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Santíssima Trindade

Em tempos da beata ditadura salazarista, por lei de 1936, um Cristo sofrido tornou-se obrigatório nas escolas, ladeado por um idiota vestido de oficial general e pela figura sinistra do antigo seminarista de Santa Comba Dão.

Na 3.ª classe do ensino primário era obrigatório ensinar às criancinhas o dogma da Santíssima Trindade que, não sendo originalidade da ICAR nem do cristianismo, contribuía para o embrutecimento infantil e bovinidade dos professores que tinham por missão explicá-lo.

Dizia-se que «eram três pessoas iguais, distintas e uma só verdadeira». Todas eram uma e era Deus. Além de dogma era mistério. Além de mistério era estúpido, mas alimentava a fé.

A ICAR, no seu instinto comercial, deitou fora o Pai, encerrou num pombal recôndito o Espírito Santo e dedicou-se à comercialização do Filho. Segmentou o mercado e passou ao negócio da cruz, com ou sem atleta.

Depois de ter amadurecido o produto, em vez de impingir os outros dois artistas da tríade, criou o culto mariano. Passou a vender Nossas Senhoras como os tasqueiros vendem tremoços para acompanhar a cerveja.

Reparem, pios leitores, que o Pai apareceu a Moisés a ditar-lhe uns mandamentos no Monte Sinai e nunca mais regressou. Aconteceu o mesmo a alguns satélites artificiais.

Quanto ao Espírito Santo, os próprios cardeais não o vêem há várias épocas de caça.

Só o JC aparece de vez em quando a alguns bem-aventurados, como aconteceu à Irmã Lúcia que recebeu uma visita em Tuy. Quem aparece com frequência é a Virgem, que a tradição e as vantagens do negócio conservam imaculada, quase sempre a pessoas de instrução rudimentar e excessiva fé.

Mas agora o que está a dar são os santos, especialistas em cunhas a Deus, aptos a curar o mau olhado, a evitar possessões demoníacas e a render emolumentos ao Vaticano.

A fé é um negócio que alimenta a voragem do padres, a credulidade dos infelizes e a superstição de muito boa gente.