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O auto de fé de Giordano Bruno

Por

Paulo Franco

Em todos os lugares e em todos os tempos nascem mentes brilhantes e inconformadas. Mas aqueles que detêm o poder, por vezes, arrogam-se no direito de aniquilar o instinto natural de pensar livremente. Esta poderia ser a frase síntese representativa da tragédia que se abateu sobre o génio indisciplinado de Giordano Bruno.

Bruno nasceu em 1548, na localidade de Nola, perto do Vesúvio, em Itália. Iniciou os seus estudos no mosteiro de São Domenico, o mesmo mosteiro de São Tomás de Aquino, mas rapidamente se revoltou contra as ideias que lhe foram impostas, o que o impediu de prosseguir os seus estudos no mosteiro, tendo ainda sido obrigado a abandonar a sua terra natal e a vaguear pelo mundo.

Ao contrário dos seus colegas, Giordano Bruno era possuidor de uma energia intelectual vibrante, era expansivo, contestador, extrovertido e absolutamente brilhante na defesa das suas convicções. Este seu talento permitiu-lhe lecionar nas melhores escolas e universidades de várias cidades europeias entre 1583 e 1593. A sua inteligência multidisciplinar abrangeu temas tão diversos como a Astronomia e a epistemologia, assim como as demais áreas do conhecimento humano da época. Escreveu cerca de 20 obras onde expôs as ideias que lhe deram notoriedade.

No século XVI a filosofia liberta-se da religião. A ciência moderna não mais será a busca da verdade através da propriedade lógica dos conceitos, mas sim através das lentes de microscópios e telescópios, e Giordano Bruno é a figura principal desta transição. Os seus métodos foram os germes dos métodos empíricos que marcaram o inicio da ciência experimental.

Bruno considerava o cristianismo inteiramente irracional, sem base cientifica ou histórica, contrária à filosofia e em desacordo com o simples bom senso.
Ridicularizou os milagres de Jesus e outros dogmas como a virgindade de Maria.

Por causa das suas ideias contrárias aos dogmas da igreja (tanto da católica como da protestante), em 1593 foi aprisionado em masmorras escuras e fétidas, torturado, impiedosamente mal tratado, forçado por diversas vezes a renegar os seus escritos e suas ideias, coisa que sempre se recusou a fazer.

Em 17 de Fevereiro de 1600, Giordano Bruno foi cruelmente assassinado pela “Santa” Inquisição na fogueira. Quando estava a ser colocado na vara, foi-lhe trazido um crucifixo para Bruno se “purificar”, mas este arremessou-o para longe com um desprezo feroz. Depois disto, foi-lhe pregado uma tábua com pregos na língua para parar de “blasfemar”. Perante esta descrição, não são necessários adjetivos para descrever o horror daquele auto de fé.

Imaginem a força e consistência de convicções que um ser humano tem de ter para poder enfrentar de forma tão determinada e corajosa uma instituição tão aterradora e cruel como era a “Santa” Inquisição naquela época.