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  • 21 de Janeiro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

O ateísmo e a intolerância pia

Não compreendo como pode uma opção filosófica despertar tanta azia nos crentes de qualquer religião, tanto ódio e ranger de dentes nos clérigos e rancor nos bispos e aiatolas.

Os bispos, depois de terem perdido o alvará das fogueiras, ainda excomungam ateus, e os aiatolas, com habitat favorável, recorrem às fatwas e procuram separar a cabeça do tronco a todos os hereges, apóstatas ou simples apreciadores de presunto e vinho tinto.

Até o patriarca Policarpo, um bispo português tido por tolerante, já chamou ao ateísmo «a maior tragédia do nosso tempo», esquecendo guerras, epidemias, fome e catástrofes naturais. Não admira, pois, que o cardeal Saraiva Martins, um rural que foi chefe de repartição no Vaticano, onde rubricava milagres e criava beatos e santos, tivesse em 2008 presidido à peregrinação de 13 de maio, a Fátima, « contra o ateísmo».

Que levará estas cabeças mitradas a tamanho ódio misturado com o sonho pueril de que as orações demovam o patrão do abandono a que os votou? A ICAR, tal como as outras multinacionais da fé, dão-se mal com a concorrência e têm especial rancor a quem lhes rouba quota de mercado.

Será difícil compreender que não há a mais leve suspeita da existência do ser hipotético que alimenta o negócio da fé ou que esse ser jamais fez prova de vida?

À míngua de argumentos usam o medo da morte, a fanatização das crianças e a frágil saúde dos mortais para venderem a vontade de um deus inventado na Idade do Bronze, à imagem e semelhança dos homens desse tempo, para perpetuar a violência tribal e o carácter tribal de populações que julgavam ser o povo eleito.

É preciso uma máquina de propaganda gigantesca e um poder económico colossal para manter vivos os preconceitos e a superstição herdada de há milhares de anos.