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Dia: 17 de Julho, 2020

17 de Julho, 2020 João Monteiro

Carta de protesto dirigida ao Conselho de Administração do CHVNG/E

A propósito de um convite feito pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho para a realização de uma Missa, enquanto Presidente da AAP, escrevi uma carta dirigida à instituição a demonstrar o meu desagrado (ver abaixo). Assim, a AAP junta-se à Associação República e Laicidade, que também enviou um comunicado, para protestar contra um convite que consideramos ferir o princípio do Estado Laico.

Exmo. Sr. Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, Doutor Rui Nuno Machado Guimarães,

A Associação Ateísta Portuguesa, tendo conhecimento da realização de uma missa católica no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, a ter lugar hoje, dia 17 de Julho, vem por este meio protestar por a mesma ter sido convocada pelo Conselho de Administração, em conjunto com a Capelania.

Esclarecemos que não está em causa a realização da missa ou ainda os vários direitos que assistem aos funcionários do Hospital, pacientes e familiares na participação do culto a título individual e no âmbito do exercício da sua liberdade religiosa. O que para nós está em causa, é que a mesma não deveria ter sido convocada pelo Conselho de Administração, uma vez que, como dita a Constituição da República Portuguesa, vivemos num país laico onde o Estado, e portanto os seus serviços, não pode privilegiar uma religião em particular.

Aproveitamos a oportunidade para relembrar a nossa oposição à remuneração pública dos sacerdotes das capelanias, resultado do acordo entre o Estado e a Igreja Católica, porque, uma vez mais, fere o princípio da Laicidade.

Com os melhores cumprimentos,

João Monteiro (Presidente da Direção)

Associação Ateísta Portuguesa

Lisboa, 17 de julho de 2020

Imagem de Peter H por Pixabay
17 de Julho, 2020 Carlos Esperança

A Turquia e a igreja de Santa Sofia

O majestoso edifício bizantino dos Anos Trinta do século VI, Aya Sophia, um templo milenar, foi sucessivamente igreja cristã ortodoxa, cristã latina, mesquita e finamente museu, desde 1931.

A transformação em museu, onde permaneceram os minaretes, foi a herança de Atatürk, o desejo de promover a neutralidade religiosa e a secularização da Turquia. Foi o legado do criador da Turquia do século XX na vigorosa exigência da modernização do País.

A neutralidade religiosa da mais significativa e sumptuosa obra da arquitetura bizantina foi, durante quase 90 anos, símbolo da separação da Igreja e do Estado. Não consentiu o proto Califa Erdoğan, na ânsia de re-islamizar a Turquia, o símbolo tão emblemático do secularismo no País que quer dedicar à sua religião, uma religião onde o direito é ainda a alegada vontade do profeta que Atatürk definiu como ‘beduíno analfabeto e amoral’.

Devagar, a separação das Igrejas e do Estado, marca civilizacional e democrática, vai cedendo ao proselitismo religioso. A nossa civilização está em perigo. Recentemente voltaram a ser em maior número os países que vivem sob regimes autoritários.

De Erdogan espera-se sempre o pior. O papa Francisco declarou no último domingo, dia 12, que está “muito entristecido” com a decisão da Turquia de transformar a basílica de Santa Sofia de museu em mesquita.

À semelhança a UNESCO, o papa Francisco manifestou o sentimento generalizado na defesa da civilização e da cultura.

Foi pena o Vaticano não ter censurado o bispo de Córdova, Espanha, ao registar como propriedade da diocese, em março de 2006, como ‘Santa Igreja Catedral de Córdoba’, a colossal mesquita, património da Humanidade (1984), com o valor patrimonial de 30 €, em afronta à decência, num roubo ao Estado espanhol e numa provocação ao Islão.

A Europa esqueceu a sangrenta Guerra dos Trinta Anos e a Paz de Vestefália. Até o seu estudo vai caindo em desuso.