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  • 29 de Outubro, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

A ICAR e o Código Da Vinci (Viagem à memória)

O Vaticano há muito que deixara de atualizar a lista dos livros proibidos. Condenava, para não perder a vocação censória; desaconselhava, para fingir autoridade; uivava, para impressionar os espíritos mais timoratos.

A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, submetida ao pulso férreo do cardeal Joseph Ratzinger, pio inquisidor, esforçava-se para que o progresso e a liberdade não perigassem o destino das almas, numa pálida amostra do Santo Ofício, que a precedera.

Deu-lhe então para embirrar com o «Código Da Vinci» do escritor Dan Brown, e inclui o interessante romance policial, que pisca o olho aos eruditos, na lista das obras a «não ler, nem comprar». O apelo foi feito pelo cardeal Tarcísio Bertone, aos microfones do Radio Vaticano, uma emissora do bairro com potência para se ouvir em todo o planeta, mas cujas vozes não chegam ao Céu.

O que incomodou esse santo cardeal, além das manipulações da ICAR que o romance desmascara, foi a possibilidade de Jesus Cristo ter sido pai de uma filha de Maria Madalena, o que pressupõe o pecado da fornicação cometido pelo impoluto e casto fundador da ICAR.

Assim, ainda que a execração do livro e a proibição da compra contribuíssem para a sua difusão, a Cúria não podia deixar de atualizar o Índex dos livros interditos sob pena de conferir ao ato sexual a dignidade que a prática divina lhe outorgava. Desse modo, o «Index librorum prohibitorum» da Igreja Católica ficou enriquecido com um novo título e a sexualidade de novo anatematizada.