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Dia: 3 de Dezembro, 2010

3 de Dezembro, 2010 Carlos Esperança

A ICAR, a ministra e o preservativo

Por

José Moreira

Ontem foi notícia, embora algo discreta, o facto de a ministra da saúde pretender que a igreja esclareça a sua posição acerca do uso do preservativo. Confesso que não sei muito bem de que planeta a ministra veio, ou em que século julga que está.Vamos por partes.

Desde já, reconheço à mui católica cidadã Ana Jorge o sacrossanto direito de se preocupar com a posição da Igreja perante tão magno problema. Toda a gente sabe, principalmente os praticantes, de que modo uma dúvida pode prejudicar o desempenho sexual; e não me repugna admitir o negativo desempenho da referida cidadã, perante o dilema “condom or not condom, that is the question”. Na hora da verdade, pode ser irremediavelmente frustrante. Mas já me preocupa a preocupação da ministra de um país teoricamente laico. Preocupa-me mas não me espanta, depois de saber que a referida ministra quer transformar os padres em “testemunhas de Jeová”, a espalhar a Palavra de porta em porta.

A Igreja tem determinada posição acerca do uso do preservativo. Muito bem. É um direito que lhe assiste, como a qualquer cidadão ou entidade. E a pergunta é: e o que tem o Ministério da Saúde (MS) e ver com isso? Ao MS compete, apenas, e dentro das suas atribuições, aconselhar o uso do preservativo, para evitar a propagação das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Ao cidadão compete decidir se o usa ou não, independentemente das suas convicções religiosas. Tudo depende do bom senso, e não da religião. No entanto, parece-me legítimo que o cidadão católico decida seguir as indicações da Igreja. Por isso, só o cidadão católico interessado em seguir tais indicações deve pedir esclarecimentos. A ministra está a exorbitar e, nitidamente, a pôr-se em bicos de pés – provavelmente com vista a uma futura canonização.

O cidadão católico, pode, eventualmente, sentir-se obrigado a seguir as indicações da Igreja; mas isso continua a ser uma decisão pessoal. Porque na verdade, ninguém é, realmente, obrigado a usar preservativo. Do mesmo modo que ninguém é obrigado a casar com alguém do mesmo sexo. Se, para o casamento homossexual, ninguém pediu esclarecimentos à Igreja, por que se há-se pedir para o preservativo?

3 de Dezembro, 2010 Carlos Esperança

Deus e os crentes no mercado da fé

Deus é a explicação por defeito para todas as angústias, a mezinha que substitui os chás e evita os calmantes, o placebo a que se agarram todos os crédulos em horas de aflição.

Sabe-se que os livros sagrados foram reescritos e alterados ao longo da história para que as histórias se tornassem mais verosímeis e que as mentiras e crueldades estão a ser mitigadas por especialistas encartados, para as explicarem de forma a torná-las menos detestáveis. Os alquimistas das ideias chamam-se teólogos e os charlatães da fé são os sacerdotes.

Ninguém se são juízo e razoável bondade aceita a discriminação da mulher, mas todas as religiões, sem excepção (que eu saiba), sofrem do espírito misógino que torna os livros sagrados afrontosos e os dignitários religiosos hediondos.

O pecado original ou o direito de vender as filhas como escravas, forjados pelo Antigo Testamento, são afloramentos do pensamento tribal da Idade do Bronze e reflexos do carácter patriarcal das tribos. Mas quando se sabe que, ainda hoje, as religiões mantêm como verdades divinas as tolices humanas, devemos reivindicar a igualdade de género como condição civilizacional. E se o deus dos crentes ficar muito zangado é com ele. Que temos nós a ver com os humores divinos? Esse peditório já devia ter sido extinto.

Quando é que um Papa, Aiatola, Arcebispo de Cantuária ou Rabino supremo de Israel se pronunciou a favor da igualdade de género e admitiu que havia mentiras nos livros sagrados ou loucura no deus de cada um?

Enquanto não pedirem perdão às mulheres, pelas humilhações a que ainda as sujeitam, os líderes das religiões não merecem o respeito das pessoas de bem. Nem o deus que os nutre à custa da crença dos simples e da cobiça dos embusteiros da fé.