11 de Novembro, 2009 Raul Pereira
«Ah, e tal, os ateus levam tudo demasiado a sério…»
Não é nada verdade isso! Temos muito sentido de humor!
Não é nada verdade isso! Temos muito sentido de humor!
O tempo passa e a tensão aumenta entre os crentes que usam uma linguagem cada vez mais crispada e intolerante para com o escritor que deu a Portugal um Nobel e enorme prestígio à literatura portuguesa. Basta ver o correio dos leitores de vários jornais e as ameaças e insultos que lhe dirigem.
Os bispos, padres e outros avençados do divino usam uma linguagem mais sonsa e dissimulada mas é igual o ódio que os devora e o ressentimento que manifestam.
Seria interessante, se não fosse perigosa, esta excitação dos católicos com Saramago. Este tem o direito de dizer tudo o que disse e o mais que lhe aprouver e aqueles gozam de igual direito em relação a Saramago e ao ateísmo. Não assustando já as penas do Inferno, uma lucrativa invenção pia que rendeu grossos cabedais, ameaçam agora com a situação de Salman Rushdie, vítima da demência de um aiatola que o condenou à morte por ter criticado o Islão. O que está em causa é a intolerância que em certas latitudes foi contida pelas democracias e em outras ainda anda à solta.
A ICAR abomina o direito ao riso e à felicidade mas é uma fonte de um e de outra. Torna felizes os que acreditam e diverte quem não a leva a sério.
Entre as fogueiras índias e as novenas católicas não há dados que indiciem a supremacia de umas sobre as outras quanto à eficácia na pluviosidade. As penas do chefe índio e o camauro do papa só diferem na estética. Os vestidinhos de seda do pontífice não se distinguem das vestes dos feiticeiros pelo ridículo, apenas pelo luxo e conforto.
A cigana que lê a sina não é menos eficaz a espantar os maus olhados do que o padre a esconjurar os espíritos malignos e a garantir o Paraíso. Às vezes a clientela é a mesma e procura na água benta o sinergismo das mezinhas e rezas ciganas.
O feiticeiro que prescreve a poção com corno de rinoceronte moído só é mais criticável do que o padre que celebra uma missa de acção de graças e ministra a comunhão porque põe em perigo a extinção da espécie animal, mas a eficácia sobre a convalescença dos doentes ilustres não é diferente, embora faltem estudos comparativos.
O baptismo com água benta é mais inócuo do que a circuncisão, que deixa marcas, ou a excisão que põe em risco a vida e destrói de forma irreversível a felicidade sexual mas todos são rituais iniciáticos.
Não há motivo para não nos rirmos dos rituais religiosos. Poucas encenações são tão hilariantes.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.