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Dia: 21 de Novembro, 2006

21 de Novembro, 2006 Ricardo Alves

Que a força esteja com eles!

Existem religiões sem fé nem manipulação de grupo. Os Cavaleiros de Jedi, por exemplo. No Reino Unido, os indivíduos auto-organizados que se revêem na mitologia da série de filmes da «Guerra das Estrelas» eram 390 000 à data do censo de 2001, sendo portanto a quarta religião mais numerosa nesse país, atrás somente dos anglicanos, muçulmanos e católicos. Ao contrário dessas religiões mais tradicionais e mais autoritárias, os Cavaleiros de Jedi não respeitam exageradamente os seus representantes, não lhes atribuem autoridade para os «representarem» sobre assuntos políticos ou científicos, não têm tendência para se meterem na vida sexual das outras pessoas, e provavelmente até serão capazes de admitir que a sua religião é uma fantasia criada por outros seres humanos. Uma fantasia que eles vivem sem aborrecer ninguém. (E se todas as religiões fossem assim?)

Os Cavaleiros de Jedi estão a pedir reconhecimento oficial pela ONU. Só posso desejar que a força esteja com eles! (Particularmente se for a força da gravidade, para mantê-los com os pés bem assentes na Terra…)
21 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Richard Dawkins e os fundamentalistas II


Deepak Chopra, o guru new ager adepto de curas «quânticas», que escreveu, entre mais de 40 conjuntos de disparates, as barbaridades agrupadas no «Life After Death: The Burden of Proof» – um livro que pretende existir «conhecimento validado pela ciência» que «prova» a existência de vida depois da morte – é outro dos IDiotas criacionistas que se sentiu pessoalmente atacado pelo livro «The God Delusion» de Richard Dawkins.

Chopra – que confirma exercer a mecânica quântica um fascínio especial em todos os charlatães e cujas inanidades quânticas, nomeadamente as referidas «curas quânticas» e afins, lhe mereceram um prémio IG Nobel da Fisíca em 1998 -, ataca Dawkins em dois artigos, tão imbecis que tenho dificuldade em escolher qual deles o pior!

Dawkins, recentemente escolhido pela Salon como o homem mais sexy do mundo, é acusado por Chopra no primeiro artigo de «espremer Deus num canto» já que apresenta a crença na existência de Deus como «um tema nós versus eles. Ou se é pela ciência (isto é, razão progresso, modernismo, optimismo em relação ao futuro) ou se é pela religião (isto é, irracionalidade, resistência reaccionária ao progresso e constatação que há mistérios que só Deus sabe)».

O que é extremamente injusto, já que segundo Chopra, existem homens de ciência – como o próprio Chopra que explica «quanticamente» milagres e demais disparates sobrenaturais – que são ou foram profundamente religiosos, citando explicitamente Newton e Einstein.

Claro que meter no mesmo saco Einstein e Newton é já de si um disparate, uma vez que o «Deus» de Einstein, um ateu ou pelo menos panteista, não tem nada a ver com o Deus de Newton. Mas a falácia que Chopra subentende neste primeiro artigo, isto é, que estes físicos revolucionários que todos conhecem, «produziram» conhecimento inspirado «religiosamente» é um disparate total!

De facto, Chopra brame angustiadamente «A ciência é o único caminho para o conhecimento? Obviamente que não [caso contrário acaba o negócio multi milionário de Chopra que vende patetadas místicas como sendo ciência]».

E para explicar que existem «vibrações» quânticas iluminadas por Deus para se chegar ao conhecimento, descreve o ser do homem, isto é, as características que nos distinguem dos outros animais – que devemos à evolução única do nosso cérebro – como sendo provas irrefutáveis da existência de Deus!

De facto, Chopra não se sabe bem como – aparentemente nunca leu, ou se leu não percebeu uma vírgula de sequer um livro de Dawkins – afirma que Dawkins nega a existência do amor, arte, altruismo (explicado no Gene Egoísta), beleza, verdade, etc..

O primeiro artigo batendo em Dawkins é assim um conjunto de disparates em que Chopra esgrime um conjunto assombroso de falácias para afirmar que a religião produz conhecimento (científico?) mas não dá um único exemplo de grandes descobertas produzido pelo pensamento religioso – que não há, obviamente!

No segundo artigo Chopra pega na constatação de um facto por Dawkins:

«Deus é desnecessário. A ciência pode explicar a Natureza sem qualquer ajuda de causas sobrenaturais como o é Deus. Não há necessidade de um criador»

sobre o qual não há quaisquer dúvidas – causas sobrenaturais estão nos antípodas de ciência – para balir novamente que Dawkins encurrala os crentes num «nós versus eles», que ignora muitos crentes num Deus impessoal – e volta a tirar Einstein da manga para ilustrar este Deus impessoal. Chopra brame que Dawkins reduz o conceito de Deus ao Deus cristão do catequismo, que criou o mundo em 6 dias e descansou ao sétimo:

«Ou acreditamos que há um Deus pessoal, um criador sobrehumano que criou o mundo de acordo com o Genesis ou somos crentes racionais no método científico».

Como é óbvio para todos os que de facto leram o livro, Dawkins não apresenta esta dicotomia. Na realidade, logo no início do livro Dawkins distingue entre o Deus metafórico ou panteísta e impessoal de Einstein da ilusão de Deus de que trata o livro e afirma que «Confundir deliberadamente os dois é, na minha opinião, um acto de alta traição intelectual».

Claro que honestidade intelectual é completamente incompatível com os «produtos quânticos» que Chopra vende aos mais incautos. Para o sucesso do negócio e para a saúde «quântica» da conta bancária de Chopra – que afirma desdenhar Dawkins da possibilidade da existência de «cientistas religiosos», o que não é verdade Dawkins apenas explicita que ninguém faz ciência por iluminação divina ou via «verdades reveladas»- é necessário que a resposta dos seus clientes à pergunta absurda com que o charlatão termina o artigo seja negativa:

«A ciência tem de excluir Deus em qualquer forma?»

Cuja resposta é obviamente afirmativa: se a ciência incluir causas sobrenaturais deixa de ser ciência e passa a ser religião! Causas sobrenaturais não têm qualquer lugar em ciência! Por muito que isso custe aos fanáticos de qualquer religião, Deus não é um argumento científico. Deus é uma construção humana que é aceite pela fé, que, por definição, dispensa qualquer prova científica, lógica ou racional!

21 de Novembro, 2006 jvasco

Omnisciência é impossível

Já é conhecido o argumento que demonstra a inconsistência lógica do conceito de omnipotência. «Poderá Deus criar uma pedra que não possa levantar?»

Recentemente descobri, via Ludwig, um argumento que mostra a impossibilidade lógica da Omnisciência. Baseado no teorema de Godel, é simples e elegante:

«Deus não pode saber que esta proposição é verdadeira»

Se a proposição for falsa, nenhum ser omnisciente pode saber que é verdadeira, pelo que a afirmação será verdadeira necessariamente.

A afirmação só pode portanto ser verdadeira, mas isso implica que existe algo que este alegado ser omnisciente não sabe…