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  • 4 de Outubro, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

Bispos, aranhas e ateístas

O bispo Carlos Azevedo, com avença num matutino lisboeta, é o mais devoto seguidor da actividade da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) e um dos seus mais impiedosos carrascos. Infelizmente escreve num jornal que rejeita a resposta da AAP a cada  pedra que o bispo atira, com a confiança de que a censura lhe protege a mão.

No seu artigo «Aranhas e ateístas», de 2 de Outubro, atacou mais uma vez a Associação Ateísta Portuguesa depois de informar os leitores de que uma aranha checa passeou pelo paramento de Bento XVI, quiçá à procura de emigrar de um país maioritariamente ateu para o Vaticano, habitat mais adequado à teia que lhe cabe construir.

O bispo Carlos Azevedo acusa a AAP de não querer desvios de atenção do Centenário da República com a visita papal. Ora, foi o bispo que agora acusa a AAP que se referiu, quando do desastrado anúncio, ao significado da visita no centenário da República.

À AAP, designada por «este grupito», na piedosa expressão episcopal é ainda atribuída a «figura intolerante, ridícula e marginal», adjectivos que os ateus seriam incapazes de usar para os bispos, mesmo para forma exótica como se vestem ou para os rituais que mantêm.

A República Checa não se libertou da opressão ateia, como afirma. Libertou-se de uma ditadura, à semelhança do que aconteceu com as de Pinochet, Franco ou Salazar a que nunca faltaram missas e água benta. E hoje, em democracia, é maioritariamente ateia, contrariamente ao que acontece com a Polónia que viveu uma ditadura semelhante.

Num ataque despudorado à República, diz o Sr. Bispo que o momento repressivo contra a Igreja católica começou há cem anos, esquecendo os ataques da sua Igreja à República e a conivência com a ditadura que a derrubou, essa sim, totalitária ao contrário do que o pio prelado afirma.

Finalmente, quando afirma que respeitar a maioria [alegada maioria católica] é prova de maturidade democrática, esquece que as maiorias não precisam de protecção e que prova de maturidade democrática é exactamente o contrário – respeitar as minorias. Mas de democracia não é obrigado a entender um teólogo.

Do artigo do bispo Carlos Azevedo fica a suspeita que sabe mais a aranha sobre o Papa do que o bispo sobre deus.