a que pertencem, mas isso é também outra conversa.

Mas a Conferência Episcopal Portuguesa tem tanto que se meter na vida dos Órgãos de Soberania de um país democrático e laico por imposição constitucional, como eu tenho de interferir na organização daquele teatro ridículo e miserável a que dão o nome de missa.

Ainda por cima aquela cáfila de trogloditas, completamente alucinados e atarantados pelo voto de castidade, unidos pelos seus sentimentos de intolerância, discriminação e homofobia têm o autêntico desplante de falar de “democracia”, um conceito que lhes é tão estranho como o humanismo ou os direitos humanos, ou até mesmo as mais básicas noções de ética e de decência.

Mas em que século é que estes palhaços pensam que ainda vivem?

5 de Janeiro, 2010 Ludwig Krippahl

Equívocos, parte 2.

Como prometeu, o Alfredo começou a enunciar os equívocos que ele diz ser do ateísmo. Que são equívocos concordo, pelo que estamos parcialmente de acordo. Um, que ele chama «Equívoco geral», é o ateísmo «estar estruturalmente impedido de conseguir os seus objectivos: erradicar a religião.»(1) Diz o Alfredo que isto é porque se o ateísmo critica a religião de forma inteligente só a fortalece e, caso contrário, não a afecta. É claro que isto assume que o deus do Alfredo existe. Porque se não existe, então uma critica inteligente pode revelar que o rei vai nu e acabar com a festa.

Mas o equívoco do Alfredo é julgar que o ateísmo só faz sentido se conseguir erradicar a religião. O ateísmo, pelo menos no meu caso, é apenas uma expressão visível de duas conclusões. Primeira, que os deuses são mais uma de muitas fantasias humanas. E, segunda, que mesmo que houvesse deuses eu continuava responsável pelos meus valores e não era correcto simplesmente fiar-me num livro ou sacerdote. É por isso que não uso deuses para me guiar. É por isso que sou ateu.

No entanto, admito que era bom que a religião desaparecesse. Era bom que, crentes ou descrentes, todos vivessem essas opções como algo pessoal sem ir na conversa dos que dizem estar mais perto dos deuses. Era bom que ninguém se deixasse enganar pelas patranhas da infalibilidade ou da revelação divina calhar só a alguns. Infelizmente, é um desejo pouco realista. Continuará a haver Papas, sacerdotes e Alexandras Solnado porque haverá sempre pessoas a julgar que uns, abençoados, sabem alguma coisa acerca dos deuses.

Outro equívoco é confundir questões acerca dos factos com as definições dos termos. Escreve o Alfredo que «Não há nenhuma prova científica de que a vida humana começa no ‘momento’ da concepção». Mas este problema é apenas a definição do termo “vida humana”. Se for a vida de organismos da nossa espécie, então começou há cerca de 200 mil anos e perpetuou-se, ininterrupta, desde então. Se refere a parte do ciclo de vida correspondente a um organismo da nossa espécie, então a concepção marca o início dessa fase. E se queremos referir a auto-consciência humana, o viver como sentir que se existe, então o início da “vida humana” será talvez perto dos dois anos de idade. Se definirmos o termo com rigor a questão torna-se perfeitamente científica. Só não o é enquanto não soubermos o que queremos dizer.

Mas o equívoco principal do Alfredo é julgar que as provas mais evidentes não podem ser científicas. «Muitas das crenças humanas nas quais se fundamenta a vida das pessoas comuns baseiam-se no testemunho e no crédito que elas se atribuem umas às outras. Não são o resultado positivo de qualquer teste científico a que essas crenças são submetidas. […] Não tenho nenhuma prova científica de que a minha mãe me amou desde que fui concebido no seu seio.»

A ciência não se faz só com tubos de ensaio. É o conhecimento que temos da realidade e a forma como o obtemos. A hipótese “esta mulher ama o seu filho” é tão científica como qualquer outra porque é tão passível como qualquer outra de se submeter ao teste das evidências. Basta pensar numa mulher que queima o seu filho com pontas de cigarro e o abandona num caixote do lixo. Se a tese do Alfredo estivesse correcta nada poderíamos dizer acerca do amor desta mãe pelo seu filho. Mas podemos. É uma hipótese testável, que carece de fundamento empírico e que pode ser refutada pelas evidências.

O ponto principal do Alfredo é este: «Continuarão a perguntar como sabemos cientificamente que os primeiros cristãos não se enganaram a respeito de Cristo. Como se eu devesse fornecer uma prova científica do amor que me têm os meus pais.» O que eu pergunto não é como sabem “cientificamente”. É como sabem, ponto. O advérbio é redundante.

O Alfredo engana-se quando diz que a crença no seu deus está além da ciência porque, sendo uma relação de amor e confiança, não está sujeita a evidências empíricas. Se uma mulher sofre agressões do marido durante anos e continua a dizer que ele a ama e que merece a sua confiança podemos afirmar com fundamento objectivo que ela está enganada. Se os pais criam os filhos com afecto e cuidado, ou se os abandonam com indiferença, ou se os torturam cruelmente temos evidências diferentes que justificam conclusões diferentes acerca do seu amor pelos filhos. O que se infere destas relações depende de evidências empíricas.

Todos os nossos relacionamentos, e em especial os de amor e confiança, têm um fundamento empírico. O amor e a confiança crescem prova a prova, teste a teste. E se nem nos nossos pais ou cônjuges devemos confiar cegamente, insensíveis às provas ou à sua ausência, muito menos devemos fazê-lo com um deus invisível e um livro de histórias antigas.

Em simultâneo no Que Treta!. Parte 1 aqui.

1- Alfredo Dinís, 3-1-10, Grandes equívocos do ateísmo contemporâneo

4 de Janeiro, 2010 Luís Grave Rodrigues

Blasfémia!

 

E se alguém pensava que o fanatismo que a religião traz às pessoas não nos aquece nem nos arrefece aqui nesta boa e velha Europa, precisamente porque o fanatismo é qualquer coisa distante e exclusiva dos países islâmicos e dos pacóvios evangélicos dos recônditos interiores americanos, a resposta aí está:
– Neste início de ano 2010 assistimos à entrada em vigor na Irlanda de uma lei miserável e imbecil que criminaliza a blasfémia.

Assim como uma espécie de justificação desta aberração cretina e anacrónica – e até perigosa – o ministro da justiça irlandês veio dizer que esta nova lei se justifica porque criminaliza a blasfémia proferida não só contra o cristianismo mas também… contra todas as religiões!

Como se não bastasse, a lei define como blasfemas quaisquer declarações consideradas abusivas ou insultuosas em relação a matérias consideradas sagradas por qualquer religião e que causem revolta a um número substancial de fiéis dessa religião.

É absolutamente típico das «pessoas de fé» considerarem-se muito ofendidas contra qualquer afirmação que contrarie ou ponha em causa os dogmas e as idiotices da sua religião. Decerto porque, lá no fundo, são os primeiros a reconhecer que qualquer religião é, antes de mais, profundamente ridícula.

É por isso que estes piedosos fiéis são sempre os primeiros a tentar limitar as liberdades e os direitos fundamentais dos outros, seja de quem professa outra religião, seja de quem não professa religião nenhuma.

Mas a resposta não se fez esperar: o «Atheist Ireland», um grupo que se reclama ser representante dos ateus irlandeses, já reagiu contra esta lei e fez publicar no seu website diversas «citações anti-religiosas» de ateus famosos, de Richard Dawkins a Björk, passando por Frank Zappa e que podem ser lidas AQUI.

Por mim, continuarei a blasfemar por aqui sempre que isso me der na real gana.
Porque, como diz Thomas Jefferson,
«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis».

4 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

CARTA ABERTA AO CARDEAL-PATRIARCA

Por

M. Gaspar Martins – PORTO

A sua mensagem de Natal enferma de carência da bondade cristã devida a todos os seres humanos tenham ou não religião. Não venho tratar de fé, questão impossível de debate por antagónica da razão. Ocorre-me sempre a minha frustração, há uns anos, quando tentei demover um amigo de não desbaratar o salário no Casino.

Respondeu-me que acordara com uma fezada no 27. Infelizmente, ganhou apenas problemas familiares e no emprego. Não venho também questionar a existência de Deus. A sua negação é impossível quando essa idealização existe na cabeça de milhares de milhões em todo o mundo. Questiono, sim, a sua afirmação de que “Deus existe e continua a amar a humanidade (…)” Que amor é esse? Com os poderes que lhe são atribuídos, como consente que a cada quatro segundos morra no mundo uma criança à fome? Ou que os homens resolvam os seus problemas pela violência? Ou que cataclismos e epidemias destruam os bens e a vida de pessoas simples? Claro que a resposta é a da não autoria divina nestes casos. Deus só quer o bem – dir-me-á. O que logo me suscita o caso do cirurgião numa intervenção delicada. Se tem êxito, foi milagre; se deu para torto, é uma besta.

Este tipo de contabilidade leonina em que tudo o que é bom tem crédito divino, mas o mal é debitado a outros, faz parte daquela propaganda dos anúncios dos jornais e dos papeis colocados nos limpa-vidros dos carros com garantias dos auto-intitulados astrólogos/médiuns de resultados imediatos. Só contabilizam para si os sucessos. Os incontáveis casos de insucesso são simplesmente omitidos. Mas, se tudo o que acontece é por vontade divina, então só se pode concluir que Deus é uma criação humana. Pois que, com poderes ilimitados, não criaria seres para serem sofredores. Seria não um deus, mas um narcisista, caprichoso, déspota, com birras e maus humores alternados com bonomia e compreensão. Comportar-se-ia exactamente como um humano que tivesses tais poderes.

As religiões poderiam ter um papel de aproximação de toda a gente em todo o mundo. Infelizmente tal não acontece. Pelo contrário, são origem de muitas infâmias, atrocidades, genocídios e nem é preciso percorrer a História. Basta-nos hoje a situação na Palestina, nos Balcãs, no Sri Lanka, no Tibete. Tudo porque cada uma se acha dona da Verdade Suprema. Depois, quer impô-la a todos.

Se em vez de tratarem da “salvação eterna” se dedicassem a denunciar e penalizar as desigualdades e as injustiças chocantes no mundo, condenando os sistemas que as originam e exigindo paradigmas económicos e sociais com verdadeira igualdade, cumpririam o papel com que se apresentam.

Em vez disso, promovem acções anunciadas contra a pobreza quando, de facto, a alimentam. Porque aliviam a consciência de alguns bem instalados através da esmola, quando uma vida com dignidade é direito de todos e o Homem evoluiu tanto tecnologicamente que hoje é possível alimentar e garantir essa vida digna a todos.
Porém, as religiões, se nascem com esse propósito, acabam sempre tomadas pelos poderosos e passam logo para “a salvação eterna”. Acabam todas a apregoar o mesmo deus TOD: temor, obediência e… o dízimo.
Com os meus melhores cumprimentos e desejo de um futuro melhor para toda a Humanidade.

Nota: Este texto foi oportunamente enviado para o “Público”, “JN” e “Notícias Magazine” que, até à data, não o publicaram.

3 de Janeiro, 2010 Carlos Esperança

O Medo

Por

A H P

Em homenagem a Kurt Westergaard, dinamarquês autor das caricaturas de Maomé (o que prova que nem tudo “está podre no reino da Dinamarca”) e ao nosso Administrador Carlos Esperança (pelo seu post “Os trogloditas de Maomé”), gostaria de citar aqui dois textos (separados no tempo por mais de 50 anos, mas ainda – infelizmente – ambos actuais):

1- Do artigo de Miguel Sousa Tavares no último “Expresso” : “Em breve, viajar será um pesadelo e a bordo de um avião estaremos todos como prisioneiros. Prisioneiros de Osama bin Laden, o homem da década – aquele que, infelizmente para o mal, mais mudou a nossa vida. Do fundo da sua gruta (…) derrotou o Ocidente com a mais eficaz das armas: a do medo.”

2- De “O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO” publicado por Alexandre O´Neill em 1951:

“(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos”

E concluo eu: é preciso que todos não tenhamos medo. Vale mais morrer em pé do que viver ajoelhados ou acocorados, “como ratos, sim, ratos”.

31 de Dezembro, 2009 Carlos Esperança

O que eu penso da homilia de Natal do Patriarca

A escalada da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) contra as liberdades entre as quais se conta o direito à crença (a qualquer crença), à descrença e mesmo à anti-crença é uma evidência, enquanto o ateísmo defende a liberdade religiosa na qual se inclui o direito à descrença.

Recordo que em 2008, no dia 13 de Maio, o senhor cardeal Saraiva Martins, então angariador de mila-gres e criador de beatos e santos, presidiu em Fátima à «peregrinação contra o ateísmo na Europa». Podia ter sido a favor da fé mas entendeu a ICAR, no seu fervor belicista, dedicar o evento «contra o ateísmo» e o Sr. Cardeal considerou o ateísmo o «maior drama da humanidade», esquecendo a fome, as doenças, as guerras, as religiões e o terrorismo religioso, por exemplo.

A Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa no Concílio Vaticano II mas, apesar de ser recente a conformação com um direito inalienável, julgava que já o tinha assimilado na sua praxis. Pelo contrário, a convivência com o pluralismo e as liberdades individuais parece ser uma dificuldade inultrapassável para a ICAR e para os seus prelados.

Em 2009, entre vários ataques de diversos bispos ao ateísmo, recordo o do Sr. bispo Carlos Azevedo, contra a AAP e o seu presidente, em 2 de Junho, no Correio da Manhã. Escusado será dizer que não foi permitida a defesa, apesar de reiteradamente solicitada, e os ataques parecem ser uma tentativa deses-perada de fazerem do ateísmo o bode expiatório de uma Igreja de onde desertam os padres e fogem os crentes.

Deixo agora de parte a cruzada violenta contra os casamento homossexuais quando seria fácil aconse-lhar os adversários a não se casarem com pessoas do mesmo sexo.

Usando poderosos meios de propaganda e a complacência da televisão pública para com a ICAR, pôde o Sr. Cardeal difundir a sua Mensagem de Natal e divulgar a homilia da missa de Natal em que não se coibiu de atacar os «inimigos», assim considerados todos os que não partilham as suas crenças.

Estranha-se a veemência com que na referida homilia arremeteu contra os agnósticos e, sobretudo, contra os ateus, como se ser ateu ou agnóstico mereça censura, sobretudo de um cardeal.

Os ateus revêem-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Constituição da República Portuguesa e, defendendo a liberdade sem privilégios defenderão qualquer religião que, eventualmente, venha a ser perseguida por religiões rivais ou por algum Estado ateu que possa surgir, tão perverso como os confessionais.

Apesar das profundas divergências que separam os ateus do cardeal, pensando os ateus que foram os homens que criaram Deus e o Sr. Cardeal o contrário, os ateus defenderão a liberdade, a democracia, o livre-pensamento e a ciência, contra o obscurantismo, a mentira, o medo e o pensamento único. Serão sempre contra a xenofobia, o racismo, o anti-semitismo e qualquer forma de violência ou de discrimi-nação por questões de raça, religião, nacionalidade ou sexo. O que não acontece com a ICAR.

29 de Dezembro, 2009 Luís Grave Rodrigues

O santo português que matou 36 mil espanhóis

 

Um artigo de Moisés Espírito Santo no «Jornal de Leiria»:

 

 Falo de Nun’Alvares.

Até há pouco, as mulheres ameaçavam os miúdos com «Olha que eu chamo o Dom Nuno!». Um papão.

Os portugueses só o conhecem porque ele derrotou os espanhóis. Em Aljubarrota foram 36.000, para além dos 7 de que se encarregou a padeira.

Invocou Santa Maria – que só será Mãe dos portugueses e não dos espanhóis – venceu. Esta mitologia merece tanto crédito como as lendas de feiticeiras; o problema é que, repetida hoje, significa estagnação cultural. Ideologia rústica fora do tempo.

O povo vai venerar um santo só porque ele derrotou os espanhóis. (Ficamos à espera que seja canonizado o régulo Gungunhana que se sacrificou pela independência da sua pátria, Moçambique…).

O Dicionário de História de Portugal, de Joel Serrão, lemos isto: «[Nun’Alvares] exigia sempre uma disciplina rigorosa e o exacto cumprimento das suas ordens; se isso não sucedia tornava-se bravo como um leão, chegando a matar os cavalos e a ferir os corpos dos descuidados, se eram pessoas de mais pequena condição».

Entenderam: «se eram pessoas de mais baixa condição». 

Cavaco Silva, ao integrar a comissão de honra da canonização, disse que «pode ser um exemplo para os portugueses». Eu diria que exemplos desses já temos de sobra: uma Justiça que condena os pobres e absolve os ricos; os trabalhadores pagam impostos enquanto os políticos e suas famílias acumulam milhões com a corrupção, os banqueiros a apropriarem-se dos dinheiros dos clientes…

Preferia ver o responsável máximo da Nação – que, hoje, é amiga de Espanha – a abster-se desses conluios patriotiqueiros e a apontar os espanhóis como exemplo de civismo, criatividade e empreendedorismo.

Não foi pelas qualidades guerreiras do Condestável que o Vaticano o canonizou. Seria porque, já velho e impotente, se recolheu a um convento onde viveu 8 anos ? (Diz o ditado: «O diabo depois de velho fez-se ermitão»).

Não consta que tivesse dado as suas riquezas aos pobres, como se diz agora. Que se dedicasse a tarefas conventuais, milhões de frades o fizeram.

No entanto, o mesmo historiador que citei diz: «Por baixo do hábito de frade, Nun’ Álvares trazia por vezes vestido o seu arnez de combatente».

 Estão a ver? Um belicoso disfarçado de frade.

Foi pelo milagre do salpico de azeite quente que saltou para a vista duma mulher de Ourém e que não a cegou?

Porque foi? E porque só agora? Política vaticana.

A beatificação, em 1918, visou combater as Repúblicas portuguesa e espanhola, liberais. Depois o processo foi p’ra gaveta, por cumplicidade com os fascismos ibéricos.

 

Agora, como o Condestável foi anti-espanhol, saiu dos arquivos para a actual guerrilha entre a Espanha e o Vaticano (este já não tem mão duma nação que foi a mais católica do Globo).

Primeiro foi a lei sobre o aborto. Depois, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo que levou os bispos espanhóis a saírem à rua em manifestação (coisa nunca vista – para combater uma lei democrática).

 

Bento XVI até veio a Espanha apoiar os bispos num congresso em favor da «família tradicional».

Hoje há o problema das aulas de Religião e Moral que o governo substituiu por Educação Cívica, e o programa da Memória Histórica sobre a guerra civil a que a Igreja – que foi co-responsável nessa guerra – se opõe («para não abrir feridas», diz ela).

Se isto fosse em países como Inglaterra, Alemanha ou França, laicos ou protestantes de longa data, passons como dizem os franceses.

Vindo de Espanha que foi a católica por excelência, no pasaran como diriam os bispos espanhóis. E passaram.

Então… «Tomem lá com o Condestável português que vos derrotou!» (Sendo eles como são, faz-lhes tanta mossa como mostrar-lhes um espantalho).

 

Esta canonização é a reprodução da de Santa Joana d’Arc, rapariga francesa que derrotou os ingleses invasores da França, em Orléans (1429); mas foi entregue traiçoeiramente aos ingleses que a condenaram à fogueira por heresia (1431).

Só foi beatificada em 1909 e canonizada em 1920, uma época de fundamentalismo católico… contra a Inglaterra protestante.

 

E, com este costume medieval de inventar santos e de os pôr a fazer política, é a imagem do Vaticano que fica muito aquém das culturas da modernidade.