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Dia: 16 de Fevereiro, 2007

16 de Fevereiro, 2007 Helder Sanches

Querido Diário

Inicio aqui a minha colaboração no Diário Ateísta. Devo dizer que encaro com algum nervosismo estes primeiros tempos em que farei parte desta equipa e em que terei de “enfrentar” alguns dos comentadores mais assíduos do Diário.

Sou, claro está, ateu. Para mim ser ateu é, sobretudo, não acreditar no sobrenatural, seja de que espécie for. Ser ateu é duvidar e questionar, promover a discussão, divulgar uma visão naturalista do mundo em que vivemos e acreditar no conhecimento científico, nunca esquecendo a sua capacidade única de auto-validação.

Por outro lado, ser ateu não significa para mim ser anti-crentes. Considero que, enquanto indivíduos, todos nós temos direito à nossa própria interpretação da realidade. O facto de a minha visão ser naturalista e isenta de misticismo não significa que outros não possam ter outras sensibilidades. Não admito é que me tentem impor essas sensibilidades quer a nível particular, quer na sociedade em que me integro. Contudo, aceitar que outros tenham sensibilidades diferentes das minhas não significa que eu as compreenda ou, sequer, as tolere. Faço aqui uma distinção importante entre o respeito pelo direito à crença e a minha (in)tolerância pela mesma. Esta é uma questão que, certamente, abordarei mais vezes.

Gostava de finalizar com uma palavra para os crentes que frequentemente comentam aqui no Diário. Os ateus, genericamente, são muitas vezes acusados de arrogância. Por outro lado, os crentes são muitas vezes acusados de ignorância. Espero que nenhum destes adjectivos venha a fazer sentido mas, se tal acontecer, espero que ambas as partes exerçam bem o seu papel!

16 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

A Senhora de Fátima entrou de baixa

Conhecidos os resultados do último referendo, a Senhora de Fátima entrou de baixa e está internada na enfermaria do Paraíso, misturada com beatas de segunda, catequistas rurais e outras almas alérgicas ao pecado e ao banho.

O seu divino filho arremessou-lhe com a coroa de espinhos e desancou-a com a cruz quando a viu chegar ao Céu em pior estado do que os forcados de Santarém quando fazem uma pega a um touro mais inteligente do que eles, o que não é difícil.

Quando a Virgem chegou já lá estavam os jornais que davam conta do desastre da Igreja Católica, humilhada nas urnas, expulsa das cidades e desprezada por jovens de um país que lhe foi consagrado várias vezes.

Levou, na bagagem, orações, terços, novenas, missas, romagens e outros pios subornos que lhe foram adjudicados para inverter a vontade popular. Foi tudo para a reciclagem por estar esgotado o prazo de validade e a inutilidade comprovada.

As 2.238.053 almas afastadas do redil foram uma humilhação para quem saltitou, há 90 anos, de azinheira em azinheira, fez truques com o Sol e encheu o parque de diversões místicas de Fátima todos os dias 13.

Sabe-se que as lágrimas de sangue saíram com água oxigenada e foi aconselhada pelo Dr. Gentil Martins a mudar de cosméticos que estragam o verniz e repelem crentes.

Também o Dr. Bagão Félix, que não sabe de Finanças, apertou mais um furo no cilício e aguarda as clínicas espanholas para investir, vestido de cruzado e de crucifixo afiado, contra médicos, enfermeiros e as mulheres que ele queria pôr a lavar escadas e sanitas, em alternativa à prisão, desactivadas que foram as fogueiras do Santo Ofício.

As Senhoras Donas Teté, Matilde, Isilda e outras, receando que a Senhora de Fátima tenha fugido com um pastor de vinte anos, dedicam-se à pastoral da castidade e juram que as hormonas são invenção de ateus, comunistas, mações e judeus, à semelhança da teoria evolucionista.

Finalmente temem que o arcanjo Gabriel tenha contraído a gripe das aves e que, como medida profiláctica, deva ser abatido o bando todo.