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O PR e a canonização de D. Nuno

“O Presidente da República congratula-se, em nome de Portugal, pela notícia da decisão tomada hoje no processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira, figura maior da nossa História, que, no passado como no presente, deve inspirar os Portugueses na busca de um futuro melhor”, refere a Presidência da República numa nota enviada à agência Lusa.

Eu sabia da rapidez com que Cavaco Silva se congratulara com a canonização do Santo Pereira, mas desconhecia os termos em que o fez. Julguei que era  a posição individual do devoto enfraquecido por jejuns e receoso das penas do Inferno, a procurar a remissão dos pecados.  Acreditei que era a posição do paroquiano perante o director espiritual, a postura de crente face aos amigos do peito e da hóstia. Admiti que fosse o tributo pago ao Vaticano porque o papa de turno deixou que a D. Maria se lhe ajoelhasse aos pés.

Afinal, foi na qualidade de Presidente da República que ofendeu e humilhou todos os que desconfiam do mérito do Condestável na cura do olho esquerdo da D. Guilhermina. Como crente tem direito à felicidade com o milagre encomendado, mas o Presidente da República deve respeitar todos os portugueses, independentemente das suas crenças, descrenças ou anti-crenças.

O PR, ao afirmar «que, no passado como no presente, [Nuno Álvares] deve inspirar os Portugueses na busca de um futuro melhor», usou um português rudimentar e de difícil entendimento, mas percebe-se que aponta o bem-aventurado como fonte de inspiração na busca de um futuro melhor.

A dúvida que fica é se o PR pensou nos castelhanos que D. Nuno matou nos Atoleiros, em Aljubarrota e Valverde, método obsoleto para a busca de um futuro melhor, ou se teve em mente a vida monástica do novo santo cujo exemplo certamente será o único economista a apontar como solução para superar a crise que nos aflige.

De qualquer modo é lamentável que, num país com séculos de ignorância e superstição, o Presidente da República seja tão célere a celebrar a cura de uma “úlcera na córnea” por um cadáver com 577 anos de defunção e, mais lamentável ainda, que o faça em nome de Portugal, país laico e democrático.