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Dia: 14 de Fevereiro, 2007

14 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Um país, dois pólos

Em 1930, o distrito com maior percentagem de casamentos civis era Beja, com 90%. O distrito com menor percentagem era Vila Real, com 3%. Três quartos de século depois, o distrito onde uma maior percentagem votou contra as indicações da hierarquia da ICAR foi Beja (84%), e o distrito do continente onde o «não» teve maior percentagem foi Vila Real (62%). Coincidência? Talvez não.

Quem conhece os indicadores de comportamento social dos portugueses (casamentos civis, filhos fora do casamento, presença nas missas, uniões de facto) sabe que existem, pelo menos desde o advento da República, dois pólos: o pólo do catolicismo, tipicamente situado ou em Braga ou em Vila Real (distritos ultrapassados ou igualados pela Madeira e pelos Açores em alguns indicadores), e o pólo da secularização, geralmente situado em Beja ou em Setúbal. Esta polarização tem atravessado as mudanças de regime e as convulsões sociais, mas pode ter os dias contados: num referendo em que o «sim» à legalização da IVG, comparado com 1998, subiu 11% a nível nacional, a subida máxima foi em Braga (+19%), enquanto em Vila Real foi de +14%. Em Beja, a subida percentual foi inferior à média nacional (+7%), e em Setúbal foi mínima (+0,1%). De um modo geral, os distritos onde o «sim» ganhara em 1998 subiram abaixo da média nacional de +11%, e os distritos onde o «não» ganhara em 1998 subiram acima da média nacional. As circunscrições que ficaram mais próximas da média nacional de 11% de incremento para o «sim» foram a Madeira, Leiria, Coimbra e o Porto. As maiores subidas percentuais do «sim» (Braga, Guarda, Bragança, Castelo Branco, Viseu, Viana do Castelo, Vila Real…) vieram de território habitualmente considerado «conservador»…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
14 de Fevereiro, 2007 Carlos Esperança

A hipocrisia do bispo

Vitória do «Sim» não soluciona problema
D. José Pedreira, Bispo de Viana do Castelo, sugere a revisão da actual Lei penal
Aqui está o indício de que, de forma beata, um bispo pretende subverter o Referendo do dia 11. O Sr. José Pedreira, com falas mansas de tartufo, vem propor que se ignorem os resultados… porque não são vinculativos.

O Sr. Pedreira esqueceu-se da ameaça de excomunhão feita pelo clero da sua Igreja, do clima de terror para os crédulos, dos fetos de 10 semanas (tinham mais) que nos pediam com ar infeliz para que os não matássemos?

Vem agora de mitra na mão e báculo em riste repetir a ignomínia que o grandessíssimo filho de Deus, Bagão Félix, propunha – substituir a prisão das mulheres por um serviço à comunidade, talvez a lavagem de escadas e de sanitas, tarefas que as pobres conhecem?

Este bispo usa o anelão para dar a beijar aos beatos ajoelhados, os dedos para desenhar cruzes com óleo rançoso na testa dos confirmados e a inteligência para subverter os resultados eleitorais.

O Sr. Pedreira é agente do Vaticano, uma ditadura teocrática que não integra os Estados democráticos da União Europeia, membro da seita que impede a interrupção voluntária do celibato aos padres e freiras e o divórcio aos casados em Malta.

Este ungido considera pecado tudo o que for contra os ensinamentos que um velho senil ditou no Monte Sinai a um desgraçado que tinha visões e dava pelo nome de Moisés.

14 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Até em Braga!

O «sim» à legalização da IVG até em Braga ganhou. Não no concelho de Braga, onde o «sim» perdeu (48%-52%), mas nas freguesias urbanas, onde o «sim» ganhou (53%-47%).

A Braga que é a suposta capital do conservadorismo português, a Braga dos santuários do Bom Jesus e do Sameiro, dos arcebispos e do cónego Melo, das congregações de freiras e das lojas de roupa para padres na rua principal, nunca mais será a mesma. Pelo menos, para mim.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]