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Dia: 18 de Junho, 2007

18 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Momento Zen de segunda

Apesar de já referida pelo Ricardo Alves não resisto a comentar também a prosa do beato JCN.

João César das Neves (JCN) parece um clérigo saído do Concílio de Trento a defender a pureza da fé e a zurzir os infiéis. É a versão romana dos talibãs, um mullah para quem a verdade é um detalhe que não deve atrapalhar o proselitismo.

Ao acusar a República portuguesa de perseguição religiosa, por ignorância ou má fé, esquece os caceteiros de Paiva Couceiro e o clero ultramontano que nunca perdoaram ao regime a lei do divórcio, a do Registo Civil obrigatório e, sobretudo, a da separação da Igreja e do Estado.

JCN pensa que os portugueses são cegos. Ao afirmar na sua homilia de hoje que, em Portugal, «a expressão religiosa é possível, mas deve ser privada, e as manifestações da civilização cristã são silenciadas ou distorcidas», vê-se que não assiste à missa dominical pela televisão pública, perde as cerimónias de Fátima em directo, não acompanha o terço na rádio Renascença e não vê as reportagens das viagens papais nem ouve a mensagem de Natal do patriarca Policarpo.

A RTP, na sua dedicação à causa da fé, tem um sacerdote católico avençado na RTP1, de manhã, onde é presença regular. Haverá, pois, alguma honestidade na queixa de JCN?

Há uma justificação plausível para o delírio mitómano – as suas próprias palavras:
«Quem se afunda no deboche e sofre as suas dramáticas consequências sente a necessidade de descarregar os remorsos».

18 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Brasil – Frei Galvão faz milagres online

Engana-se quem julga a Igreja católica imóvel, que só pensa no regresso ao latim e ao Concílio de Trento, que apenas sonha com Cruzadas e novas Inquisições.

Pelo contrário, a ICAR é uma adepta da produção em série, como demonstra nos beatos e santos que cria, para maior glória do Deus de fabrico próprio, ao preço de 1400 euros por milagre.

O número de bispos e cardeais, a quem distribui bibes de púrpura, mitras douradas e báculos com pedras preciosas cravadas, é prova do dinamismo da mercearia e da adaptação do bairro do Vaticano às exigências do mercado.

Agora o Vaticano começa a ser ultrapassado pelas sucursais nas maravilhas que obram e pelos santos que cria.

O primeiro santo do Brasil, criado com tecnologia local, começou a fazer milagres pela Internet. Ainda bem que não caiu a ligação quando o milagre estava a ser obrado. Frei Galvão, o primeiro santo com sítio, velas e orações online já começou a fazer milagres virtuais, apesar de já não precisar deles para a promoção canónica.

Com os avanços da Internet e o aumento da banda larga não faltarão megamilagres na giga superstição que embrutece os crentes e enche os cofres da multinacional da fé.

18 de Junho, 2007 Carlos Esperança

Os doidos de Deus

Reacção dura à decisão do Reino Unido em homenagear o escritor

«Se algum homem-bomba se fizer explodir, ele teria toda a razão para o fazer a não ser que o governo britânico peça desculpa e retire o título de «cavaleiro» a Salmon Rushdie, referiu esta segunda-feira o ministro dos Assuntos Religiosos do Irão, Mohammed Ijaz ul Haq citado pela Sky News.

RE: Para além do erro de sintaxe, fica a demência do ódio, a intolerância da fé, o horror à liberdade e o coice da besta.

«Este é o momento para 1.5 biliões de muçulmanos de todo o mundo se aperceberem da gravidade desta decisão», acrescentou salientando ainda que o «Ocidente está a acusar os muçulmanos de extremismo e terrorismo».
RE: Não são os muçulmanos os extremistas, é o Islão que é criminoso, bárbaro e boçal, que odeia a liberdade mais do que o álcool e o toucinho.

O Irão acusou o Reino Unido de insultar o Islão ao ordenar cavaleiro o escritor Salman Rushdie, autor da polémica obra «Versículos Satânicos», que lhe custou uma fatwa, lançada pelo Ayatollah Khomeini.
RE: Quem insulta a inteligência e a democracia é o Irão com a violência contra as mulheres, com autorização de casamentos por meia hora e a legitimidade de um homem se poder casar com uma criança de 9 anos.

Segundo Mohammad Ali Hosseini, porta-voz do ministro dos negócios estrangeiros, a decisão de honrar o novelista é um atentado à sociedade islâmica, uma vez que Rushdie é «uma das figuras mais odiadas».
RE: Ser uma figura odiada do Islão é um atestado de grandeza moral passado à vítima.

«Honrar e entregar uma comenda a essa figura odiosa coloca definitivamente os oficiais britânicos em confrontação com as sociedades islâmicas», disse, indo ainda mais longe nas acusações: «Este acto demonstra que o insulto aos valores sagrados do Islão não é acidental. É planeado, organizado, guiado e apoiado por alguns países ocidentais».
RE: Quem se coloca em confrontação com as sociedades livres e democráticas é o Corão, um livro pouco recomendável, arauto de uma civilização falhada e de inomináveis atrocidades.
18 de Junho, 2007 Ricardo Alves

O choradinho habitual

Essa figura de referência do clericalismo nacional que é João César das Neves virou-se contra a República no seu artigo de hoje:
  • «Por cá, a república, cujo centenário se aproxima, decretou uma sistemática perseguição religiosa na linha do ateísmo oitocentista.»

Nunca é demais repetir: quando os clericais falam em perseguição a propósito da República, isso significa que consideram que um Estado sem religião oficial é «perseguidor», que um Estado em que os sacerdotes não são pagos pelo Estado está a «perseguir a religião», que ninguém ir para a prisão por «delito de blasfémia» é «perseguir o cristianismo», que legalizar o divórcio é «perseguir» a ICAR, e que não haver religião obrigatória na escola pública é ateísmo de Estado. Na realidade, o raciocínio dos clericais é cristalino a partir do momento em que compreendemos que, para eles, Estado que não obriga os cidadãos a serem e comportarem-se como católicos está a perseguir o catolicismo. Não obrigar é perseguir.

O grande César diz-nos ainda que «olhando a cultura oficial, ninguém diria que vivemos num país cristão». Será? Se assumirmos que por «cultura oficial» se entende aquela que é promovida pelo Estado, temos: largas dezenas de templos católicos mantidos e subsidiados pelo Estado; centenas de escolas com professores de religião pagos pelo Estado; a TV pública com presença regular de um sacerdote católico no RTP1 de manhã, e com um espaço específico para as religiões da parte da tarde no TV2; transmissão das cerimónias obscurantistas de Fátima todos os dias 13 de Maio a Outubro, e de missas dos católicos todos os domingos do ano… Se isto demonstra que «as manifestações da civilização cristã são silenciadas ou distorcidas», então tremo só de pensar no que seria necessário para que o nosso amigo Neves não se dissesse «perseguido»…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

18 de Junho, 2007 Helder Sanches

Um Desafio Criacionista

Nestas andanças de religião e ateísmo, poucas coisas me têm aborrecido tanto nos últimos tempos como a vaga de publicidade à recente paranóia criacionista de criar espaços lúdicos de desinformação denominados “museus” criacionistas. Chateia-me que, principalmente nos EUA, seja dada tamanha credibilidade a estes empreendimentos patrocinados por mentes retrógradas ao serviço do proselitismo mais perigoso à face da terra.

A definição de “Museu” no Código de Ética do Conselho Internacional de Museus (ICOM) é a seguinte:

Museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento e aberto ao público, que adquire, conserva, pesquisa e exibe para finalidades do estudo, da educação e da apreciação, evidência material dos povos e seu ambiente.

Não vejo como é que algum instrumento de divulgação criacionista se possa encaixar nesta definição! Sabendo que a teoria da evolução tem vindo a ser constantemente certificada pelos avanços das descobertas ao nível dos registos fósseis, da biogeografia e, mais recentemente, da genética, como é possível que se autorize sequer a denominação de “Museu” a qualquer espaço que tenha como único objectivo a propaganda criacionista, onde, por exemplo, se divulgam cenários de contemporaneidade entre humanos e dinossauros?

Assim sendo, proponho que não mais se utilize o termo “museu” quando se pretender mencionar os ditos “museus” criacionistas. O desafio para os leitores deste blogue é ajudarem-me a encontrar a expressão certa que possa ser usada tanto em português como em inglês.

Avanço com duas propostas que não me satisfazem completamente:

  • Circo Criacionista (Creation Circus)
  • Coliseu Criacionista (Creation Coliseum)

Fico à espera de melhores sugestões.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)