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Uma campanha politicamente incorrecta

Um grupo de pastores e paroquianos deu início a uma campanha de angariação de fundos para salvar a respectiva igreja, a Martin Luther Memorial Church em Berlim. O que torna desconfortável o aparentemente inócuo e louvável propósito deste grupo de cristãos é ser esta a última igreja nazi em terreno alemão. De facto, esta igreja, com uma imagem de um soldado nazi esculpida no púlpito, lado a lado com o mítico Cristo, representado como um ariano musculado e vitorioso, embaraça as autoridades políticas e eclesiásticas desde o fim da segunda guerra e certamente muitos dignitários prefeririam que a colaboração intíma entre a religião cristã e o regime nazi fosse esquecida.

Felizmente nem todos os cristãos acreditam que varrer da História esta colaboração é a melhor solução. «De alguma forma devemos arranjar uma maneira de preservar o edifício, preservando o seu interior como um aviso mas também complementá-la com um centro de documentação explicando a história complicada da Igreja no Terceiro Reich,» é a opinião de Isolde Boehm, um dos responsáveis da igreja, transmitida ao Times of London.

As suásticas, ilegais desde o fim da guerra, que anteriormente ornavam profusamente as paredes foram removidas e um busto de Hitler na nave substituído por um de Lutero mas a igreja ainda exibe um candeeiro em forma de uma cruz de ferro, o orgão que foi utilizado para colocar os participantes de uma sortida anti-semita em Nuremberga na sua melhor disposição cristã, para além das esculturas de soldados nazis. O exterior da igreja foi desenhado no estilo Bauhaus em 1929, um pouco antes da chegada ao poder dos nazis. O interior da igreja é o problema com iconografia nazi gravada em cada nicho. Como afirma Ilse Klein, uma historiadora que é conselheira da paróquia, «Não existe outra Igreja na Alemanha tão obviamente desenhada ao estilo fascista».

E se não há problemas em preservar e utilizar outros edifícios com traças igualmente denunciadoras, por exemplo a final do Mundial este ano será disputada no estádio olímpico de Berlim, desenhado para os Jogos Olímpicos de 1936, o problema é que muitos cristãos prefeririam não serem lembrados da estreita colaboração do cristianismo com o nazismo. Aliás, como as nossas caixas de comentários indicam, a maioria recusa-se sequer a admitir essa colaboração, preferindo o muito mais confortável e confortante (para eles, claro) revisionismo histórico cristão que inscreve os crimes do nazismo nos hipotéticos crimes do ateísmo.