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Dia: 6 de Abril, 2008

6 de Abril, 2008 Mariana de Oliveira

A falsa reconversão

O escritor de origem indiana Salman Rushdie confessou que em 1990 fingiu ter regressado ao Islão para se defender da “fatwa” promulgada pelo “ayathola” Khomeini pela obra “Os Versículos Satânicos”, considerada uma blasfémia para os muçulmanos.

Numa entrevista à televisão, Rushdie explica que com essa falsa conversão pretendia reduzir o risco de algum muçulmano o atacar no cumprimento do édito emitido pelo líder supremo iraniano em 1989, que instava à sua execução.

Em 1990, em comunicado, Rushdie afirmava ter renovado a sua fé na religião muçulmana, repudiar os ataques ao Islão no seu romance e comprometer-se a contribuir para uma melhor compreensão daquele credo.

Todavia, numa conversa com uma psicoterapeuta no programa do canal britânico More4, que será emitido em Maio, o autor de “Os filhos da meia-noite” afirma que o regresso à sua religião de nascimento foi “pretenso”.

“Estava transtornado. Estava mais desequilibrado do que alguma vez estivera.Não pode imaginar debaixo da pressão que estava”, disse.

“Pensei simplesmente que estava fazendo uma declaração de fraternidade, porém, assim que o disse, senti como se tivesse arrancado a minha própria língua”, acrescentou Rushdie que apesar de ter nascido numa família muçulmana xiita nunca se considerou religioso.

Depois desse momento, sentiu que “tinha batido no fundo”, e deu-se conta de que o único mecanismo para sobreviver era a sua “integridade”, escreve o periódico britânico, citado pela agência Efe.

O romance “Os Versículos Satânicos” foi proibido na Índia e noutros países e queimado nas ruas do Reino Unido porque supostamente tratava com irreverência Maomé.

Na entrevista televisiva, Rushdie, 60 anos, assegura que as más críticas à obra o desgostaram mais do que a “fatwa”, já que tinha levado cinco anos a escrevê-lo e o considerava o seu “melhor trabalho”.

Os comentários negativos fizeram sentir-se desapreciado e inútil, e questionou; “se é isto que se tem, porquê escrever? Melhor tornar-me motorista de autocarro”.

Fonte: Agência Lusa, 06 de Abril de 2008.

6 de Abril, 2008 Mariana de Oliveira

Profanação em França

A profanação de mais de uma centena de campas muçulmanas num cemitério militar do norte de França provocou hoje emoção e indignação, tendo o presidente Nicolas Sarkozy criticado um acto relevante do “racismo mais inadmissível que existe”.

As inscrições descobertas hoje de manhã no cemitério Notre-Dame de Lorette, perto de Arras, “visam directamente o Islão e insultam gravemente Rachida Dati”, a ministra da Justiça, de origem magrebina, indicou à agência noticiosa francesa AFP o procurador da República de Arras, Jean-Pierre Valensi.

“Uma cabeça de porco foi mesmo colocada numa das campas”, adiantou o procurador, que deu conta de 148 campas profanadas na noite de sábado para hoje.

O incidente ocorreu quase um ano depois de factos semelhantes no mesmo cemitério.

Na noite de 18 para 19 de Abril de 2007, 52 campas do lado muçulmano foram cobertas de inscrições nazis, de cruzes gamadas e célticas. As inscrições “Heil Hitler” e “Skinhead não está morto” foram também encontradas num dos ossários do cemitério.

“Este acto resulta do racismo mais inadmissível que existe e o presidente da República partilha a dor de toda a comunidade muçulmana de França”, declarou hoje a presidência num comunicado, que indica 136 campas profanadas.

Sarkozy “pretende ser informado do seguimento do inquérito judicial”, que espera seja rápido “para que os autores deste acto sejam punidos como merecem”.

O primeiro-ministro, François Fillon, e a ministra do Interior, Michèle Alliot-Marie, exprimiram igualmente a sua “indignação” e condenaram “com a maior firmeza” aqueles actos.

O partido socialista, por seu turno, deu conta da sua “fúria e indignação” e pediu uma “investigação eficaz seguida de sanções exemplares”.

“É vergonhoso ver isto. Quando falta o respeito é uma catástrofe”, declarou à imprensa o presidente regional do culto muçulmano Bahssine Saaidi, defendendo que se trabalhe em conjunto para “parar este problema de racismo”.

Na sequência da primeira profanação, dois jovens de 18 e 21 anos foram condenados a dois anos de prisão e um menor de 16 a sete meses de prisão, dos quais cinco e meio de pena suspensa.

Fonte: Agência Lusa, 06 de Abril de 2008.

6 de Abril, 2008 Mariana de Oliveira

Padre assassinado em Bagdad

Homens armados não identificados que seguiam numa viatura dispararam sobre o padre que saía da sua casa no bairro central de Karrada.  O padre teve morte imediata.

Yusef Adel era padre da igreja síria ortodoxa e dava missa na paróquia São Pedro, no bairro de Karrada.

Os cristãos do Iraque, acusados de apoiar os «cruzados invasores», são regularmente alvo de violência, raptos, assassínios e atentados à bomba contra igrejas são realizados por insurgentes, xiitas e sunitas.

Antes da invasão de Março de 2003, a comunidade cristã do Iraque totalizava cerca de 800.000 membros, cerca de três por cento da população de maioria muçulmana. Desde então numerosos representantes da comunidade deixaram o país ou migraram para o Curdistão iraquiano (norte).

Fonte: Sol, 06 de Abril de 2008.

6 de Abril, 2008 Carlos Esperança

Livro negro da República

A reeleição do bispo de Braga, Jorge Ortiga, para presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, é o prenúncio de uma guerrilha clerical, à semelhança da que Rouco Varela lançou em Espanha com o apoio explícito do núncio apostólico e a bênção do Papa.

Decididamente, em Portugal e Espanha, o clero mais conservador ganhou a luta interna para as presidências das respectivas Conferências Episcopais. Bastava a cumplicidade da Igreja católica nos silêncios, omissões e activismo nas perseguições aos adversários das ditaduras ibéricas para que o exame de consciência bem feito e um leve remorso a afastasse do caminho da vingança.

O exemplo do cardeal Taracón, de Madrid, e do Bispo Ferreira Gomes, do Porto, não são modelos que os bispos actuais queiram seguir. Incitados pelo Papa Ratzinger para combaterem o laicismo e o secularismo, convictos de que as leis dos homens se devem subordinar à vontade de Deus, segundo a interpretação do velho inquisidor, os bispos portugueses já entraram nos ataques à República e nas ameaças ao Governo.

Quando o presidente da CEP considera o Estado português «militantemente ateu» diz bem do rigor intelectual por que se pauta e dos atropelos à verdade de que é capaz para conseguir pôr de joelhos os governantes. Não é uma atitude ética, é um desafio ao poder democrático por um herdeiro do concílio de Trento.

O anunciado lançamento do «Livro Negro da República» não pretende ser o contributo sério para a história, é uma provocação à democracia e um aviso sobre o rol de calúnias, mentiras e meias verdades com que a Igreja católica pretende denegrir o passado, julgar os mais impolutos governantes de então e desafiar as forças liberais e democráticas.

Quem conhece o seu passado e não vê quantas bibliotecas encheria com os livros negros da sua história milenar, é capaz de provocar tensões na sociedade portuguesa mas não se livra de ver denunciadas na praça pública a sua conivência com o salazarismo, a história de Fátima e a cumplicidade com a guerra colonial, bem como os nomes dos padres que pertenceram á Comissão de Censura e os que foram informadores da PIDE.